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Wednesday, June 21, 2006

Verdade

È incrível como é que a nossa percepção é capaz de limitar em campos tão díspares. Conhecemos o que queremos, dentro de uma escolha inconscientemente seleccionada. Não ponho em causa que a difinição de Jeans não esteja correcta, de facto. Para este a percepção era constituída pelas crenças incutidas pelos nossos malogrados encarregados de educação (palavra rara esta), pela cultura em que nos reproduzimos e pela educação que recebemos. A partir daqui é fácil compreendermos que a nossa realidade não é mais do que uma forma análoga de um processo consternação por parte de todas as estruturas que visionamos diariamente. Nunca vemos o que queremos ver, mas evitamos sempre o que nunca haveremos de perspectivar. È assim que a realidade se constrói, através de imagens constituídas pela parcialidade da nossa objectiva.
È a partir deste processo de experienciação que toda a realidade que julgámos verdadeira se constrói. E será também por isso que muitas vezes não damos a verdadeira e única hipótese a algo ou alguém para mostrar o que vale e se realmente esse algo vai de encontro aos nossos objectivos. È por isso que nunca daremos hipótese à fracassada(o) do nosso grupo de conhecidos que nos convide para um café ou aos filmes portugueses, a fim de eles poderem mostrar que o cinema nacional não se faz só de sexo e de argumentos pseudo-intelectuais(desta também duvido).
Aliás, é de facto o cinema quem mais tem de conviver com esta dura insegurança. Um filme nunca poderá ser levado a sério se o Tom Hanks não estiver presente nos créditos principais ou se a Júlia Roberts não nos fizer sorrir. Se nos mostrarem um filme em formato de animação ou baseado nessa contra-corrente que é a banda desenhada, teremos sempre a sensação e o sentimento inscrito de que estaremos inevitavelmente a regressar à idade infantil. E temos todos tanto medo que isso aconteça...
Será talvez por isso que filmes cruciais como “V de Vingança” nunca terão o reconhecimento massivo que outros filmes têm e escrevo isto numa altura em que este facto é dado assente. Primeiro por ser um filme inspirado numa banda-desenhada o que reporta a audiência ignorante para uma obra infantil e segundo porque como nem sequer se trata desse tipo de manifestação artística, não servirá sequer para comer umas quantas pipocas caramelizadas.
É então que perdemos uma das obras mais importantes dos últimos anos e que no futuro se tornará em mais um objecto de culto incorporado numa elite que pouco poderá fazer com tanta informação.
Começando por iniciar toda esta conjectura, importa saber que a banda-desenhada “V for Vendetta” no seu título original foi iniciada em 1982 por David Lloyd. A primeira característica, é que não existe um herói, mas sim uma personagem central, que apesar de parecer inicialmente mais uma personagem atormentada, é antes o ponto fulcral de uma profunda discussão sobre os limites da humanidade e da escolha pessoal, num cenário cinzento e sombrio muito distante das outras personagens normalmente recriadas. Esta personagem é ainda e citando a revista de cinema Premiere “retrato de um mundo negro, refracção distorcida da conservadora Inglaterra Tatcheriana”, não passando de um suposto herói do qual nunca vemos o rosto e que acaba por se apresentar mais próximo do conceito que todos nós temos de terrorista.
Signo esse que é bom de ser iniciado antes de qualquer análise. Terrorista é aquele que segundo o dicionário português “é o uso de violência, física ou psicológica, por indivíduos, ou grupos políticos, contra a ordem estabelecida. Entende-se, no entanto, que uma dada ordem pública também possa ser terrorista na medida em que faça uso dos mesmos meios, a violência, para atingir seus fins”. Constatámos portanto que o mundo a que chamamos de ocidental é pleno em terroristas, já que as principais potências agem exactamente como aqui o terrorismo é descrito.


Regressando à obra cinematográfica, esta age de maneira independente da proposta apresentada na banda-desenhada. Aqui, o pano de fundo será certamente a Grâ-Bretanha, embora num futuro alternativa, onde esta é governada por fascistas, sendo uma alusão directa ao regime americano. Aqui também o poder se instítuiu por força a implementar o medo na sociedade, numa corrente de mentiras a fim de darem a entender às massas, sedentas de medo e ingenuidade, que aquelas forças que apostam na violência são a única forma de levar o país a bom porto. O que vemos ao longo do filme, para além da visível dicotomia entre democracia/anarquismo, é uma tentativa de um homem, pelo uso da violência tentar acordar uma população adormecida e frágil. Para compreendermos melhor todo o contexto desta personagem importa referir que antes de ser tornar numa arma do anarquismo e daquilo que acredita, foi alvo de grandes experiências científicas e trabalhos forçados. Em “flashback”, numa introspecção pelas suas memórias constatamos como é que pessoas eram recolhidas à força das suas casas, apenas por terem crenças religiosas diferentes da instítuidas, ou por gostarem de pessoas do mesmo sexo.
Outra das razões por este filme ser tão importante, é pelo facto de exibir no sofrimento da personagem principal feminina, Natalie Portman, uma possibilidade única de encontrarmos a força e o discernimento tantas vezes pretendido, para conseguirmos perspectivar os problemas de uma forma mais eficaz.
Mesmo filmes aparentemente tão lineares e básicos como X-Men transportam a mensagem de que a diferença deveria ser aceite e que não há cura para problemas que não existem, a não ser na falsa consciência de cada um de nós.Deveríamos ser capazes, todos, de conseguir encontrar uma moral em produtos como a banda-desenhada que acabam por ser muito mais sérios e politicamente activos do que xaropadas inventadas como o “Código da Vinci”, que só nos pretendem alienar para a dura realidade.

A verdade nem sempre é o que deveria ser.

"Be Yourself/No Matter what they say" Sting