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Thursday, April 20, 2006

Sono Surdo

Já passei por ti infinitas vezes, arremessei-te questões pagãs, lancei jogos de medo e sedução, cravei em ti as minhas unhas para que no fim tudo se fizesse pó.
Questiono-me a tua existência ao longo das horas mortas. A televisão apagada, reflecte a tua imagem, agora que me absorveste. Anda por aí e u estou aqui, a dormir dentro do meu nome, à espera que ouças a castração da tua imposição. Fiz-te lugar constante e agora não paras mais em mim. Lutei sempre pelo infinito e agora resta-me apenas o eterno.


A timidez, profeta de sabedoria, recicla-se para dar lugar a ignorância e ingenuidade, rastos de uma calça de ganga mal rasgada numa rua sem carros, onde permaneço sozinho confiante de que ainda me voltarás a dar boleia. È a cor da magnificência, da luminosidade transcendente que abarca este sofá e a qual me faz sonhar com esse mundo comum que todos partilhámos. Pequeno, frágil e bonito, é como me sinto, nessa quantidade de sabores que esperei sempre não provar. Esta raiva sentida de que não concebes o significado da terminologia por mim usada, faz-me esquecer que estarei prostrado neste sofá durante horas, sem que por isso faça conta ou cálculo.

Levo um, faço dois, crio três, arranco quatro e por fim não há mais pizza para ser repartida. Tinha pensado em comida chinesa, mas sempre me pareceu pálida de mais, a fazer-me relembrar o teu envergonhado sorriso, sempre que me vias.
Abanei-te uma, duas, três, um infindável número de vezes. Dei-te dicas para funcionar com o meu debilitado sistema emocional e nem por isso me fizeste caso, Crias-te tudo aquilo que agora recebes, apesar de a ternura por ti concedida se ter desvanecido. Louvo-te as camas feitas e a louça lavada, mas entristece-me profundamente a falta de coragem primitiva que sempre julguei possuíres, Criei-te no meio de lençóis e sonhos que pensei irrealizáveis e no fim dei-me conta de que tinha voltado ao transporte ligeiro individual, como se não houvesse linha que me separasse de um passado nada enaltecido. Querias amar e tiveste-me a mim. E eu queria o rock e não o encontrei dentro de ti. Forcei a lei que a natureza impunha, fiz de mim ilusionista e tudo que encontrei no fim, foi a cartola vazia.

Lost in my own memories
I was never found
Creating my dream
Was always my goal
Chasing a lifetime name
But in the end, it seems only the same…

Dói-me a garganta, não sei se de tanto gritar por ti, antes que adormecesses, nesse escuro surdo que tens dentro de ti. Por ti, era por ti, sempre por ti. E agora?