Followers

Tuesday, August 30, 2005

Instituições

Amor, Sexo, Casamento. A partir destas três instituições fizeram-nos crer que tudo deve preencher o mesmo espaço, como se de sinónimos se tratassem. Injectaram-nos estas verdades pouco transparentes numa sociedade edónica que se deixa levar pelo prazer, mesmo quando este não compensa.
Estranho, no mínimo, que nos continuemos a deixar guiar por estas questões implementadas por uma falsa moral, que tem apenas alguns propósitos que nunca nos levaram a lado nenhum. Estranho é, que numa sociedade que se discute tanto, se questiona tanto, haja tanta pouca gente que consiga atingir um distanciamento que nos faça pensar com clarividência. E pensar é sempre o acto mais violento, já apontava essa gulosa pelas palavras, Agustina B. L. Continuamos a perseguir essa ideia errada que os homens têm uma predisposição nata para o sexo, como se de uma obrigação ou lei se tratasse. Como se valesse a pena fazer sexo, mesmo que este seja mau, sujo e inútil. Como se fosse ele – e sabemos sempre que não – o grande chamariz das grandes cruzadas ou a luz que nos guiará a um lugar mais seguro. Vivemos na chamada “hipocrisia de classes”, em que nos atacamos mutuamente, sem que para isso arranjemos soluções dignificantes, sem que para isso percebamos que o nosso próprio bem estar deve vir primeiro do que qualquer instituição, seja ela de que carácter for.
Por isso, entre tantos outros factos, que nos foi incutida a ideia de que o sexo deve ser só depois do casamento, como se dele dependesse toda uma relação. E quando apenas a presença da pessoa que se deita todos os dias nos preenche, nos eleva, nos consegue transmitir toda aquela paz que sempre procurámos nas grandes festas da nossa família? Limitamo-nos a seguir aquilo que ouvimos ou lemos, apenas por a maioria não conseguir perspectivar o que os condutores do programa “Estes difíceis amores” conseguiram. Não queremos nada e queremos tudo, através de fases que nos implementaram, planos e esquissos de relações modelo em que tudo deve ter um lugar para começar e acabar. Em que a mulher, seguindo esta trama, acabará por facilmente se descartar do homem quando esta moral pós-moderna terminar, já que o seu único propósito é e sempre foi a proliferação da raça humana. Quando estes agentes neo-liberais se aperceberem que o homem já não é preciso para que uma instituição funcione e prossiga, não haverá mais espaço para este, já que a mulher num futuro próximo será capaz de continuar o processo de fecundação, sem que para isso seja preciso a presença física de um homem ao seu lado. Porque é isso que nos incutem, desde pequenos ideias planas e terrenas, quando só devíamos ver desenhos-animados que nos falassem de algo que será sempre intocável.


Falam-nos do homem que tem de coleccionar uma caderneta de cromos sexuais, mesmo que este não tenha gostado e de mulheres que serão mais reticentes a esse facto. Falam-nos de tanta coisa, que acabámos por pensar como os americanos que se ridicularizam com frases do género, “o sexo é como a pizza, quando é mau consegue ser bom”.
E quando um dia, um homem qualquer acordar e não lhe apetecer ter sexo, violento e puro, como lhe ensinam no “Levanta-te e Ri” vai ser motivo de gozo e de reprimenda, só porque a ele lhe chega o contacto emocional, só porque a carne não o excita mais, só porque encontrou apenas o caminho para uma paz feliz.
Não é disso que andámos todos à procura, afinal?

"Gosto de ter o melhor sexo possível, por isso, sempre que posso, faço-o comigo" Woody Allen