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Monday, October 09, 2006

Falência

Deixei de pensar e passei a sorrir, por entre todos aqueles ínfimos momentos em que não me lembro da ausência do teu ser que transbordava sempre que estavas ao meu lado.
Pensei em não escrever, em guardar para mim a sede da inocência perdida, da idade adolescente que achei que nunca chegaria a terminar. Tudo foi elevado, em determinado momento. É o cão que faz demasiado barulho lá fora, no meio da noite escura e crua que se tem revelado a melhor aliada na luta infinita contra as insónias aclamadas.
Falámos do nome que demos, do nome que teríamos, da cor que nunca perderíamos. Ensinei-te a natureza morta do olhar recíproco, a luz vaga da chama quando cessa, o final do cessar desse enjoo matinal que é a mentira chapada por entre o pão que nos torna um pouco mais do que bimbos.
Pensei em escrever sobre o início e sobre a música que nos guiava, a minha decisão sempre suprema, a minha voz sempre mais alta. Desafiei-te a seres mais e perdi nessa frustração banhada em dor que nos traz pouco mais do que a solidão nobre e orgulhosa. Tudo acabaria por ser um fim, um negócio à parte para o qual pouco tivemos a negociar. Havia o fio, havia o verbo e havia o segredo de que sempre seriamos mais para nós do que para quem viesse. Morremos abraçados e foi aí que acordei, por entre esse assobio que anunciava que há data para tudo aquilo que é sobejamente bom acabar.
A amizade, essa, é algo de muito mais macabro para ter lugar. Baseada na falta de sexo e tesão, é pouco mais do que paixão amargurada, risco no limite sensorial nunca escutado.
Tento não me perder nessa lembrança vã daquilo que já consegui sonhar que pudéssemos ser, quando estava envolto no gelo e na vodka e só a tua imagem me sustinha a respiração e para me acordar desse ultimato. Afinal havia uma razão grandiosa para voltar e investir, algo que renderia tempo e afecto, noção de confiança e calibre económico.
Tínhamos um nome, demos um nome a tudo. Ao mundo construído sobre a base da minha vida e das pessoas que me rodeavam, um nome para aquilo que nos segurava e acompanhava, que me fazia voltar sempre que achava que não era a minha voz,. De facto, que escutavas. Essa paixão turbulenta deixou-me mais apagado do que nunca, a precisar do carinho dos outros, apenas porque me habituei ao teu.
Esqueci-me do nome. Do nosso nome, aquele que sempre juraste em manter.

“Conheces o nome que te deram, não conheces o nome que tens”

in Livro das Evidências