Followers

Monday, August 07, 2006

Abrupto

Forcei-te a comer o que não querias. Essa tua lascividade enebriante que sempre me arrepiara deixou de me meter medo. Conquistei o que era meu por direito e agora, não há retorno possível ou imaginário.
Obriguei-te a beber o café para que não adormecesses enquanto te relato a pureza dos meus sentimentos, o tipo de inocência que sempre gostaste de ter, mas que nunca sentiste como tua. Querias que o álcool não te apagasse, mas foi o sexo que tomou conta de tudo.
Por isso, sem mais nada a proferir, cortei essa nobre intenção que nos ligava, esse fazer de conta amarrado a uma viola gasta e polida por canções que não fazem querer acordar amanhã. Esse amanhã que se torna hoje, sempre que te vejo por entre os olhos da depressão alheia. Reparei tanto nesse pormenor que era o desejar que tudo fosse diferente, que acabei longe desse meu sonho irrealizável, da noite quente e aconchegante, da vodka pura como tu nunca foste. Passei a olhar para ti, como o retrato que nunca tive, a vítima anunciada que nunca quis ser, o falhado que sou quando não consigo salvar a profecia anunciada.
Não consigo nem quero mais adormecer ao teu lado. O teu cheiro nauseabundo de corpos espalhados e fotografias espelhadas faz-me ter asco da própria carne que como. Em carne viva fico, em carne viva me transformo, carne viva de que sou feito. Pisarei sempre a intencionalidade com que dizes que nada foi feito.
Visonei tantas vezes essa foto-novela que me tornei espectador da minha própria morte. É assim que tudo se quer. Abrupto.