Followers

Monday, April 27, 2009

sou trapalhão

Novamente embriagado pelo silêncio da inércia que se abate sobre mim. Habituei-me a viver cada momento, como se fosse único e precioso, que me esqueci o quão frustrante isso pode ser, quando partilhamos o mundo com mais alguém, do que o nosso próprio ego.
Já aqui o disse muitas vezes e volto a afirmar – ter uma relação não é de todo fácil. É preciso gostarmos o suficiente da imagem que temos de nós para a conseguirmos manter durante uma eternidade e assim, nunca desnivelarmos as expectativas que criamos sobre nós próprios. É preciso ter coragem para revelarmos o que realmente somos e termos a capacidade de ainda assim, continuarmos a gostar do nosso reflexo.


Habituamo-nos a culpar o governo pelos males do país, o vizinho que não paga o condomínio, o passado pela vergonha que sentimos de nós próprios. Habituamo-nos mal.
Numa sociedade individualista, onde tudo é feito e dirigido para o prazer próprio, é difícil percebermos que não somos assim tão formidáveis, quando somos expostos à fragilidade do olhar de quem mais amamos.

Eu
Sou trapalhão. Não sei o que fazer com tanto amor, tantas vezes. Deixo-me perder em alucinações próprias, que achava já esquecidas e por dejá vu’s completamente irreais, para no fim, olhar para trás
Parar
E querer recomeçar tudo de novo, sem nunca me lembrar que nada volta atrás, sem nunca nos lembrarmos de todas as parvoíces e mentiras que acreditamos durante tanto tempo, apenas para conseguirmos ser as estrelas que sabemos bem, jamais serermos.
Vivemos em Nova York ou Londres, não interessa. Queremos ser felizes durante uma noite e esperar que ela morra e se esqueça de nós, embebidos no vinho que nunca nos larga.

Eu
Ainda não consegui encontrar o equilíbrio entre tudo aquilo que fui e aquilo que aspiro a ser. O emaranhado de percepções apodera-se de mim, sempre que me imagino a fazer algo, sem ti. E é agoniante.
Sem ti
Como se o mundo não significasse mais nada, para além da cor que trazes ao meu mundo. Para além da serenidade que me confias, para além da vida que me fazes querer ter.

Eu
Nem sempre gosto de mim. Tenho de me manter ocupado para me esquecer disso e conseguir iludir o reflexo da minha imagem que se apresenta muitas vezes difusa. Pensar que nada mais tem o mesmo encanto é aterrador, apenas porque me relembraste o encanto de todas os aspectos simples e encantadores que a vida pode oferecer e que aparentemente os tinha enterrado bem fundo.

Congruentemente, acabo por me perder na identidade de quem já fui, de quem passei a ser e de quem quero voltar a ser, mas desta vez sem esquecer quem passei a ser.
Não é fácil, nem pouco confuso. É simplesmente uma tentativa básica de aglomerar todas as experiências obtidas através de uma vida dividida em 2 fases distintas e transformá-la num bolo que seja passível de ser degustado com satisfação, para quem me acompanha, mas principalmente para mim.
Compreendi, claro, que a insegurança que sinto, para além de todo o caos financeiro actual, prende-se com o simples motivo de ter concluído que existiam lados mais essenciais, do que aqueles tantas vezes explorados por mim, apesar de só assim, ter conseguido chegar até ti.
Durante um curto período de tempo preferi - e é provável que o volte a fazer, quando me voltar a perder – culpar-te pela minha insatisfação de muitas lembranças que povoam a minha memória. Queria apagá-las e fingir que não fazem parte de mim, mas sou honesto demais para o conseguir fazer. Em vez disso, prefiro colocar-me em paz com as mesmas de uma forma altruísta e puramente patética, mas que faz sentido para mim.

Para mim, fazes sentido. Depois de tudo o que vi e experienciei, quando me vi sozinho sem a tua presença, considerei-me a pessoa mais irracional e negligente assim que abri os olhos e finalmente acordei. De olhos postos no tecto, numa cama que não era a minha, imaginei-me contigo e sorri, para logo depois realizar que não permanecias comigo e morri.
Nesse momento, iniciei uma fábula só minha. Nela, compreenderias a minha vontade e impaciência em te ter, mesmo sem ser preciso explicar mais nada e ficaríamos os dois a contar as estrelas num lugar qualquer, mas só nosso. Claro que nada é perfeito, tendo em conta as imperfeições coladas à nossa pele e a fábula, claro está, não se concretizou. Em vez disso, experienciei a dor real do que era não te poder ter só para mim, num aglomerado de pessoas, por entre as quais gritava cá por dentro “ que se fodam” e com as quais já não me identifico. Aparentemente, estou muito agarrado à imagem perfeita que um filme de uma hora me consegue transmitir sobre o que é ser-se feliz com alguém para sempre, como se alguém conseguisse viver uma vida inteira numa hora.

Sou trapalhão e só sei dançar em espaços limitados. Só sei fazer com que o tempo seja realmente aproveitado, quando escasseia, só sei trabalhar com o stress a dar-me a mão, só sei lidar com o mundo como se não houvesse amanhã. Mas esse mundo existirá amanhã e embora não saiba o que irá acontecer, sei que vou querer estar contigo, mesmo que já não exista, nada.
Talvez a ver-te a espreitar por entre a objectiva, talvez a querer-te um pouco mais, por entre o feitio moldado para situações de crise, nunca para algo que pode ser tão perfeito como um champagne bruto a acompanhar um queijo da serra. Já não sei se sou urbano ou rural, apenas sei que em algum destes sítios, hei-de de me continuar a apaixonar por ti, diariamente, sem que a rotina me apague. Sem que a rotina nos apague.
A ti, a pessoa mais importante que resultou de toda a viagem interior que foi estar do outro lado do mundo e que não quero perder nunca, apenas porque sei que contigo, sou uma melhor pessoa. Acredito em ti, resta-me acreditar em mim e que a temperamentalidade do meu ser há-de se extinguir e eu nunca me hei-de esquecer que és a peça-chave em todo este aprendizado que é viver.

Sem nunca o precisar de dizer
Sem nunca o precisar
de repetir
Por entre a fuga
Por entre a luz,fugi
para me reencontrar comigo
e sentir que não te hei-de perder.
Mordeste-me o coração e agora é tarde
Para esquecer essa leveza
Essa importância que sinto
Quando penso
Quando sinto
Que sou amado por
ti.