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Friday, May 30, 2008

Antes que o tempo se acabe

Tento sempre começar de uma forma nova. Incalculavelmente e apesar de toda a liberdade consumida, torno-me sempre resistente a este desprendimento de tudo aquilo que supostamente é importante. Para todos.
Enquanto atravesso a água, revejo os pequenos caminhos que fomos todos traçando, como se não existisse ninguém e sorrio. Mais por dentro do que por fora, para não acharem que tenho muitos segredos, como diria a Agustina.
Chamo os grandes autores pelo primeiro nome, como se fosse meus companheiros de eternas memórias, porque é assim que os considero. Próximos, confidentes e principalmente confiáveis. Através deles não viajei, como muitos o tentam advinhar antes de acabar a frase. Antes, deram me vontade de viajar e ver esse mundo pelos meus olhos, sempre com a perspectiva deles na minha consciência.
São mais do que meus conhecidos, ganhei-lhe a confiança de serem levados por mim pela por essa américa latina, onde vigora uma mentalidade colonial muito mais inquietante do que se pressupunha. Lídia, Inês ( sempre Inês) António, José, nomes que representam uma cultura e que no fundo, podiam ser qualquer um de nós.
Enquanto atravesso a água que me rodeia, absorto nestes pensamentos que muitos considerarão inportunos, constato que sempre estive sozinho e de só agora querer ter consciência plena desse facto.
Facto, factos, facto. Tudo me parece uma repetição sem sabor, na maior parte das vezes. Factos que se parecem com verdades irreconhecíveis, postulados que nos indicam o cheiro das coisas, principalmente das inatingíveis.
Enquanto percebo que estou sozinho, compreendo que foi sempre isto que julguei querer dizer-te e que afinal nunca o consegui, por limitação emocional ou sensorial, que há mecanismos ainda não decifrados bem cá por dentro.
Tenho pressa de chegar e contar-te a falta que me fazes, bem por dentro de toda esta água onde consigo ver a minha imagem bem lá no fundo, como se fosse eu que estivesse reflectido por todo o lado onde alcanço e me posso segurar.
A falta que me fazes.
A falta que me fazes e que eu sempre neguei. Tudo é um processo de negação, se reflectir no meu percurso. A negação do amor que sinto é apenas mais uma a juntar a uma colecção infindável de projectos e narrações mal construídas, desenhadas por momentos cinematográficos realizados especialmente por mim e para mim.
Ninguém cabe neles e por isso rejeito qualquer intervenção, sem que ninguém o perceba. Ou talvez não.
Cansei-me de tentar analisar o meu projecto de vida por os olhos que por mim passam e mesmo assim não me canso de achar que te vou perder mais facilmente do que alguma vez julguei e que isso finalmente vai ter algum peso na minha vida.
Quero-me independente, dinâmico, corajoso e muitas vezes demasiado racionalista, como se o mundo em que eu sonhasse não fosse utópico. Passei a chamar-lhe assim, para nunca o esquecer que ele não sobrevive cá fora e fui guardando-o só para mim, num misto de mesquinhez e protecção em demasia.
Mergulho finalmente e sinto-me no meu ambiente puro, imaginando que é aqui que pertenço e não terei mais de voltar à tona. Mergulho para me dispersar da rotina que se faz lá fora, da comodidade de certezas que vamos acomulando no nosso sofá da sala, cada vez que nos sentamos e adormecemos. E quando acordamos, já tudo se passa na escuridão e foi mais um dia do resto da nossa vida.
Mergulho para tentar perceber de que é feita de facto a minha vida, a fim de tentar encontrar alternativas sagazes e vencedoras, mas acabo sempre por me deparar com as que comigo partilham essa merda tantas vezes anunciada que é a nossa vida. Tenho tanta vontade de acordar e que todos acordem comigo que me perco entre tentar encontrar um plano rebuscado que englobe todos aqueles que acabam por me serem queridos e por partilharem um pouco de mim com eles e por terem a coragem de me deixarem sozinho. Que a solidão é esse estado difícil de todos aqueles que não se acham perfeitos o suficiente e do qual todos tentam fugir, um pouco, porque somos confrontados com todas as certezas concretizadas por nós próprios e pela imagem que acabamos por criar de nós, segundo os outros.
Ter tempo para encontrar a solidão é ter tempo para nos afastarmos do sofá, esse acumular de sonhos desfeitos e inconcretizáveis. Desculpem a minha implicância com o sofá, mas é aqui, debaixo de água que vejo o quanto é um dessiminador de doenças como a habituação e ociosidade.
E a ociosidade juntamente com mais alguns conceitos, leva e subscrevo mais um amigo meu , Paulo Prado, à tristeza. Se vivémos numa cultura triste e com falta de alegria de viver, é por causa, muito em parte, dos sofás que vigoram pelas nossas casas e que tentam ser os nossos melhores amigos, sempre que chegámos a casa, estafados da merda do trabalho que os nossos pais nos conseguiram muito a custo, ou da sesta que acabamos por dar todos os domingos.
O sofá é o emblema da tristeza, porque não nos permite ter uma interação com mais ninguém a não ser com o vazio que a televisão nos propõe ou a paisagem que não conseguimos ver, lá fora.
Mesmo sexo de qualidade, é quase impossível, a não ser que estejamos a falar de anões. O sofá afasta-nos da realidade, chama-nos porque é apetecível, mas desgasta-nos e cansa-nos e nós nem percebemos porquê e quando nos levantamos estamos tristes e nem nos damos conta. Achámos que a culpa é do senhor das pizzas que chegou tarde, ou de no dia seguinte termos de ir trabalhar, mas na verdade estamos tristes porque estivemos sozinhos, mesmo que acompanhados.
E ninguém na verdade quer saber, porque achámos sempre que os objectos não têm essa capacidade, quando na verdade eles são personagem coadjuvante de todas as nossas vidas e nós nem queremos saber, por querermos manter a ilusão que superamos sempre, tudo, sozinhos.
E o que se faz com aqueles que amamos? Como é que conseguimos evitar todo este processo em todos aqueles que queremos que se mantenham vivos e que consigam dançar entre o sol que nos queima a pele e anuncia um dia melhor, amanhã, sempre amanhã?
Como é que te faço compreender que se ontem, todos os meus problemas pareciam tão distantes, hoje tudo se retoca e se recria, como se tivesse nascido hoje e que te quero levar para bem longe, onde nos perdemos por entre a noite e onde toda a gente adora as nossas cicratizes, fruto das experiências que fomos adquirindo.
Como se alguém, algum dia fosse compreender o que foi crescer por entre aquela casa, brincar com todos aqueles objectos e mesmo assim continuar a amar quem nos levava para a cama, ao fim de todos estes anos.
O pior, sempre, é de quem já cá estava antes para nos proteger e nós não nos demos conta e por isso a comunicação se torna ruidosa e muitas vezes aflita.
Não, as memórias não são um sonho, por muito que queira, mesmo aqui por entre a água, tudo me parece inócuo e pouco saudável, mas o amor não pode ser negado. Quando voltar à tona, quero regressar e agarrar aquilo que é meu, por direito. Fazer algo como gostaria que tivessem feito por mim, nesse dia em que mergulhei e descobri depois que não sabia nadar. Agora, tudo me faz bem, a água, a areia, mas nesse dia, tudo me pareceu aterrador e eu pensei que ficaria sempre encoberto. Para sempre.
Descobrir o amor que nos pertence e que nunca nos vai deixar é uma tarefa árdua. O David, esse pregador da vida pop é que diz que muitas vezes o amor não é suficiente e eu mesmo não acreditando, vou cantando com ele. Se o amor não é, o que há-de ser? Que outra força puderá superar a vida mundana que criamos? Encho-me de perguntas, sem esperar respostas. Por isso, guardo a fé e o amor que sinto, apenas para mim. Há coisas que evidentemente não podemos partilhar, mesmo que isso nos deixe mais frios.
Por mim, continuaria a escrever mesmo sem ter a certeza se alguém alguma vez vai acabar de ler e me ouvir enquanto permaneço debaixo de água e vejo a minha impressão digital ser cravada na areia, para logo desaparecer.
Estou alienado e conservado pelos segundos que ainda aqui posso permanecer. Aqui não há ninguém, apenas eu e o que resta de mim, felizmente. Encontrei a verdadeira natureza da minha essência, mesmo sabendo que nada voltará a ser tão bom como outrora.


Gostava de te levar comigo, repito. A ti, a ti e a ti. A ver se podemos constituir um recanto mais forte e feliz, baseado naquilo que deve ser união e companheirismo, confiança e lealdade. Quando é que deixamos todos de acreditar que isso poderia ser possível? Separamo-nos por acharmos que nos enfraquecemos, mas cada vez mais tenho a certeza de estarmos todos errados, principalmente aqui, onde vos consigo ouvir e entender porque é que cativámos sempre as pessoas com perfil XXX. Se interessasse contar, contava. Quando passar a interessar, conto.
Até lá, mantenho-me na ignorância de o esquecer, até porque tive a sorte de poder ser o último e antever o que a nossa teimosia nos faz esquecer.
Talvez sejamos todos loucos, que nos apaixonamos sempre por palavras e guitarras daqueles que sabemos que nos vão desperdiçar a vida entre clichés e artigos mal escritos, e que nos acabam por enlouquecer com tanta segurança e banilidade, que incialmente nos cativou.

Estou farto de escrever parágrafos na minha mente a ver se encontro algures ente o arco-íris e a linearidade feminina uma chave de inocência rasgada com um toque de sabedoria de mestre, que claro está, parece não exísitir.
De facto ( e lá vêm os factos), deixei de me interessar por isso, mesmo que aparentemente não pareça. Passei a estar seguro na minha própria leviandade que é nula, quando tem de ser exercida sem vontade e perco a vontade de comunicar, por entre um duche que nunca me limpa, numa casa de banho que não é minha, mas que mesmo assim não me importo. Não fui educado para me incomodar com os limites dos outros. Com esses, posso e aguento eu bem. Posso ter alma, mas no fundo e por mais que isso me mate, não sou um soldado e por isso só quero salvar aqueles a quem eu quero bem.
Talvez tudo se resolvesse com mandar queimar todos os sofás daqueles que os têm (todos) e descansar assim a consciência de ter feito algo por eles.
Enfim, acaba por doer a toda a gente, mas se calhar mais a mim, que estou cá por baixo há tempo demasiado e também me começo a sentir incomodado pela falta de algo mais do que idealizar o futuro da minha vida. Esforço-me tanto para que isso aconteça por ver o exemplo de todos aqueles que apenas vivem para o presente e não consquistam nada que se assegure por si só. Talvez por que foram conquistados e se acomodaram nessa escravidão cultural e nos sofás que foram comprando em quinze prestações.
O mais difícil não há-de de ser dizer adeus, mas de saber a altura que provocará menos consequências. A altura ideal para que isto tudo não se torne num grande cliché, que nunca foi esse o verdadeiro intuito da minha reflexão.
Sei apenas que gostava de te abraçar para sempre, por entre uma guitarra ou um piano, tanto se me faz e fazer força para que tudo corra bem, mesmo que seja aqui, debaixo de água, onde ninguém nos ouve e podemos dizer realmente tudo o que nos vai cá por dentro. Chorar sem que ninguém perceba, chorar mesmo que não tenhamos vontade, chorar mesmo que seja por nada, mesmo que seja por tudo, mesmo que seja por nós, nem que seja pela luz que nunca chegou e nos deixou sozinhos enquanto brincávamos, distraídos.
Gostava de te abraçar e repetir bem alto que havemos sempre de conseguir reactar o que nunca se acabou, que somos mais, nesse fôlogo nunca desfeito, nesse carregar de frustrações e carros emprestados. Fôlogo nosso, partilhado e atribuido, aqui, debaixo de água.
Hei-de voltar, antes que o tempo se acabe.



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