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Thursday, July 21, 2005

O Segredo VII

Gostava de repousar em ti, perceber finalmente que estou morto, de que é que és feita. Afinal o que te recolhe, porque foges sem fim ou retorno, porque não me mereces e mesmo assim eu te perdoo, ou porque é que nem sequer te consigo pergntar porquê...Nem nunca conseguirei. Quero-te assim, minha, nessa tua luminosidade que me arrastou, nesse teu sexo que me fez evaporar entre caminhos e sensações que sempre julguei esquecidas, lá dentro. Cá dentro.
E é por entre este sonho de te reencontrar que por aqui permaneço. Foi este teu Deus sádico que me pregou à tua existência e me força a ver o teu fim, lentamente.

"Quem muito fornica acaba fornicado"

Sabias que era por entre a tua loucura que me curava lentamente, também, das doenças que cada dia me atacavam de uma maneira cada vez mais superior? Tantas perguntas que ficaram, tanta mágoa recolhida num vaso vazio, vaso que nunca vingou. Aqui, no lugar dos mortos e dos chorados, sinto ainda o teu cheiro, como se vivesse a vida - ou neste caso a morte - de outro alguém que não eu.

Morremos ao ritmo que vivemos


E ainda assim, rezas a este teu Deus que te traiu. Não, não será por culpa dele que eu morri e que tu terás o mesmo destino um pouco mais tarde, mas sim daqueles que te aconselham agora, apenas porque não foram capazes de impedir. Ninguém é.
Somos todos uns hipócritas, como tu referias, agarrada a uma peça qualquer que tinhas comprado num leilão qualquer, rodeado de pessoas que não interessam nem a elas próprias.
Querias o sol, querias o prazer da carne, fugir ao vazio, correr por entre o pecado. E atenção, conseguiste. És uma vencedora nata. Ergue a cabeça, por isso. A minha morte foi apenas uma baixa.

Amamos ao ritmo que sofremos


E eu sofri, muito. Mais do que o meu corpo era capaz. E por isso criei esse segredo que tu deixaste depositado em mim e que só agora descobriste. Não é a minha morte que te atormenta. O sofrimento dos mortos é algo que sempre consideraste inútil. O que te ataca é a tua própria morte e o facto de te a ter escondido, sempre, e de tu nunca, sequer, perceberes porquê. Há momentos da vida em que temos de formar uma protecção, . Protecção contra o sofrimento que possamos vir a sentir e a causar. Eu precavi-me e isolei-me na minha própria morte. Mas tu não. Nunca te protegeste. Foste sempre uma vítima impávida de múltiplas penetrações que te haviam de fazer gozar e chorar por mais. Tal como choras, agora.
Não protegeste o teu corpo, não me protegeste a mim , que havia sempre confiado e depositado as minhas forças e esperança em ti, que ajudei a criar. Ali, a minha musa dos caracois loiros, do olhar estropiado, da decência que pulava por entre o decote que invetaria sempre uma forma de se superar. E encontrou.

Queremos ao ritmo que perdemos

E queremos todos tanto. Amo-te tanto, ainda. Mesmo quando cuspia sangue, de manhã. Mesmo quando mais tarde me foi diagnosticada uma tuberculose. Mesmo quando me descobriram esse vírus dentro de mim, enclausurado nesse amor que nutro por ti. Esse vírus que parece ter sido criado por esse teu Deus implacável e inseguro, para destruir todos aqueles que prevaricam em seu nome, para acabar com todos aqueles que amam inconscientes que o amor é uma loucura, para terminar com aqueles que dia-a-dia fornicam a fim de não se olharem mais ao espelho e constatarem a grande merda que são. A grande merda que somos todos.
Querias que te tivesse dito que também ias morrer? Foi por isso que morri primeiro. Porque não suportava a ideia de te perder e chorar por ti. Embora ainda chore.
São estes sentimentos, esta culpa que também senti e que deixei como prova do meu amor. Como prova ao teu Deus que a culpa foi também minha. A culpa é sempre de quem ama. Se ao menos me conhecesses, conhecerias aquele que te ama tanto.

Tudo tem um fim

Como eu, morto por uma sigla, com a qual nunca me preocupei em perseguir o significado. E esqueci-me, também eu. Protegi-te a ti, mas não me protegi de ti, inconsciente de que tu me salvarias. Salva-me agora da tua visão, salva-te agora e acaba com o sofrimento, com a vergonha de todos saberem, com a pena que todos irão sentir. E tu odiavas a pena...Faz desaperecer essas galinhas que te buscam e te cansam a fim de descobrirem o porquê do meu silêncio.
Agora que estás mais só do que sozinha, eu continuarei aqui, fixo em ti, apaixonado por ti. À espera da tua mão, a fim de encontrar o rasto do dia em que inicialmente nos perdemos e sonhamos como gente pequena que nunca deixamos de ser. À espera que me faças regeressar a casa. Como sempre.Para sempre.

Amo-te, ainda, Joana.


"Let me go home
I´m just 2 far from where you are
Let me go home." M. Bubblé