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Thursday, August 27, 2009

Mary

Houve qualquer coisa que fui esquecendo, com o despejar das horas em palavras sem sentido e viagens interiores sem sentido.
Há coisas que nunca serão realmente nossas – e eu que sempre esperei nunca acreditar, sempre fazer acontecer.
Há qualquer coisa que nunca vou esquecer. A memória de um amor perdido, entre a praia – sempre a praia – por entre uma tragédia mediática, sob o olhar agudo e crítico de quem não a sente, não a partilha, não a contém em si.
Uma daquelas luzes que nos guiam, por entre a força de querermos viver, uma daquelas imagens que nunca esqueceremos, que foram feitas só para nós.
Eram risos pegados, químicas e tu a desapareceres. Matéria física, sem resquício de imperfeições ou de lágrimas negligentes.
Agora diz-me que estás entre a procura da atmosfera e a as estrelas que tanto fazias questão de as puxares e partilhares. Lembras-me que é talvez tempo de mudar, que nada será assim tão garantido, mas que talvez seja por isso que temos todos, juntos, de lutar por algo melhor.
A tua eternidade, permanece em mim, como em tantos outros. Contudo.
Quererias sempre o melhor, o impensável, com uma atitude resplandecente, figurável entre o panteão dessas grandes criaturas que vivem para sorrir.
Amar é deixar que permaneças em mim, com uma memória feliz, de alguém que não tinha medo de voar, de ser mais, de se fixar, mesmo sabendo que a sua hora havia de chegar. Mesmo sabendo que ele nunca ficaria sozinho.
Afinal, foi tudo tão bem planeado, que nunca poderia ser de outro jeito. Sei que não posso ser egoísta o suficiente, para querer roubar ao tempo a fugacidade e puxar-te sem te explicar porquê, num segundo, trazer-te para casa e levar-te a ver um jogo do Boavista. Olhar para ti e pensar “que se fodam todos os problemas que poderei ter”.
Agora, só me restam memórias, alguém para amparar, a certeza que não estaremos nunca sozinho. Que o caminho que traçamos haverá sempre de ter algum sentido, que a vida há-de ser sempre mais do que isto que sentimos, que presenciamos, que tocamos, em última análise, que vivemos.
Ainda estou à espera que caias dessa estrela e grites “Luís Miguel”. Um nome só teu, que adoptei para mim mesmo.
Quando tudo aconteceu, não acreditei. Não acredito na morte como certeza absoluta, como força motriz. Nem na vida. Não acredito em nada, há muito tempo.


“Estar-se atento, dar-se conta de cada momento, com consciência dos sentimentos, sem julgar nem analisar, é um desafio diário”. Ramiro Calle

E só agora percebo porque me abraçaste tanto quando fui, voltei, permaneci no Brasil. Sabias que haveria de ver a realidade como algo mutável a cada dia, bonita demais para ser desperdiçada, por rotinas, ciúmes ou invejas francas. Honestidades, mentiras, que nada levará a lugar nenhum, nunca.
Incompreensivelmente perdi muito daquilo que me preenchia. Talvez por isso, faça tudo sentido, na minha pequena consciência agora, em que acordei e voltei a viver. Não sei bem para onde me voltar, contudo. Mas algo me diz que tenho de levar um sorriso na cara e continuar a construir uma alma tão grande como aquela que sempre fizeste questão de evidenciar que teria. Sem quaisquer duvidadas.
Não te posso agradecer. Não te consigo chorar, nem sequer escrever algo bonito e lamechas sobre ti. Não era suposto que fosse assim, mas nada será suposto ser de qualquer das formas que sempre sonhamos.

Best Friend : Train. Drops Of Jupiter