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Tuesday, December 11, 2007

Extinção III

Não é a vida que se não viveu que se desgosta.
Estou inerte e contudo ainda com tanto por te dar. Sentada, deitada, imaculada, cheia de prazer por ti.
As paredes amarelas não me trazem a paz que tanto prometeram e no entanto, são elas que anunciam a tua ausência, que sei de cor.
Tentei tantas e tantas vezes acordar, a ver se o amor se esvaía e por fim tudo deixava de ser um lugar honrosamente estranho.
Planeio fugas à tua consciência, saber se ainda penas em mim, mesmo quando não o dizes, mesmo quando não me olhas, mesmo quando não sentes.
Dizem que hás-de caminhar para a morte contínua, que nunca poderás andar, mesmo quando eu só te imagino a correr na minha direcção, que a tua fuga foi de ti próprio e de algo que eu nunca poderia compreender e que mesmo assim, eu sei que sempre aceitaria.
Sou rigorosa o suficiente para não me veres cair e benevolente demais para me veres chorar. Não há sofrimento que ultrapasse a vontade que é querer-te perdoar , sem saber que ângulo escolher ou a felicidade de nunca te dizer adeus enquanto os teus olhos não se afastarem dos meus.
O que interessa da vida é a bagagem nos nossos SONHOS
Por isso, não acordo e deixo-me sorrateiramente imaginar que me abraças enquanto te agarro e volto a sentir a tesão que só sente quando percebemos que o amor é um acto falhado, em tantos de nós.
Adormeço. Sonho. Vivo.
Não te esqueço porque não quero. Não te esqueço porque não tenho graça para suficiente para engrandecer a minha forma, enquanto força que fui.
Tua. Já não minha
A inspiração que me deste, foi-se enquanto te vi chegar ao mesmo local onde eu já perdi as mãos entres os cadáveres inanimados que me chegam ou o sangue que não controlo. Percebi por via da maldita circunstância, que Deus não me tinha dado um dom para o ajudar a salvar aqueles que não receavam a minha ajuda, mas sim a confrontar a sua própria magnificência e a provar que também Ele, embora muito raramente, não é o ser perfeito que tanto fez questão que idealizássemos.
Por isso, não me levanto mais, enquanto pouso a tequilla que tanto me obrigaste a saber apreciar. Dizias que tudo é uma questão de contexto e motivação. Que o ser humano é capaz da maior conquista, assim como da maior fraqueza evidente e que por isso mesmo, os acontecimentos teriam de ter o local perfeito para terem ocorrência.
Ocorrência talvez não tenha sido a melhor forma de narrar todos os acontecimentos. Dizias que gostavas de velocidade e sapiência, que quem conseguisse dominar estes dois factores aparentemente antagónicos, controlava a matriz do conhecimento humano e que por isso mesmo, conseguiria ser mais e melhor.
Talvez por isso, te tenha visto sempre a correr, tentando compor os momentos com toque infundado de inteligência óbvia. Mesmo o sexo tinha lugar a partir do corpo e da memória, as palavras ditas no momento certo, já que raramente as usavas, os corpos que balançavam a toda rapidamente e tu a conduzires a toda a velocidade. Sempre.
Inicialmente não compreendia deliberadamente a tua essência. Chamava-lhe autismo, já que parecia que vias um mundo completamente diferente daquele que todos me davam a conhecer e que eu fui também absorvendo.
Falavas-me em estrelas que nunca se soltavam, sonhos que tinha de ser lidos alto e consequentemente, lugares que eu sabia que já tinha visto, mas que tinha a certeza qu e não existiam. Mergulhavas na bebida, para teres a veracidade que se concede a um homem embriagado e encantavas a plateia normalmente constituída por mim, com essa noção pouco clara do que era o mundo, de facto.

Não é sobressaltada que abro os olhos e constato que não estás ao meu lado. Apenas a tequilla e a imagem do que foi restando da minha personalidade materialista e convicta de que só os objectos perduram na nossa existência.
Talvez porque nunca tivesse querido amar tanto ninguém, como o faço agora que sei que nunca mais terei a oportunidade de encantar a porra da morte e ganhar-lhe alguns minutos.
O que interessa não é a paz de ter chegado.

O que é grande e belo é isto de chegar
E ter logo e sempre a coragem de partir.
Os teus poetas tinham razão e eloquência suficiente, mas eles não corriam nem fugiam. Eram lentos e pouco sensíveis à velocidade e por isso, perduram. Quando me mostraste a poesia que escrevias com as tuas mãos que me haveriam de guiar entre essa intenção que é deixar-se abraçar por inteiro, percebi que não havia nada que pudesse fazer que me afastasse da esperança em acordar de manhã e não te querer ver mais.
Não foi a velocidade que te matou e se foi a ilusão de que não te perdoaria, então morres em vão.





Best Friend – Marcos Leal – Do Outro lado de mim

Friday, December 07, 2007

Dirty Harry

Desisti de compreender, Para passar a aceitar.

Não pudemos exigir demasiado das pessoas que não estão preparadas o suficiente Para conseguirem aceitar e avaliar de forma fidígna, tudo aquilo que temos Para entregar.

Podem inventar equações múltiplas, teorias sobre a lei da relação que se faz com base em distância e liberdade, que não há nada que esconda a limitação do próprio consciente. Quando dizemos que gostamos de alguém, a maior parte de nós, não compreende a multiplicidade de reacções que provocamos no destinatário, nem de resto, isso nos importa. Até porque ninguém quer saber dos sonhos que o parceiro do lado tenta alcançar.

Somos sempre egoístas o suficiente, Para pensarmos naquilo que temos e naquilo que podemos vir a ter, ao invés daquilo que podemos dar. Durante tempos, julguei não ter quantidade ou qualidade suficiente Para entregar a uma relação baseada em afecto físico e emocional e por isso mesmo não permiti a mim mesmo uma segunda oportunidade.

Errar custa-me, ainda que aprenda com isso, o suficiente Para voltar a seguir a mesma lógica, ainda que por um período muito mais curto. Queria voltar a ser adolescente novamente e a conseguir perspectivar esse sonho que tanto abraço como sendo meu. Há pessoas que passam e não deixam marca, apenas porque não arrancam uma impressão segura daquilo que somos.

Por isso mesmo é preciso escrever, gritar, explodir. Contar as estrelas, conjecturar novas constelações e deixarmo-nos perder no espaço. Eles que saibam que o valor que temos é um dado adquirido e que por isso mesmo, não é o facto de nos sentirmos usados que vai alterar esse facto, apenas nos envaidece e nos torna mais corajosos e dignos.

Aceito que nem toda a gente mereça aquilo que tenha Para dar, que sei agora ser suficiente Para fazer alguém vomitar de tanta felicidade. É algo que não posso deixar de me sentir entusiasmado e ansioso, já que quando chegar o momento certo, eu vou ter realmente muito Para oferecer.

Tudo se resume à intensidade que depositamos no momento em que nos entregamos, no qual a coerência não entra e muito menos a frieza desumana. Queremos todos o prazer agarrado à tesão fácil e indiscriminada, noites sem fim a acordar sem perceber muito bem onde, valores que são suprimidos e encolhidos, auto-estima baixa em demasia, orçamentos vazios em compaixão ou ternura.

Passei a aceitar então isto mesmo e que por isso mesmo, gosto cada vez mais de mim. Talvez porque faço da sinceridade a palavra fundamental no decorrer das minha vida, porque me acompanha desde a minha fundação e que é nisso que reside uma das minhas maiores características.

Acima de tudo, estou feliz por estar convicto daquilo que sou, daquilo que quero e espero daqueles que me acompanham e que aquilo que tenho Para dar é mais do que aquilo que a maior parte tem porque merecer.

É nesta deambulação de palavras e registos, que admito que por isso mesmo, não me posso sentir culpado por algum dia me ter entregue a quem nunca valeu a pena. Quando se gosta, mostra-se, entrega-se, preserva-se. É um acto inerente à condição humana e não há como lhe dar a volta. Podemo-nos enganar, inventar mentiras estreitas e perfeitas sobre o fim de algo que nunca começa na verdade, que no fim, os sonhos hão-de ser os mesmos, em todos os lugares.

Fica tanto por dizer, tanto por explicar e ainda assim, tanto que aceitei, mesmo sem ter sido preciso escutar. A perspicácia acompanhada com um grande orgulho na pessoa que me olha, cada vez que me vejo reflectido no espelho mostram a pessoa segura que sou, excepto quando sei que percorro um caminho sozinho e às escuras, quando era tudo menos aquilo que se pretendia.

A maior parte, ainda não ultrapassou o complexo “Dirrty Harry” e por isso mesmo, só dá valor àquilo que tem, quando já estamos sozinhos e sem rasto de coisa nenhuma. Não sabemos o que é gostar e por isso mesmo, agarrámo-nos à primeira pessoa que com um toque de retórica e bom gosto nos parece ser o desbravador de um novo tipo de sensações.

Não há dúvida persistente, apenas certeza de ter finalizado aquilo que noutra circunstância teria durado tempos indeterminados e tempo não é algo que se possa desperdiçar com quem não tem condições intra-pessoais Para o gastar, seja com quem for.

O que me confunde mais é a cobardia, misturada em vontade de arquitectar um sentimento indesejado no destinatário. Isso não compreendo nem aceito, seja de que remetente for enviado. O que me irrita mais é a tristeza disfarçada de comiseração e vontade de foder tudo e todos, sem aviso prévio. Há aqueles que ficam tristes, consumidos pela sua própria tristeza, quando tiveram tudo Para se verem livres dela.

Foi esta a minha maior luta e talvez seja altura de desviar o padrão e constituir um novo rumo à empresa que tanto se anuncia. Como sou inteligente, estive sempre consciente do que tinha Para enfrentar, assim como estou consciente agora que abandono, sem qualquer tipo de dúvidas na minha consciência. Até porque dúvida é algo que não existe, quando gostamos de alguém. Tudo é certo e conciso e eu não me licenciei em Orientação de Sentimentos, apesar de ser algo aliciante, mas que cada vez mais me faz perder a paciência e correr Para outro curso, com outra turma, a ver se desta vez os trabalhos de grupo são mais eficazes e as dúvidas não existem

Caetano Veloso é que tinha razão e eu também só vou “gostar de quem gosta de mim”, conscientemente. Tenho a facilidade inerte de abandonar quem é portador de enfermidades contagiosas ou simplesmente quem não sabem receber a força que tenho e que transporto comigo. Muito Para além disto, não há nada que se possa repetir, apenas porque eu não quero.

Descobri que gosto demasiado de mim Para me deixar tomar por algo que não me preenche ou me satisfaz na totalidade. Tenho consciência que é não é fácil encontrar alguém que queira partilhar comigo o meu sonho, mas que é por isso mesmo que não há pessoas especiais em todas as páginas dos livros que encontramos, numa biblioteca qualquer.

A felicidade maior, é conhecermo-nos o suficiente Para compreendermos as nossas limitações e a nossa motivação máxima. Não há benefício maior do que esse e provavelmente algo que me satisfaça tanto, enquanto constituinte de um colectivo de massas, com um pensamento cada vez mais uniformizado.

Por isso mesmo, isto é algo escrito Para mim e por mim.

A segurança voltou, apenas porque tudo está como devia ser.

Há coisas que nunca serão nossas e por isso memso, não há motivo para nos sentirmos tristes, quando nunca fizemos algo para não o estarmos, de facto.


Best Friend - Kate Nash - Foundations

Tuesday, December 04, 2007

Extinção II

Nunca me deram essa escolha. Achei sempre que o meu destino era fazer aquilo que não me diziam, romper com os limites e deixar-me ser navegada por ti, sempre que o vento me mentia na direcção que me fazias tomar.
Não me prometeste nada, nunca e mesmo assim eu sempre esperei ouvir-te.
Nem que fosse uma palavra.
Nem que fosse um gesto.
Nem que fosses tu.

Olho para ti, sem saber muito bem o que te diria, se finalmente acordasses e me perguntasses o que tenho feito com o silêncio em que a minha vida se transformou, desde que tudo se tornou frio e perdi a vontade de me deixar aquecer por entre as palavras daqueles que angustiam este sentimento que bate cá dentro e espera sem aviso, que regresses.
Sem querer, vejo ainda as estrelas, que tantas vezes me puxaste e fizeste crer que fazia parte dessa vasta constelação. Não há nada que uma mulher goste do que sentir que pertence a um lugar onde todos as acariciam e as desejam e tu sabias.
Por isso, e por muito mais, voltaria a cometer o mesmo erro passivo e inerte de tentar salvar a tua memória e perdurá-la por algo mais do que as fotografias que guardo desse teu sorriso que nunca me deixou adormecer, quanto mais esquecer.

"O amor é fodido", diria o Miguel Esteves Cardoso. Eu digo que fodido é ver-te morrer ao meu lado e querer apagar esta falta de coerência que é chorar quando nunca o fiz, mesmo quando ela morreu.
Lembras-te? Deixaste-me sozinha, em vão, à espera que finalmente me sentisse culpada por nunca a ter perdoado e por fim o momento chegasse e eu me entregasse aos remorsos socialmente impostos. Nunca aconteceu.
És inquebrável.
Sou.
Era.
Nada disso interessa mais, muito menos a imagem de alguém que em nada merecia a minha atenção, quanto mais o meu amor. O amor é algo que não se pode conceder por força de laços sanguínios, nem por força do comidismo e muito menos pela força da solidão. Há que o merecer, há que o querer, há que ser irracional o suficiente para o aceitar.
E mesmo partindo não sei chegar mais desse lugar sem nome onde me encontro de cada vez que entro em casa e tu não estás. O pó acomodou-se, terias vergonha se cá entrasses agora e tu que dizias que a disposição dos móveis e a forma como eles estavam adornados eram a imagem da nossa própria imensidão.
Se assim é, a minha está coberta de lugares comuns, onde só tu predominas e onde as vozes que pedem a todo o custo que volte a conquistar o meu lugar no coração daqueles que tanto me querem, se calem para sempre.
Se calem, para sempre.
Silêncio.
Era essa a tua melhor característica e então porque é que não a aguento agora? Eles que digam o que quiserem, que hei-de sentir o mesmo por ti.
Há dias acordei e tinha o perfume de alguém na minha roupa. Não são verdadeiramente confiáveis, eles. Indagaram-me, questionaram-me e concluiram que te tinha de esquecer e acordei com o perfume de outra pessoa, enquanto me vestia, atrasada, como sempre.
Uma médica não tem horários a não ser querer salvar aqueles que ama de uma morte rápida ou lenta. É tudo o mesmo. Morte e cheiros que não me pertencem e que eu desconheço.
Pediram-me para me encontrar no mesmo sítio em que os vejo e que não me esquecesse que há um mundo que olha para mim e me avalia e que por isso mesmo, deveria ao menos olhar-me duas vezes ao espelho antes de sair.
Foi o que fiz.
A figura que me olhava parecia substancialmente mais velha do que me lembrava. Será que gostarias de mim, desta forma? Esqueci-me da sensualidade que me motivavas a transparecer, da tesão que era quando franzias o sobrolho, mesmo da mão por entre as minhas pernas. Queria ser eu outra vez, mas contigo. Sempre contigo.
Cheguei e não os vi. Alguém me interpela e diz que estou bonita. Os homens têm a banalidade na ponta da língua, sempre que sentem a fragilidade feminina. Saí, sem pensar. Não era preciso. Não eras tu, nem lhes perdoo por terem tentado criar uma imitação fraca, sem qualquer resquício da tua vida. Tu que sempre me encontraste, por entre a minha corrida desenfreada de não saber amar, mas de o tentar conseguir.
Quando chego a essa instituição que não consigo deixar de considerar como minha, eles olham-me e percebem que neguei a liberdade de não perder aquilo que não se quer ter.
Liberdade.
Tu tens o que eu preciso para me deixar ir.
Nunca te disse o quanto precisava de ti e talvez por isso, tenhas ficado sempre ao meu lado. Vocês adoram a mulher forte e desinteressada, aquela que fica connvosco mas que não precisa, porque consegue gozar a partir de outras formas e feitios.
Por isso nunca o disse. Tornei-me campeã dessa imagem que fiz como sendo eu e nunca te disse que o tempo deixou de ser um condicionador para mim, para passar a ser um prelongamento daquilo que eu tornei eterno.
Tu gostas de mim.
Disse-te sempre que não, para repetir que te amava, mesmo no fim.
Sou má.
Não és.
Fui.
Gostava de te agarrar e fazer-te ficar, a fim de acordares e me poderes tocar novamente. Nada funciona como era suposto. Não voltei a calçar aqueles sapatos que tanto odiavas, apenas para seres o único a puderes conhecer o pior que há em mim. E voltava a fazê-lo, apenas porque a verdade que reside em todos nós, é aquilo que escondemos.
Não quero razão, não quero uma segunda oportunidade.
Quero apenas que regresses, sem expectativa ou incitação.
Acredito em ti.

Friday, November 30, 2007

Ressaca

Depois da ressaca, percebo que nunca deveria ter escondido tudo aquilo que haveria por ser revelado, segundo a minha vontade em ser o mais sério no que toca à conduta por mim exercida.
Percebo agora o esquema de culpa e falta de prazer em que estava mergulhado e do qual não havia maneira de querer escapar.
Escapar, de uma forma doce, nunca me pareceu a melhor solução, a não ser que tivesses envolvida. Queria tanto manter a minha integridade, manter a minha postura forte e independente, fruto da porra da sociedade individualista em que vivemos, que quase me esqueci de acordar e parar de seguir a batida riscada e viciada.
Escondi-me sem que soubesse, fugi sem nunca o avisar, abracei quem não devia e acabei por correr atrás do grande vazio que é a solidão de não estar sozinho, quando é só disso que precisamos.
A fraqueza de um homem é posta assim à prova e ninguém gosta de a revelar. É assim que depois da ressaca, perspectivo a realidade que quase me consumiu e me deixou um pouco mais do que sozinho.
Não deixei nada de mim, apenas me esqueci um pouco dos outros, sem querer entregas ao domicílio ou gorjeta quando se iam embora. Esqueci-me o que me torna realmente realizado, sem o querer deixar de ser.
Depois da ressaca, tudo me parece um pouco mais calmo, nojento e pouco racionalizável.
Depois da ressaca, quero esquecer tudo.
Depois da ressaca, sou eu, novamente.

Best Friend . André Indiana - All alone with you

Thursday, November 29, 2007

Impressão



Ninguém se interessa pelos sonhos dos outros. Vivémos na era egoísta do prazer único e singular, nunca partilhado, antes roubado. Somos a força motriz da incapacidade de partilhar, apenas porque nos ensinaram que não vale a pena.
Tento arranjar uma desculpa para acreditar que o sonho é composto por partículas reais, que a leveza que sinto se compadece com a imagem que vejo cada vez que abro os olhos.
Não me interesso pelo prazer sem ligação, a tesão sem paixão, a falta de lugar para cada um que passa por nós. É por isso que continuo a querer aquilo que sempre achei que existia, materializado nesses olhos que nunca foram tão sinceros, como agora.
Talvez seja utópico pensar que nada disso existe, até porque não há prova maior, em toda a realidade que me rodeia, que nada disso existe. Por isso mesmo, torno-me o exemplo ao espelho, a fim de poder acreditar em mim, quando já nada de novo resta.
Ninguém se interessa verdadeiramente pelos sonhos dos outros. São apenas resquícios que nos atrapalham a consciência e pedem mais do que podemos dar.
A expectativa nunca pode ser alta e embora me apetecesse, nunca foi isso que registei.
Perdi-me na cor, na saudade e na alegria que é estar contigo.
Impassivelmente, deixei de procurar a perfeição, para me dar conta que é na característica que surge a impressão positiva e ninguém se interessa pelos sonhos dos outros.
Agarramo-nos aquilo que temos, aquilo que conquistamos, àquilo que perdemos e entregamos. Sei perfeitamente que nunca tive idade suficiente para que me levassem a sério e que talvez nunca venha a ter. Gosto de brincar com a vida e com aquilo que ela nos oferece e agarrar aquilo que avalio como rentável e consumível, praticável.
O valor que me dão por tudo aquilo que eu sinto talvez nunca seja o suficente e talvez seja pelo melhor.
No fundo, e apesar de racionalmente não o querer admitir, talvez me sinta melhor desta forma, que para mim me parece nova e moderna de mais. Ninguém disse q lidar com a liberdade havia de ser fácil.
Ninguém dá valor aos sonhos dos outros.

Best Friend -Natalie Imbruglia - Intuition

Thursday, November 22, 2007

Coragem

Compreendo agora, o que outrora me pareceu sempre distante de mais.
A força da imaginação e da leveza ilusória que sempre me abraçou e me surpreendeu, há-de tomar o seu curso, novamente.
É aqui que reside a grande impressão que noto agora, saber de cor o seu ciclo.

Sem saber como, encontrei um novo sabor na vida, sem que esta me pareça rotineira ou imensamente aborrecida, pondo-me acima de tudo, novamente.
Gosto de controlar, sem nunca ser controlado, por mim ou por qualquer outra mão que tente imobilizar a coragem que há em mim.


A vida tem esse carácter de repetição passiva e inerte que nos afoga e alivia a consciência, de modo a que possamos tentar tudo novamente, sem sequer nos darmos conta.
Por isso, voltamos a esquecer tudo o que aprendemos, apenas para ouvirmos novamente a música que tanto queríamos que fosse nossa. Esta expressão compassiva e eterna é a memória que todos queremos esquecer, rapidamente. Detestamos tanto errar, que voltamos sempre ao início, numa manhã qualquer, com um corpo qualquer, envoltos nuns lençóis quaisquer, a fim da idade da inocência voltar.

Sem saber muito bem como, desconcertei a chave e analisei a estrutura de um novo esboço e concluí que de facto, são poucas as vezes em que a vida nos oferece uma forma tão boa de viver aquilo que sempre se julgou ter.
Novamente, vejo-me rodeado de risos e considerações, tentativas de racionalizar o desejo incontrolável, de querer sentir a carne a esbracejar por um pouco mais, de voltar a narrar um novo olhar que por mim passa.
Para conseguir identificar o ciclo, tive que querer identificar o desvio de padrão, aquele ponto em que tudo parece incontrolável, e fazê-lo transparente. Residia tudo na coragem de querer, ter e ser, comprimidos em pensar, agir e sentir. São conceitos simples e pouco esclarecedores, mas que combinados esclarecem qualquer noção dúbia ou pouco polida.
É certo que deixei novamente de me deixar adormecer, apenas porque tenho um medo infantil de não te encontrar enquanto fecho os olhos e rever novamente esse vulto que eu tenho coragem para acompanhar.

E afinal, era tudo tão fácil. Apenas tinha de admitir o erro a dois, a memória que não tem de ser esquecida ou renegada e aceitar que tudo há-de acabar por uma razão, deixando-nos sempre algo de muito melhor do que aquilo que nos foi retirado.
Preocupo-me com o tempo que gasto, sem nunca pensar que a aprendizagem faz-se a partir desse mesmo processo, erradamente.
Por isso, conquistei a paz que tanto queria, sozinho, sem recurso a duendes ou produtos cientificamente testados. Consegui compreender a novidade que existe em tudo isto e a força que é preciso subverter para conseguir gostar de alguém, novamente.
É tudo um erro, quando achámos que a indicação que a vida nos dá, é que não há nada que nos realize verdadeiramente, quando tudo é possível de ser conquistado. É de facto uma pena, que o discernimento me tenha custado a ser sentido, mas concluo agora que há um “tempo” para tudo e a minha viagem perdida entre as minhas entranhas e a tesão pouco sentida por outro alguém, foi algo que era suposto, afim de me ser atribuída uma dimensão mais humana e real.
No fundo, gosto de mim e gosto de quem sou e nunca essa celebração me pareceu tão conclusiva ou com tanto sentido de oportunidade, oportunidade essa que me voltou a ser concedida para que o passado seja relembrado apenas para me recordar a coragem que é preciso ter, para gostar de alguém, constantemente.


Best Friend – Leona Lewis – Bleeding Love

Friday, November 16, 2007

Extinção I

Nunca me importei com aquilo que eles diziam. O timbre das vozes, ora agudas ora graves, nunca me fez desafiar a consciência e impor um novo paradigma. Por isso mesmo, esperei sempre que o final fosse anunciado por si só, que o frio viesse congelar esta vontade de viver rejuvenescida de cada vez que te via sorrir. Era um novo ímpeto de cada vez que me tentava fechar entre o sofá e a nova cor que os móveis traziam, sinal do tempo que passa por eles e que eu tento a todo o custo que se esqueça de mim.
Por isso, nunca me importei com o que eles diziam. As palavras pareceram-me sempre complexas de mais, para serem cumpridas no seu objectivo pleno. Palavras provocadas pelo prazer da carne que todos queremos, pela força do último queixume antes de partires, pelo nojo que era ver a minha imagem reflectida no espelho de cada vez que te via e desaparecia, fugazmente.
A morte sempre me pareceu algo transitório e pouco real. Ficavam-me sempre as fotografias, os vídeos repletos de felicidade e compaixão, a memória perdida entre o real e a nossa imaginação.
Por isso nunca acreditei no que eles diziam.
Sempre me pareci a força da superação, a autenticação da coragem e da verosimilhança, o poder de acreditar, sentir e por isso mesmo agir.
Com o tempo, compreendi que talvez nada fosse como estava previsto. Passei então a odiar-me por me perder nas várias maneiras de agir, ao invés de actuar realmente. Vivi sempre sob a máxima que a realidade não espera por nós e por isso mesmo parar, acabaria por se tornar uma missão perigosa e inútil, sem fundamento e pouco compreensível, caso estancasse num momento e não me permitisse continuar.
Passei então a dedicar-me exclusivamente a ti. A profissão que os meus pais tanto queriam que exercesse, haveria de fazer algum sentido em toda aquela absorção de dor e paredes que me mostravam os limites da força humana. Queria algo divino, perceberia depois. Por enquanto, acreditava na coragem de te ter comigo e não acreditar no que eles diziam.
Eu haveria de te salvar e tu, passivamente, salvar-me-ias a mim também.
Perder-te nunca haveria de ser fácil, mas perder-te entre os corredores daquele ar que eu respirava, seria a minha eterna caminhada para algo que eu preferia manter no anonimato.
Ainda me haveria de rir deles, pensei. Eles que profetizam um futuro sem grandes horizontes, a não ser a minha dor, eles que nunca nos viveram e por isso mesmo, nunca hão de saber parar como nós.
Quando me deitava ao teu lado, sem que tu desses por isso, imaginava-te novamente perdido nas praias daquele que haveria de ser o nosso refúgio. Onde o tempo se mexe com alguma dificuldade e tudo parece mais lento. Esse sul do país esquecido e abandonado que ainda se há-de tornar a nossa maior riqueza.
Imaginava-te sem pressas, perdido entre as dunas, com uma super bock a descer, lentamente até que te lembravas e nos voltavas a colocar na rota certa. E estaríamos sempre, se a ciência fosse exacta e mais evoluída, se a industria farmacêutica não fosse tão altruísta ou houvesse um deus suficientemente grande para não se esquecer que estás a desaparecer.
Se houvesse um deus suficientemente grande para me deixar adormecer contigo, se houvesse um deus suficientemente grande para me levar contigo, se eu fosse suficientemente grande para me deixar morrer contigo.
E eu, que nunca me importei com o que eles diziam.



Texto escrito por Sofia Norte.

Best Friend – Incubus Miss you.

Monday, October 01, 2007

Padrão

Há tanta matéria que nunca conseguiremos alcançar, nem compreender a sua composição e por isso mesmo voltar a fabricá-la.
Se um minuto da nossa vida chega para colmatar todos aqueles que nunca farão parte dessa selecção inválida e descrente de segundos que aparentemente são escassos e não nos seguram por muito mais tempo. Se a verdade que não aparece por entre essa vaga noção de que aquilo que temos é aquilo que sempre precisamos.
E por fim, eis que na realidade subjacente de me extrapolar da própria matéria que me envolve, consegui perspectivar a verdadeira ideia de quem sou e porque o sou. É nos genes que transitaram e na fundação da minha própria educação que tudo reside e que talvez por isso mesmo eu recolha desta forma convicta tudo aquilo que advém da mesma.
Ali mesmo, num acto de profunda falta de intensidade e entrega tudo se fez mais claro e preciso. Tive essa ideia que tanto faltava para completar a pauta e silenciar este burburinho que se mantinha aprisionado cá por dentro, esta alegria de estar triste, esta vontade de ser sempre o mais forte e o mais seguro em tudo aquilo que faço e que procuro.
Retirei o mapa de inserções, imprimi as notas de débito, passei as notas de crédito, facturei tudo aquilo que havia para facturar e no fim, compreendi o desvio do padrão e a moda que se havia criado nas estatísticas. Compreendi que alguém haveria de estar errado, alguém haveria de se sentir miseravelmente sozinho, na maior das apatias, na maior das solidões, por nunca ter tido a capacidade de ler o que o computador registava.
Pessoas fracas, sem conhecimento ou dinamismo, capazes de as levar mais longe, para que eu compreendesse sempre tudo antes, mantendo assim o controle do volume de vendas, que claro está, nunca haveria de ser o esperado. E tudo terminava da mesma maneira.
Acabaria por me tornar pouco prestável, pouco comunicativo, um pouco mais fugidio, a ver se finalmente me aparecia uma carta de demissão por cima da secretária. Trabalharam sempre a recibos verdes, porque está na moda manter as devidas seguranças para ambas as partes, havendo assim uma independência patente, para que nada pudesse ser cobrado.
Se pudesse, tudo seria de forma igual, até porque agora sei porque é que volto sempre ao início. É difícil não o fazer, quando já se sabe o fim e tudo é economicamente mais seguro…
No final de contas as pessoas são sempre iguais, porque o lugar que ocupam é sempre o mesmo. É preciso criar novos postos e funções de maneira a que o risco tenha lugar, deixar-me embrulhar por essa fantasia de tocar na chuva novamente, sem que isso signifique perder a coloração da realidade. É preciso sentir novamente o incontrolável a crescer, a vontade inerte de chorar, mesmo quando não se pode e regressar ao plano das emoções.
Eu tenho a oportunidade de fazer diferente daqueles que partilharam o mesmo caminho, ao ver-lhes a saudade a não ser sentida e a contarem as secretárias por onde passaram. Eu tenho a oportunidade de quebrar as paredes que me separam dessa falta de concessão, sem culpas ou preconceitos.
Saber que a culpa também me pertenceu, não chega. Há que tomar consciência da falta de rendimentos e tentar uma nova segmentação de mercado, a ver se a estratégia muda e o padrão de erros também. É preciso acreditar que não estarei perdido, apenas porque não quero e alguém poderá de facto tomar conta de mim, ao invés de tentar sempre que o inverso aconteça.
Ter a consciência não basta, há que agir e quando a inspiração voltar, encontra-me a trabalhar.

Melhor amigo : Ryan Adams - Wonderwall

Wednesday, September 19, 2007

Graça


O difícil há-de ser sempre conseguir prolongar a perfeição irreversível do momento espontâneo e nunca planeado.
O impossível há-de ser o de não recordar com uma alegria exasperante todos aqueles momentos que nos pareceram de uma partilha única e que nos pedem uma reflexão quase exaustiva à estranha forma como de vez em quando, conduzimos a nossa vida.
Não concebo a leveza pela qual a vida segue e toma as suas formas, umas vezes mais compreensíveis do que outras. No fim, tudo há-de ter algum significado que vá de encontro às nossas expectativas e àquilo que lentamente nos tornamos.
Sermos capazes de gritar que fazemos aquilo que acreditamos como correcto e politicamente bem orientado, nem sempre nos chega. É preciso libertar essa angustia que nos limita e nos cobra, diariamente, os juros por não termos tido a coragem para discernir qual seria a melhor opção para aquilo que todos temos como finalidade.
Não será preciso descrever a seriedade do assunto, a magnitude do riso esboçado cada vez que agarro as memórias e penso que já tive tudo e que persegui uma nova direcção para a qual, percebo agora, talvez não ter créditos suficientes para dar uma continuidade sustentável.
Se vivo a correr, se vivo para correr e sei que o fim será certo e preciso, é irracional continuar um trajecto esgotado por si próprio. Devia notar, por mim próprio, que tudo terá uma altura certa para ter lugar, que não há pressa sem haver base sustentável que se conclua em futuro e que muito menos, há materialização que nos afaste da solidão.
Damos tudo por um sonho para acabar com outro e eu que já não tenho idade para inicia-los nem tão pouco para os ver morrer e muito menos com quem os partilhar.
É o início da era racional, onde a vida adulta parece dominar estridentemente, onde há prazos e impressões digitais que nos identificam mais, do que as nossas vitórias.
Por isso mesmo, perdi a capacidade de chorar por mim e pela frustração em que estou enfiado e talvez por isso dê tanta relevância àqueles minutos em que vos segurei na mão e tive a certeza que ainda não estava morto, e quede facto, ainda poderá ser o sonho que comanda a minha vida e que é nessa falsa esperança que reside toda a minha graça.
Foi nesse momento, como em tantos outros, que longe de casa, me senti mais próximo de quem realmente sou e de quem realmente quero ser. O prolongamento da inocência poderá nunca ter acabado e talvez por isso, eu possa continuar a ser quem nunca deixei de querer ser.
De facto, a coragem para deixar de sorrir e ser educado, como sempre me ensinaram, não a tenho. Sou católico e por isso mesmo vivo por entre o prazer da culpa das minhas acções e por isso mesmo, hei-de sempre tentar fugir ao prazer, por saber antever a única consequência que isso poderá ter.
Não fui à espera de me encontrar, porque essa verdade tenho-a em mim de uma forma muito clara. Não fui à espera de me perder no tempo de uma forma tão pura, nem sequer de conseguir viver de uma forma tão livre. Mas o que trouxe, foi a noção clara de que as mãos que me agarraram e me fizeram chorar, são de facto importantes demais para serem deixadas para trás e que talvez tenha sido por isso que ainda não parti.
A justificação há-de ter sempre um nome. Neste caso, serão sempre vários.



Listen to : John Mayer – waiting on the world to change

Sunday, September 09, 2007

Herança



Foi aqui que tudo começou e é onde pareço voltar, década após década, na esperança ínfima e sóbria de conseguir encontrar-te por mais alguns momentos do que aqueles em que te encontro, mergulhada na minha inspiração, revolta nas minhas memórias.
Se conseguisse fazer com que me amasses um pouco mais talvez acreditaria na perfeição e me deixasse levar por essa fé vaga, que é acreditar que realmente me encontro, quando estou contigo.


Nunca fui confuso e por isso mesmo, sei o que esperar de ti e da tua jovialidade surpreendente e inconstante. Prefiro perder-te entre a multidão e continuar a ouvir esse teu riso pouco sério, de quem já aprendeu mais do que aquilo que a vida lhe tinha para ensinar e afinal, nunca teve aquilo que sempre precisou.
É neste lugar, perto do mar e da tua voz, onde sempre me acalmei e senti que era o teu apoio, a segurança de um repouso concreto certo, sem dúvidas, ou medos infantis. E apesar de não estares aqui, apesar de não te ouvir mais, apesar de continuar a procurar-te sem perceber onde te possa encontrar, o silêncio que se apodera do local que já foi nosso, parece-me reconfortante. Como se fosses aparecer sem avisar e disso resultasse a motivação para um amanhã mais reconfortante.
Até lá, entretenho-me a contar os dias que passaram e que serão holograficamente iguais aos de ontem, onde nem o espelho me encontrava, na esperança de que tudo fosse uma ilusão e a minha pele tivesse ficado esquecida, enquanto os anos passam.
Precisava era de deixar sair esta agonia, por entre uma guitarrada e algum álcool, a ver se as lágrimas acabam por sair e algo me consegue alcançar, de novo. De certeza que tudo seria mais fácil e esta necessidade de sentir a tristeza a trespassar-me a energia que reside em mim, não existiria mais.
E não consigo explicar, de facto, porque é que no fim de contas, quando tudo foi resolvido e as peças encontradas, porque é que ainda te espero.


É difícil explicar esta esperança, tantas vezes negada. Se esconder dentro de mim, como de resto tem acontecido, por certo que alguém que acabará por descobrir. Se pretender recolher todas as informações, pesquisar e conceber um plano de modo a descobrir a cura para tamanha devoção, então serei um tolo. Para sempre.
Não, não é de fácil explicação, mas quando se tem dezassete e se sente a vida que a escorrer-nos e a pedir um pouco mais de pulsação, não há mais nada que possamos fazer. Mesmo quando não conseguimos dormir, por entre a ansiedade que o despertador nos deixe invariavelmente adormecidos para sempre, e que por isso, percamos tudo aquilo que nos quer manter acordados.
Talvez tenha aprendido a viver com aquilo que sou e a admitir que não há mais nada do que isto, para além de sentir a tua falta e de o reconhecer pacificamente, sem pressa ou nervosismo.
Há de facto “coisas” que não conseguiremos arrancar de dentro de nós, outras que nunca serão nossas e ainda outras, que por algum motivo, não conseguimos manter cá por dentro, embora gostássemos.
Novamente, o amor, aquele que te entreguei, é um acto perdido, talvez nunca merecido, inconstante e impreciso. Amar-te, já o disse antes, nunca foi fácil, mas compreendo agora, que a tua revolta fora sempre nunca me teres lido suficientemente bem, para acreditares nisso.


Que venha o coro estridente das massas que apelidam as formas do melhor que existe, que espalham cremes a ver se escondem a putrefacção da carne e a impureza da alma, que eu serei sempre o único que te espera, mesmo quando a porta parece fechada. E embora muitas vezes me sinta fraco, nunca serei o suficiente para me esquecer que foste tu que deste a batida certa, para este arranjo tantas vezes desconcertado.
Não há erro que suporte esta vontade. Tenho-te comigo, como se de uma herança se tratasse, sem precisar de desejar muito, para que isso aconteça. E embora consciente de que tudo é passageiro, não me importo, apenas porque te tenho comigo. Sempre.


Chicago – Sufjan Stevens

Tuesday, August 14, 2007

Destino Maior



Já não sei o que gosto mais em ti, se do amor que me evocas, se do teu cheiro, quando já não permaneces em mim. Agarro-me a tudo o que me rodeia, apenas para te suster, prender por entre essa voz morna que me embala e me arranca.
Ainda não escondi o copo que deixas-te, um pouco tombado, quando passaste. Esse vinho que trouxeste e que haveria de ser a razão da nossa glória, bêbados demais para perceber a ascensão desse destino maior que é amar.
Fixar-te por entre a minha pulsação, quente e inerte, quando é por mim que permaneces, intacta e segura que não há mais do que a realidade que te envio. E que fazer se foste tu que invadiste a minha força, com essa perspicácia de quem reconhece que o silêncio é a melhor forma de me escutar.
Se haveria alguém que me trouxesse de volta, entre o negro e o batuque, a alegoria de uma nova estrada prestes a ser percorrida.
Perdi-me a tentar descobrir aquilo que me enlouquece e que faça perdurar este estado de inactividade, esta saudade eterna de cada vez que não estás em mim, essa vontade de encontrar uma parede em que te possa ter comigo. Morna, como a tua pele, a tua voz, a tua certeza que a música nunca acabaria, enquanto o vinho perdurasse nesse copo.
É ainda a mesa que me fixo, a fim de tentar fazer com que regresses, apenas que por ínfimos momentos. Queria fazer-te minha agora, como se tivesse sido sempre esse o nosso fado.
Olho para o relógio e o tempo que não passa. Fico perdido nessa tortura que é ter de aguentar essa ausência que me angustia e regista tudo aquilo que não é saudável esperar. Recordo então as fotografias, lentamente, a fazer reviver um pouco mais aqueles momentos, onde a África era nossa e tudo era um pouco mais natural. Consigo ainda ouvir-te a correr, entusiasmada por esse riso sério que fora sempre a tua eterna magia. Concentrando-me ainda ouço ao fundo o rio e os miúdos a gritar, por estarmos unidos sem vergonha ou pudor. A natureza fora sempre a nossa melhor aliada e de facto, a única.
Danças ainda, como naquela altura. O pescoço torneado a dar voltas sobre o teu corpo, mapa das revoltas contra a incapacidade de permanecer infinitamente nele. Queria voltar e ser livre, novamente contigo, ouvir Cesária e gritar que é por ti que sinto saudades, mesmo quando ainda não partiste. Esse desejo infantil que acendeste e que afinal, nunca se tinha apagado.
A minha alma só está morna, quando estás longe.

Monday, August 06, 2007

Falso Alarme

Saí sem pensar, sem compreender se eras tu que me seguias ou se era eu que te trazia. Comigo, sem recordar a força que me davas e que eu nunca quis, a não ser a tua.
E foi aí que deixei de pensar, mas em que tudo realmente fez sentido. Sem correcções apontadas por terceiros ou falta de inspiração vagamente iluminada.
Fiquei absorto pela imaginação surreal em que ninguém me perdia e onde a confusão tinha por fim, desvanecido.
Como se eu soubesse voltar atrás e impulsionar tudo aquilo que sempre quisera ter. Em mim, dentro de mim, para mais ninguém saber, apenas para tu sentires.
Vi-me a desaparecer lentamente, à medida que me afastava. Os dedos que outrora arrancavam, desapareceram para nunca mais voltarem a indicar-me o caminho que tantas vezes se me avizinha como perdido. Não tenho intenções de corresponder a insegurança de alguém que só me encontrou entre os resquícios da minha letra, por entre o meu nome e tudo aquilo que faço meu, um pouco à minha imagem.
Enquanto saio, tento esquecer o barulho que me impede de ouvir os teus chamamentos, entorpecido que estou pela minha própria aceleração. Ruídos que me desconcentram e não permitem que te ouça. Ou então nunca me pediste para voltar.
É aí que corro, cada vez mais depressa, a ver se a frustração que tanto me quer abraçar, se perde e não me encontra. Esse falso alarme que tantas vezes se parece com a tua voz, que julguei nunca mais querer ouvir, torna-se confortável cada vez que reconheço que afinal sempre gostara. De a ouvir e de a reter, como se achasse que nunca mais te encontraria. Como um prenúncio de um fim anunciado que esperei sempre encontrar nesse desengano infantil, de quem já teve aquilo que sempre quis segurar.
Exausto, sem respiração controlada e sem nada ao meu alcance, onde me possa apoiar, paro a ver se a respiração volta e eu nunca mais me volto a sentir sozinho, mesmo quando sei que mesmo que olhe para trás, tu não estarás lá para me ver partir.
Isto não é sobre o teu orgulho ou a tua incapacidade de fazeres perdurar aquilo que se quis construir, lentamente. Lentamente, como se a incapacidade de gerir uma vivência, fosse transparente.
Apoiado na parede, a ver se não caio novamente nessa armadilha que é esperar que venhas ao meu encontro, deixo-me pensar que ganhei essa infinita batalha de pensar que posso prender a saudade que ainda hei-de sentir e se calhar, nunca mais precisar dela.



K T Tunstall - False Alarm

Tuesday, July 10, 2007

Liberdade


Estou a tentar voltar a constituir o que me rodeia. Perdi o vício de me perder nas palavras a fim de cortar essa ligação com a natureza infantil da qual sou feito.
Nunca percebi o que é ser adulto, na verdadeira acepção do conceito imposto, desde cedo. Sou posto contra à parede através de situações que não domino, a ver se o medo me consome, ou se por outro lado, consigo adormecer, sem que tudo me atormente quando isso finalmente acontece.
A vitória é uma ilusão sempre inconsciente. A beleza do acto de viver deveria consistir em acordar diariamente com um prazer infantil, uma inocência renovada, uma sede em potência e evolução.
Continuamente, compreendo o erro de tentar que tudo gire ao contrário. Tento esquecer que o silêncio é resultado da minha própria falha. Não há solução para o problema constantemente debatido. Encontro agora a insensatez nas minhas próprias palavras, encoberta em certeza dúbia e nada confirmada.
Afinal, amar nunca acaba. A coerência mantém-se desde o início. Passaram-se dez anos e continuo inerte, a percorrer este pedaço de coisa nenhuma, à espera que tudo passe. Invariavelmente, encontro-me por entre os sorrisos alheios, à espera que a grande descoberta se certifique. Ninguém tem o valor seguro de quanto custa um regresso à idade em que tudo é novo e apaixonante. È o fluxo que escorre e se encontra, nessa parada insegura que é sentir-se próximo de alguém.
Dependemos disso, como quem depende do telemóvel privado, a fim de se esquecer que a solidão chega, mesmo quando estamos mais rodeados.
Nasci velho o suficiente para não conseguir encontrar mais a surpresa. Não sinto nada do que era suposto e já nada me eleva. Apenas queria permanecer um pouco mais perto dessa beleza sensorial que tantas vezes disse estar farto. Estou perdido no desespero que é ter perdido a capacidade de comunicar a parte que acabei por perder. E mesmo quando quero não consigo e mesmo quando tento não alcanço.
Queria apenas permanecer um pouco mais perto dessa capacidade que tantas vezes parecia eterna, em que acordava e me encontrava, em que adormecia e era a verdade que estava ao mesmo lado. Tenho a pena de não ter saudades de tudo. Muito mais ainda, de não ter esse desejo de te continuar a procurar e ver-me no final dessa alegria toda que me juntava as partículas.
Incito tanto os que me rodeiam a terem aquilo que os satisfaz e os torna capazes de serem mais e melhor, que não guardo nada mais para mim.
Não tenho mais pretensões de querer saber mais do que aquilo que acabei por perder, nem paciência para concluir subjectividades. Compreendo a natureza humana e por isso procurei apenas o que não existia. Pensar que era tudo errado, como pensei tantas vezes, era saber o fim antes de ser anunciado. A morte da inocência haveria de chegar, e tudo ficou um pouco mais pequeno.
Voltei à banda sonora feliz e espalhafatosa, a condizer com o Verão, a ver se me esqueço da lógica e da razão. Por algum factor, passei a observar as pessoas em estatísticas e números, como elas são.
Ainda voltei a tentar abrir o piano, a ver se escolhia a nota certa e evitar o som que ecoa cá por dentro, entre a profundidade que não sinto de cada vez que afirmo que estou bem.
Não há locais certos, nem tempo errado que desculpe tudo aquilo que se perdeu, tudo aquilo que tinha e se perdeu.
Quando me fui embora, não compreendia a pena que sentiria por nunca ter tido tudo aquilo que julgava ter tido e que por isso haveria de querer voltar atrás a fim de o confirmar. Sim, está tudo bem. É o compensar da fuga verbal utilizada, quando já nada faz mais sentido, mesmo durante a noite, que é quando se procura educação informal sobre aquilo que não se consegue compreender. Tenho pena de ter nascido com mestrado nessa matéria e de não precisar desse amor rápido e conciso, material e superficial, que não esmaga nem corrói. Gosto de sofrer por entre a melancolia e a vontade de voltar a ter mais. De me sentir instigado por essa força maior, dizer apenas que não preciso de aliviar a minha consciência.
É essa a liberdade humana. Compreender o que se perdeu, a fim de se voltar a ganhar.




Travis - Closer




Tuesday, May 22, 2007

Ossos

Talvez tivesses razão e eu nunca me devesse ter cruzado contigo. A proeminência da nossa “estória”, como tantas outras resulta num mal conseguido arranjo musical. Não combinámos e por isso nem sequer chocámos. Perdemo-nos nos risos próprios e contínuos de quem não tem intimidade para discordar, pensado que era na ligeireza de uma relação sustentada nos postulados da idade moderna, que haveríamos de sobreviver, onde tantos pereceram.
Não estava preparado, ainda, para suportar que algo viesse acabar com a plenitude moribunda em que os meus dias haviam mergulhado. A serenidade era tanto, que a solidão parecia sempre mais confortável do que um sorriso afável. Deixei-me acomodar nessa inocência que é não precisar de ninguém, que quando chegaste, compreendi que realmente não era de ti precisava.

A verdade, é que não estavas vestida da melhor forma.
A maquilhagem parecia completamente irregular e a dança completamente instável. Com a tua soberba “vodka-martini” deleitei-me a ouvir te gritar “Don´t you wanna feel my bonnes?”. Eras o antídoto perfeito para a minha criação, a fuga para a intemporalidade dos amantes, o amor que nunca quis e que invariavelmente nunca possui.
Claro que queria sentir os teus ossos nos meus, a tua pele a forçar-se sobre mim, por entre os lençóis que acabavam por ser o reflexo da nossa sobrevivência diária.
Quando adormecias neles, julgava-me o homem concretizado que sempre quis ser, mas quando acordava e te perspectivava entre um raio de sol e uma fome insana, compreendia que só te queria o corpo, nunca a alma.
Perdi-me tanto em obstáculos impostos pelos outros, que acabei por me refugiar também eu neles. Pensei sempre que nunca te conheceria, que as tecnologias haveriam de nos enganar, que tu nunca te deixarias seduzir.
Foi um processo tão transparente e conciso que perdeu todo o encanto que sempre vira nele. Os teus gestos tornaram-se em exactidão obrigatória, a tua voz em rotina negligente. Por isso, nunca interiorizavas o que havia dito.
Falavas-me sempre da tese que haverias de completar sobre o comportamento humano, já que de facto sabias melhor do que ninguém como é que este se equacionava, que não viste em mim os desgastes próprios de quem assumiu o fim da dissertação e não está disposto a completar outra.

Antes que tudo estivesse terminado, sonhei, ainda, algumas vezes. Eras tu a sentir os meus ossos a arrastarem-se nos teus, os dois em carne viva repleta de puro prazer, como só tu me conseguias dar. Eras tu e o teu copo, inicialmente sinónimo de irreverência, para depois se tornar símbolo de alienação.
Talvez tivesses razão. Nunca me deveria ter cruzado contigo e colocado a tua imagem na minha recriação melancólica do mundo que criei. Vi-me forçado a combater a linha escorreita, em que se funda a perfeição e o desengano, acabando por retornar sempre às tuas mãos. Mesmo agora, não diria que não, para somente depois de me relembrar desse toque, o dizer em voz alta: Não!
Os corredores da imaginação assumem-se cada vez mais entre a culpa e o prazer, o egoísmo e a vontade de te ter, mesmo quando sei que não consigo.
“Alguma vez conseguirás?”. Foi aí que reflecti e compreendi que nunca te deveria ter oferecido aquilo que não posso dar. Se alguma vez tivesses compreendido a verdadeira essência da pessoa que estava a tua frente, saberias bem que o orgulho que me domina é por certo superior à vontade infantil em te ter.

Mandei-te embora várias vezes, na esperança que por iniciativa própria, não voltasses, que te fartasses do cheiro a lápis e a telas nunca acabadas e fugisses da melancolia que tantas vezes me abarcava.
Nunca tive no olhar o amor que tanto quiseste que te oferecesse. Ias buscar sempre onde achavas que era mais fácil retirar algum descanso. Sentia-te muitas vezes a raiva que te arrancava e te deixava solta, sem que por isso desses conta. Mas nunca me acusaste de ser incapacitado emocionalmente. Mesmo que o soubesses, nunca o dirias.
O resto não te importava. Preferias discutir horas a fio o problema dos estudantes oriundos dos países PALOP, do que correr para esses armazéns que embebedam os adolescentes e os fazem sentir vazios no dia seguinte.
Quando te disse finalmente que não te queria mais, não me chamaste covarde. Tinhas aprendido que a melhor maneira de me manter intacto era pareceres o mais equilibrada e adulta possível, como se fosse isso que significasse ser adulto.
Limitaste-te a dizer que já sabias e saíste. Em cima da mesa estava um texto do qual já só me lembro do final “não encontraste até agora alguém que me substitua. Nunca vais encontrar”.
Volvidos meses, acredito em ti.
Talvez tivesses razão. Por isso, fecho sempre os olhos de cada vez que por mim passas.


Eyes Open – Snow Patrol
The Killers - Bones

Monday, April 16, 2007

Libertação

Entre a entrega especial, cheguei à conclusão que nunca me querias seguir. Pedi-te que cometesses a insanidade de ler a minha consciência, como se quando te tocasse, não transmitisse essa força de vontade, mas nunca alcanças te a inocência que abarco.
Esses óculos quebrados que nunca usarias, a fim de me conseguir sentir, mesmo quando não querias. Afinal, fora muito o que pedi, como sempre Nunca quis seguir-te, mas sempre desejei que me deixasses. A frustração envolvida no acto de estar contigo, simplesmente, faz de mim pouco mais do que adolescente com o cromo favorito na mão, o único que realmente faltava.
Bloquear nunca foi opção válida. Várias vezes me vi concentrado nesse obstáculo à concentração que é o telemóvel. E isso foi quando te voltaste e sorriste. Sentei-me, sem perceber porquê e vi-te a deixares-me lentamente.
Preferia que permanecesses um pouco mais perto. Mas nunca te revelei a mensagem nas entrelinhas. Afinal a perspicácia nunca fora uma característica que te pertencesse.
Preferia nunca te ter deixado, que permanecesses mais perto, de modo a que esse teu cabelo ainda fosse meu, todas as noites. Não me convenço da insanidade do momento em que jurei não te querer encontrar mais, nessa confusão irreal de alguém que vagueia todas as noites em busca de algo que simplesmente não existe. Tão simples como a tua existência, mais ao menos vaga, mais ao menos trépida. Que caísses no meu colo, mais vezes, a fim de eu poder saborear a vida que me dás.
Foi mesmo assim que deixei o piano e me entreguei à libertação que é envergar uma guitarra, sem limites ou obstáculos, a tê-la nos meus braços como ninguém, sem hesitações, sem receios de qualquer nível. Sem esperança em vão, sem complicação sem razão.
Sentei-me, na esperança que voltasses e abafasses este silêncio que parece nunca acabar, cada vez que não permaneces em mim. Repito-me à exaustão, a tentar perceber se algum dia te esqueces do que realmente sinto. Força da verdade, essa pele impenetrável que tanto quis que fosse a minha. Releguei-me do que faço, para fazer o que posso por ti, como se poder fosse mais do que fazer.

The Killers "Read My Mind".

Saturday, March 31, 2007

Demonstração

A repetição é a tecla da lentidão que seguro segundo após a imagem da inocência acabar. Finjo tanto que a batida não me convence, que sou eu que coordeno a destreza dos falsos movimentos nunca ensaiados que sou que acabo convencido na ilusão própria de uma criança.
Esperei sempre pelo impossível, aquele que não existe, mas que eu insisto em acreditar a fim de dar continuidade à realidade por mim criada. Com o desaparecimento da minha inspiração, acabei por exigir de todos aqueles que me circundam, mais do que realmente me podem dar.


Todos temos por isso as nossas limitações. Acabámos por pressentir que seremos incapazes eternamente de não conseguir fazer com que os outros as ultrapassem, a fim de tornarem a nossa sobrevivência mais fácil. Envolvemo-nos em debates, vestimos a pele de oradores natos, rodeados de retóricas e filosofias que nem nós próprios acreditámos, para termos alguém que acredite na imagem que transportamos.
Trata-se sempre de acreditar nas palavras, nos gestos, nas transfigurações. Tudo depende da crença que depositámos nesse alguém, para o elevar aos nossos olhos.
É por isso que deixei de criar o meu círculo, a fim de não sofrer a derradeira decepção.
A crença que outrora era genuína passou a interesseira e impossível de ser concretizada. Passei a visualizar as pessoas, como elas são – pessoas. Sem pensar na capacidade que têm de evoluir e mudar, porque são raras as vezes em que isso acontece. Deixei de acreditar nelas, porque tudo me faz desconfiar.

Foi a cidade e a noite que me tornaram crentes da minha própria descrença, devido à parca tentativa de tornar num dueto, aquilo que facilmente se faria a solo. Tenho isto que sinto que parece tão certo, algo que parece sempre errado, algo que me faz perder o controlo. Essa carne viva que me enoja, sempre que o prazer do sexo me parece tocar. Nunca fui pudico, mas tudo me parece demasiadamente escurecido para se torna menos do que banalidade corporal, essa linguagem que finjo conhecer de cor.
Perguntar e te jurar que há alguém que sinta o mesmo prazer na culpa, que eu pareço sentir é uma busca insana e facilmente cansável, como aquela em que te perdi.
Se não fui eu busca da verdade, de mais um motivo para acreditar em tudo que não era perecível, se não fui eu que me perdi e jurei não querer mais, se não fui eu que gritei e saí.
A demonstração da cor, é como o nome que nunca consegui ter. Levei comigo a sensação do eterno e trouxe a mágoa de te ter ao meu lado, gritando ao teu ouvido que a minha espera é bem mais fácil com a tua ausência.
O avião que parte amanhã há-de esperar por mim, a ver se conto os dias em que me decido a acreditar outra vez. Nunca nada foi tão árduo.



You don´t mean nothing at all (that´s how you make it sound, but yet I´m still around)
But you got what it takes to set me free( why I don´t feel the same, you make me feel this way)
Oh you could mean it all( I know but you don´t seem to show it)

Nelly F. featuring Eric Right – Say it right




at

Tuesday, March 13, 2007

Distância

A introdução previsível necessita de uma mudança, assim como o prolongamento do discurso, esse que sempre garantiu que a alma é do tamanho dos nossos sonhos.
Ultimamente, a minha decresceu um pouco, para se tornar à medida do que a realidade tem para oferecer, a fim de ocupar um lugar um pouco mais comum e não por isso menos estranho.
A matéria que me circunda é de facto um pouco nefasta, mas convidativa à acomodação. E é assim que tudo é construído, entre os lençóis cautelosamente passados a ferro e uma cor menos baça que ilustre a nossa face na fotografia-de-família, que todos as páscoas é tirada.
Por isso, pensei em desistir de tentar encontrar a causa para a cura, como se os azulejos fossem mesmo brancos, apenas e só porque alguém decidiu que fossem.
Sentado no lavatório, esse local impróprio e frágil, deleito-me entre o prazer que a culpa transporta isso. Ensinam-nos que o céu é azul, mas nunca que a confirmação do desejo e o momento em que este é garantido não é nada equiparável à tortura que pode comportar algo que facilmente pode ser julgado por alguém.
É nesse prazer que me entrego, sempre com o remorso e a culpa de saber que a verdade provém sempre do pequeno e do grande amor, nunca da aspiração a uma vida melhor. Enquanto estudante que sou, perdi-me em directrizes impostas por professores que pouco nos ensinam a saber conduzir por entre os códigos sociais impostos.
Para encontrar alguém que nos apazigúe a coragem ( ou a falta dela ), somos forçados a procurar uma idade, um local, um nome. São tantas as condicionantes e soluções para um resultado certo, que no fim, nada se concluí como tal. Morremos pelo sonho, moribundo à partida, porque a cábula que a tecnologia nos oferece e que aplicámos diariamente, é falsa.
Condenámos à partida as pessoas, todas elas, pela maneira porque se vestem, o sorriso exagerado ou a falta do mesmo, a idade prematura ou avultada, a inocência perdida ou a calça rasgada, impedindo que a nossa realidade seja tocada e por isso inalterável. Queremos o idealizável, apenas porque já saberemos travar as investidas e controlá-las. Queremos a imagem do que planeámos e não a que sonhámos, apenas porque nos sonhos não há materializações, apenas conceitos ternos e eternos.
Podemos por isso estar a dispensar a alegria de um vasto número de manhãs, apenas devido a um sapato mal engraxado ou botão mal apertado. O exagero com que descrevo as relações humanas contemporâneas não é saudável, mas muito longe de uma ficção.
Estamos inscritos nesses sítios virtuais, onde não há espaço, nem tempo, mas há uma busca pela fotografia perfeita, uma descrição plena daquilo que queremos que os outros vejam em nós e mais do que isso, uma aposta directa naquilo que queremos, a fim de evitar pesos pesados. Quem não se compromete com isso, é forçado a caminhar por entre o grande número de incompetentes que tentam a todo o custo conquistar alguém suficientemente encantador, para que os amigos se sintam impressionados, não pela pessoa em si, mas por aquilo que ela consegue demonstrar sem sequer abrir a boca.
Chamem-me snob ou altruísta, apenas me movo por entre esses olhares há algum tempo, suficiente para saber que todos vivem com a esperança que o ginásio lhes garanta o sucesso numa sexta-feira ou que a dieta que tanto insistem em fazer lhes consiga aquele piropo, mesmo que não seja o mais eloquente. O que afasta as pessoas não é a distância, mas antes a falta de comunicação.

Wednesday, February 28, 2007

Motivação

Se conseguir revelar mais do que aquilo que sinto, nessa nódoa castanha de quem já provou a terra e ficou com esse sabor amargo que é nunca conseguir retirar mais do que aquilo que se consegue conter, Por detrás dessa música do povo, esconde-se o fado de se ser leve demais para arcar com a consequência do acto transposto, da nobreza empobrecida, dessa fuga do nosso próprio querer, que acaba por se silenciar de cada vez que a desarrumação que a nossa própria mente varre.
Nesse piano, que foi desde cedo o aurauto de um fim límpido e heróico, onde o erro foi nunca ter esquecido, realmente. A justificação para a constância da contagem decrescente que falta para o assalto ao abismo é encorajador, sentido.
Enquanto isso, espalho-me por entre a sempre vontade de sentir o desejo um pouco mais perto, uma motivação mais quente e saudável, livre da cobiça e da obsessão que tanto desgasta o olhar.
Por entre essa chuva que cai lá fora, chego a sentir me cansado de tanta falta de correspondência, da falta de organização do meu próprio espaço, em que habita gente de quem não me lembro o nome e ficam de fora aqueles que nunca me esqueço.
Sempre e que para não façam pouco, esqueço-me sempre de gritar, para que não percebam que a memória dilacera e o egoísmo corrói, mesmo nos espaços mais inacessíveis.
Gostar nunca foi fácil. Perceber que se é totalmente eficaz por entre o sonho que sentimos e aquele que realizámos, é uma diferença notável, digna de estafeta que nunca se cansa de proclamar que há algo ainda mais real do que a tangibilidade circundante. Essas ruas que se atravessam, acabam sempre por conduzir ao desengano que é viver sem nunca perceber onde começa a nota, onde acaba a sensação de esquecimento e onde se pode, por fim, começar de novo.
A releitura da própria inocência é de facto vital. Há coisas que não voltarão a ser as mesmas, apenas porque p tempo, esse grande culpado da falta de sensatez, não esperou o suficiente para que estas se fixassem.
Como nunca, escolhi a batida que não controlo, de facto. Achei que sabendo controlar as palavras, poderia construir a minha própria narração, egocêntrico que acabei por me sentir.
Tentei sempre mostrar a plenitude que sentia, quando não era abraçado. Lembro-me que me perdi nesse teu sorriso, antes mesmo de saber qual era a forma que o meu tinha. Contra essa pária que abate os amantes, nunca me deixei levar pela incerteza do saber. Contudo, nunca nada foi tão errado. A transparência das nossas acções torna os actos aos olhos dos outros, apenas sensações que facilmente são esquecidas. É preciso que nos tornemos senhores do nosso próprio lamento, sem nunca o querer controlar.
A motivação reside na falta de compreensão que acabaremos por sentir, sempre que nos sentirmos sós e a guitarra portuguesa soltar a saudade.
Nunca percebi o porquê desse sentimentalismo, mas confesso que lhe acho particular interesse. Pressentir a tristeza nesse olhos que vagueiam pelos passeios polidos por falta de liberdade é saber que há sempre alguém quem nos leve para casa, mas ninguém que nos leve para longe.
A perturbação de tal pensamento é andar de mãos dadas com a razão e ao mesmo tempo com a inconsciência própria de um adolescente, que infelizmente não sou mais. O que retiro dessa incoerência é mais do que um simples raciocínio. É levar a incapacidade sempre mais longe, a agonia de não se ser mais, eterna.
Não é melancolia, não é amor descontrolado, é antes a falta de motivação por algo que não volta atrás. Esse arrebatamento parco em agonia, numa vida cheia.

Friday, February 23, 2007

Significado (say it right)

Não percebo de onde sai toda esta inspiração, esta elevação do esquecimento, o despojamento da memória sempre que ouço a batida urbana que me dilacera, que conta a “estória” carregada de frustração e empatia. É esta a música, o quadro, o texto que escreve o sentimento que me atravessa, que descreve a emoção que nunca se esperou eterna.

“In the day, in the night

Say it right, say it all
Either got it, or you don't
You either stand, or you fall
When your will is brokenWhen it slips from your hands
When there's no time to jokingThere's a hole in my plans”

Saber que há algo pouco menos de material que narra aquilo que vivo, que me remete para a frustração que é querer alguém que não é capaz de nos dar aquilo que sempre quisemos, enquanto nos sentamos, pacientes que somos, paciente que me tornei, nessa espera vã. Uma espera que não nos liberta, apenas nos trona mais presos.
Fico submerso nessa logística, nessa falha do plano que calculei, nessa vontade de me deixar entregar sem saber muito bem a quê. Não existe razão lógica, mas a verdade é que sabemos o quanto é que valemos e é por isso também que não esmorecemos. É por isso também que sei que se realmente quisesses, haverias de ter aquilo que preciso para que no fim significasses algo mais do que esta fronteira entre a falta de coragem e a noite que acaba sempre por me arrastar.
Confundo-me sempre entre o número, muito por culpa dessa voz que me continua a por em evidencia que tu na realidade significas muito pouco para qualquer outra pessoa, embora não me confirme o valor que significas e transportas para mim.
Não entendo muitas vezes o que tenho de fazer com esse curto espaço de tempo, em que me tento elevar a fim de esquecer a estranha relação que sempre existiu. Podia continuar a julgar que não estou perdido, que não gosto de mentir enquanto a noite me abraça, mas isso nunca iria relativizar a frustração que é saber que tu ainda hásde ter o que é preciso para me libertar.

“I can't say that I'm notLost and at fault
I can't say that I don'tLove to lie in the dark
I can't say, that I don'tKnow that I am alive
And all of what I feelI could show you tonight(You tonight)”

Devíamos todos saber a importância do espaço que ocupamos para cada um de nós, a fim de lhe dar um significado, algo que nos tornasse mais merecedores e não apenas mais uma lacuna na vida de cada uma das pessoas que nos rodeia.
Por isso, ponho sempre o rádio no máximo, sempre que revejo essa grande montra de slides que constituem a minha vida, por cerca de escassos minutos, que infelizmente não consigo tornar eternos. Ela é que canta, ela é que sabe, mas nunca uma batida teve um significado tão marcante, algo que expusesse tão bem o significado que a vida tem para mim, algo com que me identificasse tanto, algo que considerasse tão meu.
Se eu fosse uma música, seria certamente essa, a pedir para que a verdade fosse aparente, a tentar que os outros também se ultrapassassem, a querer sentir a noite como minha, sem nunca pertencer a lugar algum.
A verdade é que há sempre essa voz que muitas vezes me diz sim, outras que nem tanto, mesmo quando a coragem me escapa por entre as mãos, mesmo quando não consigo dizer o significado que poderias ter para mim.

“From my hands I could give youSomething that I made
From my mouth I could sing youAnother brick that I laid
From my body I could show you (from my body, I could show you)A place God Knows (that only God Knows)You should know space is holy (holy)Do you really wanna go?(Two, three, four)”

Se houvesse texto para revelar a frustração que todos nós sentimos, por vezes, nas relações que vivemos, o poema seria certamente esse. A agonia de sabermos quem queremos, mas que não a poderemos ter até que esse alguém tenha aquilo que precisamos para sermos finalmente libertados. De tudo e de todos.

“Oh, you don't mean nothing at all to me
No, you don't mean nothing at all to me Boy, you get what it takes to set me free?
Oh, you could mean everything to me”

A guitarra acaba com tudo, mas não com a falta que faz saber que alguém há-de compreender o significado das nossas acções. É tudo uma questão de significados, de tornar o aparente em real, de sermos capazes de nos segurarmos, mesmo quando não há lugar para sermos felizes. Aparentemente, muitas vezes, é assim que nos vamos sentir, mesmo quando não admitirmos que gostamos tanto da noite como dessa luz que seguimos. Saber nem sempre implica compreender.

“Hey, you don't mean nothing at all”

Say it right – Nelly Furtado

Tuesday, January 16, 2007

Sexo : Feminino

Algumas mulheres têm essa natureza inata de quem sofre, mesmo sem querer. São criadas, educadas e ensinadas que é o sofrimento o melhor e único apoio. Que deverão ser fortes, mas nunca conter as lágrimas, pois é nelas que reside – dizem-lhes – a maior riqueza feminina. Talvez mesmo a única, capaz de fazer com que qualquer acto seja reversível, mesmo quando não pode ser.

De cada vez que ouço uma mulher a desabafar sobre a sua vida vasta vida amorosa, vejo-me sempre a rever uma peça de arte mal construída, algo que falha e não se assume. São já poucas as mulheres que adoptam um papel como aquele que Fellini lhes dava nos seus filmes : vigorosas, seguras e detentoras do seu próprio destino.
Nos dias que correm, as mulheres preferem assumir sempre um papel secundário nas suas próprias vidas, seguras de que não são capazes de arcar todas as consequências que um papel principal sustenta. É por isso mesmo que são competitivas, porque têm sempre medo que alguma chegue mais longe do que ela própria pensou. Posto isto, são objectos nas mãos masculinas, também elas educadas e treinadas para agirem como máquinas trituradoras, onde não há lugar para o afecto ou comoção. É por isso que as ouço dizer, variadíssimas vezes, que sabem que são amadas, que têm tudo, mas que por alguma razão a outra parte sente um receio trépido de se entregar tanto como desejavam.
Esta particularidade e generalização de discurso é bem presente no diagrama que a maior parte das mulheres da nossa vasta cultura ocidental nos apresenta.
Odeiam-se entre si, inferiorizam-se, atacam-se, sem nunca compreenderem o porquê. Em pequenas, foi-lhes ensinado através de vários jogos, histórias ou simples brinquedos que o papel da mulher é ser essencialmente melhor do que a outra, para que esta nunca venha a ser trocada. Melhor cozinheira, melhor mãe, melhor esposa e recentemente acrescenta ainda a este vasto leque de qualidades, o de melhor objecto sexual. Mesmo nos livros da saga um tanto quanto burlesca “Anita”, esta permanece em casa, ansiando a chegado do seu amigo que partiu para uma qualquer intempérie infantil. Aliás, até na cena musical “teen-pop” tudo é pensado com este propósito, senão basta-nos ouvir o ícone que é Britney Spears e qualquer um dos seus hit´s como “I´m a slave for you” ou trechos das suas letras em que solta frases vitimizadas como “my weakness cause you pain”.
Claro que esta realidade não se confina unicamente ao universo adolescente. A personagem madura, urbana, dinâmica, independente e sofisticada que é Carrie na saga “O sexo e a cidade” passa cerca de seis épocas inteiras a sofrer por alguém que não a quer como ela é, o que não quer dizer necessariamente que não acorde todos os dias com alguém diferente ao seu lado.
Se analisarmos, como analisou Rui Estrela, esse cada vez mais forte meio de influência que é a publicidade, percebemos que há algumas cânones que são mantidos durante gerações. No caso dos produtos domésticos como os detergentes, reparamos que desde o Estado Novo ( altura em que Portugal abraçou verdadeiramente a publicidade) que a mulher é a única personagem presente nas campanhas e nunca um homem, como se num casal moderno as tarefas não fossem passíveis de serem repartidas.

Todos estes factos são visíveis, edificados e nada condenados pelas várias instituições sociais, como a educação ou - e há-de ser sempre um dos grandes problemas- a religião. Confesso que poucas vezes tenho a paciência ingrata de permanecer – concentrado - durante o tempo total que dura uma homilia, mas no fim são tantas as pérolas que rejubilo tal a magnificência das palavras escutadas e passo a citar uma das muitas frases que passou a fazer parte das minhas memórias fúnebres “ a mulher deve aguardar o seu marido e sempre ser submissa ao mesmo”. Num país, em que por média morrem anualmente duas mulheres vítimas de violência doméstica, tudo se torna mais claro. No fim, tudo tem a sua justificação e afinal a vergonha sempre é de quem sofre, nunca de quem comete. Ao marido, compete “ conhecer a sua esposa”, que é algo que se consegue fazer entre um jogo do Benfica e uma queca com a amante que se conheceu na BodyShop.
O porquê desta realidade aumentar, tem como base máxima o facto de as mulheres não terem amor próprio, não reconhecerem o quanto são boas naquilo que fazem e o quanto devem ser por isso respeitadas. E como será isso possível? São educadas na pobreza de espírito, em que ser mulher implica ser “submissa”, reconhecer que são amadas, ainda que a outra parte não transpareça – ou seja, as foda incessantemente para no dia seguinte a outra parte comentar “preciso de espaço” ou a máxima “isto não devia ter acontecido"- serem compreensivas, porque os homens passam por muito daquilo que elas não passam, entenderem que os homens e só eles têm um instinto animal e que para eles o sexo deverá ser algo unicamente carnal e acima de tudo aceitarem que a sua missão é conquistarem alguém que simplesmente não as quer.
Basta olharmos à nossa volta, visionarmos a nossa lista de e-mail ou telemóvel e encontramos variadíssimos casos de colegas, ex-amantes ou tias que estão nesta situação. Entendem simplesmente que se conseguirem conquistar alguém que as repudia, vão ser infinitamente melhores do que a vizinha do lado, que não teve de fazer nada para conquistar e que por isso merece todo o repúdio e comiseração.

Por isso, a esta falta de amor próprio ( porque o problema reside essencialmente aqui) e de falta de abertura, acresce o facto de acharem que não são merecedoras duma vida plena e estável. Porquê? Porque todos os dias, sempre que acordam e se olham ao espelho, percebem o quanto são feias quando comparadas com as belezas virtuais que lhes entram diariamente pela televisão ou pela tela de cinema. No fundo, sabem bem que nunca conseguiram ter o cabelo infinitamente esticado, as sobrancelhas alinhadas, os lábios tão bem delineados. É por isso que cada saída à noite é uma tortura, sempre. A escolha de roupa transforma-se numa decisão política à escala mundial e mesmo o perfume tem de seguir as regras básicas de qualquer equação, para que tudo esteja perfeito, como se algum de nós alguma vez o conseguisse ser, ainda que por ínfimos segundos. Esta procura pela perfeição leva a que analfabetas culturalmente, sejam apelidadas de “Modelos”, apenas por conseguirem passar sem irem ao Mcdonald´s durante três míseros anos da magra vida que possuem. Pelo contrário, modelos deveriam ser aquelas mulheres que conseguiram um papel de destaque quando tudo ia contra elas, como Margaret Tatcher ou Pillar, que quebraram as barreiras e se conseguiram impor. Se há alguma culpa de não existirem mais mulheres no Parlamento, a culpa também é das mesmas, que se mutilam entre si. Ainda não vi nenhuma a apoiar Ana Gomes na sua demanda pela verdade e vontade de esclarecer cada um de nós, habitantes deste pequeno rectângulo junto ao mar.
São todos estes pontos que temos de ter em conta quando analisámos a sociedade e percebemos que grande parte da população é homofóbica. Isto porque apesar destas mulheres contarem com grandes amigos homossexuais do sexo masculino ( e calma porque ainda não me esqueci do que disse em cima), são profundamente homofóbicas no que toca ao sexo feminino e com toda a razão, segundo a forma como raciocinam. Mais do que nojento, não compreendem como podem existir mulheres que vão contra tudo aquilo que elas vivem diariamente, em que não sofrem por causa de nenhum homem e são mesmo capazes de viver sem eles. Pior do que tudo, representam uma ameaça do ponto de vista que foi instaurado socialmente que é – se é ou não se insere nesta temática – excitante para um indivíduo do sexo masculino ver e porque não ter duas mulheres que sejam lésbicas apenas para consumo próprio. Assim, além de constituírem uma ameaça do ponto de vista sexual, as lésbicas representam neste caso a incompreensão absoluta e merecem por isso um repúdio total. É aqui que entra o nojo que este segmento de mulheres tanto diz sentir, porque para estas é nojento gostar verdadeiramente da amiga que com a qual toma café todos os dias, já que quando vira costas, esta é li(n)xada pela amiga que minutos antes lhe confessava o – falso - afecto que nutria por ela.


Estas teorias, mais ou menos conceptualizadas por alguém que não pertence a este sexo, são asseguradas por várias mulheres, como Inês Pedrosa, que na sua “Crónica Feminina” refere várias vezes todos estes pormenores por mim descritos, como só alguém que já passou por eles o sabe fazer.
O meu desejo máximo é que nenhuma mulher se identifique com o que aqui se escreveu e caso isso aconteça, que vejam e revejam muita da cinematografia de Fellini, ou no último dos casos de Nancy Meyers, para que a perspectiva sobre a realidade seja possível de ser mudada.
De resto, deveríamos ser todos ensinados a respeitar o próximo, independentemente do sexo que cada um de nós possui. O mais razoável e credível é que cada um de nós seja como realmente gosta de ser e como diria um Sacerdote que se tornou uma figura simpática na minha vida – sim, também existem excepções – “teremos que aprender a amar-nos, para conseguirmos amar quem permanece ao nosso lado e porque não, à nossa volta. A evolução é muito mais do que dor, sofrimento e algumas lágrimas”.


Portishead – “Give me a reason to be a women”