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Sunday, July 18, 2004

 
Ar
 
Não te quero dizer nada acerca de ti, acerca de mim, acerca de nós. Só me queria entregar por completo a ti, aqui, neste momento, por mais de um segundo. O teclado não é meu, já nada me pertence, nem o corpo vasculhado, nem a alma conpurscada. Olho para o lado e há sempre alguém que segue os meus passos que me tenta controlar, tornar mais pequeno, mais controlado, mais impremeável. Há sempre alguém que me pressiona, pressiona, pressiona até eu desistir e a força cair.
Que não sou de ñinguém, que nunca hei-de ser, mas que não me tentem prender, porque eu quero ser sempre estrela que não pára, praia nunca conquistada, ser inocente e seguro, com um copo de Vodka e um sorriso como cartão de visita.
E o telefone que não pára, que me tira o sono, que me mata. "onde estás?",  nunca um "como tás?", nunca um interesse comigo, mas um interesse em mim. E preco-me entre escritos e pensamentos inúteis, mensagens poéticas e sentimentos arrancados sabe-se lá de onde.
Vou para onde me levam, discuto, argumento, perco. E de repente encontro espaço, lugar, ar, para encontrar alguém que eu sinto que sempre conheci. E se não vivemos todos para sentir alguma coisa, seja ela amor ou raiva, razão perdida algures entre o nosso mártir S. Sebastião, então não temos propósito e somos apenas mais um ser arquitectado para o nada, para o fundo, par o medo. E medo corroi-nos, torna-nos fracos, arrasa-nos e deixa-nos perdidos no escuro do noss quarto, à noite quando os nosss fantasmas não nos deixam dormir e tudo parece fluir.
Tudo se parece como uma bomba que nunca chega a explodir, um barulho que não cessa, um texto sem alma.
Parece-nos tudo tão bom do outro lado, sempre melhor, sempre maior. Nunca nos contentmos com o que temos, com o que sentimos, com o que queremos, que quando nos damos conta já nada queremos, já nada sentimos, já nada temos. Eu queria ter-te a ti, que moras em parte indefinida da minha razão, que me tornas seguro, que me afugentas õs receios e me deixas absorvido nas saudades de quem nunca conheci na totalidade. Será falta, será carência, será algo de mais forte.
As pessoas hão-de sempre por entraves, dizer que está errado, que eu sempre hei-de merecer melhor, que eu sempre terei melhor, que nunca o mereci, que sou falso e não respeito ninguém, que afinal sou uma farsa de mim próprio, no fundo, apenas por que não as escolhi. Desta vez não quero aprovações, considerações ou conceitos. Quero ar, espaço, confiança. Quero poder mandar na minha vida, sem que ninguém me impeça, escolher a cor da minha t-shirt sem que ninguém me julgue, amar os castelos perdidos do verão passado, vender um sorriso atrás da barraquinha do artesanato.
Hei-de sempre desiludir muita gente, enganar, amar e quem continuar a gostar, há-de ficar. Quem me respeitar, quem me deixar respirar, algures entre Èvora e a estação de S. Bento.
Não é um recado dirigido somente a ti, que lÊs e não percebes a volta dos meus textos nem o porquê de não te amar, nem a ti que me enches de perguntas como se a vida já não fosse ela a própria incógnita, como se tudo tivesse resposta, como se eu tivesse todas as respostas. È dirigido, mais uma vez, a todos que gostam de mim, pelo que eu sou, pelo que eu mostro e por aquilo que eles conhecem e mostram conhecer. O  resto são esquissos, riscos de pessoas que não interessam, que me tentam, mas a quem nunca há-de ser dada uma hipótese, simplesmente...porque nem eu o sei explicar, nem preciso, ninguém precisa. Nem tu, nem eu,  como viemos parar, como iremos acabar ou sequer começar que é sempre o mais complicado. Apenas sei que gostava de ser muito feliz contigo e que o medo, esse continua cá sempre, mas sempre decrescendo, porque eu sei e tenho plena consciência que tudo o que fiz, pode não ter sido bem feito, mas foi tudo sentido e isto há-de ser para ti e tu saberás quem és, que não me sinto culpado por nada que te tenha feito, porque agora eu tenho a certeza que nunca te quis e se alguém me disse que era preciso deixar os fantasmas do passado para trás, tu já para lá foste, há algum tempo.