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Monday, December 27, 2004

Humanos

Gostavamos todos de ter aquilo que tanto desejamos. No fundo, o desejo é a fonte máxima de poder que reside em nós, humanos, enfiados em espartilhos contraditórios acerca do nosso passado, com um futuro coxo pela frente, com um amor pendente, sempre. É o desejo que move esta época, a que chamam Natal e na qual nos afundamos em dívidas para conseguirmos oferecer aos outros aquilo que eles têm e nunca precisaram.
Desejo eu muita coisa para este Natal, que já passou, mas que permanece dentro da casa de cada um de nós, porque o Natal não é um dia, mas uma semana inteira de projeções inacabadas, de folhoses que nos enchem o espírito, de encontros que nos agitam. Dizem que é a chamada época em que a palavra que mais reina é o perdão. Perdão a todos aqueles que nos desmerecem, que nos torturam e enchem os sonhos de uma cor que se parece com a morte.
Perguntei a uma criança o que era o Natal e ela perguntou-me de que cor eram os sonhos. Não lhe respondi e ela também não. Ambos sabemos que o sonho é o que nos eleva e faz superiores, mas também sabemos que é por ele que ambos caímos e nos magoamos. Respondeu-me apenas que desejava que o natal fosse mais do que um sonho, ao qual se agarrase e o fizesse perdurar e que dessa forma, talvez " as pessoas com olhos em bico não morressem todas no mar".
Gostava de voltar a sonhar como dantes, mas os meus desejos não mo permitem. A lista que fiz ao Pai Natal não tinha nada de suficientemente novo ou irreal. Queria desejar um avião, um amor novo, um guia, mas nem isso.
A criança deu-me a mão e eu senti-me novo, outra vez. Não sei o porquê de ter falado com ela, mas sei que me fez bem, como se a capacidade de sonhar residisse não na maturidade, mas como diria Saramago, na sabedoria.
"Tu que és grande, és invencível. Protege-me, protegendo-te a ti, sem nunca me largares a mão".
E não larguei.