Followers

Sunday, September 20, 2009

Feels Like Home




Há algo que apraz sentir. Sem pressas, que me faz sentir em casa e nada pode ser mudado e eu posso deitar-me nesse sofá repleto de segurança e coerência eterna. Para onde posso correr, sempre que tudo à minha volta não faz sentido. Sempre que a morte se aproxima, sempre que a vida me tira um pouco mais de fôlego. Como se tudo fosse irremediavelmente terminar, depois de amanhã.
Enquanto faz sol, enquanto te posso abraçar, nessa ternura que me prometeste e que tão poucas vezes me fazes sentir. E é então que me sinto em casa, onde posso adormecer de olhos bem fechados, sem segurar a alma, sem me preocupar com o que o mundo faz lá fora, onde pertenço, bem cá dentro, dentro de mim.
Sem me preocupar com as minhas imperfeições, sem me preocupar se consigo suster a lágrima que teima em não se segurar, se consigo soltar a gargalhada um pouco mais alto, se consigo ser eu, nem que seja apenas por mais uns instantes. Uns instantes.
É tudo o que tenho, é tudo o que sempre tive.
Viver, a saber perfeitamente que a música ainda há-de mudar, que não há momento que perdure e eu neurótico, claro, a tentar suster o ar dentro de mim, fechado entre paredes e silêncios, procura de uma vida que já me pertenceu e eu talvez não tenha sabido agarrar. À procura de uma vida, que nunca terei tido e que não me pertence. E se ao menos soubesses o quanto ainda te retenho, o quanto em mim permaneces, nessas guerras, onde se soltam canhões diariamente, onde todos os dias desaparecemos dentro de frases feitas, palavras vãs, apenas para disfarçarmos que não somos nada um sem o outro.
Há qualquer coisa de profundamente triste nisto tudo.
Há qualquer coisa de irremediavelmente bonito nisto tudo.
Quando é que vamos entender que o tempo escasseia, que podíamos ser tudo aquilo que não somos, que podíamos transformar a raiva e a mediocridade em algo colorido a feliz, naturalmente, como nunca o fizemos. Onde poderíamos regressar, sentir-mos a espinha a contrair-se e ficarmos completos apenas porque partilhamos a mesma vida, enquanto ainda o conseguimos e podemos permanecer. Aqui, bem dentro de nós.
Se soubesses o quão feliz me podes fazer, se soubesses o quão feliz este amor irremediavelmente piroso, mas puro, que tenho para te entregar, te pode agarrar e nunca te deixar…
E tudo o que queria era deixar o resto do mundo para trás, deitar-me contigo aqui, onde podemos reconhecer as folhas no chão e sentir o cheiro a churrasco, ainda e concluir que Setembro não pode deixar de ser tão estranho…
As nossas vidas a voltarem a incluir-se e talvez nós a sermos tudo aquilo que queríamos ser, daqui a alguns anos, deitados na mesma relva, a olhar o céu bem escuro, sem trocarmos uma única palavra, para não estragar o momento, sem deixar que nada nos interrompa, com as gargalhadas de uma casa grande por detrás e os nossos sonhos todos construídos em grandes alicerces, sem vírgulas ou pontos finais, felizes, a sonhar, acordados e muitas gargalhadas à nossa volta.
Tudo contigo.
Eu contigo, tu com a minha mão – sinto-me em casa.
Talvez noutro dia, um dia gigante, um dia corrosivo, um dia em que não salvaste ninguém, um dia em que te abraço e esqueces o filho da puta do remédio que não entrou no sangue a tempo. E sim, outro dia, um dia cinzento, um domingo, claro!, onde não cozinhamos, escondemos os tachos e as panelas, esquecemos o telemóvel e o facebook, esquecemos o chefe e o fígado que está a dar as últimas e ficamos no sofá, sem nos esquecermos um do outro, ligados, como sempre. Como sempre tentamos ser. Como um dia teremos sido. Egoístas, imaturos, inseguros.
É assim que as guerras começam. Alguém pensa que alguém vai atacar alguém e de repente, ninguém sabe muito bem como nem porquê, arrancam os tanques, soltam-se as bombas e tudo desmorona à volta. Constroem-se alianças, formas de garantir uma sobrevivência para além da derrota. Formas de garantirmos a sobrevivência, depois de tudo estar extinto. Formas de garantirmos que não ficaremos sozinhos, para sempre.
Filho da puta do tempo, e se ao menos soubesses o tempo que esperei por encontrar o toque, o teu toque, onde tudo se converge, onde me encontro e me esqueço por dentro de ti, que nada importa.
Onde eu pertenço.


BSO – Feels like home – edwin hayes