Followers

Friday, April 25, 2008

Extinção VIII



Percorri mundos perdidos nessa busca infindável pela essência que fugiu desse teu corpo , que eu tanto amava.
Embora consciente dessa incompleta fusão, tenho permanecido sempre nessa esperança de voltar a rever o olhar que tanto me iluminava.
Devia contentar-me com as memórias, que são bem mais do que muitas pessoas provavelmente sonharam em viver, mas sou feita dessa matéria que corre sempre pelo impossível, em todos os lugares.
Já não podemos dançar, já não podemos correr nem sequer brincar ao quem é quem nas esplanadas da antiga expo.
Contigo, fui sempre muito mais do que esperava ser. E esperava mais, agora que estou perdida sem ti, mesmo sabendo que tu não sabes que eu te perdoo, em todas as ocasiões em que permanço sem ti.
Queres-me, ainda?
Agora que não dizes mais que amas o meu corpo, que não me abraças quando está frio, que não me fazes vir entre múltiplos elogios, onde só o amor contigo se tornava na foda mais íntima que alguém como eu podia ter.
Não me tratavas como se sempre fosse o meu aniversário, mas eu sentia-me especial, mesmo quando eles diziam que tu haverias de voltar a gostar de costas largas e perfeitas, como de uma droga se tratasse.
Já me tentararam convencer de tudo. Se soubesses...
Eu sei.
Disseram-me que estavas morto, que tinhas ido ter com a minha mãe, nesse lugar secreto que ninguém quer alcançar, mas que todos acabamos por chegar.
Mesmo ele, que foi o secreto causador de toda a morte que paira na minha vida, me diz que tu já não estás connosco, de forma nenhuma. Corre comigo para o cemitério, apresenta-me o lugar onde supostamente sempre estiveste e entrega-me um cd do Caetano Veloso. Ainda lhe pergunto se ele estará a gozar comigo, mas ele diz naquele sorriso de criança mal criada, que é para eu ter consciencia que nunca mais terei aquilo que lhe acabei por roubar.
Dizias-me tu sempre, que os homossexuais, tal como as mulheres, não se de extrema confiança. Viram a personalidade no momento em que lhes convém e como passam uma vida de reflexões sobre a melhor postura social, só mostram aquilo que querem e quando querem.
Mas o que sabe ele, para além de gostar de ti, menos do que eu? Entro em casa, acendo um charro de uma merda qualquer que comprei pelo caminho e coloco o cd.
O Caetano canta “chega de saudade”, mas eu não sei o que fazer com ela. Sinto-me desnorteada, e massivamente carente e sozinha. Bem sozinha.
Deixei de acreditar em toda a gente e acabei a desconfiar de mim. Nem as minhas lágrimas suporto mais, por isso, desligo a luz na esperança ténue de não ver sequer a minha sombra.
Como me repetem que morreste, se ainda ontem passei por ti? Estavas na posição estática de sempre, mas novamente com a expressão de que me ouvirias, como sempre.
E eu que não sei o que fazer com esta liberdade que se me foi entregue. Apesar de ter consciencia que estou perto da insanidade mental sei ainda o que quero ao contrário da incompreendida da tua amiga Clarice. Não era ela que dizia, e tu repetias, “liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome”?
Todos sabem o que eu quero, por entre estes dias chuvosos, onde hei-de me tornar a única que esperará por ti, mais forte do que alguma vez fui. Talvez seja por este processo que teremos todos de passar, a fim de conseguirmos coragem de encararmos quem somos. Não sei. A merda que comprei é tão má que me enjoa facilmente. Alterno entre procurar por um novo eu e por amar a porra de situação em que estou. E é disso que me culpam, de me ter acomodado à tua ausência e de arranjar aí a justificação para me abstrair da realidade que ninguém quer ver.
Toda a gente me deixou e por isso, ninguém me vê chorar. Porra para eles, que se dividem em géneros, sexos, camas e falsa inocência. Querem conceituar Agustina, como quem conceitua Lídia Jorge, sem perceber que a esquemática da narração difere em meticulosos pontos, já que as pessoas sáo todas diferentes.
Trouxe um álbum de fotografias dele contigo. Lá nesse nordeste brasileiro, onde o tráfico sexual predomina e domina todas as famílias. Poses de felicidade tão transparente como a água. Não me incomoda, apenas me subtrai. Se voltasses, ficarias novamente comigo?
Talvez.
Talvez nunca me respondesses e talvez nunca voltes. Preciso de um final fechado neste texto interminável e que carece de falta de precisão.
Quando morreres, levas-me contigo?

Best Friend Death Cab for Cutie . Soul meets bodie