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Tuesday, December 23, 2008

Resposta ao Blog Entre Evas e Serpentes


  1. Banda, artista favorito e afins
    The Killers, Rádio Macau,Caetano Veloso, Whitney Houston

  2. És homem ou mulher?
    Spaceman
  3. Descreve-te.
    I´ve got soul but i ´m not a soldier ( the killers)

  4. O que pensam as pessoas de ti?

    I don´t mind what people say (d-note)

  5. Como descreves o teu último relacionamento?
    Já não sei o que é sentir o teu amor por mim, julgava que se falasses era fácil de entender ( the gift)

  6. Descreve o estado actual da tua relação.
    The look of love (diana krall)

  7. Onde estarias agora?
    “Where soul meets body”death cab 4 cutie”

  8. O que pensas a respeito do amor?
    Drastic Fantastic ( Kt Tunstall)

  9. Como é a tua vida?
    I know the heart of life is good ( john mayer)

  10. O que pedirias se só pudesses ter um desejo?
    All I want 4 christmas is you ( Mariah carey)

  11. Escreve uma frase sábia.
    There’s always one reason to not feel good enough ( sarah M.)

Foi um prazer responder ao questionário, caro Adão.

Blog do Adão: Entre Evas e Serpentes!

Friday, December 12, 2008

a.m.o.t.e



Gosto de te ver passar.
Gosto de ver que vais ficar.
Aqui.
Em mim.
Hoje.
Perceber que sou forte para te conquistar.
Que vamos.
Que nunca ficaremos.
Para trás, no fim, no escuro.
Longe.
Um do outro.
Fora do círculo que nos torna menos Amargos
Incapacitados ou inadaptados.
Hoje, provavelmente preferia dormir ao teu lado
E ver as imagens que construímos, perto
Bem Perto.
Neste sono que deixou de chegar sem aviso
Porque deixei de o tentar, Porque tu estás comigo e me desconcentras
E me trazes tudo de volta, outra vez.
O primeiro sorriso, a primeira gargalhada, o primeiro beijo na praia.
O mar que nos acolhia, o cigarro a apagar-se e a ignorância deixada às pessoas que passavam por nós, sem que lhes dêssemos rosto ou figura, apenas objectos apinhados ao redor da nossa realidade formada por sonhos e objectivos comuns, recriados com a força da adultez própria que os psícologos da nova geração tanto descrevem.
Queria era descrever esta sensação de ter medo que o mundo acabe amanhã, apenas porque ainda não te dei tudo aquilo que mereces.
Esta sofreguidão em comer o mundo com a primeira dentada, para ter um pouco mais de tempo para explicar todos os medinhos e coisinhas inúteis que pairam por esta cabeça
TANTAS VEZES.
Poucas, algumas. Certas nem sempre serão.
Vou buscar a fotografia que por aqui deixaste, afixada numa das paredes que delimitam o meu espaço, na minha própria casa.
Oxalá nunca me tenha de lembrar de qual é a tua música preferida, até porque não sei. Desisti de anotar todas as pequenas curiosidades que toda a gente tenta preencher, para tentar mostrar-te melodias que podem ser nossas, criadas a partir da nossa própria inspiração.
Pergunto-me, por vezes, se existes ou és a minha recriação do romantismo realista, da posição equilibrada que tanto pretendia alcançar, do gozo sentido que me corta a respiração por breves segundos.
Segundos
Anos
Meses
Tudo trocado e misturado, como se o tempo em que privo da tua presença não existísse, mas aquele em que estou sem ti fizesse trroça de mim, sem aviso prévio.
Talvez perceba agora o medo que o ser-humano sente da morte e das suas rasteiras. É duro tudo acabar, quando se começava a ganhar o gosto.
Amo-te
Como se dizer a.m.o.t.e se tivesse tornado proíbido, mas eu digo-o na mesma. Vivémos na era da pirosisse instalada, do sexo mediático e achamos brejeiro dizer alto e bom som “ eu amo-te”, mesmo que não o admitamos.


Quero ver-te passar
A dizer que me amas
A dizer que me adoras ver gozar
A gozar
E eu provavalmente ia gostar
Poe detrás dessa luta
Insana
Por ficar menos receoso
Sem conexo
Sem amarguras
Com a sensação de não precisar
Por não precisar
Sem palavras ou dilemas
Só tu e eu.
À noite, onde nos podemos perder
E encontrar
Como tu me encotraste
Como eu te encontrei
Como não nos salvamos
Apenas nos reconhecemos.


“Eu também”

Monday, December 01, 2008

Afinal


Vivemos todos como queremos, ao redor das nossas próprias experiências, embrenhados na burocracia que fomos construindo à nossa volta, apenas para que no fim, nos possamos sentir um pouco mais distantes daquilo que realmente importa.
E aquilo que realmente importa será difícil de distinguir. Ninguém sabe já definir o bem do mal, assim como já ninguém sabe se o PS é um partido de esquerda ou da direita.
Estamos na época da ruptura com os paradigmas impostos, em que aquilo que era ontem pode já não o ser amanhã.
Vemos pessoas respeitadas e vangloriadas pelos seus actos na RtpMemória, que hoje estão à espera de serem julgadas por crimes que apenas eles dizem não terem cometido. Já ninguém pode acreditar em nada, mesmo no certificado científico que dia após dia parece estar em constante mutação.
Afinal, há cura para a sida e o cancro do útero já não vai matar todos os dias uma portuguesa. Afinal, deve haver cura para tudo, basta pedir à indústria farmacêutica que divulgue os conhecimentos que tem pela comunidade mundial, principalmente pelos países de terceiro mundo, que famintos e porcos, vão sobrevivendo a custo, passando a gerações futuras todas as doenças que lhes deixamos nos genes.
E afinal, é tudo sobre os genes. Todas as perturbações, todas as irritações e até mesmo a infidelidade nos vem moldada pelos genes, segundo um desses estudos que se faz de boca cheia num país que mais parece ser uma ilha pertencente à América do que a grande potência que já foi e ainda pode voltar a ser.
Afinal, a Inglaterra é que sabe. Entrou na dita comunidade, mas não aceitou as regras, ao invés, impôs-se, rejeitou a moeda e fez-se grande, mas só entre os pequenos. É o país bonito, mas só entre os feios. O país rico, só entre os pobres.
E afinal é tudo feito desta forma. Educamos as crianças para elas aos 4 anos estarem aptas a trabalharem com computadores ao invés de as ajudarmos a cultivar o pensamento crítico e a liberdade de expressão.
“O povo quer-se anestesiado”, referia a Inês Pedrosa na sua crónica de 30/11/2008 e os jovens também. Ninguém quer tornar os acesso aos livros o mais democrático possível ( um livro do António L. Antunes custa 25 Euros), queremos é criar programas onde os jovens possam procurar um exemplo de autodestruição como os Morangos e não lhes dar chantilly no fim, porque engorda e ninguém gosta de jovens gordos e feios. Ninguém gosta de não-jovens. Por isso é que começam a saber usar os computadores tão cedo e a compreenderem para que serve um rato em vez de brincarem e de viverem, simplesmente. E por isso é que ninguém gosta de velhos.
Afinal, aos jovens podemos incutir todas as ideias que quisermos e quanto mais cedo, melhor. Os políticos sabem disso e é por isso que nunca apontam os seus grandiosos discursos para as pessoas de idade. Porque a estes já ninguém tem vontade ou paciência para lhes conseguir mudar as ideias que têm, já há muitos anos e também porque estão à espera que morram rápido e se esqueçam de ir ás urnas, até porque a segurança social começa a não chegar para toda a gente e a Santa Casa só tem misericórdia para alguns.
Não sou comunista, mas tento evitar a todo o custo esta ideia de que para sermos cultos temos de saber responder aos inquéritos da Lux ou saber que político é que está a ser parodiado nos domingos pelo Zé Carlos.
Ninguém nos pede para pensarmos livremente, pedem-nos sim para arranjarmos alguém que pense, que nos faça os discursos e crie alguma ideia que vingue. O mundo capitalista criou e cria uma fonte de rendimento em todos os lados possíveis e imaginários e por isso, pensou-se que nunca teria fim. E talvez não tenha, por agora.
O futuro o dirá, mas o certo é que os funcionários da Zara já chegaram à conclusão que por muitos presentes de natal que recebam da Inditex, serão sempre escravos deste mercado e que nunca serão suficientemente bem pagos.
O mundo capitalista tem como base a ignorância e a ingenuidade. Dizemos que criamos emprego para todos, mas só alguns é que ganham alguma coisa com isso e muito menos aqueles que têm tempo para gastar aquilo que ganham.
Afinal, o tempo escasseia e por isso é que temos assessores provados, empregadas domésticas, telemóveis ligados à Internet com a funcionalidade de abrirem power points ( sim, que sem power points não há mais ninguém que consiga fazer um discurso. Já ninguém sabe falar simplesmente?), cães robôs (porque já não há paciência para lhes darmos comida e porque o condomínio nos impede de os termos a ladrar depois das 10), personal trainers para nos porem em forma e podermos fazer boa figura numa dessas festas que todos os fins de semana elegem os mais bem vestidos e os mais bem compostos ( who cares?).
Afinal e no final perde-se a cultura e fica-se com informação desnecessária. Ficamos com as Nike, mas esquecemo-nos do preto que nos entra pelo noticiário descalço e à procura de um grão de arroz.
Esquecemo-nos de nós.
Afinal, andamos cá para quê?


Lutar com palavras é a luta mais vã
Enquanto lutamos, mal rompe a manhã

Carlos Drummond de Andrade

Monday, November 17, 2008

Longe Demais

Queria-te perto.

Encontrei um rascunho, desses que só se faz quando se é criança e ainda podem arrancar algo maior de nós, para além da honestidade instaurada na nossa expressão facial.
Houve um tempo em que talvez te tenha julgado, de forma errada talvez e provavelmente, perdemo-nos entre a distância física e uma inocência que perdida, me arrepia e me faz ter um bocadinho menos de esperanla em quem está à minha volta, diariamente.
É preciso ter-se maturidade suficiente para sabermos de quem gostamos e com quem estamos dispostos a discutir. Entre isso, encontram-se as fotografias espalhadas por uma casa grande de mais para conseguir unir duas pessoas que esperam nunca se cruzar, na esperança de não terem de ver a sua imagem frágil e debilitada no rosto de quem amam, mas não conseguem fixar em si.
Lembro-me pouco de ti. Tenho imagens turvas na minha memória, que não ouso vasculhar numa espera cansada e mortificante – não pretendo saber mais. Medo de acordar, fuga da lembrança presa e fixa. Medo de magoar.
O vento e o teu cabelo contudo, fazem parte dessa memória gasta, entre um café e um livro da Rua Sésamo. O cigarro apagado à minha frente e eu feliz e contente. Ela existe.
Elas sempre existiram e provavelmente, a culpa de não as captar mais frequentemente seja minha.
Se tentar um pouco mais, pode ser que nunca mais me esqueça. Eu parado a tentar compreender onde ias, se voltavas e porque ias. Eram palavras demais, fundamentos sem causa, interpretações vazias, como os adultos adoram e refazem.
Aceitei tudo com uma normalidade imposta, não por falta de entendimento, mas por não ser o catalisador máximo da minha construçao e identidade.
E então, ali estão eles :
Os cabelos longos e pretos, a voz a pedir um pouco de compreensão e eu que não era suficientemente crescido para te mostrar que não te esqueceria.
E mesmo agora que o sou, parece que não o consigo fazer. Imaginas-me alienado da tua presença, emberenhado em funções e acções que não domino e a deixar que a vida me leve, irremediavelmente.
Mesmo agora que o posso, não te digo – Não vás, que havemos de sentir a tua presença um pouco afastada e nunca privaremos do mesmo conhecimento que a vida nos ofereceu nem da partilha dessa mesma entrega. Não vás, que o amor que temos para te dar não nasceu ontem e mantém-se, mesmo quando insisto em não falar contigo a ver se sentes saudades e voltas a

Casa

Onde nunca te vi, onde nunca te encontrei, onde só agora te perspectivo entre uma neblina de tédio e amargura, como se o mundo nunca mais fosse acabar e tivesses de viver nele para sempre.
Queria-te perto.

Thursday, November 06, 2008

Que nunca adormeçamos

É tudo uma certeza infinita.

Certeza de que o meu pensamento está retido na tua inocência. Afogado na tua presença feita de espuma de sabão e de todos aqueles momentos que sempre quisera partilhar, mas que nunca me foram concedidos fora das telas, perspectivados por uma imensidão de pipocas.

Pensei em nunca mais escrever sobre tudo aquilo que continuamente trazes à minha vida, à qual impinges um pouco mais de realidade sensorial, mas confesso.

Não posso cumprir a minha vontade.

Trata-se de algo inato e incalculado. È forçado pela junção da minha inconsciência com a materialização dos meus actos, enquanto te escuto numa das inúmeras canções que passam na rádio.Imagino que foram todas feitas e refeitas a pensar em mim e na felicidade que possuo e levo comigo, de cada vez que te sinto presente. De cada vez que me recordo que não terei de tentar mais nada, de cada vez que tenho a certeza que ficas, para sempre.

Inocentemente, vejo-me a viver todos aqueles momentos banais e incalculavelmente estúpidos que completam o quadro perfeito da minha existência. Sou perfeitamente cheio de todas aquelas ações típicas, que preechem os meus sentidos e que me fazem sonhar um pouco mais alto.

Tu a beberes café.

Eu a passar por ti.

Tu a leres o jornal.

Nós a ligarmos o carro.

Não é uma prática normal, mas entendo agora que apesar da minimalidade de todas estas acções, nada me faria mais pleno do que concretizar cada uma delas contigo. Houve tempos em que pensara que não fora feito para este tipo de rotinas e esquema spré-concebidos, em que o cabia nos outros, não me serviria a mim. Tamanho desadequado para aquilo que visto, pensara.

Não foi uma mudança de ideologia, se assim o puder chamar, nalgum dia em que acordei mais preenchido por esta nova orientação.

Surgiu apenas, com a naturalidade com que tudo surge, entre sonhos desfeitos e outros tantos por realizar.Por entre uma vontade inata de partilhar a incrível sensação de se estar vivo e tudo aquilo que comporta toda a merda que podemos sentir quando realmente nos damos conta de todas as sensações que isso abarca. Por entre a vontade que tenho em te abraçar, de me abraçar, de nos abraçar.

Destruir o pó, portanto. Deixar para trás a fugacidade digna de uma adolescência repleta por monstros e papões, que realisticamente nunca existiram mesmo e que tornaram tudo, no fundo, muito mais arriscado e saboroso do que poderia ser, dignamente.

Entre as palavras que nunca te disse

Entre o olhar que me fazes ter

Há algo que deve ser escrito

Para que nunca te esqueças, para que nunca adormeças.

Que nunca adormeçamos.”

É tudo uma certeza infinita e tudo já me explicou que nada deve ser tão linearmente perfeito. Por isso e para isso, existe o nosso feitiosinho de quem levou mais carinho do que aquele que poderia comportar e que talvez por isso tenha ficado mal habituado, para nos lembrar que há coisas que só existem porque as queremos.
Se há alguma lição que deve ser apreendida da tua presença em mim, é que não há nada que não possamos ter. Precisamos é de querer.

E eu quero-te a ti, com toda a tua força e com toda a tua altura, em que fazes de mim o homem maior do mundo, não por ser alto, mas por depositares em mim todas as esperanças de poderes partilhar tudo isto com alguém, eternamente.

Quem me lê, deverá referir-se a mim como mais um adulto que se esqueceu que tudo aquilo que é bom, tem um final. Eu digo : que se fodam todos os exemplos de finais inacabados, rupturas tortas, passeios partilhados pela solidão de quem lá a deixou.

Havemos de ser muito mais, onde formos e onde tivermos. Apenas porque o queremos.

Thursday, October 09, 2008

Chaves

Abro a porta e deixo-me adormecer. A televisão ainda grita por alguma audiência, mas a verdade, essa esvai-se por entre o momento em que finjo que não te quero, apenas porque não te posso ter.
Apesar disso, guardo ainda os resquícios que restaram de ti, por entre o chão onde me refugio agora, esperando algo encontro inconsciente, enquanto as almas se tentam unir numa dimensão paralela.
Sei que a divisão da matéria vive desfragmentada entre duas realidades. E é por elas que me vou guiando, e seguindo um cheiro envolto numa nova cor que me ilumina e me fascina, um pouco mais, de cada vez que encerro um olhar e constato que é o teu que encontro.
Antes e o depois
Tudo é dividido e refeito até ter encontrado esta nova perspectiva oferecida por ti, onde os sentidos se elevam e me oferecem uma multidisciplinaridade de novos conhecimentos em acontecimentos e factos que sempre me pareceram vazios de novas experiencias em si mesmos.
Antes e o depois
Antes onde existia uma mão precisa e contínua, feita de sonhos que não sabia como alcançar e que por isso mesmo, temente de ficar agarrada a si mesma, desistira do que sempre tentara almejar.
O depois, onde figuras tu e essa intencionalidade inocente de me fazer sentir o melhor, onde crescemos e imaginamos colectivamente uma intenção mais saudável e onde a partilha e a entrega ganham um novo som.
Sei muito pouco por onde hei-de criar e expor a verdadeira natureza de este sentimento, que julgo figurar no panteão dos sentimentos puros e por isso nobres. Talvez não o devesse tentar explicar ou justificar, recolher-me dentro de mim e dedicar-me a ele ao invés de o tentar discernir e compreender. Dizem tantas vezes que o sentimento é puramente casual, mas cada vez mais tenho a noção que isso de facto não é real. Que há uma grande parte de nós que o pode fazer crescer, nascer, renascer ou crucificar, dependendo da etapa em que o nosso percurso se encontrar.
Como alguém aqui escreveu, normalmente apaixonámo-nos por algo que já perdemos e voltamos de alguma forma a reter em nós. Da minha parte, retenho em ti, a vontade de viver e conviver lado a lado, como se na eventualidade do mundo acabar amanhã, tudo seria mais perfeito apenas porque me levarias contigo.
O amor apaixonado tem sempre algo de mórbido aos olhos das outras pessoas, mas só quem vives estas “estórias” é que sabe o que realmente significa a grandeza de cada momento, sempre que estamos acompanhados. Parece uma droga, que nos deturpa os sentidos, engrandecendo a merda de país em que muitas vezes vivemos. Onde até a política parece mais sensata e real do que parece e a lei que deveria ser um direito constitucional seria aprovada eo mundo acabaria por ser um lugar melhor, algum dia.
Isto só me faz crer que a maioria dos toxicodependentes nunca amou de verdade ninguém, muito menos a si próprios, pois então, muito provavelmente, não teriam de recorrer a químicos para poderem ter sensações transcendentes e magníficas. Ou provavelmente se amaram, não souberam lidar com esse facto e acabaram engolidos e afogados.
Entretanto já acordei e a porta está fechada. A paz que harmonia a minha consciência está presente e sei que regressaste, algures, por entre alguma divisão da casa. Já nada faz sentido e muito provavelmente este texto também não. O relógio deixou de funcionar – felizmente – e por isso, já me é impossível reflectir sobre o passar do tempo na tua ausência.
Não escreverei mais sobre ti durante algum tempo. Quero perder-me contigo e na felicidade que é viver ao teu lado. Guardar-te só para mim, gritar ao mundo que sou teu e fechar a porta. Afinal, as chaves já estão contigo.

BEst Friend Ana Free. In my Place

Friday, October 03, 2008

Futuro Presente

Escreveria um poema, se pudesse. Desses que fazem as pessoas sonhar e querer acordar, apenas quando se tem a consciência que já o realizamos, por completo.
A ver se me perco de ti, onde invariavelmente me encontro facilmente, por entre o riso que é só teu e as inconveniências de uma criança que teima em não querer ser adulto.
Adulto
Esse estado de profunda comodidade, onde nada se cria, apenas se vicia o sentido que a realidade cheira e sabe, a ver se nos esquecemos o que era nunca termos responsabilidades acrescidas.
O que foi.
De inocência refeita na tua presença que me oferece a segurança inerente a qualquer sensação perfeita e incólume, como se o mundo se baseasse na força dessa palavra que inebria e embriaga, como se fosse de ti que bebesse.
Cada palavra
Cada abraço
Cada beijo e o mundo pudesse acabar amanhã, que mesmo assim não teria medo.
Medo apenas que o nosso reencontro se proporcione às pessoas que nos rodeiam e que tenhamos sempre consciente que o que possuímos é a vida que sempre quisemos e que nunca havíamos construído.
“ Entre a sensação de ser teu
E de não me encontrar sem ser em ti
A fazer de conta que não te importas
Como se não significasses o mundo para mim”.
E afinal, todas as regras impostas por um ser em constante mutação e que acabou por buscar no racionalismo convicto a sua maior arma de defesa, não funcionaram. Perderam-se-desgataram-se-engoliram-se-absorveram-se
E fiquei eu à espera de ser liberto, à espera que tivesses o que realmente era necessário para me libertar. Foram-se os conceitos e as noções vagas do desenrolar próprio das equações mal definidas. Primeiro os números, depois as chavetas e só depois um resultado, mais ao menos certo.
Perdi a arquitectura do tempo, composta por mim. Os momentos passaram-se a criar e o riso voltou a ser da criança que tinha ficado escondida entre os sonhos de infância e a esperança que tudo fizesse sentido, no final.
O tempo.
Esse mago recriado por mim. Ditador de finais premeditados, desculpa incontrolável para tudo ter uma ordem certa, rotina e desgaste próprio a ver se me esquecia do que realmente importava.
Essa ordem natural, cheia de tudos e de nadas, narrações lidas por mim, tirano da minha própria vida, a ver se algum dia encalhava na tua estrela e me fixava por ela, enquanto me curava.
O tempo há muito que foi esquecido. Restam as memórias que tenho de algo que ajudei a criar e do qual me sinto muito orgulhoso. De poder iniciar toda esta vontade envolta em esperança de que anos mais tarde, nos recordemos de como tudo tem um início incerto e um resultado puramente certo, apenas porque o resultado das contas é o correcto.
Correcto és tu para mim, entre a pele morena que me faz querer mais, sempre que a alcanço. Correcto é a tua dicção e construção frásica, apenas porque já não me importo com a ordem. Passei a ser caos, enquanto enalteço o caminho mais fiável que segui, até hoje. E perceber a importância do toque e entender que é uma das grandes particularidades do ser-humano. Ter a percepção que é dele que tudo advêm, do prazer sensorial até ao arrepio mais íntimo, quando me dizes as palavras que eu nunca tive coragem para admitir que queria ouvir.
Contigo, o lugar encantado tem um novo formato e um novo carisma. Um novo interesse e uma vontade enorme de passar o resto dos dias a perder-me no espaço e acordar novamente do teu lado, quando nada o faria prever.
“Acordo e sinto-me vivo novamente”
Na junção das mãos, onde desperto para uma realidade e uma perspectiva cada vez mais nova, mas que me parece mais familiar que nunca. A contradição parece algo cada vez mais coerente, mas a verdade é que só a tua visão me faz explodir de alegria e Êxtase, como se fosse tudo da primeira vez, sempre. Como se fosses tu, sempre. Como se não fosses. Como se tivesses sido sempre. Como se não fosses. Como se fosses tu para sempre. Como serás.
A tal da espiral da paz de que me falas, dá-me um certo alento, também. Saber que não importa onde Co lo co as palavras, ao invés de fazer tudo na maior perfeição na tentativa de disfarçar a falta de junção. Como não o é contigo, onde o momento mais profundamente banal, se torna o mais perfeito de todos e mesmo sem o tentar, tudo me soa bem, apenas porque é contigo.
Releio as páginas do meu diário, livros escritos, gravações próprias de alguém que começara a desistir de procurar. De te procurar. Afinal sempre existias e eu sabia, estavas mesmo ao lado.
Acordei e gritei
“Sò o amor me faz correr
Só o amor me faz querer mais”
Desisti de ter medo e o tempo passou a estar a meu favor. Partilhar um dia contigo é mais do que suficiente para tudo ter sentido. Como só tu fazes sentido, em tudo aquilo que me fazes querer ser.
“És real e és meu
Eu sou fogo e tu o meu ar
Eu sou tudo por ser teu”.

Best Friend Rádio Macau Cantiga de Amor

Thursday, October 02, 2008

Magalhães

Somos o Portugal. País de várias conquistas, múltiplas vitórias, passado memorável e enaltecido. Guiado pela força de valores, vítima de uma ditadura pouco ligada a progresso e abertura e assim nos deixamos ficar.
Há um Portugal rural, Portugal agreste onde tudo é como sempre foi. Quem vive pelos grandes centros urbanos não o conhece, não o sente e negligencia a sua existência.
Somos na verdade, o país dos Magalhães, onde se perde tempo a discutir um direito e básico e fulcral de qualquer ser-humano. Entretanto, passam os anos e a mentalidade continua a mesma de há alguns anos.

Alguns anos

Alguns anos atrás era eu um puto adolescente com a ilusão que um dia tudo seria diferente, bem longe da aldeia que me viu nascer e poderia ser quem quisesse nalgum lugar encantando. Ainda hoje acredito.

Acredito.

Acredito que todos precisamos de um modelo de educação, alguém que dê o exemplo e nos ajude na construção de uma imagem mais ao menos saudável Acredito que todos precisamos de conceitos e de disposições de móveis e palavras, para assim conseguirmos entender o que queremos separar de “normal” de “anormal”.
Fazemos o julgamento com base nos modelos que vemos diariamente, num dos quaisquer meios de comunicação. Modelos cor-de-rosa, a roçar o feminismo cor-de-rosa, vozes polidas, faces a pedir mais cinco minutos de fama e larga plateia que rejubila perante o show de monstruosidades ali apresentado.

Monstruosidades

Como se alguém pudesse ser
Normal anormal
Como se alguém pudesse ser um monstro apenas por
AMAR

Ensinam-nos desde pequenos que o amor é a grande força de Deus, que ele entende todos aqueles que amam, que é esse é o verdadeiro objectivo na vida de qualquer um de nós e que é por isso que havemos de querer acordar amanhã, mesmo que seja longe de mais.

Amanhã
Quando não vão chamar opção ou orientação sexual a algo que não passa de uma condição. Apenas porque não se trata de um gosto baseado na aprendizagem ou numa decisão racional baseada na lógica e na efusão de equações que nunca entendi, na totalidade.

Amar

Baseia-se tudo no amor que podemos entregar a alguém, sentirmo-nos especiais por isso e tornarmos esse alguém especial também.



Amar, Amanhã

Que é no fundo apenas aquilo que nos separa dos restantes animais. E Deus estará sempre do lado daqueles que amarem, apenas porque é a o sentimento mais puro e genuíno que existe, que não deve nem pode ser condenado, porque surge mesmo quando não queremos e excede em muito os limites sensoriais que possuímos. Claro estará, que nem todos teremos a coragem para o admitirmos, pelo que os modelos continuarão a não existir, como sempre.

Queixamo-nos demais, é certo. Dizemos, como parte de mim acabou por provar, que não temos liberdade, que a discussão de um direito tão inerente ao ser – humano, como querer casar-se nem sequer deveria ser discutido, mas a verdade é que pouco fazemos para o mudar.
Nasci, como muitos, na época do facilitismo, onde tudo se discute e invariavelmente, se discute de forma errada. Por isso, vamos deixando que Castelos e Nascimentos desfilem num ecrã perto daqueles que gostamos, deixando que a imagem que eles vêem, passe a ser real, muitas vezes até para nós.
É uma condição, e como tal passei a aceitá-la e a adorá-la em todas as suas vertentes, para descobrir a felicidade que já me trouxe e me continua a trazer.
Acredito. Sempre.

Best Friend Goo Goo Dolls. “ I just want you to know who i am”.

Thursday, September 25, 2008

Translucido

É como se de repente o tempo parasse no momento exacto em que a nossa retina se cola perante a perspectiva de algo que não é perfeito, mas que sabemos de antemão, não se fixa na realidade circundante.
E mesmo pensando que estás longe, acabo por encontrar essa tua estrela que acabou sempre por ser maior do que os precalços de um caminho que acabou por se tornar mútuo e feliz.
De vez em quando, ainda me recordo desses encontros imprevisíveis em que olhávamos a chávena do café que acabava por desaparecer, envoltos numa banda sonora que nos dizia respeito mas que tentávamos ocultar.
Ocultar
O medo de sermos novamente encobertos e subtraídos pelos nossos próprios sonhos em que irremediavelmente acabávamos sozinhos, apenas porque a prevalência de utopias acabava por ser superior à
Coragem
Coragem em deixar que a firmeza soasse mais alto e fosse finalmente teu.
Teu
Como nunca esperei ser de ninguém e ter agora a certeza que tudo que já se passou não foi em vão e que as memórias que carregamos connosco serviram para agora termos orgulho em permanecermos intactos e inefavelmente confortados com a existência.
Individualmente, confortado com a existência de alguém que carrega o que de melhor há em mim e que se esforça para me ver sorrir em cada oportunidade que surge, que existe, que se cria. Tu foste sempre uma criação minha, posso escrever e assegurar agora. Dessas que nos trazem essa vontade de voltarmos a ser e ter tudo aquilo que sempre quisemos e de amar até ao fim, mesmo que esse mesmo final não seja avistado e comedido.
Eu só quero poder agarrar-te quando puder, ver a tua cara a irradiar entre as palavras e “estórias” de lugares longínquos que percorri e que partilho agora contigo. A felicidade resume-se a conceitos e embora seja um pouco minimalista e limitado afirmar isso, a segurança, coragem e partilha funcionam muito entre esta corrente que me arrastou até ti.
Saber que te quero até ao fim não é suficiente. É preciso perder-me de riso contigo, numa dessas praias, enquanto toda a gente nos vê, mas não nos compreende. Saber que é contigo que acordo numa dessas manhãs onde não é suposto fazer sol e me sinto vivo também não. É preciso tocar-te e ouvir-te, utilizar todos os sentidos que possuo, a ver se consigo reter um pouco mais dessa luz que acabou por me encontrar.
Como se nunca te fosse encontrar.
Como se nunca me fosses morder o coração.
Como se me quisesse perder para sempre entre o prazer sensorial que me ofereces e me entregas.
E quero.
De cada vez que chegas, consigo sentir-te os passos, entre a beleza que nunca chega, entre essa vontade de planar e esquecer-me que existo, apenas porque permaneço contigo.
Numa dessas noites, onde somos felizes aos olhos de toda a gente e não nos envergonhamos apenas porque temos a certeza que o queremos e o sentimos. Suster a respiração, esperar por um novo amanhã, puxar as limitações e sermos enfim, felizes.
Esperar
Esperar que o tempo não corra, a ansiedade não mate e o café continue dentro da chávena que teima em querer partir. Esperar que a capacidade de eternizarmos o momento não cesse e tudo seja tão real, como até então.
Esperar por ti, com antecipação, antes que desembarques num desses lugares encantados, criados por ti, numa desses momentos congelados por entre os teus dedos que já me mostraram o que ainda faltava provar e sentir.
Sentir
Sentir que não mudaria a lei do universo, nem um pouco daquilo que és e que te foste tornando. Sentir que gosto de te ver fazer todas aquelaspequenas coisas que secretamente me encantam, mas não digo, apenas porque já sabes.
Dançar contigo até ao amanhecer e aproveitar aquele por do sol que nos encantou e que é o suporte de tudo. Dançar contigo até mergulhar no chão, embriagado de inocência perdida há algum tempo, mas que acabaste por restituir a alguém que achava que já sabia tudo e que no final, apenas sabia metade.
Metade suja, pobre, feia.
Metade morta, pouco acolhedora, insegura.
Metade que me ajudou a chegar até ti com a certeza que no final só restavas tu.
Enfio-me então no carro e a Margarida a dizer-me todas aquelas coisas que tu já me disseste, algures, com uma paisagem imponente, mas onde só interessavas tu.
Não tenho piano, desta vez. Apenas gozo a escorrer-me por entre um riso quase perfeito, da vida que levo e que crio contigo. Os outros não interessam, porque não têm nome. São apenas criações impostas, erros merecidos, aprendizagens inconscientes que agora fazem todo o sentido.
No fim, ninguém é perfeito e por isso, todos os momentos que levamos connosco também não o são. O que prevalece é o esforço que fazemos para continuarmos a querer alguém como eu te quero a ti, ao fim de tão pouco tempo real, mas que me parece toda uma vida.
“Podemos viver toda a felicidade da nossa vida em poucos minutos”, avisa a Agustina. Se assim é, sinto-me um privilegiado.
“Estarei perdido entre a certeza de gostar de ti,
Mas estaria muito mais se não te pertencesse”.

Best Friend Margarida. Translúcido

Wednesday, September 03, 2008

Eu Hei-de Amar Uma Pedra

Eu ainda hei-de amar uma pedra, bem aqui no meio do silêncio das palavras que acabam por não se formar, se perdem e me afastam um pouco mais dessa faixa de rodagem que tanto se anunciava como a mais perfeita e concisa.
Eu
A tentar consciencializar-me da tua coragem em poder ter-me, a esconder-me por entre o teu riso cheio de inocência e acordes que me pareciam levar a uma realidade sensorial e onde finalmente alcançaria a ilusão
Minha
Que procuro e busco a todo o custo, certo de que a cada vez que o faço e a construa, acabo por repetir o mesmo erro, crasso e condiconalmente sujo por memórias que se arrastam e não me deixam mais ser quem eu nunca esperei ser. Por isso, aproximo-me de ti
Sem que o percebas
A ver se me deixas voltar a permanecer nesse abraço que tanto te quero oferecer e que tu não evitas nem atrais, apenas não entendes, não perpectivas e eu não alcanço. Comunico contigo como quem comunica com Deus, na esperança que ele me ouça um dia, mesmo sabendo que são raras as vezes em que lhe falo ao coração. Talvez
Medo
Medo de amar o desconhecido, medo que é o que nos entorpe e mantém vivos, mas que também nos impede de amar o verdadeiro, o falso e o incauto. Medo de que nunca ninguém veja o mundo como o tento partilhar contigo e com Ele, a ver se por alguma razão tudo faça sentido, num futuro que espero
Breve
Com imapciência que a vida não me ensinou, com fúria em não controlar a falta de razão por detrás de tanta imensidão de conflitos internos, como se eu fosse a guitarra que ecoa por detrás das canções e dos filmes que eu próprio produzo, como se o teu sorriso fosse
Falso
Como sou eu de cada vez que estou contigo e não arrisco a mostrar-te os meandros e epopeias da minha alma, de cada vez que te vejo surgir por entre a porta que está irremediavelmente fechada para sempre, mas que imprevisivelmente tu a conseguiste abrir.
Tu
De sorriso ingénuo e de palavras toscas a fazer-me engolir um dia inteiro de revelações e reflexões mais ao menos adolescentes, a fazer-me engolir a adultez que acabei por conquistar sem que disso me desse conta e na qual não me sinto seguro nem feliz. Tu a fitar-me sem provocação ou sexologismos, a lembrar-me o que era o amor na essência mais pura e de siginificação mais ideológica, como se não fizesse mal. Tu a arranhares-me com a jovialidade que se te transparece e evapora em cada erro ortográfico que eu tento, mas não consigo deixar de reparar.
Talvez o silêncio seja uma mais valia e a banda sonora não faça questão de entrar nesta altura, em toda a trama que parece desenrolar.
Na minha consciência.
A minha consciência diz-me que busco a experiência como quem busca a dor, apenas para saber de antemão tudo aquilo que é preciso sentir, para se viver sem pesar póstumo. A minha consciência diz-me tambêm ( mesmo quando não quero), que pode ser um erro contar-te os desejos que fazem parte de mim e que acabam por constituir aquilo que também sou.
E aquilo que eu sou é aquilo que eu também dou. Reparo agora, que fui feito para partilhar todas as pequenas delícias que constituem a grande felicidade em permanecer vivo, após tantos anos de vivências e risos soltos entre noites mal dormidas e viagens programadas à ultima da hora, apenas porque tenho coragem em vivê-las.
Viver
Viver e esperar. Esperar por ti, que a minha consciência sabe-o e talvez seja isso que me mata de cada vez que vejo a tua cara espelhada numa das páginas do Lobo Antunes. E eu a gritar HEI – DE AMAR UMA PEDRA.
Uma pedra, um penedo ou mesmo a imensidão dessa face que me parece a materialização da segurança que eu tanto procuro e que condiz com as teorias de um desses teóricos que toda a gente conhece, mas ninguém entende.
A materialização da segurança, a subsituição do amor.
E acabo por me dissolver na espera de tentar partilhar esta alegria que é querer-te por entre todas as conjecturas que foram feitas por alguém que há-de ser muito superior, mas que por nunca aparecer, me parece um pouco mais fraco que todos nós.

Como já o referi inúmeras vezes, passei a ser o actor imerso nessa incapacidade de amar novamente e por isso mesmo tu nunca notaste o meu empenho em te querer por perto.
Perto, cada vez mais.
Assumi a postura perante ti, que sou o mais forte e mais destemido, o racional que acaba por resolver os problemas que se sentem a aproximar, o salvador que parece distante
Mas nunca o suficiente para que nunca te ouça.
Teces-me epítetos infantis e eu lembro-me da infelicidade que já senti em ser criança e não ter noção ou consciência daquilo que era o mundo e de toda a sua essência. Como o controlar. Como me controlar.
Como controlar a discussão que emerge durante o jantar de família, todos os domingos, a procissão das velas e eu bem pequeno, preso por uma imensidão de olhares que haveriam por me tornar bem mais perspicaz do que era suposto.
Suposto era eu ter uma segunda oportunidade, como o segundo prato que a mamã me entregava quando eu deixava cair o primeiro, como o carinho que o meu pai me oferecia quando recusava o primeiro.
Primeiro há que te contar tudo, fazer de ti o que tu fazes de mim e deixar-me estar assim.
Pegar na guitarra e mostrar-te novos acordes, sons onde nos podemos perder os dois, sem que nos percamos um do outro, sentar-me em frente ao mar e esperar que chegues e que as “estórias” que conte, não as precise de te explicar, apenas porque as viveste comigo.
Dizer que vives em cada uma das páginas que viro, não chega. Dizer-te que te espero em cada uma das páginas que viro, provavelmente também não.
“Hei-de amar uma pedra.”


Best Friend. António L. Antunes Hei-de Amar uma pedra

Thursday, June 12, 2008

Reencontro - Antes do Fim

Ela


A instabilidade que carregas é algo penoso, para ti e para todos os outros. Na verdade, não recordo a tua imagem como algo eternizante em matéria de loucura e emoção corrosiva a transparecer felicidade. Lembra-me antes o longo vazio que me deixaste, quando partiste, sem nunca me explicares porquê.

Quando te tentei ligar, estavas fora de área, algures entre a Amazónia e as Cataratas do Iguaçú.
Tentei correr atrás de ti, mas não podia. Primeiro, porque não sabia nada a teu respeito, segundo porque o papel da mulher nos dias que correr já não é esse e eu não quero ser o alvo de chacota feminino. Já ninguém apoia a mulher que faz tudo para o amor.
Isso perdeu-se durante as eras que se foram passando, desde o ultra-romantismo. Agora a mulher quer-se pragmática e emocionalmente dura, urbana, culta e de preferência, que faça passar os homens por um mau bocado.
Devemos ser o oposto das geraçóes das nossas mães e é por isso que não nos suportamos. A minha mãe a dizer “ com esse feitio ainda vais acabar sozinha” e eu a pensar “ antes sozinha do que acabar espancada por um marido bebado como tu”, sem nunca o proferir na realidade. Porque mãe é mãe, é suposto ser sofrida e amargurada pela vida, para assim se dar algum valor por tudo aquilo que ela passou. Pelo menos é isso que me ensinaram.
Enquanto viro costas, apetece-me novamente voltar atrás e beijar-te, a ver se o mundo se esquece realmente de nós. Nesse momento, cresce em mim a dicotomia de sentimentos. Se por um lado, gostaria de voltar, por outro, não me perdoaria a mim mesma, por ter cometido tal insanidade.

Quando acordei e tu náo estavas, achei que tinhas morrido e depois de algum tempo , adoptei essa ideia para conseguir seguir com a minha vida. Afinal, dois meses náo seriam suficiente para conseguir abalar definitivamente toda a minha vida.
Passei a trabalhar arduamente. Acabei a escola de turismo e o estágio no Pestana ficou garantido, um pouco por culpa da indicação do meu tio, que neste país tudo é conseguido com algum tipo de favor e neste caso em particular, eu agradeço.
Daí até a assessora de relaçóes públicas ter entrado em licença de maternidade e terem dado por mim a trabalhar afincadamente e também pelo director se ter apaixonado pelos meus olhos azuis, conquistei essa vaga, merecidamente direi. Afinal, ninguém tem uns olhos como os meus.
Um dia o director disse-me “ ainda hei-de nadar nesses olhos”. E eu pensei, “tudo bem, desde que não seja nu” e ri-me sozinha a lembrar-me o dia em que nos perdemos com o Chardonnay na pousada de Coimbra e acabamos nus na piscina de madrugada. Foi a primeira vez que me senti livre. A segunda, foi quando decidi que tinhas morrido.
E embora tenhas levado parte de mim, contigo, houve coisas que só evoluiram com a tua ausência, embora o vazio de não te ter, tenha cá ficado.
Mas enfim, não voltei atrás e agora que reflicto calmamente, acho que não o queria, realmente. Voltar atrás porquê? O que terias tu a dizer-me depois de meio ano de ausência, sem um motivo ou explicação que justificasse nunca mais ter ouvido a tua voz, ou tocar na tua mão?
Há qualquer coisa de infantil nesta relação que está morta. Houve mais conversas, do que sexo, houve mais medo de entrega do que suposta interacção, mas ficaram os limites mútuos a demonstrar que podiamos crescer juntos. Por isso, não entendi quando fui obrigada a matar-te com a consciência.
Deixei de lado a hipótese que a culpa seria minha, isso seria certo. Afinal, não me cabe esse papel. Sou objectiva e meticulosa e embora náo tenha compreendido a razão do teu desaparecimento, também não me entreguei ao ócio e à procura de uma resposta infidável. Reclamei na tua incoerência e instabilidade emocional, essa razão mesmo assim pouco plausível. Ainda pensei procurar-te pelo Porto, ir a Bragança visitar a tua irmã a ver se havia notícias de ti, a ver se voltavas para mim, mas neguei-me sempre a esse papel. Nunca quis saber do amor, por isso posso continuar a viver sem ele. Basta apagar as imensas janelas de Coimbra, a casa da Joana emprestada em Sacavém ou a origem do nosso encontro.
Verdade é que, nunca julguei dormir mais concentradamente ao lado de alguém, como quando dormi contigo, ou sequer que o beijo significasse algo mais forte do que simples contacto humano.
Enquanto sigo recta, a echarpe a esvoaçar na minha cabeça e este clima lisboeta que me traz tanta ânsia de conquistar tudo e todos, penso apenas num momento que me traz a tua pele à consciência. O ser-humano vive por assossiações e vai ser difícil não associar a virada do ano à tua ausência e a uma tentativa da minha auto-estima quase se ter demoronado, enquanto nem conseguia chorar por teres partido. Afinal, que amor é este que não me faz soltar lágrimas? Tinhas conseguido ensinar-me a arte do amor, mas não me tinhas dito o que era suposto fazer se tivesse de acabar. E eu não sabia.

Cheira a dinheiro esta cidade. É o espelho do Portugal Europeu e se nos conseguirmos manter nela, achámos que Portugal é evoluído e multi-cultural em todas as frentes, quando é completado com territórios cheios de auto-personalidade, dentro de um bocado de terra junto ao mar. Por isso, jamais conseguiria viver noutro lugar. Hà qualquer coisa de contemporâneo nesta cidade que se envolve com o tradicionalismo do resto do país. É como se tudo tivesse de começar por aqui e eu sinto-me mais segura dessa forma.

Enquanto me meto no metro, lembro-me de te ver com algo debaixo do ombro. Terias escrito uma carta, a fim de conseguires evitar o desconcerto das palavras, quando tivesses a dar tua justificação? Tenho medo de ti, por isso me afastei. A tua incoerência faz de mim um objecto nas tuas mãos que nunca sabe o seu real valor. Valor que uma mulher procura sempre em ter na plenitude. Quanto mais melhor e eu quero sempre mais.
De nada me vale pensar no que seria se descesse na próxima estação e voltasse para trás, porque isso nunca poderia acontecer.
Morreste uma vez e não há nada que vá mudar esse facto.
O passado é incontornável.


Best Friend . the Killers read my mind

Wednesday, June 11, 2008

Reencontro - Depois do Fim

Os livros são isso mesmo. Um poço de histórias para contar, de carinhos feitos e refeitos para nos alegrarem a vida, nos manterem conscientes dos perigos e das coisas que julgamos inexistentes e do facto de muitas vezes, sermos mais difícieis de decifrar do que a obra mais longa e complexa.
Antes de me despedir de ti e ver a tua imagem abandonar-me numa praça qualquer, lembro-me de te querer entregar aquilo que me fez querer voltar e experienciar por mim próprio, toda a sintonia que saberia que nunca mais voltaria a sentir.
As relações, quando existem, são levadas por cursos e recursos que muitas vezes não dominamos. As palavras assumem um peso muito mais forte do que os actos, inúmeras vezes. Por isso, vamos contando quantas vezes soletrámos A M O – TE ou Q U E R O – TE. O nosso vocabulário passa a cingir-se a esses epítetos e nunca mais queremos ultrapassar essa barreira. Quando tudo acaba, são as palavras que perduram ainda, dentro da nossa cabeça, como se tudo fosse um grande equívoco e nada fizesse mais sentido. Muitas vezes, tudo advém de uma grande deficiência comunicativa. Interpretamos um talvez como sendo um sim, um gostava, como um adorava e acabamos a falar sozinhos, à espera de uma resposta de um emissor que nem tem a consciência de estar a fazer parte de um diálogo.
Foi assim que dei conta que nunca resultariamos. Tu a quereres conquistar o mundo através das engenhocas pelas quais haveremos de ser dominados e eu a revelar-te a natureza dos sentimentos, como se tivesse nascido para ensinar onde se toca quando se ama.
É tudo uma chatice isto do amor, principalmente quando vivemos numa sociedade onde os corpos são descartáveis e tudo é coisificado. Olhamos uns para os outros, como um produto que deve ser usado, que tem algo para nos oferecer e do qual devomos retirar algum benefício em troca.
Por palavras e sociedade individualista, acabei por fugir a ver se o mundo era todo igual, e embora não se tratasse de uma pergunta, a resposta nunca foi uma hesitação em todo este processo.
Não te pedi para que voltasses atrás. Não era aquele o momento. Ainda haveriamos de nos encontrar e dizer que o momento seria outro, porque nada nos chega, na realidade. Na realidade, não sei o que saberia fazer com um “fazes-me falta, ainda”. Apenas decidi que te queria, que nunca deixei de te querer, que ainda te vou querer durante algum percurso mais.
Vim preparado para tudo, mas principalmente para continuar sozinho a contemplar a tua ilusão construída por mim, refeita em alegrias e sorrisos decorados logo pela manhã, lençois brancos que não eram nossos e que sempre me fizeram sentir como o maior canalha possível, mas que eu nunca consegui impedir de partilhar contigo.
São estas hipocrisias que a vida, mas principalmente a falta de bom senso, nos faz cometer e por isso, nunca esperei que ficasses, te sentasses e dissesses “fazes-me falta”.
Debaixo do braço levava-te a razão pela minha permanência naquele lugar, pela antecipação de um trajecto , pela fuga do país da sensualidade envolto em turismo sexual e cachaça 51. Debaixo do braço trazia a história falhada e malfadada de alguém que tinha tentado o mesmo que eu e tinha ficado irremediavelmente sozinho.
Por isso, já vinha consciente do final de toda a insanidade que é entrar num avião e julgar que tudo vai mudar, quando sair dele. Se fosse uma máquina do tempo, muito provavelmente, mas é só mais um mecanismo a fim de tentar controlar o homem e de eu próprio a ver se volto a estar num território que tenha 4 estações e o meu cabelo pára de cair, por só existir Verão e Outono.
Enquanto te vejo sair, a música já é outra. Um clássico, mas desta feita dos Beatles. Pergunto-me que idade terá o pedinte. Acho que terá a idade de qualquer pedinte. Têm todos a mesma idade. A rua espelhada na cara, a voz rouca de todas as drogas que consumiram anteriormente, o vinho de mesa que os consola durante a manhã e o cachorro pulguento que é tratado com carinho e compaixão. Tem a idade do tempo, sem identidade, sem identificação, mas com mágoa de viver.
Não me revejo nesta música que toca e apetece-me comprar-lhe uns cd’s novos a ver se se actualiza e ganha ouvintes mais jovens, o que lhe permitiria ganhar mais uns trocados. Já ninguém quer ouvir Beatles enquanto vê a pessoa que ama, afastar-se sem dizer um “até manhã”.
Tiro o livro debaixo do braço e fito-o. Sou cheio destes pormenores cinematográficos, planeados cirurgicamente, sem nunca fazerem sentido, porque não há final feliz. Já não sei se sou eu que imito a arte ou é a arte que imita a vida de cada um de nós.
Na capa, está escrito um “Moder-te o coração” em letras garrafais. Morder-te o coração e ficar contigo, entre o desejo e a solidão que seria conter-me em ti. Abro a última página e vejo o desfecho “ Depois do fim”.
Depois do fim, que ainda não termina aqui. Preferi experienciar e saber de que sabor é a amurgura de se querer viver e reparar um momento que se pretendeu perfeito e não se conseguir reconstruir todos os sorrisos de outrora a fim de querer que tudo aconteça novamente.
Talvez tenha aparecido de surpresa, talvez esteja mais velho, talvez já não me reconheças e por isso, voltei antes que o tempo se acabasse. Antes que tudo acabasse.
Compro um envelope e chamo o táxi. Enquanto me sento, sinto um olhar sobre mim. Os taxistas têm essa sensibilidade de saberem quando é que nos sentimos entorpecidos e engolidos pelas nossas próprias acções e não me pergunta mais nada. Digo que quero ver o Tejo e ele não se mostra chateado. Quero ver o Tejo agora, com ele, e recordar o infinito que fiz contigo e que quase partilhei com outro alguém que nunca me seduziu, apenas nunca me amedrontou.
Vejo as gaivotas, os velhinhos que passeiam em túneis que as suas cataratas construiram e vejo-nos a nós naquele mesmo banco a confidenciar o que a vida nos tinha feito. Eu com pose de adulto que está consciente dos perigos da vida, tu com voz de quem não quer mais nada a não ser algo doce quando adormece. Eu a querer-te pegar ao colo, tu a dizeres que não gostas de amar, porque não sabes como. Eu a querer-te, mas com medo, tu a queres-me, mas sem mo demonstrares, sem mo dizeres, sem me deixares saber. Eu a precisar de ti, sem saber se me segurarias.
“ O meu nome como em momentos de amor, completo, arrastado para a frieza da realidade”, diz Xavier na última página, enquanto releio as últimas linhas do livro que quero que leias, a ver se tenho razão em querer-te novamente, mas sem lutar muito, porque nada pode acontecer mais. Por orgulho, por unanimidade de conssentimento, por falta de coragem.
O meu nome, como o repetias quando te mostrei o que era fazer amor e nunca mais o quiseste esquecer.
Peço para me levarem ao Pestana. Chegados lá, eu e o taxista, que deverá chamar-se José como todo os taxistas se devem chamar, contemplamos em uníssono a magnificiência da escultura física que está à nossa frente e imaginamos a corte real a passear-se nos grandes jardins sem pensar que grande parte da população morria sem o que comer, não sei em conjunto ou se o taxista está só à espera que eu pague e saia, sem fazer barulho.
Entro e dirijo-me à recepção. Não és tu que lá estás. Na tua vez, está um senhor que me fala num tom tão angelical que achei que me fosse levar por um certo encamento e melodia nas palavras. Tudo esmorece ao saber que estou à tua procura, mas adianta-me que “a menina Teresa está de folga, hoje”. Menina Teresa? Sabem bem menos do que eu, mas também não pretendo partilhar uma informação que gostava que fosse só minha. Deixo o envelope com ele e despeço-me.
Despeço-me e não olho para trás, novamente.
Mordeste-me o coração e não consigo olhar para trás e ver que te perdi, sem saber se é para sempre.

Sem saber se é para sempre, porque isso é muito tempo.
E se nunca mais voltasse? O livro apenas nos mostra que a vida é feita de momentos irrepetíveis, não nos motra o que fazer com a solidão que advém dessees trajectos que sáo a materialização de tudo aquilo que desejamos.
Desejo-te a ti, a encontrar-me nas ruas do Bairro, sem combinação ou lógica predimitada. Apenas porque queriamos.
Tu a encontrares a minha esperança de seres tu a personificação de todos aqueles conceitos que povoam a minha consciência, nós numa pousada qualquer em Coimbra, que se tornou o ponto de encontro de duas pessoas que estáo separadas por um espaçó geográfico que os limita nas acções, mas nunca nas palavras.
Eu a suar desenfreadamente e tu a quereres mais. Nós a rirmo-nos de tanto prazer, no final, sempre no final, como se nunca tivéssemos experienciado o prazer sexual antes, como se fosse algo único desta vez, só daquela vez.
Tenho os momentos gravados como peças de um filme esculipido para ser perfeito. As viagens par aum ponto de encontro comum, o desembarque em Lisboa, como se chegasse de uma grande viagem, os teus olhos a correrem na minha direcção e a vez que conseguiste a chave da suíte do Pestana e nos perdemos, enquanto nos esqueciamos da gravidade e iamos bem alto, juntos.
E agora, onde andas? Queria-me deixar ficar por cá, deixar-me ficar na noite vazia, na rotina dos bares que acabam sempre por me trazer a tua voz.
Abro o livro e o Xavier está sozinho. Está sempre sozinho. Mesmo quando acaba pro ficar com a nórdica que percebe finalmente o que é a sensualidade lusitana ou mesmo quando decide ir atrás da Maria, como eu vim agora atrás de ti.
Estamos os dois sozinhos, porque tivemos vergonha de admitir este final e por isso não avisámos ninguém que viriamos. Se eu morrer, alguém me há-de procurar, mas do outro lado do atlântico. Se eu morrer, será que te arrependes e voltas?




Best Friend The Beatles. Yesterday

Tuesday, June 10, 2008

Reencontro

Hoje resta-me tudo o que ainda tenho para te dizer.

Longe de tudo e de todos, encontrei a essencia que julguei estar perdida, para retomar o ponto que afinal ainda restava acabar.
A minha forma de lidar com as emoções deixou de ser revelada pela ansiedade que deixei de sentir. Tornei-me máquina exasperada, fuga do meu próprio universo, para me deixar contemplar pela racionalidade que nunca fora o meu forte. Nunca.
Ficaram comigo os sonhos de infância inacabados por uma pressa de viver que ainda há de ditar o meu fim. Ficaram os castelos na areia da minha praia que partilhei com todos aqueles que um dia ainda fizerem parte de mim, ficaram os risos que deixaram de ser conduzidos pela identidade, para passarem a serem levados pelo álcool.
Gostava tantas vezes que permanecesses por aqui, a ver se não me fujo novamente. Gritei-te do alto, onde me criei, que não me chegavas, que ainda havias de me querer e não me ter. Porque o cliché funciona e acabamos sempre por dar valor aquilo que não temos mais por certo e garantido.
Organizei todas as conjecturas para encontrar uma justificação para a tua falha e inteligente como sou, encontrei a imagem da minha mesquinhez.
Digo que não quero mais começar tudo de novo, para não ser finalizado novamente, mas corre-me o medo de me apaixonar tremendamente e ficar a cantar músicas de amor, sozinho, numa praia qualquer.
Tornei-me adulto que diz não e se esquece de quem gostou, apenas porque na pirâmide das necessidades, lhe faltaram alguns elementos que a outra pessoa, por qualquer limitação, não os tinha e acabei por me esquecer de mim.

Inevitável é não sofrer por qualquer descuido e eu ando a evitar isso, desde que tive de passar a racionalizar todo um processo e acabei desistindo de uma procura por algo que eu sempre julguei existir, inconscientemente.
Essa busca que ainda haveria de ser o meu fim, que me corre nas veias e na minha identidade enquanto português, de esperar o inalcançãvel, aquilo que ainda estará para chegar, a felicidade atroz, o sexo visceral, a química completa, o suor que se agradece, a música que se encaixa. Enfim, a sintonia.
Sinto-me inexpressivamente no fim de um ciclo que me há-de levar ao início de tudo.Sinto-me incrivelmente patético por algum dia achar que poderia controlar tudo o que vai cá dentro a fim de conquistar aquilo que acreditei ser meu. A paz está na certeza de estar no caminho certo e isso, só agora me parece passível de se suceder.
Ficaram as fotografias mal tiradas, imagem de uma relação que se fora construindo em patamares diferentes. Tu, conhecendo o amor com algo novo e único, eu tentando rejeitar esse sentimento a fim de não me voltar a perder dentro da minha própria solidão.
Daqui se faz a verdadeira força de viver, de se conquistar e principalmente, de querer ser melhor.
Finalmente, entendi que o tabaco e o álcool são fonte de alienação suprema, que apenas me baixam a energia e me dispersam, a menos que sejam um complemento da minha própria alegria. É preciso ter visto o mundo pelos olhos de uma erva qualquer, para se ter a verdadeira noção do desperdício de tempo e de intelectualidade que é precisar de alguma coisa, que não nós próprios, para sermos felizes. E eu que sempre acreditei nisso.
Tudo tem uma forma para acontecer e o Luís adulto, contemporâneo, racional e urbano tem agora de se juntar ao velhinho Luís que precisa urgentemente de sentir que pertence a algo mais do que noites perdidas e corpos a pedir por mais uma orgia de prazer, quando a única coisa que os há-de salvar é um pouco mais de amor.
Queremos todos o mesmo, aqui, na Polónia ou em Portugal. Queremos acordar e ter ao nosso lado a única pessoa que nos faz querer ser melhor, fazer amor em frente à lareira da sala dos nossos pais e pedir que as estrelas nunca mais nos levem para lugar nenhum.

Passamos a achar tudo isto, como desnecessário e infantil, apenas porque deixamos de acreditar em nós próprios e nos outros, fruto da merda de sociedade individualista e emocionalmente repressora em que fomos crescendo.
Não podemos dizer o que sentimos e como sentimos, porque se vão assustar. Porque tudo segue um processo metodológico e científico, tudo tem fases, tudo tem de ser organizado.
Primeiro curtimos, depois gostamos, passamos pelo adorar, ainda podemos ter alguma paixão e só depois encotrámos o amor como último estágio. Quando aqui chegámos, já estamos cansados e exaustos e por isso mesmo, desejamos nunca termos chegado tão longe, porque sentimos agora o fardo de uma responsabilidade que não estavamos conscientes de vir a ser nossa.
Tudo passa a ser uma exigênica. O mensagem escrita que não chega a tempo, o vídeo que náo nos diz as palavras correctas, a jura de amor ao nosso ouvido que nos arranha, mas não nos quebra ou o tal jantar em casa dos pais que se torna o pior dia da nossa vida.

E agora, fazemos o quê com tudo isto que temos para dar?

Olho para trás e está o inalterável a dizer que podia ter sido tudo tão simples, mas eu tenho essa pretensão de tornar tudo numa batalha que só me deixa cicratizes de tudo aquilo que não fiz.
Ainda me lembro de percorrer 300 km só para ver esses olhos que eram meus , cada vez que os mantinha em mim.
Esse azul que me forçava a dizer o teu nome, sem que tivesse sequer vontade visceral. Dizia, porque me fazia contente em demonstrar que afinal, tudo era possível, novamente.

Deixaste-me ir.

Sem olhar para trás, fui, no meio de toda a insanidade e de toda a chuva que escorria e entreguei-me a quem nunca me haveria de magoar, mas com quem tudo faria um sentido tão linear como maçador.
Pensei, “é pouco tempo” e não olhei para trás. Não deixei bilhete e nunca mais me viste.
Quando acordaste, eu não estava lá, apenas o eco das minhas palavras a ressoarem-te no ouvido e as memórias que nunca aconteceram.
Um passeio por Sesimbra, ao fim do dia, uma viagem por Londres, só para completar a tua fantasia e ver o Big Ben contigo. Um café no chiado, um travesseiro a escorrer-me pela boca maçuda, na Piriquita.
Rio-me e contemplo a fantasia que criei de algo para o qual náo estavas preparada. Não tinhamos a mesma pretensão, e antes de te magoar, imaginei que eras tu quem o farias e nunca mais olhei para trás. Nunca mais.

Se eu quiser, voltas?

Passei por ti, numa rua qualquer. A tua indiferença fez-me ficar desconfiado pela minha vontade de recomeçar e poder dizer que só tu me consegues fazer sentir bonito.
Que é disso que se trata a cumplicidade, de nos sentirmos sempre compreendidos e acompanhados e por isso superiores em todos os sentidos.
Dexei a minha confusão percorrer, perante a tua inexpressividade. Sabias tu, que quis voltar atrás? Que esperei que me viesses buscar e me mostrasses que afinal não precisava de ser tão perfeito apenas para ficar contigo?
Agora que te tenho na frente da minha imaginação, as palavras não fluem, apenas a certeza de que nunca deveria ter voltado a concentrar-me em todas as razões pelas quais não te consigo esquecer.
Apetecia-me abrir os olhos e pedir-te que voltemos metade do ano atrás e que tudo volte a ser como antes, mas ninguém deseja realmente isso. Queriamos apenas ficar abraçados a fim de o mundo se esquecer de nós e podermos finalmente descansar em paz.
Disse-te que voltaria, e tu não respondes-te. Mostraste-me o olhar vazio, que tinha sido assim que te tinha deixado e que agora, nem eu poderia fazer algo que pudesse mudar o passado que eu próprio deliniei.
O mundo, entretanto não pára. Há um pedinte que insiste em tocar um clássico qualquer dos Bee Gees, mas nada se move em câmara lenta, como seria de esperar. Lisboa está como sempre. Linear e coerente, em toda a prosmicuidade e cobiça que está envolta.
A banda sonora é ridícula, mas apetece mesmo perguntar, “how deep is your love” e levar-te para casa, como o deixei de fazer.
Preciso de te contar, de ultrapassar. Nem sempre é fácil, pelo menos enquanto a certeza e a segurança não se completarem e nos continuarmos a sentir afastados por toda uma falta de comunicação imensa, fruto das frustrações que acabamos sempre por passar, ao longo da nossa ainda curta vida.
Esperei sempre poder esquecer todos os restos de ti, dizer que te foste embora e tudo é uma questão de tempo. Esquecer a contigência do espaço e largar-me no mundo a fim de me perder. O resultado foi um encontro, comigo e contigo. Olhos azuis, eu a querer agarrar a tua mão, tu a quereres que desaparecesse, o mendigo no meio da praça que não parava de cantar.
A vida nem sempre é doce e eu talvez tenha perdido essa candura que nunca vi em ti e por isso mesmo sempre me desafiou. Foste tu a minha conquista da realidade pura, sem grandes pretensões, envolta em beijos que dizias não gostar infinitamente, mas que te faziam gozar sempre que eram mais prolongados.
Durante um curto espaço de tempo, voltei a adormecer confortável em toda a minha inocência restabelecida por viagens ao fim do mundo, enquanto sonhava contigo, mesmo tu estando ao meu lado.
Não importa, quando, nem onde. Diante de mim, está a tua lembrança magnetizada na esperança de voltar a ser feliz, desta vez sem lmitações impostas por um destino que me fez atravessar até ao outro lado do mundo, para assim reecontrar o que havia perdido.
Por isso, preciso de te encontrar de qualquer jeito, dizer que ainda podemos fazer muito, que o passado é nosso e podemos crescer lado a lado com ele. Que podemos dormir em paz, novamente.

Não sei.

És tu que o dizes. E embora gostasse de repetir tudo novamente e deixar de negar a forma como me sentia de cada vez que me tocavas, concordo contigo e deixo-te ir,
Nas telas, este momento é sempre o de maior climax, em que um dos participantes há-de voltar e dizer que tudo não passa de uma grande mentira, que ainda há muito para viver, em conjunto. Não importá se chove, se o senhor das pipocas adormeceu ou se o polícia vai passar uma multa a todos os carros mal estacionados.
Importa o momento congelado e eternizado, as duas faces a unirem-se e a formarem um só e o espectador lavado em lágrimas, como se fosse o amor dele que estivesse a ser partilhado.
Aqui, contigo, ninguém volta atrás, ninguém se humilha e acabamos por seguir por caminhos diferentes. Gostamos de ser coerentes e embora saibamos que ainda nos havemos de nos reecontrar, ainda falta algum tempo para nos esquecermos desse processo inevitável.
Por isso mesmo, de cada vez que me sentir sozinho, num desses domingos que só fazem sentido se passados a dois, hei de culpar-te sempre a ti e ficarei feliz por ainda te ter, pelo menos nesse sentido.
Ainda assim, continuo a ver o mundo girar, a minha indentidade a ser capturada novamente e saber que embora ambos o queiramos, ambos temos de enfrentar a nossa própria cobardia e deixar aguentar a alma até à próxima vez que nos encontrarmos.

Até à próxima vez.







Best friend michelle branch, till i get over you.

Tuesday, June 03, 2008

Retorno

E se trouxermos novamente a batida e toda a melancolia que advém dela? E se quisermos que regresse a frustração envolta em sabedoria suicida e racionalizada?
Já nada disso interessa, porque enterrei nessa escuridão tudo aquilo que julgava não ter esquecido, nesse mesmo lugar onde acabei por me perder.
Perde-se metade de uma vida a tentar encontrar o que fazer com tantos sentidos e noites mal encontradas, frases refeitas que encontramos em algum livro do qual já nem lembramos o nome e no fim, resta apenas o amor que desperdiçamos ao longo de todo um percurso que se acabou por tornar monótno.
Não, não escrevo com parágrafos e as frases normalmente são longas demais, mas é um ciclo que se fecha irrepetivelmente e deste corpo já não sai mais nada que possa ser consumido de uma forma que eu nunca quis e que nunca acabou por acontecer, por ter despertado antes mesmo de o ter feito.
Fecha-se um ciclo corrosivo e fugaz de experiências que se foram consumindo e que fui deixando para trás. Planos de uma mesquinhez absoluta que eu próprio desenhei e que foram deixados do outro lado do oceano para me provarem que finalmente estava errado querer oferecer-lhes uma conclusão, mas certo em ter equacionado todas esses risos perdidos que não efectuei.
Verdades feitas, para quem lê este amontoado de palavras que sei que só eu percebo e entendo. Amontoado de sentimentos e expressões que nunca chegam a ser aquelas que gostava que sentisses, mas que acabam sempre por serem refeitas e recicladas nas direcções de alguém que não me pertence.
Soube sempre que a batida me traria a um lugar profundamente desconhecido e miserável, por isso acabei por abandoná-la inconscientemente e deixar-me perfurar por toda essa realidade de ter conquistado o que as minhas mãos não podiam segurar.
E segurar é assunto da alma que transportamos, mas essa foi ficando fechada demais para que algo a pudesse sequer tocar e foi assim que se foi crescendo, em meses de euforia e adolescência terminada, com o final à vista, como se já não pertencesse a esse lugar encantado.
Foi assim que presumi e reconheci que finalmente acabou e que não há volta que me possa fazer retornar ao campo minado que é saber aquilo que se gosta, quando já se pensou que se gostava do que se tinha, mesmo que esse, não fosse o producto ideal.
Há segredos que se escondem e se são segredos, nunca são bons, porque ninguém guarda só para si algo que sabe que pode deixar o resto do mundo bem disposto.

Resto do mundo.

Como se o resto do mundo estivesse interessado em conhecer aquilo que nos faz feliz, como se o resto do mundo se interessasse no miúdo que é roubado à porta do autocarro ou do porteiro que passa a noite toda acordado, sem nunca poder dormir com aqueles que ama.
Dormir talvez seja o acto mais inconsciente mas que raramente o fazemos com quem nos sentimos desconfortáveis. Há sempre um sentimento de desconfiança, de insensatez em adormecermos ao lado de alguém que não sabemos o que nos pode fazer nesse estado tão latente. Por isso, já dormi com todos aqueles que vou amando diariamente, com quem me sinto bem e solto gargalhadas e cozinhados e em quem posso confiar e que sei que nunca me hão-de abandonar, que a amizade é feita dessas certezas e de vez em quando existe.
Por isso, quero voltar a dormir contigo, sem que nada me separe desse conforto que é poder abraçar-te e esperar que tudo seja uma eternidade, mesmo que seja muito tempo.
Por isso, nao posso largar-te agora e esperar que fujas, como sempre o fizeste. Por isso, adormeço a pensar em ti, na esperança que quando acorde, regresses, como sempre o fizeste.



Best Friend The Cure. Just Like Heaven

Friday, May 30, 2008

Antes que o tempo se acabe

Tento sempre começar de uma forma nova. Incalculavelmente e apesar de toda a liberdade consumida, torno-me sempre resistente a este desprendimento de tudo aquilo que supostamente é importante. Para todos.
Enquanto atravesso a água, revejo os pequenos caminhos que fomos todos traçando, como se não existisse ninguém e sorrio. Mais por dentro do que por fora, para não acharem que tenho muitos segredos, como diria a Agustina.
Chamo os grandes autores pelo primeiro nome, como se fosse meus companheiros de eternas memórias, porque é assim que os considero. Próximos, confidentes e principalmente confiáveis. Através deles não viajei, como muitos o tentam advinhar antes de acabar a frase. Antes, deram me vontade de viajar e ver esse mundo pelos meus olhos, sempre com a perspectiva deles na minha consciência.
São mais do que meus conhecidos, ganhei-lhe a confiança de serem levados por mim pela por essa américa latina, onde vigora uma mentalidade colonial muito mais inquietante do que se pressupunha. Lídia, Inês ( sempre Inês) António, José, nomes que representam uma cultura e que no fundo, podiam ser qualquer um de nós.
Enquanto atravesso a água que me rodeia, absorto nestes pensamentos que muitos considerarão inportunos, constato que sempre estive sozinho e de só agora querer ter consciência plena desse facto.
Facto, factos, facto. Tudo me parece uma repetição sem sabor, na maior parte das vezes. Factos que se parecem com verdades irreconhecíveis, postulados que nos indicam o cheiro das coisas, principalmente das inatingíveis.
Enquanto percebo que estou sozinho, compreendo que foi sempre isto que julguei querer dizer-te e que afinal nunca o consegui, por limitação emocional ou sensorial, que há mecanismos ainda não decifrados bem cá por dentro.
Tenho pressa de chegar e contar-te a falta que me fazes, bem por dentro de toda esta água onde consigo ver a minha imagem bem lá no fundo, como se fosse eu que estivesse reflectido por todo o lado onde alcanço e me posso segurar.
A falta que me fazes.
A falta que me fazes e que eu sempre neguei. Tudo é um processo de negação, se reflectir no meu percurso. A negação do amor que sinto é apenas mais uma a juntar a uma colecção infindável de projectos e narrações mal construídas, desenhadas por momentos cinematográficos realizados especialmente por mim e para mim.
Ninguém cabe neles e por isso rejeito qualquer intervenção, sem que ninguém o perceba. Ou talvez não.
Cansei-me de tentar analisar o meu projecto de vida por os olhos que por mim passam e mesmo assim não me canso de achar que te vou perder mais facilmente do que alguma vez julguei e que isso finalmente vai ter algum peso na minha vida.
Quero-me independente, dinâmico, corajoso e muitas vezes demasiado racionalista, como se o mundo em que eu sonhasse não fosse utópico. Passei a chamar-lhe assim, para nunca o esquecer que ele não sobrevive cá fora e fui guardando-o só para mim, num misto de mesquinhez e protecção em demasia.
Mergulho finalmente e sinto-me no meu ambiente puro, imaginando que é aqui que pertenço e não terei mais de voltar à tona. Mergulho para me dispersar da rotina que se faz lá fora, da comodidade de certezas que vamos acomulando no nosso sofá da sala, cada vez que nos sentamos e adormecemos. E quando acordamos, já tudo se passa na escuridão e foi mais um dia do resto da nossa vida.
Mergulho para tentar perceber de que é feita de facto a minha vida, a fim de tentar encontrar alternativas sagazes e vencedoras, mas acabo sempre por me deparar com as que comigo partilham essa merda tantas vezes anunciada que é a nossa vida. Tenho tanta vontade de acordar e que todos acordem comigo que me perco entre tentar encontrar um plano rebuscado que englobe todos aqueles que acabam por me serem queridos e por partilharem um pouco de mim com eles e por terem a coragem de me deixarem sozinho. Que a solidão é esse estado difícil de todos aqueles que não se acham perfeitos o suficiente e do qual todos tentam fugir, um pouco, porque somos confrontados com todas as certezas concretizadas por nós próprios e pela imagem que acabamos por criar de nós, segundo os outros.
Ter tempo para encontrar a solidão é ter tempo para nos afastarmos do sofá, esse acumular de sonhos desfeitos e inconcretizáveis. Desculpem a minha implicância com o sofá, mas é aqui, debaixo de água que vejo o quanto é um dessiminador de doenças como a habituação e ociosidade.
E a ociosidade juntamente com mais alguns conceitos, leva e subscrevo mais um amigo meu , Paulo Prado, à tristeza. Se vivémos numa cultura triste e com falta de alegria de viver, é por causa, muito em parte, dos sofás que vigoram pelas nossas casas e que tentam ser os nossos melhores amigos, sempre que chegámos a casa, estafados da merda do trabalho que os nossos pais nos conseguiram muito a custo, ou da sesta que acabamos por dar todos os domingos.
O sofá é o emblema da tristeza, porque não nos permite ter uma interação com mais ninguém a não ser com o vazio que a televisão nos propõe ou a paisagem que não conseguimos ver, lá fora.
Mesmo sexo de qualidade, é quase impossível, a não ser que estejamos a falar de anões. O sofá afasta-nos da realidade, chama-nos porque é apetecível, mas desgasta-nos e cansa-nos e nós nem percebemos porquê e quando nos levantamos estamos tristes e nem nos damos conta. Achámos que a culpa é do senhor das pizzas que chegou tarde, ou de no dia seguinte termos de ir trabalhar, mas na verdade estamos tristes porque estivemos sozinhos, mesmo que acompanhados.
E ninguém na verdade quer saber, porque achámos sempre que os objectos não têm essa capacidade, quando na verdade eles são personagem coadjuvante de todas as nossas vidas e nós nem queremos saber, por querermos manter a ilusão que superamos sempre, tudo, sozinhos.
E o que se faz com aqueles que amamos? Como é que conseguimos evitar todo este processo em todos aqueles que queremos que se mantenham vivos e que consigam dançar entre o sol que nos queima a pele e anuncia um dia melhor, amanhã, sempre amanhã?
Como é que te faço compreender que se ontem, todos os meus problemas pareciam tão distantes, hoje tudo se retoca e se recria, como se tivesse nascido hoje e que te quero levar para bem longe, onde nos perdemos por entre a noite e onde toda a gente adora as nossas cicratizes, fruto das experiências que fomos adquirindo.
Como se alguém, algum dia fosse compreender o que foi crescer por entre aquela casa, brincar com todos aqueles objectos e mesmo assim continuar a amar quem nos levava para a cama, ao fim de todos estes anos.
O pior, sempre, é de quem já cá estava antes para nos proteger e nós não nos demos conta e por isso a comunicação se torna ruidosa e muitas vezes aflita.
Não, as memórias não são um sonho, por muito que queira, mesmo aqui por entre a água, tudo me parece inócuo e pouco saudável, mas o amor não pode ser negado. Quando voltar à tona, quero regressar e agarrar aquilo que é meu, por direito. Fazer algo como gostaria que tivessem feito por mim, nesse dia em que mergulhei e descobri depois que não sabia nadar. Agora, tudo me faz bem, a água, a areia, mas nesse dia, tudo me pareceu aterrador e eu pensei que ficaria sempre encoberto. Para sempre.
Descobrir o amor que nos pertence e que nunca nos vai deixar é uma tarefa árdua. O David, esse pregador da vida pop é que diz que muitas vezes o amor não é suficiente e eu mesmo não acreditando, vou cantando com ele. Se o amor não é, o que há-de ser? Que outra força puderá superar a vida mundana que criamos? Encho-me de perguntas, sem esperar respostas. Por isso, guardo a fé e o amor que sinto, apenas para mim. Há coisas que evidentemente não podemos partilhar, mesmo que isso nos deixe mais frios.
Por mim, continuaria a escrever mesmo sem ter a certeza se alguém alguma vez vai acabar de ler e me ouvir enquanto permaneço debaixo de água e vejo a minha impressão digital ser cravada na areia, para logo desaparecer.
Estou alienado e conservado pelos segundos que ainda aqui posso permanecer. Aqui não há ninguém, apenas eu e o que resta de mim, felizmente. Encontrei a verdadeira natureza da minha essência, mesmo sabendo que nada voltará a ser tão bom como outrora.


Gostava de te levar comigo, repito. A ti, a ti e a ti. A ver se podemos constituir um recanto mais forte e feliz, baseado naquilo que deve ser união e companheirismo, confiança e lealdade. Quando é que deixamos todos de acreditar que isso poderia ser possível? Separamo-nos por acharmos que nos enfraquecemos, mas cada vez mais tenho a certeza de estarmos todos errados, principalmente aqui, onde vos consigo ouvir e entender porque é que cativámos sempre as pessoas com perfil XXX. Se interessasse contar, contava. Quando passar a interessar, conto.
Até lá, mantenho-me na ignorância de o esquecer, até porque tive a sorte de poder ser o último e antever o que a nossa teimosia nos faz esquecer.
Talvez sejamos todos loucos, que nos apaixonamos sempre por palavras e guitarras daqueles que sabemos que nos vão desperdiçar a vida entre clichés e artigos mal escritos, e que nos acabam por enlouquecer com tanta segurança e banilidade, que incialmente nos cativou.

Estou farto de escrever parágrafos na minha mente a ver se encontro algures ente o arco-íris e a linearidade feminina uma chave de inocência rasgada com um toque de sabedoria de mestre, que claro está, parece não exísitir.
De facto ( e lá vêm os factos), deixei de me interessar por isso, mesmo que aparentemente não pareça. Passei a estar seguro na minha própria leviandade que é nula, quando tem de ser exercida sem vontade e perco a vontade de comunicar, por entre um duche que nunca me limpa, numa casa de banho que não é minha, mas que mesmo assim não me importo. Não fui educado para me incomodar com os limites dos outros. Com esses, posso e aguento eu bem. Posso ter alma, mas no fundo e por mais que isso me mate, não sou um soldado e por isso só quero salvar aqueles a quem eu quero bem.
Talvez tudo se resolvesse com mandar queimar todos os sofás daqueles que os têm (todos) e descansar assim a consciência de ter feito algo por eles.
Enfim, acaba por doer a toda a gente, mas se calhar mais a mim, que estou cá por baixo há tempo demasiado e também me começo a sentir incomodado pela falta de algo mais do que idealizar o futuro da minha vida. Esforço-me tanto para que isso aconteça por ver o exemplo de todos aqueles que apenas vivem para o presente e não consquistam nada que se assegure por si só. Talvez por que foram conquistados e se acomodaram nessa escravidão cultural e nos sofás que foram comprando em quinze prestações.
O mais difícil não há-de de ser dizer adeus, mas de saber a altura que provocará menos consequências. A altura ideal para que isto tudo não se torne num grande cliché, que nunca foi esse o verdadeiro intuito da minha reflexão.
Sei apenas que gostava de te abraçar para sempre, por entre uma guitarra ou um piano, tanto se me faz e fazer força para que tudo corra bem, mesmo que seja aqui, debaixo de água, onde ninguém nos ouve e podemos dizer realmente tudo o que nos vai cá por dentro. Chorar sem que ninguém perceba, chorar mesmo que não tenhamos vontade, chorar mesmo que seja por nada, mesmo que seja por tudo, mesmo que seja por nós, nem que seja pela luz que nunca chegou e nos deixou sozinhos enquanto brincávamos, distraídos.
Gostava de te abraçar e repetir bem alto que havemos sempre de conseguir reactar o que nunca se acabou, que somos mais, nesse fôlogo nunca desfeito, nesse carregar de frustrações e carros emprestados. Fôlogo nosso, partilhado e atribuido, aqui, debaixo de água.
Hei-de voltar, antes que o tempo se acabe.



Best Friend .The Cranberries - Ode to my family

Wednesday, May 21, 2008

Café

Afinal quem vai salvar a tua alma, quando todos descobrirem as mentiras com que foste desgastando a tua vida e daqueles que por ti foram passando?
Tornamo-nos anónimos da felicidade, por nunca lhe conseguirmos patentear a certeza de um futuro risonho, apenas porque não pensamos nisso.
Pensa agora que cais e que constatas a verdadeira natureza que é o amor e tudo o que advém dele. E eu ainda tenho a tua chávena.
Tenho a tua chávena que partilha a sobriedade da facilidade deste momento em que me esqueço e transpiro tudo aquilo que quero tirar e que acaba por restar de mim e para mim.
Tenho a tua chávena, preta, escura, onde só o líquido acaba por ser a metáfora da tua essência que ficou em mim, como se dependesse dela para correr, fugir e dizer que sim, quando me quero perder em tantas negações convictas.
Olho para ela e tenho apenas a certeza que quero manter todos os momentos novos e incertos, intactos, parados e eternos nessa dinâmica que é sentir o gelo a partir quando ainda sei que te amo, de cada vez que sinto a agua advir dessa praia.
Essa antecipação turbulenta e um pouco violenta, envolta nesses código semióticos onde a bolacha maria se torna combustível próximo da chávena.
É então que me perco ou acordo. Não entendo muito bem a separação destes dois estados, por nunca saber qual se iniciou primeiramente.
Sei que não são únicos e se sucedem simultaneamente e repetidamente, como a porra do café que insisto em beber. Há actos e acções que não sei mais se são prazer ou fuga dele mesmo. Uma habituação a fim de evitar cair da expectativa e me segurar perante os trâmites que se avizinham um pouco mais do que perigosos.
Perigosos e surreais, porque a chávena ainda existe mas o líquido já se escapou bem por dentro de mim, como se eu alguma vez o tivesse desejado. Como se algum dia ( e nisto a gargalhada solta-se de uma forma sonora e estridente) te pudesse ter esperado, antes que finalmente perspectivasse a tua identidade.
Espero então, ansiosamente, que não me voltes a chamar e a esperar que te queira tanto como me quiseste um dia. Tornei-me mestre nessa arte da liberdade desenfreada e nem constato que tenho medo que ela se torne um vício, como o amigo portista Sousa Tavares.
Isso é para quem tem tempo suficiente para não poder esticar os braços e querer ser novamente outro alguém, que não qualquer um de nós, novamente.
De ti, não tirava nada, porque a imperfeição se aperfeiço-a e me cativa, nessa dança lenta e muitas vezes morta que é a tua inocência.
Cada momento que passamos, cada sexo que tocámos, cada olhar que rasgamos, há-de ser nosso, porque de cada vez que caio, sei que não hei-de estar sozinho, neste lugar bem meu, apesar de comum.
Se não te importas com a tua alma e a direcção que ela toma, de certeza que farás o melhor por ti e por todos, porque eu hei-de estar antecipando a tua chegada a essa praia onde só nós estivémos e partilhamos.
Havemos de chegar um dia juntos e eu nem me dei conta. E então, só aí, vou perceber que a chávena nunca, em momento algum, esteve preenchida.


Best Friend jewel. Who will save your soul?

Monday, May 05, 2008

A minha praia



Dificilmente viverei como sempre vivi. Esta energia inerente à minha capacidade de saber levar a vida, transforma-se diariamente em raça e personalidade sagaz. Dentro do nada, conquistei tudo aquilo que sempre quis. Essa liberdade libertina, fruto da minha própria falta de inocência nos valores que povoam a realidade que diariamente abarco.
Hoje, prefiro falar apenas de mim. Sem mortes inusitadas ou fantasmas que acabam sempre por fugir de mim, mesmo quando não quero.
Nesse rio repleto de figuras e personagens que eu próprio algomerei, acabo por encontrar a lógica predemitada para a soulução da problemática estilizada.
Tudo com classe e charme, que são atributos que prezo, dentro de um palavrão que soa a gargalhada estremida.
Perco-me no fumo, mas encontro-me nos limites físicos do cansaço, por saber finalmente do que sou feito. Posso acreditar em tudo isto e gritar que só agora compreendi, mas verdade pelo menos será, que só agora realizei esta maratona de insanidade fugaz.
Deixei de me preocupar coma batida, com o destino ou com aquilo que faço dele, com o futuro que é tudo menos coerente e com a minha própria sensação de melancolia sempre que o domingo se avizinha.
E domingo é mais do que um dia, é uma personagem em qualquer vida, incluindo na minha. Daquelas personagens misteriosas, que provocam um friozinho no estômago e nos fazem temer por nunca sabermos o que esperar dele.
É um benefício e uma tragédia completa, isso da surpresa, e saber lidar com ela torna-se o caldinho predilecto da amargura. Se esperamos demais, nunca seremos satisfeitos por ela, se pelo contrário, esperarmos de menos, haveremos de ser condescendentes com qualquer meleka que se nos aparecer pela frente.
E liberdade para escolhermos o que nos agrada de facto, é tudo. O que eu desejo, tal como a Clarice afirma, pode ainda não ter nome, mas liberdade é um conceito que estará muito perto dela.
Liberdade de pensamento e de acção, de escolha e de casualidade, de força e de atração. Liberdade de destreza e prisão, de escrita e de grito, de sexo e finalmente, de amor.
Liberdade para sermos magoados, liberdade para sermos invejados e finalmente, liberdade para sermos amados.
As pessoas mais amadas, serão sempre aquelas que são mais livres, porque isso atrai todos aqueles que não são, não sabem que podem ser e mais importante do que tudo, como o ser.
Liberdade é sabermos o que somos, o que queremos e podermos dize-lo em voz alta, quando assim o entendermos.Liberdade é pouco, mas seria tanto para qualquer um, nos dias que correm...seria o after-eight que todos queremos comer depois do jantar, a tequilla que esperamos sentir a escorrer pela boca ou simplesmente o sofá da nossa sala que acaba por ser o nosso maior confidente.
Liberdade é isso e muito mais, porque não tem limite ou contigência, apenas quando infrigimos com a liberdade alheia, com o espaço do próximo, com o amor de quem não nos pertence.
Liberdade para nos movermos e encontrarmos um lugar que possamos de chamar de nosso e é nesse lugar que eu quero estar.
Onde reecontro a fundação do meu riso , a admiração de quem por mim passa e a música que afinal sempre fez parte da minha essência.
Gosto de estar por aqui, bem quente, de me sentir português cada vez mais e por ter encontrado tanto mais do que aquilo que algum dia esperei encontrar.
Afinal, estou do outro lado do mundo, nessa experiência que concretiza toda uma juventude. Um fechar do ciclo onde finalmente agrego todos os valores que sempre soube que valia a pena lutar por.
Esta questão do racicínio que não pára, dos erros ortográficos que se espalham apenas onde finalmente posso respirar, porque eu sempre soube que teria mais para ver, antes de fechar os olhos.
E que faço com esta experiência que se apodera visualmente e constantemente de mim? Que fazer com todos os risos provocados, pela novidade que é saber do que se trata a matéria envolvente ou o simples desligar daquilo que nãointeressa?
Este saber novo, esta novidade que me ACORDA, que me faz respirar como outrora ja respirara, mas mais leve e sereno. Onde ouço tudo aquilo que há para ouvir e apenas retenho o que me faz mais Luís Miguel Marques Gomes da Silva, seja lá o que for.
Vi muitas praias, bebi muita cachaça 51, comi muita cochinha de frango e parece que afinal sou feito de matéria bem menos corrosiva do que era suposto.
Gosto cada vez mais de mim, porque quem tem uma baixa auto estima, afasta todos aqueles que os querem e isso há muito que deixou de fazer parte de mim.
Alguém consegue ouvir o que eu consigo ouvir? É o barulho do mar, na praia. A minha praia.
Este país é a minha praia.







Best Friend All Saints . Pure Shores

Friday, April 25, 2008

Extinção VIII



Percorri mundos perdidos nessa busca infindável pela essência que fugiu desse teu corpo , que eu tanto amava.
Embora consciente dessa incompleta fusão, tenho permanecido sempre nessa esperança de voltar a rever o olhar que tanto me iluminava.
Devia contentar-me com as memórias, que são bem mais do que muitas pessoas provavelmente sonharam em viver, mas sou feita dessa matéria que corre sempre pelo impossível, em todos os lugares.
Já não podemos dançar, já não podemos correr nem sequer brincar ao quem é quem nas esplanadas da antiga expo.
Contigo, fui sempre muito mais do que esperava ser. E esperava mais, agora que estou perdida sem ti, mesmo sabendo que tu não sabes que eu te perdoo, em todas as ocasiões em que permanço sem ti.
Queres-me, ainda?
Agora que não dizes mais que amas o meu corpo, que não me abraças quando está frio, que não me fazes vir entre múltiplos elogios, onde só o amor contigo se tornava na foda mais íntima que alguém como eu podia ter.
Não me tratavas como se sempre fosse o meu aniversário, mas eu sentia-me especial, mesmo quando eles diziam que tu haverias de voltar a gostar de costas largas e perfeitas, como de uma droga se tratasse.
Já me tentararam convencer de tudo. Se soubesses...
Eu sei.
Disseram-me que estavas morto, que tinhas ido ter com a minha mãe, nesse lugar secreto que ninguém quer alcançar, mas que todos acabamos por chegar.
Mesmo ele, que foi o secreto causador de toda a morte que paira na minha vida, me diz que tu já não estás connosco, de forma nenhuma. Corre comigo para o cemitério, apresenta-me o lugar onde supostamente sempre estiveste e entrega-me um cd do Caetano Veloso. Ainda lhe pergunto se ele estará a gozar comigo, mas ele diz naquele sorriso de criança mal criada, que é para eu ter consciencia que nunca mais terei aquilo que lhe acabei por roubar.
Dizias-me tu sempre, que os homossexuais, tal como as mulheres, não se de extrema confiança. Viram a personalidade no momento em que lhes convém e como passam uma vida de reflexões sobre a melhor postura social, só mostram aquilo que querem e quando querem.
Mas o que sabe ele, para além de gostar de ti, menos do que eu? Entro em casa, acendo um charro de uma merda qualquer que comprei pelo caminho e coloco o cd.
O Caetano canta “chega de saudade”, mas eu não sei o que fazer com ela. Sinto-me desnorteada, e massivamente carente e sozinha. Bem sozinha.
Deixei de acreditar em toda a gente e acabei a desconfiar de mim. Nem as minhas lágrimas suporto mais, por isso, desligo a luz na esperança ténue de não ver sequer a minha sombra.
Como me repetem que morreste, se ainda ontem passei por ti? Estavas na posição estática de sempre, mas novamente com a expressão de que me ouvirias, como sempre.
E eu que não sei o que fazer com esta liberdade que se me foi entregue. Apesar de ter consciencia que estou perto da insanidade mental sei ainda o que quero ao contrário da incompreendida da tua amiga Clarice. Não era ela que dizia, e tu repetias, “liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome”?
Todos sabem o que eu quero, por entre estes dias chuvosos, onde hei-de me tornar a única que esperará por ti, mais forte do que alguma vez fui. Talvez seja por este processo que teremos todos de passar, a fim de conseguirmos coragem de encararmos quem somos. Não sei. A merda que comprei é tão má que me enjoa facilmente. Alterno entre procurar por um novo eu e por amar a porra de situação em que estou. E é disso que me culpam, de me ter acomodado à tua ausência e de arranjar aí a justificação para me abstrair da realidade que ninguém quer ver.
Toda a gente me deixou e por isso, ninguém me vê chorar. Porra para eles, que se dividem em géneros, sexos, camas e falsa inocência. Querem conceituar Agustina, como quem conceitua Lídia Jorge, sem perceber que a esquemática da narração difere em meticulosos pontos, já que as pessoas sáo todas diferentes.
Trouxe um álbum de fotografias dele contigo. Lá nesse nordeste brasileiro, onde o tráfico sexual predomina e domina todas as famílias. Poses de felicidade tão transparente como a água. Não me incomoda, apenas me subtrai. Se voltasses, ficarias novamente comigo?
Talvez.
Talvez nunca me respondesses e talvez nunca voltes. Preciso de um final fechado neste texto interminável e que carece de falta de precisão.
Quando morreres, levas-me contigo?

Best Friend Death Cab for Cutie . Soul meets bodie

Monday, April 07, 2008

Extinção VII


Apetecia-me matar-te, a fim de saber onde finalmente te encontrar, apetecia-me correr para não ter de me encontrar lá fora, para poder esconder a espera de uma cura que não existe, para o estado em que te encontras.
Há teorias que dizem que tu ouves e sentes em alguns momentos quem te rodeia, mas se isso fosse certo, já me terias respondido.

Em tudo o que somos
Em tudo que fazemos
Resta-nos a coragem de sermos.

A mim, resta-me a vontade de não te esquecer e continuar a seguir as encruzilhadas pelas quais te vou seguindo, sem nunca esquecer a memória dos teus actos. Como tu dizias, a “acção ultrapassa sempre a palavra”, por isso mesmo nunca te preocupaste em contemplar-me com um futuro, se o presente contigo conseguia superá-lo. Concordavamos os dois que esse infinito é confinado para as pessoas que vivem de uma forma metodica e perfeita demais, para ser incluída na nossa realidade e que por isso mesmo não podiam ser tão felizes, apenas porque se preocupavam com aquilo que não tinha garantias que haveria de chegar. A ilusão é sempre mais fácil de abraçar para cada um de nós, é por isso me agarro á veracidade do teu corpo que ainda posso apalpar.
Tenho tanto sono, que perdi o contexto das interacções. Como sou mecânica em tudo que faço, não causa grandes distúrbios a nível profissional, até porque sei que eles vigiam todos os meus passos.

Quem são eles, afinal?

Cometo sempre o mesmo erro. Imagino-me sempre numa realidade cruzada em que tu és mais do que uma memória que diariamente faço por manter dentro de mim. Dou por mim a dançar contigo, em pleno Rossio, envoltos nessa grande gargalhada que aprendi a saber soltar contigo.

Só comigo.

E rio-me sozinha, agarrada às minhas próprias conveniências, à solidão que instaurei entre mim e os fantasmas que diariamente convivem comigo e me fazem gritar bem alto, para que se calem e não me tentem dar escolhas, novamente. Por entre o orgão que ouço fascinada, mas sozinha.
Este é o único momento em que tenho medo de ter perder, o de nunca mais me lembrar da forma como olhavas o horizonte e me revias, na forma que te inserias no universo, na forma como me declaravas o lado bom que só existia quando sorrias, a forma como me acelaravas, só para poder seguir a tua insensatez de viver, realmente.
Tenho medo que te esqueças de mim e nunca mais me recordes como sempre me prometeste que o farias.
Planeavamos muitas vezes uma separação, o que fariamos e de que forma reagiriamos, mas nunca julguei que acabaria tão patética como me declaro agora. Eu, que sempre seria a independente e te comprimentaria com um novo vício agarrado à mão, eu que me esqueci de te dizer que te amava tantas vezes, eu que te menti vezes sem conta.
“Não suporto a ideia te ficar com o mesmo homem para o resto da eternidade” e tu compreendeste. “Eu também não, por isso quero ficar contigo” e eu ria-me novamente. A ideia de conseguir ter algo que deixou de ser suposto conseguir terl fazia-me mais forte do que as outras. Adorava chegar de mãos dadas contigo, para que toda a gente compreende-se que eu não me afogaria antes de começar a nadar.

A ideia de ter
A noção de querer
A fuga de morrer

Principalmente diante dele, que tinha sido o último e o mais pertinente, o que fazia questão de aparecer quando eu não estava e que continuava a tentar contrariar o que só tu querias.
Foste tu que quebraste as minhas crenças científicas, onde só assim tudo fazia sentido. Se a sexualidade é algo com que se nasce, uma convergência de factores x e y, onde é que está essa correspondência na contração dos músculos que tinhas, sempre que te vinhas comigo?
E onde é que eu coloco toda a suposta sabedoria e adoração pelos fornecedores de tantas teorias da treta?
È suposto que tudo corresponda como nos ensinam, que tudo corra certo, como daquela vez que me ensinaste a fumar e eu parecia uma criança rebelde que só aos trinta anos é que soube a que é sabia uma chiclete de mentol.

Sinto falta do teu sexo.

Em todas as coisas que acabaste por me mostrar, o sexo acabou por se tornar a mais lúcida e real. É surpreendente o que a idade ensina a um homem. Sabias perfeitamente onde me tocar, como me aliciar e acima de tudo, como me dominar.
Nós mulheres contemporâneas, vítimas de uma sociedade que cresceu em volta de um complexo ultra-machista, gostamos de mostrar que mesmo na cama somos nós que controlamos e determinamos as acções, para no fim, apenas termos a vontade inócua de sermos subjugadas e acariciadas, em todos aqueles pontos que só tu sabias alcançar.

Só eu.

O sexo, sempre me pareceu uma arte sem instrução e por isso mesmo, nunca me dediquei demasiado a ela.
Gosto da pesquisa acertiva, da combinação de células e placentas, de transfusões e operações que determinam a vida e muitas vezes apenas a sobrevivência. Por isso mesmo sempre me pareceu desinteressante algo que se aprende baseado unicamente no empirismo.

Onde estás?

Quando passo pela tua cama, tenho esse desejo irracional de te despir e tornar-me novamente livre, naquele mesmo local, para que toda a gente soubesse a capacidade de transcendencia que tu és capaz de criar e que eu nunca te disse.
Apetece-me anotar todas estas confidências atrasadas, apetece-me chorar a ver se voltas nem que seja por pena e me contas a que sabor sabem as estrelas, que tanto me ensinaste a amar.
Apetece-me que me leves contigo para que possa ver tudo aquilo que tens para me oferecer, ainda.

E ele?

Ele é a forma que tenho de conseguir perdurar-te através da raiva e da frustração, um pouco mais. E eu não me importo que ele seja impertinente e inconveniente, agora que não tem mais razão para não o ser.
Tenta brilhar sempre por cima de mim, mostrar o quanto foram felizes e que a culpa de tu não estares connosco é unicamente minha e da mania que tenho em transcender as regras impostas por alguém que eu não conheço e por isso mesmo, não devo respeito.
Conta-me ele da lua-de-mel, em que foram para essa terra de europeus perdidos, enquanto me oferece um pouco da cachaça que compraram por lá. Eu aceito e peço outra. Estou com sede e sem paciência para apreciar seja o que for.
No fundo, adoro este tormento. Faz-me destruir todas as certezas que algum dia julguei ter em relação a algo ser inalterável, que haja algo que não possa fazer, a menos que não o queira.
Tudo depende de nós e tu dependes de mim. E ele sabe.
É exactamente por isso, que não toca em nenhum aspecto sexual profundo, por muito que lhe apeteça. Eu sou uma espectadora assídua de tudo aquilo que ele diz e dos gestos que ele faz. Mostra-me a fotografia da filha, linda, com 15 anos na altura. Diz-me que te chamava de tio e que te respeitava, que te contava tudo, um pouco como toda a gente.
Essa tua forma de agradares e saberes sempre quando dizer as palavras certas, no momento em que as pessoas pareciam estar sofregas para as ouvir, só te trazia benefícios.
Enquanto ele me serve cachaça, sinto-me a beber-te e a respirar contigo e esquecer que sei demasiado. Imagino-vos na cama e não sei onde vos encaixar. Gostava de lhe perguntar em que posição faziam, como faziam, quando o faziam e mais do que tudo, quem o fazia.
A partir dos media, mostram-nos sempre que uma relação entre dois homens é composta por um que acaba por ser sempre mais do que outro e nada disso parecia fazer sentido, enquanto o olhava, enquanto o olho, ainda.
Pergnta-me se tenho sono, se me quero deitar e parece-se um pouco com a delicadeza com que tratavas todos os desconhecidos, mesmo aqueles de quem á partida não gostavas. Aceno com um não e ele continua. Viajo com ele.
Vou de Salvador até Porto Galinhas, mergulho no fundo do mar, mesmo com o medo que tinhas do inesperado do oceano que não dominavas e sinto-me tão mal que acabo por vomitar.
Garanto-lhe que estou bem e saio com a mesma velocidade com que tu o farias, se pudesses andar, sequer.
Apetece-me voltar e matá-lo também, mas tenho medo que assim, te encontre mais facilmente do que eu e por isso mesmo deixo-o estar. Sinto-me consumida por este tempo ameno que corre e apetece-me ouvir-te a sussurrar que eu tenho aquilo que é preciso para te libertar.
Não digo mais que não estou perdida, que gosto mais do escuro, porque é o único sítio onde não consigo perceber o quão sozinha estou e que não tenho formas de te mostrar tudo o que continuas a significar para mim.
Se o tempo fosse correcto, nunca me tinha deixado tanta fome de te querer, cá por dentro. O tempo contigo foi rápido,conciso, mas rápido e por isso mesmo, ninguém acredita que se algum dia acordares, queiras ficar comigo.
Acham que a verdade daquilo que queremos e que realmente sentimos como importante, vem quando temos a consciência que podemos morrer mais facilmente de um simples atropelamento enquanto tentámos passar para o outro lado da estrada, do que de doenças tão complexas e mortais como a sida ou cancro no cérebro.
Acabo por adormecer no táxi, a ver se por algum motivo o condutor me deixa ficar com ele e eu não tenho de constatar o vazio que é a casa onde habito. Onde tudo cheira a apatia, carregada de uma certa esperança mórbida em te encontrar.
Não sei se morra, ou se espere por ti.


Best Friend . Adele Chasing Pavements