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Monday, October 17, 2005

Crença

Queria te dizer que és a razão por detrás de todas razões, que não há fado, nem discrepância magnética que me afaste da tua imagem simplesmente irreal de alguém que nunca existiu, mas que sempre me tocou. Durante tempos fui ateu da minha própria descrença, temendo a fundo encontrar a razão para tanto sentimentalismo – que fingidamente chamei de pedantismo tantas vezes – nos poemas por detrás dessa obra que nunca há-de nos deixar de marcar, Lusíadas. Tentei encontrar no histerismo de Fernando Pessoa uma razão convincente para o desencontro com o próprio amor e descobri contigo, que nada percebes destas leis literárias, que aquilo que sempre procurei era afinal aquilo que sempre havia fugido, que as ideias que persigo hão-de chegar mesmo quando não existir um refúgio que as mantenha salvas de mim mesmo e dos outros também. Por isso rio-me daqueles que não acreditam e fazem julgamentos desviados e intricados naquilo que o que lhes rodeia lhe oferece. Não é condenação que merecem, apenas um olhar repentino, como se não merecessem mais. Por isso rio-me da minha própria felicidade, da minha própria alma que encontra uma melodia mais própria, mais audaz, mais corajosa cada vez que te toca. Talvez isto não passe de uma consequente alucinação provocada pelo frio nórdico que se avizinha, ou pelas saudades que dia a dia me dizem que nunca tive tão certo como agora estou. Saudade, essa palavra tão característica e tão portuguesa, que nos corre nas veias e nos transforma nesses seres melancólicos e tenazes, fugidios e cinzentos. Mórbidos. Essa “alegria de estar triste” como havia dito Agustina Bessa L. Queria dar-te mais do que consigo oferecer, mais do que tenho, mais do que consigo expor. Afinal não é fácil. Nunca é.

Não pode no mundo haver tristeza
Em cuja causa, Amor não esteja presente?”

Luis Vaz de Camões