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Thursday, October 09, 2008

Chaves

Abro a porta e deixo-me adormecer. A televisão ainda grita por alguma audiência, mas a verdade, essa esvai-se por entre o momento em que finjo que não te quero, apenas porque não te posso ter.
Apesar disso, guardo ainda os resquícios que restaram de ti, por entre o chão onde me refugio agora, esperando algo encontro inconsciente, enquanto as almas se tentam unir numa dimensão paralela.
Sei que a divisão da matéria vive desfragmentada entre duas realidades. E é por elas que me vou guiando, e seguindo um cheiro envolto numa nova cor que me ilumina e me fascina, um pouco mais, de cada vez que encerro um olhar e constato que é o teu que encontro.
Antes e o depois
Tudo é dividido e refeito até ter encontrado esta nova perspectiva oferecida por ti, onde os sentidos se elevam e me oferecem uma multidisciplinaridade de novos conhecimentos em acontecimentos e factos que sempre me pareceram vazios de novas experiencias em si mesmos.
Antes e o depois
Antes onde existia uma mão precisa e contínua, feita de sonhos que não sabia como alcançar e que por isso mesmo, temente de ficar agarrada a si mesma, desistira do que sempre tentara almejar.
O depois, onde figuras tu e essa intencionalidade inocente de me fazer sentir o melhor, onde crescemos e imaginamos colectivamente uma intenção mais saudável e onde a partilha e a entrega ganham um novo som.
Sei muito pouco por onde hei-de criar e expor a verdadeira natureza de este sentimento, que julgo figurar no panteão dos sentimentos puros e por isso nobres. Talvez não o devesse tentar explicar ou justificar, recolher-me dentro de mim e dedicar-me a ele ao invés de o tentar discernir e compreender. Dizem tantas vezes que o sentimento é puramente casual, mas cada vez mais tenho a noção que isso de facto não é real. Que há uma grande parte de nós que o pode fazer crescer, nascer, renascer ou crucificar, dependendo da etapa em que o nosso percurso se encontrar.
Como alguém aqui escreveu, normalmente apaixonámo-nos por algo que já perdemos e voltamos de alguma forma a reter em nós. Da minha parte, retenho em ti, a vontade de viver e conviver lado a lado, como se na eventualidade do mundo acabar amanhã, tudo seria mais perfeito apenas porque me levarias contigo.
O amor apaixonado tem sempre algo de mórbido aos olhos das outras pessoas, mas só quem vives estas “estórias” é que sabe o que realmente significa a grandeza de cada momento, sempre que estamos acompanhados. Parece uma droga, que nos deturpa os sentidos, engrandecendo a merda de país em que muitas vezes vivemos. Onde até a política parece mais sensata e real do que parece e a lei que deveria ser um direito constitucional seria aprovada eo mundo acabaria por ser um lugar melhor, algum dia.
Isto só me faz crer que a maioria dos toxicodependentes nunca amou de verdade ninguém, muito menos a si próprios, pois então, muito provavelmente, não teriam de recorrer a químicos para poderem ter sensações transcendentes e magníficas. Ou provavelmente se amaram, não souberam lidar com esse facto e acabaram engolidos e afogados.
Entretanto já acordei e a porta está fechada. A paz que harmonia a minha consciência está presente e sei que regressaste, algures, por entre alguma divisão da casa. Já nada faz sentido e muito provavelmente este texto também não. O relógio deixou de funcionar – felizmente – e por isso, já me é impossível reflectir sobre o passar do tempo na tua ausência.
Não escreverei mais sobre ti durante algum tempo. Quero perder-me contigo e na felicidade que é viver ao teu lado. Guardar-te só para mim, gritar ao mundo que sou teu e fechar a porta. Afinal, as chaves já estão contigo.

BEst Friend Ana Free. In my Place