Followers

Tuesday, June 03, 2008

Retorno

E se trouxermos novamente a batida e toda a melancolia que advém dela? E se quisermos que regresse a frustração envolta em sabedoria suicida e racionalizada?
Já nada disso interessa, porque enterrei nessa escuridão tudo aquilo que julgava não ter esquecido, nesse mesmo lugar onde acabei por me perder.
Perde-se metade de uma vida a tentar encontrar o que fazer com tantos sentidos e noites mal encontradas, frases refeitas que encontramos em algum livro do qual já nem lembramos o nome e no fim, resta apenas o amor que desperdiçamos ao longo de todo um percurso que se acabou por tornar monótno.
Não, não escrevo com parágrafos e as frases normalmente são longas demais, mas é um ciclo que se fecha irrepetivelmente e deste corpo já não sai mais nada que possa ser consumido de uma forma que eu nunca quis e que nunca acabou por acontecer, por ter despertado antes mesmo de o ter feito.
Fecha-se um ciclo corrosivo e fugaz de experiências que se foram consumindo e que fui deixando para trás. Planos de uma mesquinhez absoluta que eu próprio desenhei e que foram deixados do outro lado do oceano para me provarem que finalmente estava errado querer oferecer-lhes uma conclusão, mas certo em ter equacionado todas esses risos perdidos que não efectuei.
Verdades feitas, para quem lê este amontoado de palavras que sei que só eu percebo e entendo. Amontoado de sentimentos e expressões que nunca chegam a ser aquelas que gostava que sentisses, mas que acabam sempre por serem refeitas e recicladas nas direcções de alguém que não me pertence.
Soube sempre que a batida me traria a um lugar profundamente desconhecido e miserável, por isso acabei por abandoná-la inconscientemente e deixar-me perfurar por toda essa realidade de ter conquistado o que as minhas mãos não podiam segurar.
E segurar é assunto da alma que transportamos, mas essa foi ficando fechada demais para que algo a pudesse sequer tocar e foi assim que se foi crescendo, em meses de euforia e adolescência terminada, com o final à vista, como se já não pertencesse a esse lugar encantado.
Foi assim que presumi e reconheci que finalmente acabou e que não há volta que me possa fazer retornar ao campo minado que é saber aquilo que se gosta, quando já se pensou que se gostava do que se tinha, mesmo que esse, não fosse o producto ideal.
Há segredos que se escondem e se são segredos, nunca são bons, porque ninguém guarda só para si algo que sabe que pode deixar o resto do mundo bem disposto.

Resto do mundo.

Como se o resto do mundo estivesse interessado em conhecer aquilo que nos faz feliz, como se o resto do mundo se interessasse no miúdo que é roubado à porta do autocarro ou do porteiro que passa a noite toda acordado, sem nunca poder dormir com aqueles que ama.
Dormir talvez seja o acto mais inconsciente mas que raramente o fazemos com quem nos sentimos desconfortáveis. Há sempre um sentimento de desconfiança, de insensatez em adormecermos ao lado de alguém que não sabemos o que nos pode fazer nesse estado tão latente. Por isso, já dormi com todos aqueles que vou amando diariamente, com quem me sinto bem e solto gargalhadas e cozinhados e em quem posso confiar e que sei que nunca me hão-de abandonar, que a amizade é feita dessas certezas e de vez em quando existe.
Por isso, quero voltar a dormir contigo, sem que nada me separe desse conforto que é poder abraçar-te e esperar que tudo seja uma eternidade, mesmo que seja muito tempo.
Por isso, nao posso largar-te agora e esperar que fujas, como sempre o fizeste. Por isso, adormeço a pensar em ti, na esperança que quando acorde, regresses, como sempre o fizeste.



Best Friend The Cure. Just Like Heaven