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Friday, August 18, 2006

Facilidade

Cada vez mais, a conclusão precipita-se nessa convulsões de narrações infindáveis. Esse corredor eternecedor que nos apazigua ,só para nos cortar essa cor que sempre quisemos ter nos nossos olhos reflectida.
Voltámos sempre ao mesmo, à frustração enaltecida, resultado de uma sociedade que não se consegue conter, de um corpo que nos persegue, de uma voz que nos dita sempre para onde vamos.
Desisti de procurar por tudo e agradecer esse vazio que se instalou eternamente. Como todos, fiquei preso à ilusão materializada em imagens sequenciais de um filme no qual eu nunca participei. Fugi sempre à salvação obstinada, á carícia matreira, para me encontrar entre esse escuro que é o poder de decidir.
Essa responsabilidade que poucos aguentam, e que só alguns têm o discernimento para admitir que não conseguem furar a própria realidade. È de facto, um acto difícil, capaz de nos extorquir uma variável gama de noções completamente estranhas. Estamos todos habituados a sermos comandados, a amar sem saber porquê, a beber sem ter sede, a comer sem ter prazer. É essa roda viciosa onde nos sentámos e na qual escutámos o destino que há-de ser nosso, partilhado por pessoas que raras as vezes trarão a sensação pretendida.
E é verdade, nunca haveremos de saber quais os nossos limites sensoriais, enquanto preferirmos viver neste campo semântico de lugares-comuns. Temos muito pouco na realidade, desconfiados e exaltados, para apenas nos entregarmos a quem nunca teve a graça de nos suportar, de nos compreender, de nos sentir. Pensámos sempre, e acreditámos ainda, que o amor é a chave para qualquer falha de felicidade, quando na realidade é ele que nos desequilibra, que nos faz temer e morrer, onde e por quem trazemos o drama e o riso do fundo do baú esquecido do sotão que sempre nos aterrorizou, que é a alma de cada um de nós.

Katie Melua . "Closest thing to crazy"


O amor é apenas mais um degrau que poucos hão-de conseguir subir, envoltos nessa arrogância cega apenas porque não querem compreender que essa palavra aclamada não é suficiente para nos devolver a realidade pretendida e muito menos o amor-próprio que tantas vezes no faltou.
Parei apenas para continuar e perceber que não posso ter, pelo menos agora, o nunca alcançado.
É a facilidade de se amar. Nunca acaba.