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Wednesday, March 29, 2006

Cegueira Cordial

A decisão de tomar as rédeas da situação, de ser a personagem intermitente numa música que se desenrola por cima da mesa, onde tudo se passava e de onde nada saía. Eram aqueles momentos interrompidos pela tecnologia do saber que se precisa necessitadamente de uma mão, apenas para nos sentirmos seguros o suficiente para nos deixarmos cair nessa prova que é o querer desesperadamente, quando o envolvente que nos rodeia nos tenta impedir de alcançar esse verbo inalterável.

È assim que tudo começa, essa necessidade de nos sentirmos livres dentro de algo que nos controla os movimentos, de precisarmos de alguém que não precise de nós, de querermos algo que não nos merece, apenas se funde na ilusão daquilo que sempre quisemos, embrenhado nessa confusão manipulada por cafés e luzes mais ao menos coloridas.

É esta ponte entre o querer e o ter, o possuir e o nunca desfazer pela inconsequência da visão que a maior parte de nós não tem, - porque cegos uma vez , para sempre cegos – nessa ausência que é o Universo e a existência de algo mais transcendente, quando embrenhados no nosso egoísmo e prepotência, nos julgávamos sozinhos, nesse espaço onde se reflecte o alcance daquilo que aprendemos e sonhámos.

Somos todos o mesmo, o sentimento de massas que advém desde os primórdios, de esquerda ou de direita, o caminho há-de ser sempre o mesmo, continuamente, mesmo que a televisão nos continue a tentar deturpar o que acontece nas relações inter-pessoais de cada um de nós, mesmo que a imensidão desta grandeza seja de difícil conexão, com o mundo que respira lá fora.


O convite que se faz, à espera de ser recebido, a conversa de treta que se mantém apenas para se ser aceite, a piada que se manda apenas para se ser superior, a música que se ouve para se ser duro. È tudo uma questão de códigos sociais transmissíveis, através de pais para filhos, numa educação democrata-cristã, onde a diferença é repudiada e a serenidade nunca há-de ser encontrada.

É por isso fundamentalmente que se quer tudo, tem de se ter tudo, conquistar tudo, alcançar tudo, verbalizar infinitamente tudo, até a engrenagem parar e por fim, pudermos respirar.
Caminhamos todos por entre as mesmas quezílias e “estórias” cruzadas, quereres de que tudo se torne perfeito, de que as imagens negativas se apaguem do passado mal alicerçado e que principalmente, tudo desapareça sorrateiramente, embora todos tenhamos passado um requerimento a concordar com tal conjectura de factos.
É isto o querer. O nunca ter.