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Thursday, June 12, 2008

Reencontro - Antes do Fim

Ela


A instabilidade que carregas é algo penoso, para ti e para todos os outros. Na verdade, não recordo a tua imagem como algo eternizante em matéria de loucura e emoção corrosiva a transparecer felicidade. Lembra-me antes o longo vazio que me deixaste, quando partiste, sem nunca me explicares porquê.

Quando te tentei ligar, estavas fora de área, algures entre a Amazónia e as Cataratas do Iguaçú.
Tentei correr atrás de ti, mas não podia. Primeiro, porque não sabia nada a teu respeito, segundo porque o papel da mulher nos dias que correr já não é esse e eu não quero ser o alvo de chacota feminino. Já ninguém apoia a mulher que faz tudo para o amor.
Isso perdeu-se durante as eras que se foram passando, desde o ultra-romantismo. Agora a mulher quer-se pragmática e emocionalmente dura, urbana, culta e de preferência, que faça passar os homens por um mau bocado.
Devemos ser o oposto das geraçóes das nossas mães e é por isso que não nos suportamos. A minha mãe a dizer “ com esse feitio ainda vais acabar sozinha” e eu a pensar “ antes sozinha do que acabar espancada por um marido bebado como tu”, sem nunca o proferir na realidade. Porque mãe é mãe, é suposto ser sofrida e amargurada pela vida, para assim se dar algum valor por tudo aquilo que ela passou. Pelo menos é isso que me ensinaram.
Enquanto viro costas, apetece-me novamente voltar atrás e beijar-te, a ver se o mundo se esquece realmente de nós. Nesse momento, cresce em mim a dicotomia de sentimentos. Se por um lado, gostaria de voltar, por outro, não me perdoaria a mim mesma, por ter cometido tal insanidade.

Quando acordei e tu náo estavas, achei que tinhas morrido e depois de algum tempo , adoptei essa ideia para conseguir seguir com a minha vida. Afinal, dois meses náo seriam suficiente para conseguir abalar definitivamente toda a minha vida.
Passei a trabalhar arduamente. Acabei a escola de turismo e o estágio no Pestana ficou garantido, um pouco por culpa da indicação do meu tio, que neste país tudo é conseguido com algum tipo de favor e neste caso em particular, eu agradeço.
Daí até a assessora de relaçóes públicas ter entrado em licença de maternidade e terem dado por mim a trabalhar afincadamente e também pelo director se ter apaixonado pelos meus olhos azuis, conquistei essa vaga, merecidamente direi. Afinal, ninguém tem uns olhos como os meus.
Um dia o director disse-me “ ainda hei-de nadar nesses olhos”. E eu pensei, “tudo bem, desde que não seja nu” e ri-me sozinha a lembrar-me o dia em que nos perdemos com o Chardonnay na pousada de Coimbra e acabamos nus na piscina de madrugada. Foi a primeira vez que me senti livre. A segunda, foi quando decidi que tinhas morrido.
E embora tenhas levado parte de mim, contigo, houve coisas que só evoluiram com a tua ausência, embora o vazio de não te ter, tenha cá ficado.
Mas enfim, não voltei atrás e agora que reflicto calmamente, acho que não o queria, realmente. Voltar atrás porquê? O que terias tu a dizer-me depois de meio ano de ausência, sem um motivo ou explicação que justificasse nunca mais ter ouvido a tua voz, ou tocar na tua mão?
Há qualquer coisa de infantil nesta relação que está morta. Houve mais conversas, do que sexo, houve mais medo de entrega do que suposta interacção, mas ficaram os limites mútuos a demonstrar que podiamos crescer juntos. Por isso, não entendi quando fui obrigada a matar-te com a consciência.
Deixei de lado a hipótese que a culpa seria minha, isso seria certo. Afinal, não me cabe esse papel. Sou objectiva e meticulosa e embora náo tenha compreendido a razão do teu desaparecimento, também não me entreguei ao ócio e à procura de uma resposta infidável. Reclamei na tua incoerência e instabilidade emocional, essa razão mesmo assim pouco plausível. Ainda pensei procurar-te pelo Porto, ir a Bragança visitar a tua irmã a ver se havia notícias de ti, a ver se voltavas para mim, mas neguei-me sempre a esse papel. Nunca quis saber do amor, por isso posso continuar a viver sem ele. Basta apagar as imensas janelas de Coimbra, a casa da Joana emprestada em Sacavém ou a origem do nosso encontro.
Verdade é que, nunca julguei dormir mais concentradamente ao lado de alguém, como quando dormi contigo, ou sequer que o beijo significasse algo mais forte do que simples contacto humano.
Enquanto sigo recta, a echarpe a esvoaçar na minha cabeça e este clima lisboeta que me traz tanta ânsia de conquistar tudo e todos, penso apenas num momento que me traz a tua pele à consciência. O ser-humano vive por assossiações e vai ser difícil não associar a virada do ano à tua ausência e a uma tentativa da minha auto-estima quase se ter demoronado, enquanto nem conseguia chorar por teres partido. Afinal, que amor é este que não me faz soltar lágrimas? Tinhas conseguido ensinar-me a arte do amor, mas não me tinhas dito o que era suposto fazer se tivesse de acabar. E eu não sabia.

Cheira a dinheiro esta cidade. É o espelho do Portugal Europeu e se nos conseguirmos manter nela, achámos que Portugal é evoluído e multi-cultural em todas as frentes, quando é completado com territórios cheios de auto-personalidade, dentro de um bocado de terra junto ao mar. Por isso, jamais conseguiria viver noutro lugar. Hà qualquer coisa de contemporâneo nesta cidade que se envolve com o tradicionalismo do resto do país. É como se tudo tivesse de começar por aqui e eu sinto-me mais segura dessa forma.

Enquanto me meto no metro, lembro-me de te ver com algo debaixo do ombro. Terias escrito uma carta, a fim de conseguires evitar o desconcerto das palavras, quando tivesses a dar tua justificação? Tenho medo de ti, por isso me afastei. A tua incoerência faz de mim um objecto nas tuas mãos que nunca sabe o seu real valor. Valor que uma mulher procura sempre em ter na plenitude. Quanto mais melhor e eu quero sempre mais.
De nada me vale pensar no que seria se descesse na próxima estação e voltasse para trás, porque isso nunca poderia acontecer.
Morreste uma vez e não há nada que vá mudar esse facto.
O passado é incontornável.


Best Friend . the Killers read my mind

Wednesday, June 11, 2008

Reencontro - Depois do Fim

Os livros são isso mesmo. Um poço de histórias para contar, de carinhos feitos e refeitos para nos alegrarem a vida, nos manterem conscientes dos perigos e das coisas que julgamos inexistentes e do facto de muitas vezes, sermos mais difícieis de decifrar do que a obra mais longa e complexa.
Antes de me despedir de ti e ver a tua imagem abandonar-me numa praça qualquer, lembro-me de te querer entregar aquilo que me fez querer voltar e experienciar por mim próprio, toda a sintonia que saberia que nunca mais voltaria a sentir.
As relações, quando existem, são levadas por cursos e recursos que muitas vezes não dominamos. As palavras assumem um peso muito mais forte do que os actos, inúmeras vezes. Por isso, vamos contando quantas vezes soletrámos A M O – TE ou Q U E R O – TE. O nosso vocabulário passa a cingir-se a esses epítetos e nunca mais queremos ultrapassar essa barreira. Quando tudo acaba, são as palavras que perduram ainda, dentro da nossa cabeça, como se tudo fosse um grande equívoco e nada fizesse mais sentido. Muitas vezes, tudo advém de uma grande deficiência comunicativa. Interpretamos um talvez como sendo um sim, um gostava, como um adorava e acabamos a falar sozinhos, à espera de uma resposta de um emissor que nem tem a consciência de estar a fazer parte de um diálogo.
Foi assim que dei conta que nunca resultariamos. Tu a quereres conquistar o mundo através das engenhocas pelas quais haveremos de ser dominados e eu a revelar-te a natureza dos sentimentos, como se tivesse nascido para ensinar onde se toca quando se ama.
É tudo uma chatice isto do amor, principalmente quando vivemos numa sociedade onde os corpos são descartáveis e tudo é coisificado. Olhamos uns para os outros, como um produto que deve ser usado, que tem algo para nos oferecer e do qual devomos retirar algum benefício em troca.
Por palavras e sociedade individualista, acabei por fugir a ver se o mundo era todo igual, e embora não se tratasse de uma pergunta, a resposta nunca foi uma hesitação em todo este processo.
Não te pedi para que voltasses atrás. Não era aquele o momento. Ainda haveriamos de nos encontrar e dizer que o momento seria outro, porque nada nos chega, na realidade. Na realidade, não sei o que saberia fazer com um “fazes-me falta, ainda”. Apenas decidi que te queria, que nunca deixei de te querer, que ainda te vou querer durante algum percurso mais.
Vim preparado para tudo, mas principalmente para continuar sozinho a contemplar a tua ilusão construída por mim, refeita em alegrias e sorrisos decorados logo pela manhã, lençois brancos que não eram nossos e que sempre me fizeram sentir como o maior canalha possível, mas que eu nunca consegui impedir de partilhar contigo.
São estas hipocrisias que a vida, mas principalmente a falta de bom senso, nos faz cometer e por isso, nunca esperei que ficasses, te sentasses e dissesses “fazes-me falta”.
Debaixo do braço levava-te a razão pela minha permanência naquele lugar, pela antecipação de um trajecto , pela fuga do país da sensualidade envolto em turismo sexual e cachaça 51. Debaixo do braço trazia a história falhada e malfadada de alguém que tinha tentado o mesmo que eu e tinha ficado irremediavelmente sozinho.
Por isso, já vinha consciente do final de toda a insanidade que é entrar num avião e julgar que tudo vai mudar, quando sair dele. Se fosse uma máquina do tempo, muito provavelmente, mas é só mais um mecanismo a fim de tentar controlar o homem e de eu próprio a ver se volto a estar num território que tenha 4 estações e o meu cabelo pára de cair, por só existir Verão e Outono.
Enquanto te vejo sair, a música já é outra. Um clássico, mas desta feita dos Beatles. Pergunto-me que idade terá o pedinte. Acho que terá a idade de qualquer pedinte. Têm todos a mesma idade. A rua espelhada na cara, a voz rouca de todas as drogas que consumiram anteriormente, o vinho de mesa que os consola durante a manhã e o cachorro pulguento que é tratado com carinho e compaixão. Tem a idade do tempo, sem identidade, sem identificação, mas com mágoa de viver.
Não me revejo nesta música que toca e apetece-me comprar-lhe uns cd’s novos a ver se se actualiza e ganha ouvintes mais jovens, o que lhe permitiria ganhar mais uns trocados. Já ninguém quer ouvir Beatles enquanto vê a pessoa que ama, afastar-se sem dizer um “até manhã”.
Tiro o livro debaixo do braço e fito-o. Sou cheio destes pormenores cinematográficos, planeados cirurgicamente, sem nunca fazerem sentido, porque não há final feliz. Já não sei se sou eu que imito a arte ou é a arte que imita a vida de cada um de nós.
Na capa, está escrito um “Moder-te o coração” em letras garrafais. Morder-te o coração e ficar contigo, entre o desejo e a solidão que seria conter-me em ti. Abro a última página e vejo o desfecho “ Depois do fim”.
Depois do fim, que ainda não termina aqui. Preferi experienciar e saber de que sabor é a amurgura de se querer viver e reparar um momento que se pretendeu perfeito e não se conseguir reconstruir todos os sorrisos de outrora a fim de querer que tudo aconteça novamente.
Talvez tenha aparecido de surpresa, talvez esteja mais velho, talvez já não me reconheças e por isso, voltei antes que o tempo se acabasse. Antes que tudo acabasse.
Compro um envelope e chamo o táxi. Enquanto me sento, sinto um olhar sobre mim. Os taxistas têm essa sensibilidade de saberem quando é que nos sentimos entorpecidos e engolidos pelas nossas próprias acções e não me pergunta mais nada. Digo que quero ver o Tejo e ele não se mostra chateado. Quero ver o Tejo agora, com ele, e recordar o infinito que fiz contigo e que quase partilhei com outro alguém que nunca me seduziu, apenas nunca me amedrontou.
Vejo as gaivotas, os velhinhos que passeiam em túneis que as suas cataratas construiram e vejo-nos a nós naquele mesmo banco a confidenciar o que a vida nos tinha feito. Eu com pose de adulto que está consciente dos perigos da vida, tu com voz de quem não quer mais nada a não ser algo doce quando adormece. Eu a querer-te pegar ao colo, tu a dizeres que não gostas de amar, porque não sabes como. Eu a querer-te, mas com medo, tu a queres-me, mas sem mo demonstrares, sem mo dizeres, sem me deixares saber. Eu a precisar de ti, sem saber se me segurarias.
“ O meu nome como em momentos de amor, completo, arrastado para a frieza da realidade”, diz Xavier na última página, enquanto releio as últimas linhas do livro que quero que leias, a ver se tenho razão em querer-te novamente, mas sem lutar muito, porque nada pode acontecer mais. Por orgulho, por unanimidade de conssentimento, por falta de coragem.
O meu nome, como o repetias quando te mostrei o que era fazer amor e nunca mais o quiseste esquecer.
Peço para me levarem ao Pestana. Chegados lá, eu e o taxista, que deverá chamar-se José como todo os taxistas se devem chamar, contemplamos em uníssono a magnificiência da escultura física que está à nossa frente e imaginamos a corte real a passear-se nos grandes jardins sem pensar que grande parte da população morria sem o que comer, não sei em conjunto ou se o taxista está só à espera que eu pague e saia, sem fazer barulho.
Entro e dirijo-me à recepção. Não és tu que lá estás. Na tua vez, está um senhor que me fala num tom tão angelical que achei que me fosse levar por um certo encamento e melodia nas palavras. Tudo esmorece ao saber que estou à tua procura, mas adianta-me que “a menina Teresa está de folga, hoje”. Menina Teresa? Sabem bem menos do que eu, mas também não pretendo partilhar uma informação que gostava que fosse só minha. Deixo o envelope com ele e despeço-me.
Despeço-me e não olho para trás, novamente.
Mordeste-me o coração e não consigo olhar para trás e ver que te perdi, sem saber se é para sempre.

Sem saber se é para sempre, porque isso é muito tempo.
E se nunca mais voltasse? O livro apenas nos mostra que a vida é feita de momentos irrepetíveis, não nos motra o que fazer com a solidão que advém dessees trajectos que sáo a materialização de tudo aquilo que desejamos.
Desejo-te a ti, a encontrar-me nas ruas do Bairro, sem combinação ou lógica predimitada. Apenas porque queriamos.
Tu a encontrares a minha esperança de seres tu a personificação de todos aqueles conceitos que povoam a minha consciência, nós numa pousada qualquer em Coimbra, que se tornou o ponto de encontro de duas pessoas que estáo separadas por um espaçó geográfico que os limita nas acções, mas nunca nas palavras.
Eu a suar desenfreadamente e tu a quereres mais. Nós a rirmo-nos de tanto prazer, no final, sempre no final, como se nunca tivéssemos experienciado o prazer sexual antes, como se fosse algo único desta vez, só daquela vez.
Tenho os momentos gravados como peças de um filme esculipido para ser perfeito. As viagens par aum ponto de encontro comum, o desembarque em Lisboa, como se chegasse de uma grande viagem, os teus olhos a correrem na minha direcção e a vez que conseguiste a chave da suíte do Pestana e nos perdemos, enquanto nos esqueciamos da gravidade e iamos bem alto, juntos.
E agora, onde andas? Queria-me deixar ficar por cá, deixar-me ficar na noite vazia, na rotina dos bares que acabam sempre por me trazer a tua voz.
Abro o livro e o Xavier está sozinho. Está sempre sozinho. Mesmo quando acaba pro ficar com a nórdica que percebe finalmente o que é a sensualidade lusitana ou mesmo quando decide ir atrás da Maria, como eu vim agora atrás de ti.
Estamos os dois sozinhos, porque tivemos vergonha de admitir este final e por isso não avisámos ninguém que viriamos. Se eu morrer, alguém me há-de procurar, mas do outro lado do atlântico. Se eu morrer, será que te arrependes e voltas?




Best Friend The Beatles. Yesterday

Tuesday, June 10, 2008

Reencontro

Hoje resta-me tudo o que ainda tenho para te dizer.

Longe de tudo e de todos, encontrei a essencia que julguei estar perdida, para retomar o ponto que afinal ainda restava acabar.
A minha forma de lidar com as emoções deixou de ser revelada pela ansiedade que deixei de sentir. Tornei-me máquina exasperada, fuga do meu próprio universo, para me deixar contemplar pela racionalidade que nunca fora o meu forte. Nunca.
Ficaram comigo os sonhos de infância inacabados por uma pressa de viver que ainda há de ditar o meu fim. Ficaram os castelos na areia da minha praia que partilhei com todos aqueles que um dia ainda fizerem parte de mim, ficaram os risos que deixaram de ser conduzidos pela identidade, para passarem a serem levados pelo álcool.
Gostava tantas vezes que permanecesses por aqui, a ver se não me fujo novamente. Gritei-te do alto, onde me criei, que não me chegavas, que ainda havias de me querer e não me ter. Porque o cliché funciona e acabamos sempre por dar valor aquilo que não temos mais por certo e garantido.
Organizei todas as conjecturas para encontrar uma justificação para a tua falha e inteligente como sou, encontrei a imagem da minha mesquinhez.
Digo que não quero mais começar tudo de novo, para não ser finalizado novamente, mas corre-me o medo de me apaixonar tremendamente e ficar a cantar músicas de amor, sozinho, numa praia qualquer.
Tornei-me adulto que diz não e se esquece de quem gostou, apenas porque na pirâmide das necessidades, lhe faltaram alguns elementos que a outra pessoa, por qualquer limitação, não os tinha e acabei por me esquecer de mim.

Inevitável é não sofrer por qualquer descuido e eu ando a evitar isso, desde que tive de passar a racionalizar todo um processo e acabei desistindo de uma procura por algo que eu sempre julguei existir, inconscientemente.
Essa busca que ainda haveria de ser o meu fim, que me corre nas veias e na minha identidade enquanto português, de esperar o inalcançãvel, aquilo que ainda estará para chegar, a felicidade atroz, o sexo visceral, a química completa, o suor que se agradece, a música que se encaixa. Enfim, a sintonia.
Sinto-me inexpressivamente no fim de um ciclo que me há-de levar ao início de tudo.Sinto-me incrivelmente patético por algum dia achar que poderia controlar tudo o que vai cá dentro a fim de conquistar aquilo que acreditei ser meu. A paz está na certeza de estar no caminho certo e isso, só agora me parece passível de se suceder.
Ficaram as fotografias mal tiradas, imagem de uma relação que se fora construindo em patamares diferentes. Tu, conhecendo o amor com algo novo e único, eu tentando rejeitar esse sentimento a fim de não me voltar a perder dentro da minha própria solidão.
Daqui se faz a verdadeira força de viver, de se conquistar e principalmente, de querer ser melhor.
Finalmente, entendi que o tabaco e o álcool são fonte de alienação suprema, que apenas me baixam a energia e me dispersam, a menos que sejam um complemento da minha própria alegria. É preciso ter visto o mundo pelos olhos de uma erva qualquer, para se ter a verdadeira noção do desperdício de tempo e de intelectualidade que é precisar de alguma coisa, que não nós próprios, para sermos felizes. E eu que sempre acreditei nisso.
Tudo tem uma forma para acontecer e o Luís adulto, contemporâneo, racional e urbano tem agora de se juntar ao velhinho Luís que precisa urgentemente de sentir que pertence a algo mais do que noites perdidas e corpos a pedir por mais uma orgia de prazer, quando a única coisa que os há-de salvar é um pouco mais de amor.
Queremos todos o mesmo, aqui, na Polónia ou em Portugal. Queremos acordar e ter ao nosso lado a única pessoa que nos faz querer ser melhor, fazer amor em frente à lareira da sala dos nossos pais e pedir que as estrelas nunca mais nos levem para lugar nenhum.

Passamos a achar tudo isto, como desnecessário e infantil, apenas porque deixamos de acreditar em nós próprios e nos outros, fruto da merda de sociedade individualista e emocionalmente repressora em que fomos crescendo.
Não podemos dizer o que sentimos e como sentimos, porque se vão assustar. Porque tudo segue um processo metodológico e científico, tudo tem fases, tudo tem de ser organizado.
Primeiro curtimos, depois gostamos, passamos pelo adorar, ainda podemos ter alguma paixão e só depois encotrámos o amor como último estágio. Quando aqui chegámos, já estamos cansados e exaustos e por isso mesmo, desejamos nunca termos chegado tão longe, porque sentimos agora o fardo de uma responsabilidade que não estavamos conscientes de vir a ser nossa.
Tudo passa a ser uma exigênica. O mensagem escrita que não chega a tempo, o vídeo que náo nos diz as palavras correctas, a jura de amor ao nosso ouvido que nos arranha, mas não nos quebra ou o tal jantar em casa dos pais que se torna o pior dia da nossa vida.

E agora, fazemos o quê com tudo isto que temos para dar?

Olho para trás e está o inalterável a dizer que podia ter sido tudo tão simples, mas eu tenho essa pretensão de tornar tudo numa batalha que só me deixa cicratizes de tudo aquilo que não fiz.
Ainda me lembro de percorrer 300 km só para ver esses olhos que eram meus , cada vez que os mantinha em mim.
Esse azul que me forçava a dizer o teu nome, sem que tivesse sequer vontade visceral. Dizia, porque me fazia contente em demonstrar que afinal, tudo era possível, novamente.

Deixaste-me ir.

Sem olhar para trás, fui, no meio de toda a insanidade e de toda a chuva que escorria e entreguei-me a quem nunca me haveria de magoar, mas com quem tudo faria um sentido tão linear como maçador.
Pensei, “é pouco tempo” e não olhei para trás. Não deixei bilhete e nunca mais me viste.
Quando acordaste, eu não estava lá, apenas o eco das minhas palavras a ressoarem-te no ouvido e as memórias que nunca aconteceram.
Um passeio por Sesimbra, ao fim do dia, uma viagem por Londres, só para completar a tua fantasia e ver o Big Ben contigo. Um café no chiado, um travesseiro a escorrer-me pela boca maçuda, na Piriquita.
Rio-me e contemplo a fantasia que criei de algo para o qual náo estavas preparada. Não tinhamos a mesma pretensão, e antes de te magoar, imaginei que eras tu quem o farias e nunca mais olhei para trás. Nunca mais.

Se eu quiser, voltas?

Passei por ti, numa rua qualquer. A tua indiferença fez-me ficar desconfiado pela minha vontade de recomeçar e poder dizer que só tu me consegues fazer sentir bonito.
Que é disso que se trata a cumplicidade, de nos sentirmos sempre compreendidos e acompanhados e por isso superiores em todos os sentidos.
Dexei a minha confusão percorrer, perante a tua inexpressividade. Sabias tu, que quis voltar atrás? Que esperei que me viesses buscar e me mostrasses que afinal não precisava de ser tão perfeito apenas para ficar contigo?
Agora que te tenho na frente da minha imaginação, as palavras não fluem, apenas a certeza de que nunca deveria ter voltado a concentrar-me em todas as razões pelas quais não te consigo esquecer.
Apetecia-me abrir os olhos e pedir-te que voltemos metade do ano atrás e que tudo volte a ser como antes, mas ninguém deseja realmente isso. Queriamos apenas ficar abraçados a fim de o mundo se esquecer de nós e podermos finalmente descansar em paz.
Disse-te que voltaria, e tu não respondes-te. Mostraste-me o olhar vazio, que tinha sido assim que te tinha deixado e que agora, nem eu poderia fazer algo que pudesse mudar o passado que eu próprio deliniei.
O mundo, entretanto não pára. Há um pedinte que insiste em tocar um clássico qualquer dos Bee Gees, mas nada se move em câmara lenta, como seria de esperar. Lisboa está como sempre. Linear e coerente, em toda a prosmicuidade e cobiça que está envolta.
A banda sonora é ridícula, mas apetece mesmo perguntar, “how deep is your love” e levar-te para casa, como o deixei de fazer.
Preciso de te contar, de ultrapassar. Nem sempre é fácil, pelo menos enquanto a certeza e a segurança não se completarem e nos continuarmos a sentir afastados por toda uma falta de comunicação imensa, fruto das frustrações que acabamos sempre por passar, ao longo da nossa ainda curta vida.
Esperei sempre poder esquecer todos os restos de ti, dizer que te foste embora e tudo é uma questão de tempo. Esquecer a contigência do espaço e largar-me no mundo a fim de me perder. O resultado foi um encontro, comigo e contigo. Olhos azuis, eu a querer agarrar a tua mão, tu a quereres que desaparecesse, o mendigo no meio da praça que não parava de cantar.
A vida nem sempre é doce e eu talvez tenha perdido essa candura que nunca vi em ti e por isso mesmo sempre me desafiou. Foste tu a minha conquista da realidade pura, sem grandes pretensões, envolta em beijos que dizias não gostar infinitamente, mas que te faziam gozar sempre que eram mais prolongados.
Durante um curto espaço de tempo, voltei a adormecer confortável em toda a minha inocência restabelecida por viagens ao fim do mundo, enquanto sonhava contigo, mesmo tu estando ao meu lado.
Não importa, quando, nem onde. Diante de mim, está a tua lembrança magnetizada na esperança de voltar a ser feliz, desta vez sem lmitações impostas por um destino que me fez atravessar até ao outro lado do mundo, para assim reecontrar o que havia perdido.
Por isso, preciso de te encontrar de qualquer jeito, dizer que ainda podemos fazer muito, que o passado é nosso e podemos crescer lado a lado com ele. Que podemos dormir em paz, novamente.

Não sei.

És tu que o dizes. E embora gostasse de repetir tudo novamente e deixar de negar a forma como me sentia de cada vez que me tocavas, concordo contigo e deixo-te ir,
Nas telas, este momento é sempre o de maior climax, em que um dos participantes há-de voltar e dizer que tudo não passa de uma grande mentira, que ainda há muito para viver, em conjunto. Não importá se chove, se o senhor das pipocas adormeceu ou se o polícia vai passar uma multa a todos os carros mal estacionados.
Importa o momento congelado e eternizado, as duas faces a unirem-se e a formarem um só e o espectador lavado em lágrimas, como se fosse o amor dele que estivesse a ser partilhado.
Aqui, contigo, ninguém volta atrás, ninguém se humilha e acabamos por seguir por caminhos diferentes. Gostamos de ser coerentes e embora saibamos que ainda nos havemos de nos reecontrar, ainda falta algum tempo para nos esquecermos desse processo inevitável.
Por isso mesmo, de cada vez que me sentir sozinho, num desses domingos que só fazem sentido se passados a dois, hei de culpar-te sempre a ti e ficarei feliz por ainda te ter, pelo menos nesse sentido.
Ainda assim, continuo a ver o mundo girar, a minha indentidade a ser capturada novamente e saber que embora ambos o queiramos, ambos temos de enfrentar a nossa própria cobardia e deixar aguentar a alma até à próxima vez que nos encontrarmos.

Até à próxima vez.







Best friend michelle branch, till i get over you.