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Thursday, February 28, 2008

Despojos

Escrever sobre quem, se nos perdemos diariamente nessa consquista inócua de querermos parecer quem nunca desejamos voltar a ser.
Se te prendesse, se te acalmasses por entre a fúria de não seres a inspiração que comanda as linhas que acabarão por ser escritas, por entre a ira de voltares a fingir que a inocência já te pertenceu um dia e que voltaremos a ser tão infantis como sempre seremos.
É essa a veracidade da carne quando é consumida sem razão humana ou força pouco mais do que irracional. A noção dos despojos que ficaram é de pura motivação para que tudo retorne, mesmo quando eu sei que há quem nunca volte.
Nunca.
Queria despejar a graça que é perder-me sem ser contigo, sem consumir essa passividade com que subtrais a ti e a toda a vida que por ti passa. Afinal, as lágrimas que não se mostraram mas que me consumiram durante meses foram sempre as mesmas que espalhei por entre o chão que partilhei contigo e connosco, na esperança que sobrasse algum resquício de tudo aquilo que se adorou durante tanto tempo.
A construção de algo,é maçador e penoso, requer noções mais do que vagas de empreendedorismo emocional e por certo, algumas ideias do que é o sabor a solidão mesmo qunado não se está só.
É por entre o dó que já tive de mim e da morte que acabou por ressusitar a vontade de agarrar e manejar o pó que por aqui se foi acumulando.
Não rastejamos, mas de pouco valerá a pena anotar essa falsa peripécia. Não fomos ninguém, a não ser aquilo que eu queria que sempre sonhei em ser, só para entender no fim, que tudo não passa disso mesmo.
Seria um egoísmo louco desejar que alguma vez sentisses a força da frustração a mostrar-se imponente aos teus olhos, mas é algo que apenas as pessoas que dormem de olhos abertos enfrentam.
Por isso mesmo, será sempre difícil explicar porque é que nada foi suficiente, porque é que acabaria por me render à evidencia que estava a léguas de compreender os danos que hei-de esconder, felizmente.
Felizmente.
Como se não bastasse a leveza do ser que passei a carregar quando finalmente partiste? é uma mentira totalmente bem construída, mas sem espaço para responta longa e parca em conceitos fielmente delineados por um círculo vicioso que é o meu percurso, de cada vez que analiso e me vocaciono para a reflexão intrínseca.
E não, nunca gostaria de voltar a ter 13 anos e a pensar que o problema era de ser domingo, porque aos domingos nada acontece, a vida estagna e o futebol e a chuva ordenam que se fique em casa, à espera de algo que simplesmente não acontece, porque segunda há-de ser o mesmo seguimento penoso a ver se tudo deixa de cair em cima dos nossos ombros, apenas porque não nos conseguimos suportar, mesmo quando nos esquecemos de quem somos. Principalmente nessas alturas.
Esses desvaneios não me pertencem mais, e este que ultimamente me assiste, também não. É apenas um capricho meu, a fim de manter alguma dramatização nestes dias de verão pouco longos que se escoam e nunca nos assistem.
Queria perguntar-te se voltas para onde esse céu nunca mais acaba, se realmente compreendeste a tristeza do que é amar sem sentir, mas principalmente se verdadeiramente compreendeste a alegria que é amar tendo consciência do que realmente isso significa.
Daqui a muito tempo, hei-de o saber, porque o tempo não me pertence e eu construí uma ligação pouco fiável com o passar dos momentos, sem saber controlar o início e o seu fim, mas também quase não me importando com esses factos.
Factos.
Que de facto, ainda não consegui entender o porquê de mais ninguém me satisfazer da forma como sempre queria que isso acontecesse. Diariamente. No chão ou ao ouvido, sem ter de pedir perdão ou com nojo do estrago cometido.
Que de facto, passou tanto tempo e olhei para trás e ainda lá estavas, como sempre. Não me perco a imaginar se ficarias, porque não me interessa nem me conduz a uma paz de espírito saudável, apenas saber.
Saber se vives, se te ris, se a felicidade é de facto tão grande em ti, como aquela que subitamente me apareceu, sem grande motivo, como se soubesse que o que tenho é tudo o que terei e aquilo que é bom é aquilo que me pertence e que tem uma jsutificação em ficar comigo. Sem contrato ou impaciência profissional.
Na minha ideia, as construções passaram a ser feitas a um ritmo acelarado, não sei se por minha causa, ou se da tecnologia que me circunda que faz com que morramos um pouco mais depressa, sem que disso nos apercebamos.
Talvez eu não pertença aqui e talvez eu nunca volte a escrever sobre aquilo que realmente me dá algum sentido. A conformação é algo mais do que presente em relação a este assunto, sem paternalismos abusados, claro.
O difícil é encontar alguém que saiba quem somos, sem termos de debitar toda uma vivência cheia de estórias feitas para encontar uma larga plateia, onde há imenso material para vários dias a fio sem descanso, mas pouca paciência para nos entregarmos nessa busca por algo mais do que transitório.
Difícil é alguém saber amar quem somos, sem ser preciso explicar porquê, quando e onde. Difícil é não nos cansarmos e mesmo assim, continuarmos a acreditar em quem somos e naquilo para o qual vivemos.

Heroi

Poderia estar horas sem saber o que te contar e o que te dizer. A verdade é que a expiação da alma faz-me mal e eu sempre o soube. Noctívago que sempre hei-de ser, esperei sempre que voltasses, sem nunca compreender a essencia do que deixaste em mim.
Fiz de mim heroi, a fim de permanecer eterno na tua memória, a fim de me carregares sempre por essas aventuras que só tu vivias. Há pessoas que se contentam em testemunhar as vitórias dos outros, perdidas entre a vaidade que não lhes pertence, felizes por poderem comtemplar a vida que não lhes pertence. Creio e parece-me que contigo sempre foi um pouco mais do que isso, mas nunca chegou a estar muito distante dessa ideia que tenho agora como clara em mim.
Amar-te nunca foi preciso. Amavas sempre o nojo humano que te circundava, a fragilidade alheia, a inocência conspurcada e tantas vezes esturpada. Afinal, dizias tu, é disso que a massa humana é feita, de sonhos entrelaçados na esperança de um dia podermos esquecer aquilo que sempre nos fez bem, aquilo que é bom de guardar, aquilo que sabe bem.
A mim, só me sabia bem quando te tinha por perto. Quando era contigo que o ar entrava nos meus pulmões e me fazia respirar um pouco mais, sempre. Hà quem lhe chame obssessão, mas era por ti que não morria, numa dessas feiras de horrores onde só tu tu brilhavas, onde todos te queriam e ninguém reparava que era comigo que invariavelmente acabarias por fechar a casa.
Amar-te nunca foi preciso.