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Thursday, September 16, 2004

Tecnologia abençoada, que hoje me deixa escrever, sem me privar da libertação pura da minha consciência, dos meus tormentos, da minha culpa e do meu desejo. Hoje, agora e nunca parar de escrever, porque esta sede não cessa, esta vida não abranda, esta chama não se apaga. Leio e releio os meus textos mais antigos, exemplos da vida que me percorre, que se mostra arrepiante, como lama em que mergulho e se impregna, cá por dentro, bem por dentro da minha pele, que te não te chamou mais, mas que sempre acabou por te aceitar, lentamente como se não te quisesse mais, como se não te quisesse nunca.
Perfuraste-me e o nunca pareceu ter sentido no meio de tanta coisa inexplicável. Há que ter esperança, há que saber parar, há que ter orgulho, há que ter coração suficiente para perdoar, há que gostar. A tua normalidade arrasa-me, para nunca mais me levantar, nunca mais dormir e para sempre sonhar, a teu lado, entre a praia, entre a areia, mergulhar no mar, mergulhar em ti, só em ti.
Nada que foi partido, se volta a colar facilmente e completamente. Em mim haverá sempre o receio que tudo se passe como num filme onde só existe "repeat", com receio que tudo que venha a fazer por ti, seja mais, sempre mais do que aquilo que é justo ser feito e que mesmo eu não seja tão forte para lutar por alguma coisa na qual não deposito inteira confiança. Já passou uma semana e tudo corre como nunca deveria ter sido evitado, como se o passado não fizesse parte de nós e o presente fosse amanhã e nunca agora.
A lágrima, minha, tua naquela domingo, domingo de ir com a familia ao Norte Shopping, domingo de ir passear na Foz, domingo de voltar a pertencer-te, domingo de olhares desencontrados, de vontades, de orgulhos perdidos, de choro esquecido, teu, à minha frente, fazendo-me voltar atrás, com receio, sempre com receio.
" Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de advinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face"
( Sophia de Mello Breyner Andresen/ Eis-me)

Mas eu não fiquei sozinho, quando longe de ti fiquei. Fiz-me à estrada, criei laços, amei o desconhecido, conheci o imprevisível e fiz-me louco por atravessar este rectângulo que todos dizemos ser atrasado, em menos tempo do que aquilo que era suposto. Fiz-me à estrada, fiz-me à vida para te esquecer, nunca para te recordar porque eu só hei-de " morrer quando for preciso e nunca por chegar ao fim" ( Veiga, M.).Rodeado por amigos novos, recentes, presentes e desconhecidos em terras inóspitas que não parecem nossas, onde os cardápios não são em Português ou Latim, onde tudo é diferente e referente a uma cultura que não é a nossa. E fui, pois fui, fui feliz, sem ti, apesar dos teus constantes apelos, da tua voz ao telemóvel " pensa em nós". Mas não pensei. Fugi para a futilidade e para a modernidade. Encontrei-me no Frágil e descobri que não o sou, pelo menos tanto como julgava ser. As férias fizeram sentido, a minha vida fez sentido. Gonçalo,Bruno, Natércia, Rita, Marcelo, Lipe, Zeka, Edu, Sílvia, Ângela, PT...não tem ordem, mas tem sentido, cá do fundo. È só um obrigado, daqueles grandes, daqueles meus.
Mas para quê rever o passado repetidas vezes? Talvez tenha sido tudo melhor desta fiel maneira, como espero que tu também o sejas, daqui para diante para que deixes de ser " o Ausente dos ausentes", como tantas vezes ainda o és. A verdade, como eu lhe gosto de chamar, é que mal regressei a casa, senti a tua presença, como se tivesse andado adormecido, embriagado por uma Vodka poderosíssima, independetemente do sabor.Sabe-se lá o futuro, sabe-se lá o amanhã, sei lá o que sou e o que vou ser. Apenas sei que como Sophia, " quando morrer voltarei para buscar/os instantes que não vivi junto ao mar."