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Monday, December 27, 2004

Humanos

Gostavamos todos de ter aquilo que tanto desejamos. No fundo, o desejo é a fonte máxima de poder que reside em nós, humanos, enfiados em espartilhos contraditórios acerca do nosso passado, com um futuro coxo pela frente, com um amor pendente, sempre. É o desejo que move esta época, a que chamam Natal e na qual nos afundamos em dívidas para conseguirmos oferecer aos outros aquilo que eles têm e nunca precisaram.
Desejo eu muita coisa para este Natal, que já passou, mas que permanece dentro da casa de cada um de nós, porque o Natal não é um dia, mas uma semana inteira de projeções inacabadas, de folhoses que nos enchem o espírito, de encontros que nos agitam. Dizem que é a chamada época em que a palavra que mais reina é o perdão. Perdão a todos aqueles que nos desmerecem, que nos torturam e enchem os sonhos de uma cor que se parece com a morte.
Perguntei a uma criança o que era o Natal e ela perguntou-me de que cor eram os sonhos. Não lhe respondi e ela também não. Ambos sabemos que o sonho é o que nos eleva e faz superiores, mas também sabemos que é por ele que ambos caímos e nos magoamos. Respondeu-me apenas que desejava que o natal fosse mais do que um sonho, ao qual se agarrase e o fizesse perdurar e que dessa forma, talvez " as pessoas com olhos em bico não morressem todas no mar".
Gostava de voltar a sonhar como dantes, mas os meus desejos não mo permitem. A lista que fiz ao Pai Natal não tinha nada de suficientemente novo ou irreal. Queria desejar um avião, um amor novo, um guia, mas nem isso.
A criança deu-me a mão e eu senti-me novo, outra vez. Não sei o porquê de ter falado com ela, mas sei que me fez bem, como se a capacidade de sonhar residisse não na maturidade, mas como diria Saramago, na sabedoria.
"Tu que és grande, és invencível. Protege-me, protegendo-te a ti, sem nunca me largares a mão".
E não larguei.

Tuesday, December 14, 2004

Desejo - Romeu e Julieta III

O desejo é uma parte incontrolável de toda uma vivência, seja ela transparente ou não. É a partir do desejo que alcançamos aquilo que nos permitimos a alcançar. É a partir do desejo que nasce a paixão que segurada por tempo indefinido desagua no grande encontro com o amor.
O desejo faz parte da vida de Rui. É ele que lhe demonstra que os sonhos são mais reais quando se evaporam da caixa mágica onde os conservamos e que um beijo, pode ser muito mais do que um beijo. Rui tinha desejos incontroláveis. Gostava de espiar as cozinheiras enquanto elas faziam aquele pudim que ele roubava inconsequentemente. Desejava um dia ser tão alto como o pai e ter alguém ao seu lado que lhe fizesse todos os pequenos mimos que recebia da mãe.
Rui era pequeno entre gente grande. Fora educado entre o manto de consequência que os seus actos poderiam ter para uma grande família como a sua e nunca esquecera uma das grandes máximas de Shakespeare, tudo que começa no erro tem, irremediavelmente, de acabar no erro, também.
Mas era o desejo que o movia, quando não estava em casa. A casa representava a formalidade que ele não podia pôr de lado e o orgulho que ele tinha de beber, a partir do momento em que se tornava um Ataíde.
Quem vive no Porto, sabe de antemão que a cidade tem regras e códigos pelos quais aqueles que a ela quiserem pertencer, têm de os seguir. Agustina Bessa Luís, na sua última e prodigiosa obra desmonta bem todo o feudalismo em que a cidade está submersa. E no Porto, há desejos escondidos em cada esquina, há espera de serem revelados. Desejo de possuírem o que não têm. Desejo de encontrarem o que não existe, desejo de fugir se alguma coisa não corre pelos ajustes.
Rui tinha o desejo de continuar a vida que os pais lhe destinaram. Talvez ser um bom advogado, entrar com uma bolsa de mérito na Católica, ser uma pessoa respeitada na fechada sociedade portuense, que é acolhedora para os que vêem de fora e não ficam muito tempo. Mas acontece que Rui, que como muita gente pequena, não faz esquissos de regras que tem de cumprir, não elabora mais do que sonhos de uma vida que não se sabe se há-de ser longa ou simplesmente comprida e descontrolada. Rui apenas desejava, nos seus sonhos, encontrar algo que o mantivesse fora daquela paz que o aterrorizava. Pedia algo com mais condimentos, que o fizesse saltar em frente aos convidados dos pais e vestir t-shirts em vez de camisas.
Poucos sabem que para sermos confrontados com algo, temos de estar inconscientes do inesperado. Só assim ele nos poderá surgir aos nossos olhos de alguma forma maior do que a aparente. No fundo o que Rui queria, era ter algo mais do que um nome. No fundo o que Rui queria, como todos nós era que o desejo que ele continha em si transborda-se para algo superior, algo de transcendente, algo que o apanhasse e o levasse desta realidade como se fosse apenas fogo que se extingue.
Rui, porque desejava era considerado promíscuo por quem o rodeava, porque não conseguia sentir paixão por nenhuma das raparigas que alcançava durante a noite, que também elas desejavam, mas elas acabavam sempre por amar. Está patente na constituição da mulher, que incute em si, muito mais rapidamente o conceito de amor por alguém, se este alguém não lhe der respostas acabadas de um futuro a dois. Preferem sofrer agarradas a algo, do que procurarem mais alguma coisa. O desconhecido mete-lhes medo e fazem-se receosas quando o têm de enfrentar sozinhas.
O que Rui queria mesmo, era algo que só via escrito nos livros, porque são eles a grande cilada para alguém que faz do desejo e do sonho algo mais do que uma base. Ele procurava alguém emblemático como lera em Hamlet, frio com coração quente. Enfim, queria encontrar a sua Julieta, num mundo com falta de ética, em que se criam novos mundos a partir da tecnologia sem barreiras ou limites. Entregou-se portanto, à busca ostensiva, na rua, na Internet e nas prisões, que são as almas da maior parte de nós. Perdeu as horas para entrar em casa, perdeu as boas notas que lhe permitiriam realizar e dar continuidade ao bom-nome dos pais e quando por fim desistiu, reparou que tinha procurado de olhos fechados. O desejo que o movia não era mais do que a simples vontade de viver e de permanecer pequeno entre gente grande, aos domingos quando a família se reunia.
"Um dia hei-de escrever um livro" repetiu para si próprio. " Um livro repleto de respostas materiais, para acabar com esta busca desenfreada a que as pessoas se envolvem. Um livro de respostas, só"
Mas respostas já ele tinha, dentro de si. Só precisava sentir desejo de as encontrar.
Enfiou os phones, à espera que o chamassem para jantar e do outro lado alguém lhe cantava baixinho, como é a voz dos pequenos sábios, hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

Thursday, December 09, 2004

Objecto - Romeu e Julieta II

Ela sorriu. Naquele dia era tudo tão estranho, tão cinzento, tão metafórico que se sentiu pequena e humilhada, ali mesmo frente a um sorriso que lhe prestava a negar toda a evidência da sua vida, baseada no amor. Ali mesmo, por entre uma mão que ele teimou em não tocar, num coração que recusou segurar.
Há diferentes formas de amar e também de demonstrar esse amor que sentimos por alguém próximo e pertencente. Sim, porque o amor transforma-nos em objectos instáveis e recorrentes, em que somos apenas aquilo que ele quiser que nós sejamos, porque não escolhemos quem amamos, porque não amamos quem queremos.
Ela sorriu. O sorriso pode também ele ser portador de uma carga incrivelmente paradoxal, carregada de falsidade ou de honestidade. Pode ser o bilhete de identidade de uma pessoa saudável, ou simplesmente impura, como as palavras que escrevo.
O sorriso queimava-a por dentro, porque ela não podia chorar, ela apenas queria chorar, ali, nos braços dele, perguntar-lhe porque não a queria, pedir-lhe para que ele a quisesse. Queria voltar atrás e deixar de existír e encontrar-se com ele antes dos treinos, pretexto básico para qualquer enontro, como são todos os encontros de alguém que está incrivelmente apaixonado, como ela.
Estava habituada a viver o papel que cabe a uma mulher como ela : ser amada e cortejada até à última sílaba, última ponta da saliva, último caracter na mensagem. Nunca ter de esperar, porque nunca foi habituada a tal, nunca ter de exigir, porque nunca precisou, nunca pedir, porque tudo lhe era oferecido, naturalmente.
"Não tornes as coisas mais difíceis".
É difícil negarem-nos a nossa fonte de sobrevivência máxima, onde de repente nada nos faz sentido e o quarto escuro parece ser o nosso melhor amigo. Ela queria apenas que tudo continuasse. Já não lhe interessava se era a única a manifestar os seus sentimentos, já não se importava se não recebia a mensagem portadora de uma carga sentimental capaz de a arrebatar, apenas queria estar com ele, como sempre havia estado : sozinha.
"Não tornes as coisas mais difíceis" e afastou-se, negando-lhe aquele beijo que a faria esquecer porque é que chora tanto e demasiado nos ombros de qualquer pessoa que a entenda e não lhe tente dizer aquilo que ela tanto deseja ouvir.
É estranho como o ser humano se envolve em contradições plenas e escorreitas no percursso da sua vida sentimental que desagua por todos os outros campos que a constituem. Ela, como tantas outras pessoas, já teve aquilo que agora reclama como seu. Alguém disposto a depositar em si todos os futuros de uma vida, repleta de sentimentalismo e alucinação como só o amor pode ser. Já teve alguém que a enjoou com tanta paixão e agora quer voltar a sentir o mesmo enjoo, só que ele não regressa, simplesmente porque as pessoas não são iguais, simplesmente porque o sentimento não é o mesmo, desde o início.
Procuramos tanto por um equilíbrio perfeito, que nos esquecemos que a perfeição é um mito, do qual não existem provas concretas e plenas de que alguma vez ele tenha existido. Tentamos procura-lo em todas as faces que por nós passam, mas esquecemo-nos que nem todos procuramos o mesmo.
Ela sorriu e só chorou quando ele saiu. Porque a lágrima era dela, apenas dela, quando caiu e não voltou mais. Ela sentiu-a a rastejar e a respirar pela sua cara, como se fosse a marca do fim, a marca da morte de algo que começou na altura errada, provavelmente com a pessoa errada.


"Aperfeiçou-o a focagem
Olho imagem por imagem
Numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água!
Tanto sonho!Tanta mágoa!
Tanta coisa, tantas memórias!
Tantos sonhos e tantas aventuras
ou desventuras...
Tanta vontade de reviver o passado
Pensamento num tumulto permanente
Que não cansa nem descansa
Um rio que no mar se lança...
Pensamento em busca de uma justificação ou simplesmente perfeição
Para tanta dor e mágoa...provenientes do amor.
Que irónico é amar..."


Ela vivia numa ilha, protegida por um sonho desbastado dia a dia, em sonhos em que se ria sozinha, em sentimentos que permanecia sozinha. Não há uma razão válida para um fim tal como nunca houve para um começo. A vida é feita do acaso e é no acaso que podemos meter a responsabilidade permanente.
Ela vai ter de continuar a sorrir, se quiser voltar a sentir, porque todas as histórias de amor são trágicas, porque todo o amor é trágico, porque Romeu e Julieta podem ter de facto existido, mas o amor que os matou, também.

p.s. you are my shadow mary, just like i´m yours.

Thursday, November 25, 2004

Romeu & Julieta

Sempre que escrevo a primeira linha, acabo por apagar o texto. É sempre assim, faz parte de uma rotina, faz parte de um mistério que nem eu sei desvendar, como tantos outros, como o amor. O amor, o amor, o amor há-de ser sempre a potência máxima mobilizadora da nossa vida, enquanto caminharmos para a integração de um EU repleto de magnifiência e felicidade. Talvez seja por isso que ainda cá ando. Porque amei, amo e sei que vou continuar a amar.
Não faz sentido continuar a sofrer mais por uma realidade que já passou, por uma pessoa que só deixou marcas a nível da memória e da experimentação física. Está certo que confiar en alguém e seguidamente ser-se envolvido numa corrente de jogos de sedução, constrangimento e sexo, o mais simples dos mortais acaba por ficar sem esperança, palavra tão esquecida, de voltar a confiar em mais alguém. Sim, porque alguém que ama não confia. Entrega-se.
Debato-me com o facto de a sinceridade e a lealdade serem sentimentos esquecidos numa sociedade esquecida dela própria, recordo as duas pessoas que amei e me deixaram para trás, numa envolvência que me levou numa viagem que esperei nunca ter embarcado.
O amor, o amor, há-de ser sempre o amor. Vício que nos alimenta os sonhos, que nos satisfaz a alma, que nos mata a sede. Quero amar sempre as pessoas que me acompanham e não me deixam cair ainda mais fundo, ainda mais depressa. Quero viver sempre para elas, mesmo quando não me fazem companhia de noite, mesmo quando raras vezes isso acontece.
Alguém me disse que eu era livre, porque pensava. E eu penso que não sei nada de amor. Eu penso que não passo de mais um adolescente com problemas em arranjar dinheiro para saír para o Via Rápida numas dessas noites em que os estudantes bebem para esquecer as notas e os porteiros escolhem quem tem o mágico bilhete que dá entrada para um mundo ainda mais fastidioso que o que sobrevive cá fora.
É tudo um mito. Será que o amor também o é? Será que é mais um conceito implantado por uma sociedade que traça metas que nunca hão-de ser alcançadas apenas para sentir o desejo de se superar e constatar que não é perfeita?
Existe uma pessoa que eu amo, que partilha a minha vida de uma maneira esmagadoramente simples, que me educa, que chora por mim e comigo, que me abraça quando tudo corre mal ou bem, que corre para mim e faz tudo para eu crescer sem contudo deixar de ser seu.
Existe uma pessoa que eu amo, que me oferece protecção esteja eu errado ou não, que me ama incondicionalmente e que todas as noites pensa em mim antes de adormecer. Quando penso em todas as experiências que o amor, paixão, ou apenas cegueira ocasional,me trouxeram, acabo por me esquecer que eu não sei nada. Na verdade sei muito pouco. Não sou ninguém para falar de amor, ou para me debruçar sobre o seu estudo, de lhe tentar desvendar as entranhas ou descobrir-lhe as saídas. Mas ela sim.
É espantoso o que fazemos por amor. Depositamos as maiores alegrias e planos num sentimento que não se toca, à imagem de Deus que está sempre lá, mesmo quando não está. Esta pessoa sobre a qual eu escrevo e muito admiro vive e respira pelo amor. É difícil escrever o que não pode ser descrito, o que não pode ser sentido por mim, nem por ninguém a não ser por ela.
Queria muito que ela fosse feliz e que preservasse essa felicidade. Que acreditasse nela acima de tudo, que me há-de ter aqui para tudo, porque o sangue que nos une é forte demais para ser queimado ou esquecido.
Ela sim, pode escrever longos ensaios sobre o que é o amor. Porque ela vive e sobrevive dele e contudo é ele que a mata todas as noites quando chora sózinha no quarto mobilado como mandam os costumes modernos, como manda o amor que ela sente. Ela chora porque o amor dela vive realmente um problema, porque infelizmente ela tem um problema. Problema que o sente, que é também dela, simplesmente porque quando se ama, os limites físicos são facilmente ignorados e transponíveis.
Ela tem medo de não ser forte o suficiente, tem raiva porque o amor não se apresenta como cura de todas as doenças quando não é isso que nos ensinam sobre ele. Escrevem as mais enfadonhas fábulas de alguém (e é sempre alguém) que efectou os maiores feitos da História com base no amor. Incutem em nós os padrões históricos sob a forma de Romeu e Julieta ou Pedro e Inês e a partir daí tentámos construir a nossa vida, o nosso amor.
Ela é Julieta. Ele é o Romeu. Vivem para os lados da Maia. Vão ao domingo a casa dos sogros almoçar, vêem o Mente Brilhante ao Domingo na Sic enroscados no sofá e tentam combater o que os tenta separar.
Os tempos são outros e quem os tenta abalar não são as discórdias ente as famílias Capulet e Montagues. É algo que exige persistência, fé, sorte, coragem.
Não deixa de ser curioso que apesar dos avanços que a medicina se propõe ano após ano, alguém ainda se tenha de preocupar terminantemente com a saúde de outro alguém e que isso condicione todo o seu modelo civilizacional. Idas a Lisboa, Coimbra, paragens entre hóspitais que nos tratam como se não estivéssemos doentes, de facto, e de onde saímos, em alguns casos, em pior estado ainda.
Ela é assim, portadora de uma beleza única e transparente, como se tratasse de alguém que nunca viveu o suficiente para a vida lhe fazer mal. Vive pelo amor e chora pelo amor, sem nunca desistir, sem nunca deixar de lutar. Ela é de facto um exemplo de toda a terminologia que o amor encerra em si. É por isso que tenho orgulho nela e uso-a como exemplo máximo de que o amor realmente existe e pode durar, que é ele a força que nos move, que é ele a estrela que nos guia, nas noites mais escuras, pela noite, sempre pela noite, fria, húmida, escura.
Os meus problemas de adolescente vitimizado não são nada em relação à pessoa de quem escrevo, eu bem sei. É pena é continuar a sentir uma enorme vontade de os relatar, como se o facto de ter funcionado como pouco mais do que objecto sexual fosse algum elemento contra a estória desta mulher, também ela objecto puro e elementar do amor.
Queria dizer-te que também te amo, que és muitas vezes a força que me segura, o telefonema que nunca acaba, a alegria que espero voltar a partilhar, a mão que nunca pára de embalar.

" A mão que embala o berço é a minha.
Dorme meu pequeno!Dorme...
Empurra o escuro para longe.
Adormece na luz
Dorme meu amor.
Sonha com anjos, ninfas, fadas
E príncepes e princesas
Reinos longínquos
Utopias desejadas
Deixa-te levar
Por essa ilusão maravilhosa
Deixa-te ser
Rei
Eternamente
Nesse reino imaginário.
Quando acordares
Abrires os olhos
Espreguiçares
Sorrires
Falares
A minha mão
Embalará o berço e aí
Dormirás novamente.
Fugirás desta realidade
Serás criança
Menino
Feliz
Serás meu
E será minha
A mão que repete estes movimentos
Ondulantes
Que te fazem viajar
Que te fazem sentir outro.
Voltarás a acordar
E aí
A minha mão
Já adormecida
Do cansaço da viagem
Não desistirá
Continuará a embalar-te
Meu pequeno!
Para sempre!"

O poema foi-me entregue e é desta vez entregue a ti, para que também tu sintas sempre que a mão que te embala, é minha. Sempre.

"Love is the mortal sample of immortality" by Fernando Pessoa.

Tuesday, November 23, 2004

77 - II

Se disser que me sinto sozinho, não minto. Quando o amor preenche os poros da nossa pele e se liberta para nos tornar deuses entre simples mortais, tornamo-nos escravos da nossa própria sombra. É difícl explicar como é que me sinto tão vazio. Vazio de conceitos, de poderes, de ideias, de motivações, de jogos sejam eles de sedução ou de razão. Os meus textos já não rimam, as minhas frases já não têm sentido, a noite já não é tão escura... Sinto-me impotente por entre o mundo lá fora. Tenho medo de saír de casa, de entrar no 77 e ninguém me sentir. Gostava de tornar os meus sentimentos mais compreensíveis para todos aqueles que me leêm, mas não me permito.
A minha memória está cheia de momentos repletos de êxtase disfarçados com potes de ouro e borboletas que não voam, porque não as deixam. Escondi as fotografias que pude, apaguei-as dentro de mim, esquecendo que os seus restos acabariam por aí permanecer. "Ficar só é um privilégio dos amantes", luxo a que não me permito, porque me deixo arrastar por valores implantados por uma infância contraditória, onde a verdade fora de estar escondida, nunca existiu.
Uma pessoa não é nada sem identificação, sem nada que a leve a algum lado, mais do que um autocarro, mais do que uma droga, mais do que um sonho. A minha vida é cheia de sonhos, de ilusões, o motor acabo por descobrir, da ignorância. Sempre que entro no 77, todos os dias, à mesma hora, ninguém sabe que estou sozinho, ninguém sente que me debato com os problemas básicos da adolescência, que ouço Portishead para me entregar ao vício que é a melancolia, para fugir à tristeza de ter amado e não conseguir voltar a sentir o mesmo por outra pessoa, de o ter tentado e ter ficado encerrado no meu próprio isolamento.
"Tens medo de ser feliz?" Disseram que me perco nas palavras, que não exprimo o que sinto, que busco sinônimos, mas eu só me procuro em mim mesmo. Sinônimos para a minha dor, a minha falta de discernimento, o meu amor. Queria não ter medo, queria ser adulto e partilhar do doce que é ter uma rotina e um mundo pré-concebido onde nada se discute, onde tudo existe porque tem de existir, onde eu sou mais e me indentifico com os que também o são.
Tenho medo de ser feliz, porque ela cola-se para sempre nas nossas veias e a partir dali a fasquia sobe e o que poderia ser bom, passa a ser banal perante tão transcendente sentimento. Mais do que me perder em palavras, perco-me em sentimentos. Debruço-me sobre eles com a força de um cientista sem nunca encontrar a fórmula certa e desejada para o sucesso.
Acabo sempre por encontrar uma fotografia, um bilhete, uma carta, uma mensagem. Tenho medo de ser feliz, porque já o fui e pesa-me na consciência o facto de nada se comparar a tamanha força, de tudo saber a pouco depois disso, de eu me tornar mais pequeno depois disso. Tenho medo de ser feliz, porque as 3 pessoas a quem me entreguei deixam-me sem forças para encontrar a paz de que preciso, para entrar todos os dias no 77 sem esperar que alguém veja o buraco que permanece em mim e me tente ajudar.
Tenho medo de nunca ser adulto o suficiente para concretizar os meus projectos e equacionar planos. Planos de uma sociedade plena de valores, de energia, de vitalidade, de cores bonitas e reluzentes. Tenho medo de deixar de ser a criança que sempre fui e a felicidade passe por mim outra vez e eu não a saiba agarrar, inocente que já fui, observador e crítico atento que me tornei. Criança no olhar, adulto no coração. Cinzento, duro, impenetrável, dramático. Perco-me nas palavras e nos sentimentos, perco-me no ar que respiro todas as manhãs, nos corações que toco, na tristeza enorme que me percorre e ninguém sabe, porque ninguém tem de saber, porque por vezes, tal como Kafka, o merecimento da dor faz-me ser alegre.
Tudo aquilo que vivi, há dois anos, parece-me agora tão irreal, tão especial, que só agora me dou conta. O sofrimento que passo agora por alguém ter feito de mim um Ricardinho em nada se compara à tortura de se amar e saber que não se pode continuar, porque o abandono não é um acto de vontade, mas uma consequência do esquecimento. Já é tão tarde e eu ainda não disse nada. Preciso de ser mais conciso, como diz o meu professor de Gramática da Comunicação. Tento responder-lhe que a escrita, mais do que um acto mecánico, é algo que nos corre cá dentro, que as palavras são abertas e impuras, que o texto, tal como o amor, não deve conhecer limites de qualquer espécie. Já é tão tarde e eu ainda não disse nada porque, como o meu amigo Filipe refere "As palavras são escritas porque não se tem coragem". Coragem de as proferir, de soltar o nó que nos percorre para sermos para sempre maiores e termos o nosso próprio espaço, seja lá onde for.
Será que alguém consegue encontrar-me por entre a guerra que insisto em tomar partido?Será que alguém consegue ler para além do que eu escrevo?
Eu escrevo estes textos porque me deito sem nunca dormir, porque nada me pode salvar de não ser aquilo que os outros esperam que eu seja, porque nada me pode salvar de me sentir sozinho, de me escorrerem lágrimas disfarçadas de suór, de ser metade daquilo que eu gostava de ser.
Não tenho medo de não ser feliz. Tenho medo de nunca mais o ser.

77

Vou sózinho. Atrasado, como sempre. A correr para chegar a tempo, a morrer porque nunca chego. Olho-me ao espelho mais do que uma vez, porque o que eu sou depende muito daquilo que eu mostro e não daquilo que eu sinto. São tantas e tantas as vezes em que gostava de parecer, identificar, ser eu, a primeira escada para a evolução pessoal e íntrinseca.
Vou sózinho. Passo todos os dias pelos mesmos lugares, pelas mesmas pessoas, pelos mesmos sonhos. São poucos os que são o que parecem ser e menos ainda os que gostam do que são. Há uma senhora que conta a vida da vizinha que é doutorada em manipular os senhores de bom nome lá do bairro a fim de receber alguma coisa em troca, há um freak qualquer, com roupas de um sítio qualquer, adornado de piercings para esconder os buracos que nunca hão-de ser completados numa sociedade que se odeia, há um executivo cuja alma foi currompida pelo negócio, há uma rapariga tímida e discreta que manda mensagens de bom dia à sua mais do que tudo, às escondidas, sempre às escondidas.
Eu continuo a ir sozinho,no 77 mas podia ser noutro qq, rodeado por pessoas que passam por mim e não sabem de onde vim, que me despem, que me insultam, que me provocam, sem contudo proferirem uma única palavra. Eu meto os phones,à espera de que o tempo volte para mim e eu seja teletransportado para outra dimensão onde nunca precisarei de correr para onde não quero ir.O cenário muda e é de noite. Misturo os copos com o Bacardi e levo as afilhadas comigo. Quero parecer e não consigo, sou condicionado por motivos execráveis e volto-me a sentir sozinho. Tou com os amigos no Tropical a comer um hámburger, tou no Industrial com a Inês João, tou no meu quarto com quem me deixou sozinho e tudo acaba a partir daí. Sonho com lugares incríveis, cenários impossíveis, pessoas impossíveis, amores impossíveis. Sou feliz, quero ser feliz.
Quero voltar a andar acompanhado e ser concentrado no mundo que me rodeia, outra vez. Mais do que parecer eu quero voltar a ser.Quero-me olhar ao espelho, onde todos nós nos buscámos, à procura de uma identificação, de um padrão, de uma igualdade que não existe nem é suposto existir. Tenho de voltar a estudar, dar boas notas aos pais, estudar para ser alguém, estudar para me encontrar, ficar mais culto, ficar superior. Tenho de esquecer, tenho de lutar, tenho de encontrar alguém, tenho de me voltar a encontrar.
Mentir para quê? Eu nunca estou sozinho. Vivo rodeado por pessoas que me defendem e me protegem. Alimentam o Ricardinho que há em mim e o pior é que eu gosto. Antes do degelo era tudo tão automaticamente bonito, incorrigível, correcto...Agora, agora divirto-me mais do que nunca e parece que nunca é suficiente. O amor tem destas coisas. Pega em discursos puros e concisos e deixa-os atrapalhados, errados, frágeis, como este texto, como o Ricardinho.È tanta a gente a quem tenho de dar satisfações, são tantos os que me rodeiam, são tão poucos os que me conhecem e volto-me a moldar e a lembrar, a sonhar.
É difícil ser o que se é neste mundo que me põe rótulos, que me tenta despistar, que me tenta e me provoca, que exige mas não me dá liberdade, onde a confiança é um conceito gasto e pertencente a outra era, era que nem eu sei se existiu.
Nada,nunca, é tão mau como parece. Só preciso de encontrar o autocarro certo, para parte incerta.
"As histórias infelizes são, na maior parte, um exagero, tal como os perigos do mar", Comandante Joshua Slomm, navegador solitário.

Monday, November 22, 2004

Vou sózinho. Atrasado, como sempre. A correr para chegar a tempo, a morrer porque nunca chego. Olho-me ao espelho mais do que uma vez, porque o que eu sou depende muito daquilo que eu mostro e não daquilo que eu sinto. São tantas e tantas as vezes em que gostava de parecer, identificar, ser eu, a primeira escada para a evolução pessoal e íntrinseca.
Vou sózinho. Passo todos os dias pelos mesmos lugares, pelas mesmas pessoas, pelos mesmos sonhos. São poucos os que são o que parecem ser e menos ainda os que gostam do que são. Há uma senhora que conta a vida da vizinha que é doutorada em manipular os senhores de bom nome lá do bairro a fim de receber alguma coisa em troca, há um freak qualquer, com roupas de um sítio qualquer, adornado de piercings para esconder os buracos que nunca hão-de ser completados numa sociedade que se odeia, há um executivo cuja alma foi currompiada pelo negócio, há uma rapariga tímida e discreta que manda mensagens de bom dia à sua mais do que tudo, às escondidas, sempre às escondidas.
Eu continuo a ir sozinho, rodeado por pessoas que passam por mim e não sabem de onde vim, que me despem, que me insultam, que me provocam, sem contudo proferirem uma única palavra. Eu meto os phones,à espera de que o tempo volte para mim e eu seja teletransportado para outra dimensão onde nunca precisarei de correr para onde não quero ir.
O cenário muda e é de noite. Misturo os copos com o Bacardi e levo as afilhadas comigo. Quero parecer e não consigo, sou condicionado por motivos execráveis e volto-me a sentir sozinho. Tou com os amigos no Tropical a comer um hámburger, tou no Industrial com a Inês João, tou no meu quarto com quem me deixou sozinho e tudo acaba a partir daí. Sonho com lugares incríveis, cenários impossíveis, pessoas impossíveis, amores impossíveis. Sou feliz, quero ser feliz. Quero voltar a andar acompanhado e ser concentrado no mundo que me rodeia, outra vez. Mais do que parecer eu quero voltar a ser.
Quero-me olhar ao espelho, onde todos nós nos buscámos, à procura de uma identificação, de um padrão, de uma igualdade que não existe nem é suposto existir. Tenho de voltar a estudar, dar boas notas aos pais, estudar para ser alguém, estudar para me encontrar, ficar mais culto, ficar superior. Tenho de esquecer, tenho de lutar, tenho de encontrar alguém, tenho de me voltar a encontrar.
Mentir para quê? Eu nunca estou sozinho. Vivo rodeado por pessoas que me defendem e me protegem. Alimentam o Ricardinho que há em mim e o pior é que eu gosto. Antes do degelo era tudo tão automaticamente bonito, incorrigível, correcto...Agora, agora divirto-me mais do que nunca e parece que nunca é suficiente. O amor tem destas coisas. Pega em discursos puros e concisos e deixa-os atrapalhados, errados, frágeis, como este texto, como o Ricardinho.
È tanta a gente a quem tenho de dar satisfações, são tantos os que me rodeiam, são tão poucos os que me conhecem e volto-me a moldar e a lembrar, a sonhar.
É difícil ser o que se é neste mundo que me põe rótulos, que me tenta despistar, que me tenta e me provoca, que exige mas não me dá liberdade, onde a confiança é um conceito gasto e pertencente a outra era, era que nem eu sei se existiu.
Nunca é tão mau como parece. Só preciso de encontrar o autocarro certo, para parte incerta.

"As histórias infelizes são, na maior parte, um exagero, tal como os perigos do mar", Comandante Joshua Slomm, navegador solitário.

Monday, November 08, 2004

...Porque sim

O Ricardinho diz-me que está farto de ser coitadinho. Quer ser tratado como gente grande, mas nunca encontrou o caminho entre a magia e a realidade que pisa todos os dias. Diz-me que está farto de ser fraco, mas que ainda não esqueceu quem o tornou num espectro de si próprio. Enquanto isso, vagueia pelos dias, tentando ao máximo construir uma enorme casa, onde possa permanecer, sem que ninguém note no imenso buraco estampado na sua cara. As estrelas deixaram de importar, o ar já não permanece, apenas se segura, a ele e às memórias. Gente de quem gostou, gente que nunca esqueceu, gente que amou.
O Ricardinho é assim, um lamentador nato, que por não conseguir ser igual a toda a gente, entregou-se à manipulação dos sentimentos e dos desejos, esquecendo-se que é deles que precisa para reeinventar a sua vida.
O amor tem destas coisas. Conhecê-lo não basta. É preciso tocar-lhe, fazer dele um grande drama, disfarçado de épico numa confusão de cores que despontam no vermelho. O vermelho é a cor do sangue, da dor, da fatalidade, do amor e são todos estes elementos e mais alguns que não me recordo, que constituem a alavanca e o combustível do coração, esse princípio de eternidade.
Quando o amor nos bate à porta, tudo é vermelho, tudo nos traz alegria e sentimentalismo. Somos levados a pensar que virámos daltónicos. Os campos são vermelhos, o céu é vermelho, a professora de matemática disfarçada de ensinadora, o motorista do autocarro apanhado no tráfego de uma cidade que não se compreende. O Ricardinho também viu tudo vermelho. Descobriu depois que os campos apenas são vermelhos para aqueles que amam e são amados. Para os outros, o amor nasce como uma doença incurável, onde só o chão nos segura.
-Há respostas humanas para aquilo que não é humano? perguntou-me o Ricardinho certa vez. De facto, há muito que me debato com esta questão, do seu princípio até ao seu seguimento. O Ricardinho não estuda, refugia-se na sua casa, de onde raramenta sai, cumprimenta todos com um olhar temente. Tornou-se temente. Quer fugir e não tem forças. Fugir de onde não sabe, mas quer. Já não o incomoda que saibam que é coitadinho, incomoda-o ainda o ser, porque o sentimento é tantas vezes posto de lado, mas raramente esquecido. Lembra-se de tudo ao pormenor, do bater do coração, das voltas na barriga, do toque, do sabor, do cruzamento dos olhos com a boca, numa interminável corrente de sentimentos que esperou nunca mais acabarem.
Gostava muito de responder-te Ricardinho, mas não sei. O que sei é que o amor faz parte das coisas não humanas e que por isso mesmo pode não ter resposta. Costumo dizer que a única maneira de saber se alguém gosta de nós, não é fazerem um inventário metódico e conciso de todas as nossas qualidade, que só raramente saltam à vista.Não há resposta mais coerente como a tautologia " Porque sim".
Talvez não haja realmente respostas humanas para aquilo que não é humano Ricardinho. O amor faz parte daqueles conceitos que não se explicam em palavras, gestos, desenhos, músicas, filmes. Eu já amei...porque sim.

Tuesday, November 02, 2004

Educação Light

A educação é um fardo que carregamos, sempre que viramos as costas e tentamos perspectivar o nosso passado. Ela atinge-nos com uma violência cruel, bate-nos sem avisar, trespassa-nos para morrer-mos dentro dela. Ela é limitativa. Ela pode ser vantajosa e dar-nos a conhecer um cem número de mundos novos, onde nos tratarão por epítetos ternos e renovadores, mas também pode ser uma condicionante para a vida póstuma. Pode criar barreiras e memórias das quais muito difícilmente se conseguem apagar. Ela e todos factores que dependem dela são parte do que nós somos hoje, e a ela lhe devemos muito.
A verdade, é que a educação é um bem negligenciado na nossa sociedade.
Onde outrora existia uma sociedade vítima das suas próprias repressões morais e éticas, encontrámos uma educação moderna, onde assenta o princípio light. Ou seja, onde outrora havia repressão, hoje existe omissão. Omissão de quê? Omissão de valores, respeito e comportamentos morais. Decide-se por uma educação onde o tudo póde traumatizar a criança, onde nada deve aborrecê-la, onde nada deve ser impedido. Elas têm o mundo a seus pés. Um mundo de ilusões e espanto cor de rosa, ou então azul como o céu na Primavera que nunca mais acaba. Crescem num mundo irritado, rodeadas por adultos irritados repletos de certezas, porque disso e só disso vive esse mundo. Ser adulto consiste basicamente em não pôr nada em causa, em salvar a realidade conhecida e não mais sonhar, nunca mais.
O problema da educação reside desde logo num ensino precário. Onde antes existia um ensino com base na separação de sexos, onde os melhores alunos ficavam numa parte distanciada dos outros e onde a régua fazia parte da dia-a-dia de cada um de nós, é estranho ver como hoje tudo está diferente. Os professores, como que gafanhotos, procuram ao máximo encontrar uma escola onde possam permanecer o máximo de tempo possível, tentando ensinar, quando na maior parte das vezes nunca souberam aprender. Nunca aprenderam a ler, a sentir o gosto de folhear um livro, de o percorrer e senti-lo. Talvez desconcertar um poema de António Aleixo ou uma crónica de António Lobo Antunes, mas não. Talvez um resumo de Eça, talvez um resumo de Agustina, se ao menos isso.
Um professor tem esse fardo de passar o conhecimento, mais do que isso, passá-lo de uma forma apaixonada para que os alunos se apaixonem por ela. Mostrar que Sophia é magnífica, que Lídia Jorge é das escritoras mais importantes da actualidade e que Eugénio de Andrade é mais do que aqueles poemas publicados no Metro do Porto. Mas o problema do professor começa quando não tem vocação e por isso não aceita candidatar-se para essas paragens caóticas e suburbanas. Só poderemos ser melhor, se nos dedicar-mos a isso de raíz, enfrentando o problema, cortando os salários milionários dos gestores públicos e dos acessores, fazendo com que o mundo pare de andar ao contrário. Esta falta de equilíbrio condiciona todo o nosso modelo de sociedade como é vista hoje.
O ensino e a educação devem ser aliadas e não uma forma de ilibarem a outra. A culpa não é dos pais que não educam os filhos, nem dos professores que não tomam as devidas precauções. É uma culpa conjunta. Estes dois factores não podem ser vistos como repressões morais ou portadores de uma liberdade libidinosa. Está na hora de se encontrar um equilíbrio certeiro entre estes dois modos. É urgente de facto. No caso da escola, o caminho está cada vez mais a ser regido por uma estrada que conduz à ignorância. Os manuais e mais uma vez a omissão de certos cantos do Lusíadas é prova mais que bastante para encerrar o meu argumento.
Eu não tive a educação que idealizo para os meus filhos. A liberdade e a disciplina devem andar de mãos dadas. Ser pai é mais do que um papel, é uma missão, é um lema de vida, é uma paixão. Assim deveria ser encarado o ensino, como uma paixão, mais do que uma vocação. Deveriam ser feitas provas anuais aos professores para determinar o grau de capacidades, deviam ser fixados os professores numa escola, para acabar a dança anual que se revelou catastrófica este ano, para que a confiança que os alunos adquirem ao longo de um ano, não tenha de ser conquistada todos os anos, por pessoas novas.
A educação nos dias que correm aposta no prazer momentâneo, onde tudo foi feito para algum fim, onde as crianças são educadas por um televisor que espreitam horas infindáveis diariamente. Um pai não póde ver na escola uma forma de cumprirem com o seu papel, nem a escola de se desculpabilizar da sua má função. São passados de ano alunos que não reúnem as condições mínimas. Nesta vida light, onde tudo é oferecido, os alunos ficam cada vez mais com a impressão que tudo é fácil, tudo é alguma coisa. E daí mergulhámos no espírito consumista da nossa juventude que desagua num aumento da criminalidade nos jovens, condicionado por uma forte desmotivação de professores mal remunerados e pais que correm para pagar a conta da luz, sem nunca perceberem que o puto lá em casa já usa preservativos e tem certezas como gente grande. Vamo-nos deixar de certezas e de radicalismos. O equilíbrio é a única fuga para uma sociedade puramente civilizada. O light já era.

Wednesday, October 13, 2004

Explode Ricardinho...

Páro, penso. Estou num vazio. Sou suspeito, toda a gente fala, toda a gente comenta, toda a gente observa. É de noite, é de dia, é sempre de noite e toda a gente sabe. E eu fujo por toda a gente saber.
Ninguém me quer, ninguém me ama e todos me desejam e todos sabiam. Olho-me ao espelho, parto o espelho. Não quero mais saber de mim. Fujo, porque toda a gente sabia, porque eu já sabia. Quero um comprimido para dormir e sonhar, só sonhar. E todos os dias é uma luta e eu desço, caio, caio, caio e nunca mais pára e de repente sou adolescente, acordo e sou adulto. Não tenho papel, não tenho permissão e todos sabiam.
Sinto-me pesado, forte, gordo. Conto as estrelas, de repente, muito de repente, esqueço. Esqueço e não tenho memória e não sou velho. E não me importo e sorrio, sorrio muito.
Volto a pôr a música, escrevo ao ritmo da música, morro ao sentido da música. À minha volta ninguém me anunciou a chegada, mas eles sabiam e não explodiram. Retiveram-se, conteram-se. Falsos, falsos, falsos. Correm ao sabor do sexo, correm ao sabor da noite, é sempre a noite.
Eu não quero contar nada, quero perder a memória, ficar com o sonho, para sempre sonhar e nunca mais me repetir, nunca. Alguém me acorda, alguém me abana. Não consigo acompanhar a música, há sempre alguém que é melhor do que eu, havia sempre alguém que sabia e agora desço ao fundo porque eu também sabia e não anunciei.
Volto a contar as estrelas, fujo para longe, para longe de todos aqueles que sabiam e não me anunciaram. Agora estou mais pesado, gordo. Coitadinho, coitadinho do Ricardinho. Agora pesa-lhe o peso da verdade postrada nos seus olhos. Acabaram-se os falsos amigos, as falsas modéstias, os falsos amores. Todos sabiam o meu oristo, mas ninguém mo disse e agora estou pesado, gordo. Coitadinho, coitadinho do Ricardinho.
A irmã bem me avisou, a irmã bem que gosta de mim, mas a irmã não a conheceu e agora doi-me a cabeça, pesa-me a cabeça. Algo de estranho, de anormal se passa. O Ricardinho não passa nas portas, o Ricardinho é coitadinho, coitadinho do Ricardinho. A culpa não é deles, porque eu sempre soube e tomei outro comprimido para continuar a dormir, porque dormir dá-me vontade de sonhar, sonhar que nunca aconteceu, sonhar que as estrelas estão perto, que as toco. Sonhar contigo e com o meu amor, sonhar com a ilusão perfeita num dia de Inverno.
A música pára. É pequena a música, mas o fardo não. E doi-me a cabeça, e a cabeça pesa-me. Quem fez isto ao Ricardinho? De quem é a culpa de ele não entrar nas portas e sentir-se porco e usado?
Passou por aqui. É ela sim. Passou sem anunciar, partiu sem anunciar e veio para ficar e partir sempre, sem anunciar. Não tinha perfume, não tinha cheiro, não tinha olhar. Era o tudo, era o nada. É Ela a causadora do peso do Ricardinho. O Ricardinho quis ser coitadinho, quis negar a evidência para sempre nos seus olhos e absorver todo aquele vazio que o fazia admirar. As estrelas perderam-se, as estrelas perdem-se sempre, mas as cicatrizes perduram. Ela levou as cicatrizes até muito longe, numa terra de feiticeiros e bruxas, onde ninguém se ama, mas todos se envolvem. Ela levou-o, pobre do Ricardinho, pobre de mim, na noite, sempre a noite. Agora o Ricardinho explode, o ricardinho não aguenta o peso perante os seus ombros, a vergonha de todos saberem e ninguém lhe anunciar.
E a culpa não é de ninguém quando o crime é anunciado. Quem anunciou? Quem acabou com a esperança do vazio ser o preenchimento de um olhar, da mentira ser razão, da tesão ser paixão?
Fujo. Corre Ricardinho que toda a gente acabará por saber. Eles todos sabiam e não se interessaram, para quê chorar, agora? Chora Ricardinho, chora. Levanta a cabeça, acorda. Já foi anunciado.

Sunday, October 10, 2004

23/24

O destino é sempre uma coisa sorrateira. Prega-nos pequenas rasteiras, faz-nos chegar mais longe, torna-nos mais crentes, mais maduros, adultos. Entre tristezas, alegrias e confissões, o destino muitas vezes encarrega-se de trazer para a nossa vida aquelas pessoas que sempre tiveram um lugar reservado para elas, mas que nunca o souberam encontrar. E depois é o que se sabe, tornam-se insubstituíveis e nem chegamos a perceber a razão de tamanha devoção. O tempo e o espaço deixam de importar. O que importa realmente é o sentimento único que liga as pessoas e dá alento a estes dias que cada vez mais se apresentam como cinzentos.
Eu acredito que existe alguma coisa de especial em cada um de nós, que somos destinados a pertencer e a preencher a vida de alguém, que é esse o nosso principal sentido, enquanto seres imperfeitos que somos. De vez em quando, existem certas pessoas que nós sabemos que provavelmente até são boas de mais para aquilo que fazemos por elas, que aturam as nossas birras logo de manhã, apenas porque gostam de nos ver sorrir, que nos levam aos sitios onde nunca haviamos estado só para esquecermos que o nosso coração nem sempre é respeitado, que nos mostram que o perdão é um sentimento nobre e que a solidão só nos entrega ainda mais à hostilidade que é o mundo lá fora.
Uma dessas pessoas completa anos hoje. Não sei se 23, se 24 que eu em datas nunca fui muito bom. O que interessa mesmo é manifestar o meu carinho por essa pessoa, que por estar a mais de 300 km não pôde tar comigo tantas vezes como eu queria. Esta é só uma forma de te agradecer por nunca te esqueceres de mim, por seres muitas vezes um chato que me massacra e me faz dar grandes e largas gargalhadas. Tens tudo para ser feliz Gonçalo, incluindo um amigo que te adora e cuja palavra amizade não chega para definir o sentimento que tem por ti. Queria dar-te mais do que um simples texto, num blog povoado por personagens mortas e relações inconsequentes, queria partilhar este dia contigo, mas acho que de uma certa forma já o estou a fazer. Contigo o poema de Sophia nunca fez sentido " tive amigos que morriam /outros que partiam" porque tás sempre cá dentro, onde pertencem as pessoas que têm o poder de nos fazer felizes, como tu fazes e sei que continuarás a fazer.
O destino pôs-te no meu caminho, por entre uma música da Nelly e uma ida a Braga ou uma visita à praia do Guincho e eu só tenho de lhe agradecer e pedir que traga pessoas como tu, verdadeiras, alegres, chatas e genuínas, que estejam lá sempre, quando eu precisar, porque tu tiveste e é isso que distingue os amigos de sempre e os amigos do momento.
Hás-de me ter sempre aqui, como eu te tenho a ti. Muitos parabéns e que este não seja "mais um dia".

"We are counting the stars
We gonna go far
it´s only you and me in the open air
it´s truth or dare, we don´t care
we are couting the stars
as we explode, we are couting the stars"

Explode, Furtado, N.

Saturday, October 02, 2004

A sobrevivência da tristeza

Já não sei escrever.
Durante este tempo que me submeti a uma hibernação forçada, apaguei da minha memória todos os processos de aprendizagem, para me fazer suficientemente insensível para não perceber aquilo que se passava à minha volta. Agora, considero aprendido todo o processo de sedução em que as pessoas normalmente se entregam, vítimas delas próprias e de uma sociedade em constante mutação que não dá tempo ao comum do indivíduo a fazer aquilo a que todos nos propomos, mas poucos conseguimos - a auto-superação.
Com o olhar, e há-de ser sempre com o olhar, aprendi a detectar as pessoas tristes, cuja sobrevivência buscam na crueldade, porque esqueceram-se da alegria que pode e deve ser a vida e por isso não conseguem ser felizes na imensa solidão que os abraça. Quando me prometeste fazer feliz, depois de tantas vezes me teres negado isso mesmo, e todas aquelas coisas que as pessoas precisam de dizer e ouvir para que não se sintam tão sozinhas e perdidas, acreditei para não deixar de acreditar em vão tudo aquilo que outrora havia eu sonhado para nós dois, quando apenas acordar ao teu lado era bom, apenas por isso. Talvez eu tivesse enganado, talvez nada fosse como eu suspeitava e todas as conjecturas estavam de facto erradas e não havia nada para além de ti, que me fizesse voltar atrás em todas as minhas convicções dignas de um promissor candidato a deixar a vida fantástica que é a adolescência, para concentrar-me no declínio que é para a maior parte de nós a vida adulta, que nos encerra em tudo menos em nós próprios, fazendo-nos esquecer que existe mais vida para além do nosso quarteirão e que no fundo, estamos todos a lutar por algo igual, algo único, algo universal.
Contigo vi-me sempre a ficar sozinho, numa relação onde eras apenas um espectro que de vez em quando se propunha a acompanhar-me e a ditar as fronteiras dos meus passos, como se eu nunca tivesse sido livre, como se eu alguma vez o pudesse deixar de o ser. Achavas sempre que me acabarias por dar a volta, mas esqueceste-te sempre que não me compreendias e que como não sabias onde era o meu princípio nunca poderias determinar um fim. Não houve um terminar violento e abrupto, mas ambos sabemos que não existe nada que nos ligue intrinsecamente e que por isso estamos confinados a separarmo-nos.
Quiseste-me fazer o teu amante, mas esqueceste-te que é nas palavras que confio mais, que apenas queria algo em que pudesse confiar, para me libertar, para confiar...Gostava que tivessemos sido amigos antes de amantes ou simplesmente namorados. Gostava que não achasses tanto de ti, como se a minha presença te diminuísse. Gostava que não te prendesses tanto aos corpos, ao sexo e à tesão, mas confesso que foram das únicas coisas que consegui arrancar de ti, independentemente de isso ser bom ou não.
Acho que no fundo, gostava que tudo tivesse acabado numa longa conversa, para que não ficassemos com mágoas infantis e infundadas acerca da nossa relação, mas para isso era preciso que gostasses, soubesses conversar e isso certamente não é apanágio das pessoas tristes. Que consigas ultrapassar, transformar, superar a ti, apenas a ti, para que a crueldade cesse e a alegria resista.

Thursday, September 16, 2004

Tecnologia abençoada, que hoje me deixa escrever, sem me privar da libertação pura da minha consciência, dos meus tormentos, da minha culpa e do meu desejo. Hoje, agora e nunca parar de escrever, porque esta sede não cessa, esta vida não abranda, esta chama não se apaga. Leio e releio os meus textos mais antigos, exemplos da vida que me percorre, que se mostra arrepiante, como lama em que mergulho e se impregna, cá por dentro, bem por dentro da minha pele, que te não te chamou mais, mas que sempre acabou por te aceitar, lentamente como se não te quisesse mais, como se não te quisesse nunca.
Perfuraste-me e o nunca pareceu ter sentido no meio de tanta coisa inexplicável. Há que ter esperança, há que saber parar, há que ter orgulho, há que ter coração suficiente para perdoar, há que gostar. A tua normalidade arrasa-me, para nunca mais me levantar, nunca mais dormir e para sempre sonhar, a teu lado, entre a praia, entre a areia, mergulhar no mar, mergulhar em ti, só em ti.
Nada que foi partido, se volta a colar facilmente e completamente. Em mim haverá sempre o receio que tudo se passe como num filme onde só existe "repeat", com receio que tudo que venha a fazer por ti, seja mais, sempre mais do que aquilo que é justo ser feito e que mesmo eu não seja tão forte para lutar por alguma coisa na qual não deposito inteira confiança. Já passou uma semana e tudo corre como nunca deveria ter sido evitado, como se o passado não fizesse parte de nós e o presente fosse amanhã e nunca agora.
A lágrima, minha, tua naquela domingo, domingo de ir com a familia ao Norte Shopping, domingo de ir passear na Foz, domingo de voltar a pertencer-te, domingo de olhares desencontrados, de vontades, de orgulhos perdidos, de choro esquecido, teu, à minha frente, fazendo-me voltar atrás, com receio, sempre com receio.
" Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de advinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face"
( Sophia de Mello Breyner Andresen/ Eis-me)

Mas eu não fiquei sozinho, quando longe de ti fiquei. Fiz-me à estrada, criei laços, amei o desconhecido, conheci o imprevisível e fiz-me louco por atravessar este rectângulo que todos dizemos ser atrasado, em menos tempo do que aquilo que era suposto. Fiz-me à estrada, fiz-me à vida para te esquecer, nunca para te recordar porque eu só hei-de " morrer quando for preciso e nunca por chegar ao fim" ( Veiga, M.).Rodeado por amigos novos, recentes, presentes e desconhecidos em terras inóspitas que não parecem nossas, onde os cardápios não são em Português ou Latim, onde tudo é diferente e referente a uma cultura que não é a nossa. E fui, pois fui, fui feliz, sem ti, apesar dos teus constantes apelos, da tua voz ao telemóvel " pensa em nós". Mas não pensei. Fugi para a futilidade e para a modernidade. Encontrei-me no Frágil e descobri que não o sou, pelo menos tanto como julgava ser. As férias fizeram sentido, a minha vida fez sentido. Gonçalo,Bruno, Natércia, Rita, Marcelo, Lipe, Zeka, Edu, Sílvia, Ângela, PT...não tem ordem, mas tem sentido, cá do fundo. È só um obrigado, daqueles grandes, daqueles meus.
Mas para quê rever o passado repetidas vezes? Talvez tenha sido tudo melhor desta fiel maneira, como espero que tu também o sejas, daqui para diante para que deixes de ser " o Ausente dos ausentes", como tantas vezes ainda o és. A verdade, como eu lhe gosto de chamar, é que mal regressei a casa, senti a tua presença, como se tivesse andado adormecido, embriagado por uma Vodka poderosíssima, independetemente do sabor.Sabe-se lá o futuro, sabe-se lá o amanhã, sei lá o que sou e o que vou ser. Apenas sei que como Sophia, " quando morrer voltarei para buscar/os instantes que não vivi junto ao mar."

Tuesday, September 07, 2004

Frio

Frio, muito frio, cá dentro, bem lá no fundo, não me deixando respirar, não me deixando trabalhar, não me deixando andar. E no meio deste frio intenso e mortal, moram estrelas, repetidas e insgnificantes, num quadro que nunca ninguém consegui explicar o seu significado. Durantes estes dias a vida, a minha vida, felizmente não parou de mostrar energias suficientes para superar qualquer guerra, fosse ela interna ou externa. O mundo não parou de rodar, os meus pais continuaram a discutir todas as semanas, o meu amigo hipócrita tentou passar-me mais uma rasteira suja e impensável e a minha irmã, uma delas, não deixou de dar mais atenção ao Tobias, um labrador puro e majestoso, do que a mim. A vida continuou e eu deixei-me levar por ela, fácil que sou, fácil que me tornei. Agora, quando olho para trás, pergunto-me se não é realmente melhor este final abrupto do que uma dança lenta encaminhada para a morte de ambos. As pessoas que seguem avidamente a estória, tornada por ela própria uma telenovela com elenco e argumento péssimos, da minha vida devem estar ansiosos por saber o que terminou, como terminou, todo aquele fogo de artifício tardio e certeiro, que me iluminou e se espalhou por tudo que corre cá por dentro dentro. Não! Eu não faço, nem pretendo entender as leis pelas quais as pessoas se articulam e regem neste pequeno mundo imperfeito, criado à nossa pequena imagem. Por momento, sou interrompido pela tua imagem nebulosa e intrínsecamente fugaz, que se espalha, mas não permanece. " Quero ser feliz contigo" e toda a minha ginástica mental para te evitar nos sonhos mais densos, à noite, foi puxada para segundo plano e todo eu voltou a confiar em ti. Só em ti.
Agora faz mais frio. Sinto-o por todo o meu corpo, sinto-o dentro do meu sangue, por entre os meus olhos que sangram perante tanta incredulidade e se fecham para que nda possa ser visto. As citações de Fernando Pessoa, Sophia ou Inês Pedrosa não abarcam a imensidão do vazio que se me atrevessa, nos sentimentos mais negros que nascem, nas palavras mais secas que se transformam.
" Prometo que nunca mais vai acontecer".
E cada fez faz mais frio à medida que a verdade avança, cada vez me sinto mais pequeno e sem forças para voltar a confiar em alguém. Porque aconteceu. Porque aconteceu, afinal?
A Nelly continua a não dar respostas, mas eu também já não as quero, nem delas preciso. Uma pessoa merece sempre uma segunda opurtunidade e eu dei-ta e voltei a confiar sem reticências e a adormecer sobre a tua imagem sem pudor ou medo. Dois dias foi o bastante para que eu voltasse a descobrir aquilo que tinha escondido por ti e dois dias foram precisos para que me voltasses a mandar para a fossa, com mais uma daquelas desculpas que não lembra a ninguém, nem aos deuses, nem mesmo a Fernando Pessoa. Pessoa, esse génio que pegou nas entrelinhas de todo o nosso ser e o moldou, jogou e fez dele o seu parceiro para tudo e mais alguma coisa, que ainda não descobri, mas que hei-de descobrir. Mas nem mesmo esse génio é capaz de explicar tanta amargura depositada sobre mim, neste momento. Levei tanto tempo a confiar em alguém, tantas vezes mergulhado na escuridão do meu quarto, rodeado por uma mobília não escolhida por mim, numa casa em que não me sinto nem ninguém me sente.
Porque haverias de prometer ao invês de cumprir? Degladeias-te com a vida que escolhes-te e criaste, mas sabes que no fundo não passas, ainda e sempre, de uma criança pequena e cobarde, a quem uma vez fecharam no frigorífico e agora não é capaz de jogar mais às escondidas, inventando e culpando os que o rodeiam pelo seu prórpio fracasso.
Desta vez, não há palavras bonitas e encorajadoras para que o sentimento de culpa que te atrevessará, te passe ao lado, sem te afectar, sem te conseguir tocar. Desta vez não haverá segunda opurtunidade, porque todos temos o direito a errar, faz parte da nossa condição humana, mas todos temos o direito de preservar os sentimentos dos outros e aquilo que resta deles, intactos. Trata-se de respeito por uma pessoa que dizes gostar inquestionávelmente, mas por razões criadas sobre ti e por ti, num sonho com personagens mudas, para que não te alertem da tua inquestionável cobardia, não tiveste a sensibilidade mínima, assente em cada um de nós, para me respeitar.
Agora, sei que estou pronto para te terminar, porque não fazes parte do meu mundo, porque não conseguiste fazer e como tal, tentaste-o eliminar, sem compreender que era a ti que acabavas por acertar. Acho que no fundo, querias que tivesse sido eu a ficar farto de todo o drama em que me envolvi, sempre puxado por ti, e pusesse fim a uma história sem narrador ou realizador. Acho que querias que te dissesse que não prestas, quando tu sabes que não, que ilustrasse sobre ti todos os sentimentos maus e sujos que todos somos capazes de sentir por alguém que nos fere repetidamente. O máximo que conseguirás arrancar de mim será um adeus. Adeus de raiva, adeus de paixão, adeus de tudo o que imaginares, mas não adeus de ódio, porque esse guarda-se para quem se ama, para quem merece receber o nosso amor.
E quando passares por mim, temente da minha acção perante as pessoas que te rodeiam, vou ser o que não imaginas, o que não sou, mas o que sempre soube ser, mesmo quando não o queria. E quando esse dia chegar, vais ter vergonha do que te tornas-te e aí sim. Só aí vais querer desaparecer, porque vais constatar que és, porque és, tudo aquilo que temes ser, quando te olhas ao espelho.
O frio, continuo-o a sentir, aqui bem perto de mim, mas à medida que te torno mais humano, o ar vai-se tornando menos denso, mais claro, mais quente. Eu vou seguir a minha estrada, que mais uma vez se mostra aberta, porque não tenho medo, porque sei que não dependo de ti para ser feliz, porque sei que há alguém lá fora que ainda me há-de levar a todos os sitios novos e feitos para eu descobrir. Tenho confiança no meu sonho. Tenho confiança em mim. Mais confiança do que alguma vez tive em ti e nesse amor que de facto era mais imperfeito do que eu sopunha.

Thursday, August 19, 2004

Apago a luz, apago a alma, perco-me entre a Mafalda Veiga, Silence4 ou simplesmente Nelly Furtado. São poucas as coisas que nos dão paz de espírito. Hoje foi o dia, depois daquele dia. O dia em que é preciso acordar do sonho sem cor em que estavamos encobertos, presos por uma teia sem fim, um coração sem rosto, uns olhos sem movimento. Acho que foi mais fácil do que eu julguei, desabituar-me da tua presença a que eu tanto me agarrei e onde tantas vezes me escondi.
Dizem que o tempo que partilhei o mesmo olhar contigo é diminuto o suficiente para apenas criar perspectivas de uma felicidade imatura e pouco duradoura. Eu não respondo, porque tantas e tantas vezes o coração rejeita o código pelo qual nos rejemos, tantas vezes complicado demais para nós mesmos o seguirmos. AInda não compreendi o teu afastamento, mas já me capacitei dele e sinto-o cravado em mim, como se nada tivesse acontecido e eu continuasse ainda Virgem por não ter gostado de alguém. Talvez seja essa a razão pela qual todo o sofrimento que ao início julguei que iria mergulhar, desaparecesse apôs algumas horas numa camioneta que nos leva para parte incerta, mas que nos leva para bem longe, para que não possamos sentir onde a visão não alcança e os ouvidos não ouvem.A razão, sempre a razão. Não existiu razão para o começo, para quê procurá-la no fim? A razão para a minha convicção é que finalmente fui feliz, independentemente do tempo, por ter alguém ao meu lado e foi sempre isso que eu procurei. Se não pode ser por mais tempo, já não me cabe a mim decidir, assim como não me cabe decidir a pessoa pela qual me vou apaixonar. É engraçado que me culpem por isso, ou que me tentem culpar. Não há explicação para aquilo qude não tem imediata solucção, então para quê esgravatá-la? Para quê inventar culpas ou ressentimentos infantis? A vida não é perfeita e nós também não e de vez em quando somos complicados, mas está-nos no sangue, desde o início, desde o começo.
Opto por Nelly. Mas só aquelas músicas profundamente melancólicas e calmas a condizer com a chuva que cai lá fora, numa paisagem deserta e confiante. Era capaz de estar aqui a divagar a noite toda. De facto, já é bastante tarde e eu preciso de descansar a alma e o corpo. E de repente no meio deste silêncio e desta música que me arranca e me fere, recebo uma mensagem. Não espero que seja tua, mas é, de facto. "Tenho xaudades..." Que devo fazer? Por momentos apetece-me esquecer a minha magistral técnica para te esquecer e dizer que sim, que apesar de estar a caminhar para apagar alguns vestígios teus dentro de mim, mas também me apetece ser infantil, imaturo, e dizer qualquer coisa como " bem feita, só tens o que mereces, assim como todo o sofrimento em que tas embrulhado". Sim, porque eu sei que sofres, não percebo porquê, mas também desisti de procurar saber. Talvez desista muito facilmente. Ainda só passaram dois dias, mas não faz parte de mim lutar inquestionávelmente pelas pessoas. Ou se quer a pessoa ao nosso lado ou não se quer, independentemente do motivo ou situação. E quando não se quer, só temos de aceitar e seguir em frente com a nossa singela vidinha. Sabemos perfeitamente que não é o fim do mundo, que ainda haveremos de ser ainda mais felizes com outro alguém, só temos de ter alguma esperança ou então cultivá-la. Talvez ter coragem para a ter, cultivar.
Ainda não te respondi. Ainda não sei o que responder, ainda não sei se quero responder. Acredito que cada situação é encontrada por nós, enquanto ser humano que evolui a cada momento, 0para que possamos tirar algum partido e crescer com cada experiência.
Outra mensagem. Esta é mais forte. Talvez porque digas que gostas de mim, mas que tens medo...medo...já escrevi um texto qualquer em que retratava o meu próprio medo, já escreveram um texto a pensar no meu próprio medo. Acho que o medo me rodeia, cresce e se multiplica, afecta os que me rodeiam, não fosse o medo uma constante da vida, que só acaba quando ela própria terminar também. Tento escrever o mais possível. Tenho de resistir à vontade inquestionável de te responder e dizer que também tenho medo de te magoar, de não te amar o suficiente, mas que tenho ainda mais medo de não acordar outro dia qualquer, num sitio qualquer, ao teu lado, sempre com medo de sermos descobertos, sempre com medo de gostarmos demais um do outro.
Já escrevi a mensagem. 160 caractéres não chegam para descrever tudo aquilo que o coração quer dizer e as mãos não acompanham (onde é que eu já li isto?).
Há uma coisa que me custa muito a aceitar. A pessoa que esteve comigo antes e que agora me culpa por eu ter sido feliz e me ter apaixonado por outra pessoa, disse uma vez, enrolado num discurso qualquer, que se eu não fosse o que desejava para si, ao menos que fosse para a pessoa que viesse a seguir. A esta hora deve-se estar a torturar por ter tido execrável ideia, mas...a verdade é que fui o melhor que sabia que conseguia ser. Peguei em todas aquelas coisas de que as pessoas tanto me acusam de ser e que dizem serem negativas e fui o que nunca esperei conseguir. Acho que ajudou o facto de eu realmente gostar de ti, do teu toque, do teu olhar, enfim, do teu ser, mesmo quando acordavas com ar de quem tinha acabado de entrar na Guerra das Estrelas e não as tinha conseguido apanhar.
Sò queria ser feliz e consegui-o, daí o meu aspecto optimista, nem sequer se trata de ser forte, mas sim verdadeiro e pouco melodramático, talvez porque saiba que gostas de mim e nunca te tenha abandonado daquele lugar, aqui, bem dentro de mim, onde sorrio, de cada vez que de ti me lembro.
Um dia qualquer, perceberás os meus textos, talvez até venhas a perceber porque me ria tanto, sem qualquer motivo, sem qualquer razão, sem qualquer complexo.Um dia. Não hoje. Talvez amanhã.

Wednesday, August 18, 2004

The Day After

Por onde começar, quando estamos vazios por dentro? Quando já nada faz sentido, como a Mafalda diz " e se sente perdido", mergulhado na minha prórpia solidão de uma cidade que me acolhe quando lá em cima me magoam tão fortemente e tão profundamente que nem os meus olhos são capazes de reagir ao nascer do sol, uma e outra vez.
Aqui há tempos escrevi um texto, "Amor Imperfeito" que por motivos que são alheios à minha pessoa ,que como já devem saber, não percebe nada destas novas tecnologias, não o consegui publicar ainda, neste espaço cheio de textos incoerentes, muitas vezes melodramáticos, muitas vezes profundos, pedaços de palavras que como a minha Mariana apontava, fragmentados. E sim, concordo plenamente contigo, Mariana. Fragementos, porque a minha vida apenas é composta por eles, cheios de tudo e de nada, como se a vida dependesse de um momento eterno, de um prazer intenso, de um sorriso contido. Hoje, não sei bem se faz alguma lógica publicá-lo, expô-lo e expor-me também a mim. Hoje não sei nada, "The more i grow the less i know". Sei apenas que não é a primeira vez que me olho ao espelho e vejo a mesma imagem reflectida e não pretendo cometer o mesmo erro e fazer desta experiência uma memória perdida, porque ela sempre é encontrada. Dizem que estas coisas não escolhem lugar,situação, corpo, ou música. Eu digo que adorei tudo enquanto foi vivido. Que segui os conselhos das pessoas que fui empatando ao longo da minha vida e entreguei-me com tudo o que tinha e tudo o que fui descobrindo, dentro de mim, através de ti.
Tenho tanta coisa para deitar cá para fora, tanta raiva contida, tanta paixão ressentida, tanto arrependimento hipócrita...Queria-te dizer que tenho saudades dos teus abraços, que o pouco tempo que o calendário contou, não corresponde àquilo que o meu vazio outrora desenhou, desenhar, pela primeira vez desenhar, desenhei um futuro em que eu acreditava, ao teu lado, contigo. As tuas palavras ainda continuam por aqui, dentro de mim a serem revistas para encontrar a razão para que de repente só existisse vazio onde outrora exista...As palavras não hão-de ser suficientes, nunca o são e eu poderia passar horas a comentar o afecto que criei por ti, como me fizeste esquecer o mundo que me rodeava e como eu gostei de o ter esquecido e de ser aquecido pelo teu ciúme matreiro. Este não há-de ser o último texto a falar de ti, porque eu sei que tu não voltas, porque permaneces em mim, aqui dentro, bem lá no fundo. Desta vez não estou a romantizar demasiado as coisas, a torná-las mais perfeitas, mais à imagem do meu sonho, que agora se encontra desfeito. Sei bem que isto não é o fim de nada, mas custa acreditar que entreguei a alma e o corpo, para que no fim só restasse eu, a contar as estrelas, preso numa estrada sem rumo, num caminho sem indicações, num vazio tão profundo que nem eu sei onde possa acabar.
Pois é Mariana, a vida é madrasta, já dizia a outra, prega-nos rasteiras, faz-nos felizes, faz-nos maus, cobardes, inconstantes, graciosos, belos, imperfeitos. Curiosamente um está sempre mergulhado no texto do outro, como se parte da mesma estória fizessem, como se parte do mesmo destino se tornassem. Só me lembro da fotografia que tiras-te e que guardei, à espera de te motrar tudo aquilo que tinha para te dar, à espera que me levasses contigo, como se dependesse de um olhar teu. Foi tão repentino, tão impessoal, tão frio que me levou para um lugar inóspito, que eu já conheci mas que esperei que tivesse desaparecido. Agora torturo-me a pensar em todas as razões para o insucesso, independentemente de ser assim que se escreve. Preciso de arranjar forças, seja em ti Mariana, seja num qualquer dos meus amigos que eu sei que só preciso de pegar no telemóvel que eles hão-de lá estar, assim como eu tive para eles.
Escrevi tanto e mesmo assim não disse nada, porque a alma ainda está magoada e as mãos não são rápidas o suficiente, para descreverem tudo aquilo que vai no coração, sem querer ser dramático de mais.
Antes da tua chegada eu achei que provavelmente não conseguiria gostar realmente de alguém, por todas aquelas razões que quem não sabe desconfia, mas assim que vi o teu olhar, deixei de me sentir, para passar a te perseguir, por entre os meus sonhos em que adormecia em paz, agarrado ao teu peito, onde afogava os meus pequenos tumores de adolescente e partilhava a estória da minha vida, patética, fútil, imperfeita, suja, imensa, rápida, incoerente, fragmentada.
Isto não há-de ser o fim do nada e eu ainda hei-de dar a volta e passar a gostar de alguém, não sei por quem, não sei onde, nem porquê. mas tenho fê e confiança nisso, assim como tive em ti.

Friday, July 30, 2004

Estranha Forma de Ser
Tanta coisa que queria passar para o papel virtual, raiz dos meus sonhos, caminho da minha desilusão, fonte da minha esperança. Tantos sentimentos encobertos, memórias esquecidas, acontecimentos sublimes. Como começar e por onde acabar? Hoje não quero músicas melancólicas que me hão-de transportar para os confins do meu quarto escuro, nem filmes pseudo-urbanos que parecem retratar os nossos problemas, mas nunca apresentam solucções.
" A felicidade é um caminho, nunca um fim". Chorei tanto a ouvir estas palavras, a ver-te a ser feliz, a ver-me a partilhar da tua felicidade, a ver-te simplesmente, por detrás da música da Adriana Calcanhoto, musa inspiradora para quem sofre de insónias, mão embaladora que nunca descansa. E foi a tua mão que me embalou durante todos estes anos. Não sei porque é que não te dediquei um post no meu singelo e tantas vezes ridículo blog e mesmo agora tens de o dividir com outra pessoa que também preenche os meus pensamentos antes de me deitar na cama, a minha cama. Gostava de te dizer que são tantas as vezes em que temo que não sejas feliz, que são tantas as vezes em que sei que não confias ou não queres confiar os teus problemas em mim, porque continuas a achar que sou pequenino e não posso nem preciso de suportar com os teus problemas, como se os das pessoas que me envolvem não fossem já de si suficientes. Estavas inconformávelmente bonita, com o teu sorriso esmagador e objecto de farsa para tantas depressões momêntaneas. Que sejas feliz, comigo ao meu lado, por debaixo da minha lágrima que nunca há-de deixar de te acompanhar, por mais longa que seja a estrada, caminho ou direcção, seja na Maia ou na Índia, o meu Amor por ti jamais terminará.
Isto deveria ser outro texto, mas não é, não consigo, tenho de continuar a escrever, a deitar cá para fora tudo e todos. De vez em quando temos amigos que passam por situações arrepiantes, pelas quais nunca queremos passar, muito menos que alguém de quem gostamos passe. E é aí que descobrimos o quão pequenos somos, porque não conseguimos evitar ou resolver qualquer acontecimento. Tudo está para além de nós, tudo nos supera. Tenho uma amiga que não está na sua melhor fase, que é alguém que prezo e admiro muito, que estimo, que adoro. Com ela passei todas aquelas coisas que tentamos evitar, todas aquelas coisas que nos deitam abaixo, todas aquelas coisas más e encantadoras que só nos tornam mais fortes. Esta é a minha maneira de te prestar apoio, de dizer que gosto muito de ti e de apesar de haver pouca coisa que possa fazer por ti, o meu ombro nunca te faltará, apesar de, e isto é um aparte para cortar o drama, o teu primo ter o mesmo feitio desconfiado que tu tens e insistes ter :P.
Bem, e agora em jeito de despedida, chegas tu. Já te disse tanto hoje e já ouvi tanto, também...A única coisa que gostaria de te ter feito e lutei sempre para que isso não acontecesse, era que te magoasse, porque sei que tantas e tantas vezes eu não me consigo entregar, que tenho medo de cair como tantas vezes caí, que tenho medo de muita coisa e incompreensívelmente esse medo é o que me fará sempre avançar em busca de algo melhor e sublime. Talvz tenha chegado o momento em que tenho de parar, em que tenho de me concentrar, porque eu gosto de ti, e isso é facto mais do que consumado, mas até onde é que eu sou capaz de ir por ti? Por mim e pelo meu coração agarrava em ti, cagava para o que toda a gente pudesse pensar, e partia, para bem longe, por entre os lençois e o carinho apertado. Mas a razão, devido a tudo e a todos, assume um papel marcante, importante. Eu não me quero prender, deixar de voar e sentir-me livre como sempre gostei de ser, mas também não te quero perder para um eu que se dá mais aos outros do que a si próprio. É que tu realmente tens muitas coisas boas. Eu posso tentar, eu vou tentar, não mudar, mas sim aperfeiçoar esta estranha forma de gostar. Gostava de construir o meu caminho contigo, é isso o que sinto, pouco a pouco, com força, com coragem, tentando apagar aquilo que existe de errado comigo, para que tudo o que eu tenha de bom possa vir ao de cima e sorrir, enfim. A verdade também é só uma, eu sou como sou, umas vezes gosto mais de ser assim do que de outras, haverá sempre quem me amará por ser assim, haverá sempre que me odiará pelo mesmo facto. Não posso mudar as pessoas, nem tão pouco mudar esta estranha forma de ser que me faz chorar nos momentos mais incompreendidos e magoar que gosto, por sinal, muito e até não merecia. Eu gosto de ti da maneira que és, da maneira que falas, da maneira que ages, da maneira que me tratas e tou certo que com o tempo acabarás por me aceitar, implicando isso algo mais forte e próximo, ou não. Haja coragem, haja mimo, haja confiança, haja paixão, haja bom senso.

Sexta, nao esta, mas a anterior, lol julho 2004

Sunday, July 18, 2004

 
Ar
 
Não te quero dizer nada acerca de ti, acerca de mim, acerca de nós. Só me queria entregar por completo a ti, aqui, neste momento, por mais de um segundo. O teclado não é meu, já nada me pertence, nem o corpo vasculhado, nem a alma conpurscada. Olho para o lado e há sempre alguém que segue os meus passos que me tenta controlar, tornar mais pequeno, mais controlado, mais impremeável. Há sempre alguém que me pressiona, pressiona, pressiona até eu desistir e a força cair.
Que não sou de ñinguém, que nunca hei-de ser, mas que não me tentem prender, porque eu quero ser sempre estrela que não pára, praia nunca conquistada, ser inocente e seguro, com um copo de Vodka e um sorriso como cartão de visita.
E o telefone que não pára, que me tira o sono, que me mata. "onde estás?",  nunca um "como tás?", nunca um interesse comigo, mas um interesse em mim. E preco-me entre escritos e pensamentos inúteis, mensagens poéticas e sentimentos arrancados sabe-se lá de onde.
Vou para onde me levam, discuto, argumento, perco. E de repente encontro espaço, lugar, ar, para encontrar alguém que eu sinto que sempre conheci. E se não vivemos todos para sentir alguma coisa, seja ela amor ou raiva, razão perdida algures entre o nosso mártir S. Sebastião, então não temos propósito e somos apenas mais um ser arquitectado para o nada, para o fundo, par o medo. E medo corroi-nos, torna-nos fracos, arrasa-nos e deixa-nos perdidos no escuro do noss quarto, à noite quando os nosss fantasmas não nos deixam dormir e tudo parece fluir.
Tudo se parece como uma bomba que nunca chega a explodir, um barulho que não cessa, um texto sem alma.
Parece-nos tudo tão bom do outro lado, sempre melhor, sempre maior. Nunca nos contentmos com o que temos, com o que sentimos, com o que queremos, que quando nos damos conta já nada queremos, já nada sentimos, já nada temos. Eu queria ter-te a ti, que moras em parte indefinida da minha razão, que me tornas seguro, que me afugentas õs receios e me deixas absorvido nas saudades de quem nunca conheci na totalidade. Será falta, será carência, será algo de mais forte.
As pessoas hão-de sempre por entraves, dizer que está errado, que eu sempre hei-de merecer melhor, que eu sempre terei melhor, que nunca o mereci, que sou falso e não respeito ninguém, que afinal sou uma farsa de mim próprio, no fundo, apenas por que não as escolhi. Desta vez não quero aprovações, considerações ou conceitos. Quero ar, espaço, confiança. Quero poder mandar na minha vida, sem que ninguém me impeça, escolher a cor da minha t-shirt sem que ninguém me julgue, amar os castelos perdidos do verão passado, vender um sorriso atrás da barraquinha do artesanato.
Hei-de sempre desiludir muita gente, enganar, amar e quem continuar a gostar, há-de ficar. Quem me respeitar, quem me deixar respirar, algures entre Èvora e a estação de S. Bento.
Não é um recado dirigido somente a ti, que lÊs e não percebes a volta dos meus textos nem o porquê de não te amar, nem a ti que me enches de perguntas como se a vida já não fosse ela a própria incógnita, como se tudo tivesse resposta, como se eu tivesse todas as respostas. È dirigido, mais uma vez, a todos que gostam de mim, pelo que eu sou, pelo que eu mostro e por aquilo que eles conhecem e mostram conhecer. O  resto são esquissos, riscos de pessoas que não interessam, que me tentam, mas a quem nunca há-de ser dada uma hipótese, simplesmente...porque nem eu o sei explicar, nem preciso, ninguém precisa. Nem tu, nem eu,  como viemos parar, como iremos acabar ou sequer começar que é sempre o mais complicado. Apenas sei que gostava de ser muito feliz contigo e que o medo, esse continua cá sempre, mas sempre decrescendo, porque eu sei e tenho plena consciência que tudo o que fiz, pode não ter sido bem feito, mas foi tudo sentido e isto há-de ser para ti e tu saberás quem és, que não me sinto culpado por nada que te tenha feito, porque agora eu tenho a certeza que nunca te quis e se alguém me disse que era preciso deixar os fantasmas do passado para trás, tu já para lá foste, há algum tempo.
 

Tuesday, July 13, 2004

Afinal porque é que se chora? Porque é que choro? Apago a luz e tudo estremece à minha volta. "Enfim" disse ela. É engraçado como uma palavra nos pode magoar, sem ser directamente dirigida a nós. Será que soubesse, não a proferia?Perco-me em pensamentos que não pertencem à minha competência, evoco memórias antigas e tento fugir das novas, a todo o custo, ao máximo custo. Já não sei porque choro, já não sei porque de vez em quando me transformo melodramático o suficiente para meter nojo ao mais puritano e inocente dos seres.
"Enfim". E ali fiquei eu, estático, exasperado perante tal comentário que me feriu a alma e me arrasou como se tratasse de algum fenómeno fisicamente mais violento. Há coisas que nunca se esquecem, que nunca devem ser esquecidas, que nunca hão-de ser esquecidas. De facto, o problema é que as pessoas vivem permanentemente a exaltar os defeitos que veêm nos outros, procurando assim ocultar os seus próprios defeitos sem perceberem que isso também faz parte delas, que as torna mais humanas e que faz parte disso, toda a complexidade existente na vida.
A mim, faz-me confusão como é que as pessoas escrevem, nomeiam e constroiem planos, trajectos, esquissos de futuros de vidas que não lhes pertencem na totalidade. Ensinam-nos que o amor é a coisa mais bonita à face da terra e do resto da galáxia, mas é tudo tão castrante à nossa volta, que quando o sentimos e o vivemos, há sempre alguém ou algo que nos impede de o realizarmos e de o tornarmos mais real. Afinal quem pode repreender o coração, marcar-lhe um processo? Quem decide quem devemos amar, de que maneira, em que grau, com que força? È preciso ter muita coragem para amar, seja quem for. È preciso ter coragem para viver, viver o amor, senti-lo sem que isso pareça um pecado, sem que isso faça de nós inumanos, seres carnais e mal-formados, talvez patéticos e infantis. A minha obessessão com o amor não vem de agora, mas nasceu comigo e viaja comigo, independentemente do meu destino ou direcção.
Houve tempos em que tentei evitar o amor, fiz-lhe frente e pensei ter vencido a grande batalha que sempre se advinhou, mas nunca chegou. Cortei com o passado, esquecendo como dizia o outro, que "podemos cortar com o passado, mas o passado não corta connosco". Penso que já escrevi isto, por aí, algures. Depois de o provar, de o saborear e de o perder novamente, tentei sempre encontrá-lo noutro corpo. senti-me corajoso o suficiente para cometer tal patétice inconsciente. Agora que corro sem rumo, vejo-me a enfrentar sozinho os fantasmas que eu teimo em encantar, de dia e de noite, umas vezes ao telefone, outras ao almoço.
Deviamos todos ter o direito de ser felizes, da maneira como queremos e como somos de facto felizes, desde que a nossa liberdade não infrigísse com a liberdade dos outros. Deviamos poder amar sem obstáculos, comodismos, ou preconceitos, tudo e todos, para que o bem podesse passar a ser visto como uma moda e o mundo, sei lá, se transformasse naquele pequeno mundo que todos temos vergonha em admitir que gostariamos de viver, perfeito. Que seja utópico, mas levou tempo até a aceitar esta verdade como facto.
No fundo ela apenas disse "enfim", mas enfim porquê afinal? Desde quando foi-nos dado o direito de julgar os outros apenas porque não gostamos todos de comprar a roupa no mesmo sitio, ou dizer ténis em vez de sapatilhas, ou fumar uns charros em vez de SG Ventil? Como é que nós, seres completamente imperfeitos e arrogantes nos achamos com posse suficiente das nossas capacidades, para nos atrevermos a olhar sequer para o modo de vida do colega que partilha a mesma mesa connosco na aula de Grandes Temas da História da Cultura Portuguesa? Tantas perguntas, para tão poucas respostas. mas eu só queria uma solucção. E vivo assim, com terror de este amor que possa vir a sentir, por alguém que não mereça, por alguém que não contribua para o meu enrequecimento enquanto pessoa, para alguém que não me aceite e seja por fim, aceite.
O link do meu blog faz parte de uma música. Chama-se Shed my skin e tem um refrão, qq coisa como " I don´t mind what people say, no i won´t look back for another day, gonna shed my skin and walk away, walk away, walk away...". Ainda ando à procura desse dia, em que terei tomates o suficiente para cometer tal proeza, na sua totalidade. Será que esse dia chega?

12 de julho 2004
Inspiração, onde andas afinal? Perdi o objectivo dos meus textos há já algum tempo, vivo rodeado de corpos que me tentam, me provacam, me desejam.E o amor, sempre o amor, esse sentimento que todos queremos voltar a sentir, apesar de todos acreditarmos que só amamos verdadeiramente uma vez, nesta vida. Há pessoas que nos inspiram, que nos amam, que nos odeiam e que irradiam uma luz imensa capaz de nos fazer escrever, criar, sonhar durante horas seguidas, repletas de histórias de princesas e dragões. Dizem que os meus textos estão repletos de "deles" e "delas", personagens criadas que influênciam a forma como lidamos com o meio que nos rodeia, por mais insconsciente que sejamos perante tal facto. Eu respondo que a vida também é feita "deles" e "delas", que o amor é escasso e impuro, que a vida é breve e paradoxal, que o desejo é humano e violento.
E assim vou, por entre algum desses caminhos que se me apresentam, criando personagens que falem da minha estória, da nossa História, porque falar de nós prórprios é sempre tão difícil e o limite entre tudo e todos parece tão baço..."Tive amigos que morriam, amigos que partiam, outros quebravam o seu rosto contra o tempo. Odiei o que era fácil, procurei-te na luz, no mar, no vento" e continuo a procurar-te dentro dos meus sonhos, para que a inspiração não cesse e o ar, não termine, por fim. Gostava de te encontrar, no escuro, a sorrir para mim, só para mim, para que o resto do mundo ficasse mudo com tanta coragem, para que o resto do mundo ficasse surdo perante tanta paixão, porque é disso que se trata, no fundo. Às vezes acho que encontrei a cura para cessar a tua busca, que basta uma bebida e tudo termina e nada persiste, um abraço e tudo está esquecido, um olhar e já nada deverá acontecer. Pergunto-me se procuro no sítio errado, se espero demasiado das pessoas, se alguma vez poderei dar o que eu quero receber a alguém, se algum dia o sonho vai terminar e a esperança desvanecer. E há-de ser sempre o sorriso a luz ao fundo do túnel, caminho perdido tantas vezes esquecido. Quero que seja junto ao mar, com o sol a iluminar-nos como se aprovasse e tudo seja tal e qual tantas e todas as vezes sonhei. Quero que o corpo seja húmido, fácil de escavar a fim de encontrar rapidamente a alma e nunca mais de lá sair, ser para sempre prisioneiro e nunca pedir para voltar à realidade. E por isso peço para não acordar mais, para viver sempre a tua busca e a tua perda, tantas vezes perante o meu olhar.
Já te confundi tantas vezes, por algum gesto, por alguma palavra, mas chego sempre à conclusão que tu serás sempre mais e melhor do que eu sonhei e continuo a sonhar. Que precise de acordar e parar de amar esta alucinação patética é problema para o qual não encontro solucção, nem quero. Prefiro ir assim, sorrindo para tudo e para todos, tentando ajudar quem posso e quem devo e preparando-me para a tua chegada, que sinto, será eterna. E não, não me importo de esperar por ti, por cima deste mundo que tanto nos menospreza e conjectura hipóteses para a nossa existência fraca, suja, real.
A noite há-de sempre me acompanhar ao longo da minha jornada, onde me tornei sombra do meu próprio desejo, onde me procuro em cada monumento, em cada calçada, em cada música, em cada dança, em cada escada, em cada olhar. Acho que no fundo, lá no fundo, só precisava de um abraço, teu, para que o mundo voltasse a girar e tudo caísse em graça, como todos achamos que merecemos. O país já saiu da crise, se é que alguma vez lá esteve, o Euro 2004 foi um sucesso, o amor há-de retornar ao seu posto, de onde nunca deveria ter saído. Haja fê.

11, Julho de 2004

Thursday, July 08, 2004

E foi assim que toda a magia épica chegou ao fim. Tivémos tão perto do sonho, tão perto do céu...Durante dias, semanas, vivemos em constante festa, mostramos a beleza do nosso país, colamo-nos ao televisor a ver a bola passar e elevamos a nossa auto-estima a níveis nunca programados, quanto mais sonhados!
Fui contra o Euro 2004 e a sua realização no nosso pequenino Portugal, mas soube bem não nos ouvir a regalar os nossos defeitos e a nossa miudez e a auto-proclamar-nos os melhores, quando muitas vezes o somos, de facto.
A verdade é que explodimos dentro de nós próprios, passamos a não ligar ao que o vizinho do lado faz, ao que o ministro pensa e para onde vai, libertamo-nos de preconceitos, reaprendemos a ser simpáticos e hospitaleiros e passamos a exaltar a bandeira nacional, esse símbolo carregado de história, por vezes não muito bonita, mas a nossa história! E foi tão bonito ver as janelas, as varandas, as caras, a alma pintada com as cores, tal vez da bandeira, talvez do coração. Foi bonito ver as pessoas sem ter medo de dizer que gostavam, de Portugal sem serem atacadas, ou sentirem-se rebaixadas.
Há que agradecer ao Ronaldo, ao Ruizinhu, ao Figo e a todos os outros, pelos pulos que nos fizeram dar no sofá, pelas bebedeiras que apanhamos, pelos sustos, pela alegria respirada, pelo amor compartilhado.
O Euro deixou-nos muito debilitados financeiro e provavelmente não compensou económicamente e apesar de nao termos ganho, serviu para tantas outras coisas que talvez sejam o sinal de mundança na mentalidade do nosso país. Temos de acreditar em nós, termos força para acreditarmos em nós, que somos tão bons como os ingleses espanhois ou alemães, que temos coragem para o ser. Que o nosso primeiro ministro vai lá para fora gerir o orçamento comunitário porque é de facto bom naquilo que faz, naquilo que gere e da maneira que gere. Vamos todos ajudar Portugal a crescer e não tirar as bandeiras da nossa janela, fazer força para crescermos, ter coragem para fazer força. E sermos, n fim, como uma força que ninguém pode parar e fazer tudo com uma fome que ninguém pode matar, nunca nos saciando, tentando ser sempre mais e melhor.
Vamos fazer isso tudo e muito mais...juntos.
:D

Saturday, July 03, 2004

"Apetecia-me um Gelado", apetecia-me tanto um gelado, fugir contigo e nunca mais ter de te enfrentar naqueles sonhos que tantas vezes não são saudáveis, apenas porque tu apareces. Mas hoje só me apetece um gelado, frio, cremoso, repleto de calorias e de todas aquelas pequenas coisas que nos fazem mal, apenas porque sabem bem.
Hoje não me quero preocupar com o exame que ainda há-de vir, se os meus pais vão descobrir, se já sabem, se saberão o mundo que criei no meio da minha ilusão e desejo, se alguém é injusto ou arrogante comigo, ou se sempre conseguirei fazer alguma coisa pelo Mundo, como tantas vezes sonho.
Só isso. Só me apetecia sentar no sofá,e amar-me, a mim e ao gelado, ser egoísta e não partilhar com ninguém, ouvir uma música da ou da Nelly e deixar-me adormecer por todas aquelas pessoas que confiam e gostam de mim. E cada vez me surpreendo mais, tantas vezes pela negativa, outras pela positiva. São menos, mas são tão mais importantes. De repente alguma coisa boa acontece, somos premiados, glorificados e reconhecidos e de repente todo aquele esforço merece algum sentido, rumo ou destino.
Hoje foi um dia daqueles, surpreendesnte, em que acordamos com a maior dor de cabeça da nossa vida, porque o licor de xinês e o Baileys da noite anterior não foi devidamente absorvido e continua a dar sinal de vida, no sangue. E de repente tudo muda, tudo se inverte, a apatia dá lugar a alegria, esse nobre sentimento que nem todos conseguem sentir, que nem todos querem sentir. E acontece. A dor de cabeça já não existe, sentimo-nos bem, iguais, próprios, seguros e confiantes das nossas potencialidades, sentimo-nos parte de um grupo, de um todo. E sabe tão bem! A surpresa, a emoção, as palmas, os abraços, os sorrisos, as palavras, os gestos...
È tão bom sentirmo-nos bem com o q somos, com o que conseguimos ser, sabe tão gostarmos de viver, sabe tao bem a vida ter algum significado e rendimento, talvez compensação. Sabe tão bem sorrir, só sorrir.
Um gelado agora calharia bem, com muito chocolate, porque sou naturalmente guloso...porque estou feliz, muito! DEviamos ser todos felizes, deviamos fazer todos, os outros felizes, deviamos aprender a aprender a ser felizes. Deixar as tristezas, complicações e angústias de lado e ser de novo e sempre criança, grande ou pequena, não é importante. Ver as estrelas, apreciar a natureza, ouvir o mar confidente, dar um abraço aquele nosso amigo que sofre por dentro porque a namorada por quem fez tudo, o largou por outro, na pior altura, no pior momento. Vamos correr, e beber daquele sol que sorri apenas para nós e lembrar que as aulas só começam de novo em Setembro, perder-nos na noite e fazer discursos encorajadores e positivos.Vamo-nos largar de preconceitos e imaginar que somos perfeitos e dar a mão a toda a gente, vamo-nos respeitar, vamos fazer o que toda a gent quiser, sorrindo, amando, pisando todas as adversidades da vida, Vamos construi textos imaginativos plenos de resistÊnica À depressão e ouvir a Natalie a cantar "Butterflies, cut the stomach outand hand it over, butterflies, my heart will be the bridge that you walk over".
Afinal, Não queremos todos o mesmo?

Tuesday, June 29, 2004

Que luz, que infíma música a embalar-me no desassossego dos meus sonhos que nunca se tornarão realidade. Apago o rádio, apago a luz, apago-me a mim. Tudo o resto é ´pó, tudo o resto sâo fronteiras entre mim e os outros que ainda não percebi se devem ser quebradas. O maor continua a guiar-me, através do sol, do azul, das tuas músicas sem sentido, da luz que me alcança e se apodera de mim, como se não eu fosse nada nem ninguém, alma solitária que nunca deixei de conseguir ser. Em breve completo mais uma etapa, em breve caio, levanto-me, subo e desço, mais um sentimento, uma vida, um sorriso, quem sabe o teu, perdido algures entre o egoísmo com que não te dás e as noites fugazes em que encontras cura para a tua incapacidade de sentires e seres sentida.
Escrevo para ti e escrevo para ti, como se nunca te tivesse conhecido, como se a tua Estrela nunca me tivesse guiado, embrerenhado neste sentimento que me continuam a dizer que é bonito e vale a pena ser vivido. Lá fora, espera-me um mundo que enfrento, com cautela, medo e observação, com um sorriso na alma que me denuncia, com um peso nas costas. Vivo porque tenho de viver, sobrevivo, porque arranjo forças, por aí, em alguém que giosta de mim e não se importa se as casas que desenho são grandes, pequenas, que não se importa se gosto de molhar a bolacha no leite ou rir ou cantar ou ser teu logo pela manhã.
A História é simples, a História é banal, a minha estória +e verdadeira, porque não me liberto dela. poruqe nunca te tive, entre mim, nos meus braços, entre o meu peito, sem os risos dos incautos, sem a inveja dos que se olham ao espelho e não veêm metade do que sonham. E que serei eu no meio deste círculo que não gira, que não permanece, que apenas se absorve na esperança de vibrar, de contentamento, de amor.
Queria ser sempre teu e tu minha, pegar na minha mota e fazer contigo o que ninguém ,nem tu, fizeram comigo, mergulhar no teu sangue, afogar-me nos teus olhos, mentir-te bem alto. Queria ser luz, tua. Fogo, teu. Amor, só amor. Conhecê-lo, cheirá-lo, vê-lo, falar-lhe todas as manhãs, amar-te.
Que luz, que infíma luz , que me arrasa, me acende e me apaga, para no fim me deixar só, vagabundo. Queria ser vagabundo contigo, dar-te a mão e nunca te perder, viver e adormecer, assim, pequeno e frágil, por entre os meus arco-íris de infância. Queria ser teu, queria tanto ser teu...Lembro-me de todas as vezes em que te perdi e fugi, de ti,assim, loira, ruiva, morena entre uma saia da moda e um cigarro de uma marca qualquer.
Ao pé de ti, nada era romântico, bonito ou supérfulo. A vida era rasteira, fria, fácil e desprovida, de tudo e de todos. Não era mentira, era tudo ali ao prazer da carne, do sexo, da cama e da penetração, fugaz, limpa, como se os nossos corpos não se pudessem destruir e eu fosse ali, naquele momento, cinco vezes mais do que quando te amaei, numa praia qualquer, a minha Praia, ao som de uma qualquewr música irritante. E eu ia ao som dela, de ti, "ès o rapaz que nasceu entre a minha estrela", cantavas-me, e era eu que te percorria, com as mãos, com prazer, com o coração, com os olhos. Vazios, por nunca mais te terem visto, felizes por não se cegarem com a imagem da tua memória, amantes de tudo o que tenha o teu toque, fugaz e impávido.
Escrevo para que tu ninca voltes, sem eu tar acordado, levar-te para a cama e nunca mais acordar, sem ti, sem mim. Para que a fala assuma o seu papel com coragem, neste mundo de "competências e técnicas", onde tudo parece fácil demais, e Às vezes até é.

Miguel Praia