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Wednesday, April 07, 2010

Há muitas coisas que eu ainda quero ver

Parece que me roubaram parte de mim e agora, não entendo a melhor forma de a alcançar, novamente.
Na minha realidade, nada se cria, tudo se transforma. Parece-me, isso sim, por vezes, difícil de conseguir perspectivar as formas que assumem essa mesma transformação.
Pensamentos intrínsecos, de alguém que viveu mais do que era suposto.
Queria deitar-me e esquecer tantas vezes das partículas de que a minha memória é feita.
Às vezes nado, na esperança de chegar à tona e flutuo. Deixo-me ficar por ali algumas horas, até me esquecer de nadar, abrir os olhos e adormecer e deixa-me afogar lentamente.
Parece-me tantas vezes, ser uma luta contra algo que me domina, algo mais forte, como a corrente que me arrasta para uma vida meramente normal, que eu imaginei, mas nunca a havia provado e por isso mesmo, sonhei que a merecia e nunca me arrependeria.
O problema das experiências, é que se não forem consumadas com conta e medida dilaceram-nos, deixam-nos cicatrizes visíveis e permeáveis. E toda a gente tem as suas cicatrizes.
Umas à flor da pele, algumas causadas pela nossa própria essência. Não é o rancor que me guia, esse, foi esquecido há já algum tempo, mas a vontade de fazer melhor, de o amanhã ser ainda um pouco mais perfeito e poder descansar nessa paz bucólica que tantas vezes não consigo agarrar.
É como, tantas vezes, tivessem arrancado parte de mim e eu tivesse deixado, ainda que não me tivesse dado o mínimo prazer.
No fundo, sempre soube que isso aconteceria e é ao escrever estas palavras que constato o óbvio.
Fugi durante anos dessa falta de esperança, desse olhar que me engoliu, dessa concretização de um sonho, que sei bem, nunca se irá realizar. Já não sei se por culpa minha, se das contingências, se por falta de esforço, que isto de carregar o peso em cima dos ombros, enche-nos de idade, mas não de maturidade.
A linha ténue em saber o que é certo e errado, desapareceu. Durante tantos anos, fiz-me o senhor das ideias utópicas, das múltiplas coincidências e das certezas aparentemente, mas só aparentemente, refutáveis.
Sabia-o bem e acabei por não saber nada. Nunca.
Olho para trás e é tudo um pleno mar de incertezas. Tantas experiências e tantas vidas a prolongarem-me e fui apanhado despercebido, bem no ponto em que tinha alcançado, pensei eu, o cúmulo de um final de uma adolescência. É um processo prolongado e vejo-me a entrar no mundo dos adultos, em constante crise, também eu, a acompanhá-lo.
A tentar transformá-lo e a impor as minhas regras de criança mimada que não funcionam mais. Aqui, o jogo é outro e eu sei como o jogar. Apenas não me apetece. Apetece-me isso sim, fazer birra, chorar desalmadamente que o colega tem um gelado maior do que eu e puxar a saia da minha mãe “TAMBÉM QUERO”.
O que me apetece, é ter as coisas que serão minhas, conquistá-las e ser conquistado, mas o que fazer, quando tudo parece mais ao menos predestinado?
Sei lá, o que é isso, do destino, das cicatrizes. A vida surpreende-nos num dia, mostra-nos que muitas vezes não somos mais do que pó solto, pó agarrado, umas vezes monstruosos na simplicidade, outras sinistras na complexidade.
O facto de ter noção de todos estes trâmites, deixa-me perdido e confuso. Teimoso como sou, não me apetece fazer o que os outros querem que eu faça. Apetece-me criar um mundo só meu, ser autista durante alguns segundos e tentar deixar a minha marca num futuro.
As pessoas escrevem, para as ajudarem a racionalizarem o processo daquilo que sentem, embora as vezes os processos sejam tão confusos como uma equação quântica.

“Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido”.

Tudo se torna uma espera. Eu a confrontar-me com as cicatrizes que toda agente tem, a segurarem a certeza que é voltar a ter-te. Dizer que não, seria uma mentira imposta durante tempo demais e tentar compreender-me algo penoso demais, até para mim.
Eu finalmente a fazer aquilo que nunca deveria ter feito, porque há coisas que não se esquecem, há coisas que não se perdem, apenas se transformam.
Nunca ninguém sabe se realmente está a fazer o mais correcto, a proceder de forma mais objectiva e concisa, mas sabemos que não podemos perder o sentido de querermos, de forma envolvente, compreendermos o porquê de permanecermos cá, enquanto outros desaparecem.
Gostar não implica prender, implica libertar. E eu preciso de voltar a gostar um pouco mais de mim, para me libertar, também. E isso, é algo que ninguém poderá fazer por mim.
Nada se perderá, apenas se transformará.


“Há muitas coisas que eu quero ver”.