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Friday, November 26, 2010

Escorrimento

Fechar os olhos e consumir o ar á minha volta. Correr entre a multidão, perder-me neste prazer sensorial que é poder começar de novo e rir-me por entre a minha realidade, que afinal, está viva.

Não quero esquecer essa oferta que é poder mergulhar no presente e nunca voltar a escorrer, antes de acordar. Posso não precisar.

Repito à minha mãe: “Não te preocupes, sei onde fica o sol”, entre um tinto caseiro e um sorriso nostálgico.

Confirmo ao meu pai: “Vou no sentido da rendição”. É isso que ele quer ouvir e eu não sou ninguém para matar as ilusões alheias.

Ser jovem é essa conquista de complementos, sem recurso a vitaminas mais ou menos afrodisíacas, raspar o solo com a mão e sentir o calor da imensidão que pode ser o infinito dos nossos sonhos, a penetrarem essa corrente sanguínea cheia de graça e glória.
Ser jovem é essa bênção grata, esse estado de espírito inebriante, carregado de empowerment. A perfeição à luz das leis e sobretudo de DEUS.

Fechar os olhos e consumir esse ar que me recarrega, sem sentido ou esperança, por entre as chiclets espalhadas por entre o passeio, por entre o abismo que pode ser descarregar-mos a força das nossas conquistas diárias numa só pessoa.

“Prometo-te que hoje não te magoo”

Como se isso fosse difícil.
Nasci à prova de bala, não tenho receio de fogos cruzados ou guerras nucleares. Sobrevivi à força bélica de crescer entre papéis sujos e prédios mal formados, à semelhança dos nossos governos. E surpresa - ainda aqui estou.


Fechar os olhos e consumir o fumo à minha volta, deitar o meu corpo sobre o teu e não fazer mais nada a não ser levitar sobre ti, na esperança que desapareças depressa , a ver se não te engulo, enquanto me deixo descair.

“Prometo que hoje sou teu”

Só hoje, só amanhã, talvez nunca.
Não sei porque o quero, não sei porque o persigo, nem sei porque é que o desejo. É talvez a primeira vez, na minha repetição intensa de acções mais ou menos convenientes, que não tenho a certeza do que faço nem porque o faço.

Fui sempre gerida nesse épico de movimentos mais ao menos moribundos de criar e recriar o prazer sexual que via espelhado nas telas, nos corpos das outras pessoas. O olhar perfeito, o sorriso perfeito, lençóis brancos e chocolate quente a fervilhar de tesão.
Mas não contigo.

Nascente com essa bondade e não te posso levar comigo. Sou demasiado pesada para carregares comigo. E tu nunca hás-de amar uma pedra.

“Amanhã não te largo”

Só as pessoas que não amam, estão sozinhas. Eu amo este sol que me mata a pele e me carrega as feições, amo a tua luz que me faz repousar sobre ti, o teu olhar dúbio enquanto me fixo no futuro e não o encontro.
Afinal, estou morta. Amanhã?
Encontrei esta carta e reli-a cinco vezes:


“Maria, quando marcamos às 5, marcamos para hoje. Tenho saudades de te ver fora do frio que são as mensagens escritas que trocamos. Eu a querer-te provar que quero estar contigo, tu a ficares imóvel.
Será sempre assim?
Hoje não te magoo e amanhã também não. (…)

(Olho lá para fora, por entre os ventos do Outono, as manhãs solarengas e intrépidas. A mudança a chegar. E amanhã, o que acontece?)

(...) "Amanhã não te posso prometer mais nada, a não ser que iremos na leveza da nossa progressão, sem que rastejemos por isso. Sabes que te quero, por entre a frincha da porta, enquanto tomas banho e te escuto a cantar “For once in my life”. Sabes a tesão que é ver-te passar semi-nua, a escorrer. Sabes a vontade que me provocas de querer escorrer dentro de ti, também.
Quero – te hoje até as 24 horas. Amanhã, nem Deus sabe o que poderá existir.
Quero te dar a mão.
Hoje não te magoo”.


Ser jovem é poder responder, sem responsabilidades. Prometer o amanhã que nunca se sabe se virá, apostar sempre no futuro, partilhando o passado.

Mensagem enviada às 13:45: “Hoje não te quero. Amanhã prometo que não m
e esqueço de ti”.