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Monday, July 03, 2006

Promiscuidade

Estava lá tudo. As campainhas intermináveis, a dor de cabeça que se fez maldita, a chuva que nunca limpa a alma, apenas a evoca a fim de a transformar em pó. O sexo parou para se tornar nesse pecado banhado na culpa de se sentir adormecido, onde o café não é ajuda para aquilo que nunca se soube fazer.
A promiscuidade é a forma mais material do sentimento adverso e real, da humanidade resplandecente, da conseguida loucura pela sedução audiovisual e do fingimento dos olhares. È o fechar de olhos por entre a luminosidade e esse brilhosinho nos olhos que faz saltar essa carga adormecida de roupas rasgadas e sexo contra a parede, esse enrodilhar de dedos e unhas que nunca souberam ser inocentes, mas sempre o desejaram. Criaram-nos na culpa da consciência, da vida para o pecado com o inferno quente sempre em mente.
Quente são os corpos durante essas incursões vadias, por entre essa corrente que arrasta e nos atrasa. O melhor é negar aquilo que somos e continuar essa longa dança que nos há-de deixar magicamente tontos e desfeitos, para que a entrega seja mais fácil e permeável.
E depois, restam-nos as tarde de uma semana qualquer passada num banco de jardim, a pensar na solidão que nos aquece, mesmo quando foi convidada por nós. Queríamos o mar ali, ao lado, a fim de repousarmos. Queríamos que a viagem à lua fosse nossa, o jantar se transformasse em missão cumprida, a canção nunca deixasse de ser tocada e que a lágrima fosse mútua.
A frieza que advém da falta deste processo é de facto inalterável. Nunca deixámos de conseguir escapar dessa tristeza impossível, de perspectivar nesse grande livro sem páginas em branco.
Somos nós perdidos nesse lamento, nessa perda nunca conseguida, nesse sexo nunca concretizado. Queremos a viagem ao imaginário a fim de perdermos o rasto a esta realidade onde tudo é feito à imagem de quem está ao nosso lado. Somos comandados por outros e esses outros somos nós também.
A promiscuidade não existe. Só o desejo de sermos quem nunca fomos.