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Tuesday, December 11, 2007

Extinção III

Não é a vida que se não viveu que se desgosta.
Estou inerte e contudo ainda com tanto por te dar. Sentada, deitada, imaculada, cheia de prazer por ti.
As paredes amarelas não me trazem a paz que tanto prometeram e no entanto, são elas que anunciam a tua ausência, que sei de cor.
Tentei tantas e tantas vezes acordar, a ver se o amor se esvaía e por fim tudo deixava de ser um lugar honrosamente estranho.
Planeio fugas à tua consciência, saber se ainda penas em mim, mesmo quando não o dizes, mesmo quando não me olhas, mesmo quando não sentes.
Dizem que hás-de caminhar para a morte contínua, que nunca poderás andar, mesmo quando eu só te imagino a correr na minha direcção, que a tua fuga foi de ti próprio e de algo que eu nunca poderia compreender e que mesmo assim, eu sei que sempre aceitaria.
Sou rigorosa o suficiente para não me veres cair e benevolente demais para me veres chorar. Não há sofrimento que ultrapasse a vontade que é querer-te perdoar , sem saber que ângulo escolher ou a felicidade de nunca te dizer adeus enquanto os teus olhos não se afastarem dos meus.
O que interessa da vida é a bagagem nos nossos SONHOS
Por isso, não acordo e deixo-me sorrateiramente imaginar que me abraças enquanto te agarro e volto a sentir a tesão que só sente quando percebemos que o amor é um acto falhado, em tantos de nós.
Adormeço. Sonho. Vivo.
Não te esqueço porque não quero. Não te esqueço porque não tenho graça para suficiente para engrandecer a minha forma, enquanto força que fui.
Tua. Já não minha
A inspiração que me deste, foi-se enquanto te vi chegar ao mesmo local onde eu já perdi as mãos entres os cadáveres inanimados que me chegam ou o sangue que não controlo. Percebi por via da maldita circunstância, que Deus não me tinha dado um dom para o ajudar a salvar aqueles que não receavam a minha ajuda, mas sim a confrontar a sua própria magnificência e a provar que também Ele, embora muito raramente, não é o ser perfeito que tanto fez questão que idealizássemos.
Por isso, não me levanto mais, enquanto pouso a tequilla que tanto me obrigaste a saber apreciar. Dizias que tudo é uma questão de contexto e motivação. Que o ser humano é capaz da maior conquista, assim como da maior fraqueza evidente e que por isso mesmo, os acontecimentos teriam de ter o local perfeito para terem ocorrência.
Ocorrência talvez não tenha sido a melhor forma de narrar todos os acontecimentos. Dizias que gostavas de velocidade e sapiência, que quem conseguisse dominar estes dois factores aparentemente antagónicos, controlava a matriz do conhecimento humano e que por isso mesmo, conseguiria ser mais e melhor.
Talvez por isso, te tenha visto sempre a correr, tentando compor os momentos com toque infundado de inteligência óbvia. Mesmo o sexo tinha lugar a partir do corpo e da memória, as palavras ditas no momento certo, já que raramente as usavas, os corpos que balançavam a toda rapidamente e tu a conduzires a toda a velocidade. Sempre.
Inicialmente não compreendia deliberadamente a tua essência. Chamava-lhe autismo, já que parecia que vias um mundo completamente diferente daquele que todos me davam a conhecer e que eu fui também absorvendo.
Falavas-me em estrelas que nunca se soltavam, sonhos que tinha de ser lidos alto e consequentemente, lugares que eu sabia que já tinha visto, mas que tinha a certeza qu e não existiam. Mergulhavas na bebida, para teres a veracidade que se concede a um homem embriagado e encantavas a plateia normalmente constituída por mim, com essa noção pouco clara do que era o mundo, de facto.

Não é sobressaltada que abro os olhos e constato que não estás ao meu lado. Apenas a tequilla e a imagem do que foi restando da minha personalidade materialista e convicta de que só os objectos perduram na nossa existência.
Talvez porque nunca tivesse querido amar tanto ninguém, como o faço agora que sei que nunca mais terei a oportunidade de encantar a porra da morte e ganhar-lhe alguns minutos.
O que interessa não é a paz de ter chegado.

O que é grande e belo é isto de chegar
E ter logo e sempre a coragem de partir.
Os teus poetas tinham razão e eloquência suficiente, mas eles não corriam nem fugiam. Eram lentos e pouco sensíveis à velocidade e por isso, perduram. Quando me mostraste a poesia que escrevias com as tuas mãos que me haveriam de guiar entre essa intenção que é deixar-se abraçar por inteiro, percebi que não havia nada que pudesse fazer que me afastasse da esperança em acordar de manhã e não te querer ver mais.
Não foi a velocidade que te matou e se foi a ilusão de que não te perdoaria, então morres em vão.





Best Friend – Marcos Leal – Do Outro lado de mim