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Friday, February 23, 2007

Significado (say it right)

Não percebo de onde sai toda esta inspiração, esta elevação do esquecimento, o despojamento da memória sempre que ouço a batida urbana que me dilacera, que conta a “estória” carregada de frustração e empatia. É esta a música, o quadro, o texto que escreve o sentimento que me atravessa, que descreve a emoção que nunca se esperou eterna.

“In the day, in the night

Say it right, say it all
Either got it, or you don't
You either stand, or you fall
When your will is brokenWhen it slips from your hands
When there's no time to jokingThere's a hole in my plans”

Saber que há algo pouco menos de material que narra aquilo que vivo, que me remete para a frustração que é querer alguém que não é capaz de nos dar aquilo que sempre quisemos, enquanto nos sentamos, pacientes que somos, paciente que me tornei, nessa espera vã. Uma espera que não nos liberta, apenas nos trona mais presos.
Fico submerso nessa logística, nessa falha do plano que calculei, nessa vontade de me deixar entregar sem saber muito bem a quê. Não existe razão lógica, mas a verdade é que sabemos o quanto é que valemos e é por isso também que não esmorecemos. É por isso também que sei que se realmente quisesses, haverias de ter aquilo que preciso para que no fim significasses algo mais do que esta fronteira entre a falta de coragem e a noite que acaba sempre por me arrastar.
Confundo-me sempre entre o número, muito por culpa dessa voz que me continua a por em evidencia que tu na realidade significas muito pouco para qualquer outra pessoa, embora não me confirme o valor que significas e transportas para mim.
Não entendo muitas vezes o que tenho de fazer com esse curto espaço de tempo, em que me tento elevar a fim de esquecer a estranha relação que sempre existiu. Podia continuar a julgar que não estou perdido, que não gosto de mentir enquanto a noite me abraça, mas isso nunca iria relativizar a frustração que é saber que tu ainda hásde ter o que é preciso para me libertar.

“I can't say that I'm notLost and at fault
I can't say that I don'tLove to lie in the dark
I can't say, that I don'tKnow that I am alive
And all of what I feelI could show you tonight(You tonight)”

Devíamos todos saber a importância do espaço que ocupamos para cada um de nós, a fim de lhe dar um significado, algo que nos tornasse mais merecedores e não apenas mais uma lacuna na vida de cada uma das pessoas que nos rodeia.
Por isso, ponho sempre o rádio no máximo, sempre que revejo essa grande montra de slides que constituem a minha vida, por cerca de escassos minutos, que infelizmente não consigo tornar eternos. Ela é que canta, ela é que sabe, mas nunca uma batida teve um significado tão marcante, algo que expusesse tão bem o significado que a vida tem para mim, algo com que me identificasse tanto, algo que considerasse tão meu.
Se eu fosse uma música, seria certamente essa, a pedir para que a verdade fosse aparente, a tentar que os outros também se ultrapassassem, a querer sentir a noite como minha, sem nunca pertencer a lugar algum.
A verdade é que há sempre essa voz que muitas vezes me diz sim, outras que nem tanto, mesmo quando a coragem me escapa por entre as mãos, mesmo quando não consigo dizer o significado que poderias ter para mim.

“From my hands I could give youSomething that I made
From my mouth I could sing youAnother brick that I laid
From my body I could show you (from my body, I could show you)A place God Knows (that only God Knows)You should know space is holy (holy)Do you really wanna go?(Two, three, four)”

Se houvesse texto para revelar a frustração que todos nós sentimos, por vezes, nas relações que vivemos, o poema seria certamente esse. A agonia de sabermos quem queremos, mas que não a poderemos ter até que esse alguém tenha aquilo que precisamos para sermos finalmente libertados. De tudo e de todos.

“Oh, you don't mean nothing at all to me
No, you don't mean nothing at all to me Boy, you get what it takes to set me free?
Oh, you could mean everything to me”

A guitarra acaba com tudo, mas não com a falta que faz saber que alguém há-de compreender o significado das nossas acções. É tudo uma questão de significados, de tornar o aparente em real, de sermos capazes de nos segurarmos, mesmo quando não há lugar para sermos felizes. Aparentemente, muitas vezes, é assim que nos vamos sentir, mesmo quando não admitirmos que gostamos tanto da noite como dessa luz que seguimos. Saber nem sempre implica compreender.

“Hey, you don't mean nothing at all”

Say it right – Nelly Furtado