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Monday, April 12, 2004

Tempos houve em que tinha fé. Em que a viagem da minha consciência até lugares divinos e mais ao menos inalcancáveis, era curta e rápida. COm o passar do tempo, com o passar dos anos, com o passar das experiências e vivências, a minha fé foi-se desgastando. Aprendi que a religião que seguia e acreditava, apoiava-se em bases pouco sólidas, que era descriminatória, contraditória, egoísta e lenta.
Durante anos a fio perseguiu centenas de gente, inventou guerras e mortes e conquistou meio mundo, com palavras inocentes e fingidas. Como é possível ainda haver gente que tem fé é coisa de admirar, principalmente fé numa igreja que não apoia os contraceptivos, que ficou agarrada às mais variadas memórias e descrimina aqueles que não conseguem ser iguais a todos, apenas porque são diferentes.
Ontem eu perdi toda e qualquer ponta de fé que poderia ainda concentrar em mim. A minha utopia, a minha ilusão desabou. Ontem percebi finalmente que o mundo nunca irá rodar para o mesmo lado, que a guerra fará invariavelmente parte da nossa constante história, independentemente dos avanços da nossa civilização e sociedade. A verdade é que não conseguimos conviver e vi ontem a prova fixa e real da minha afirmação. As duas pessoas que mais estimo neste mundo, sangue do meu sangue, vivem divididas por entre ódios e desamores, antigos e recentes, procurando na infelicidade da outra a resposta para a sua vida e quando procuram demasiado, encontram-se, chocam e explodem.
São sangue do meu sangue, lágrima da minha lágrima, mundo do meu mundo. São pessoas que me amam, mas não encontraram ou perderam a maneira de exprimirem o amor que sentem uma pela outra. Que fé posso eu depositar no governo americano e iraquiano pela paz no mundo, se duas pessoas que gostam, sentem e partilham toda uma corrente de vivências não o conseguem? E que fazer quando se está no meio? Apetece fugir, correr e nunca mais aparecer, porque é dura a realidade de que o mundo nunca vai ser o local mágico e seguro que sempre sonhamos, mas doi mais quando concluímos que dentro do nosso seio familiar, onde tudo deveria ser mais fácil, essa paz também não existe.
Não sei bem quando começou isto tudo, mas há já muito que me encontro entre a desunião das pessoas que me estão próximas, ouvindo parte a parte, fazendo tudo o que mé possível para voltar ajuntar peças de um puzzle que se desencaixaram, mas que se fazer quando perdoar se torna difícil? Aprendi que Jesus perdoou, então porque não nos deu coragem para isso?Aprendi que Jesus amou, então porque não nos deu coração suficientemente grande para tal?Aprendi que o mais pequeno Homem era capaz de mudar o curso da história, então porque é que ninguém nos dá ouvidos?
Um amigo próximo dizia-me que não acredita em Deus porque nunca o sentiu. A verdade é que eu nunca senti fervura da neve na minha cara e sei que ela existe, algures. Não acredito, nem deixo de acreditar, apenas me desviei completamente desse tema, hoje e agora. Tal como mencionava Descartes,"só existem duas coisas que não devem ser postas em causa", uma delas seria Deus.
Eu deixei de o pôr em causa, para o pôr de parte, não porque de todas as vezes que lhe pedi ajuda ele não me ajudou, não porque nunca se mostrou, apenas porque me queimou os olhos com uma verdade tão dura e tão pouco evidente, que nunca mais serei capaz de olhar o mundo com os ohos de uma criança, que já não sou, mas tantas vezes sonho em voltar a ser.