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Tuesday, August 14, 2007

Destino Maior



Já não sei o que gosto mais em ti, se do amor que me evocas, se do teu cheiro, quando já não permaneces em mim. Agarro-me a tudo o que me rodeia, apenas para te suster, prender por entre essa voz morna que me embala e me arranca.
Ainda não escondi o copo que deixas-te, um pouco tombado, quando passaste. Esse vinho que trouxeste e que haveria de ser a razão da nossa glória, bêbados demais para perceber a ascensão desse destino maior que é amar.
Fixar-te por entre a minha pulsação, quente e inerte, quando é por mim que permaneces, intacta e segura que não há mais do que a realidade que te envio. E que fazer se foste tu que invadiste a minha força, com essa perspicácia de quem reconhece que o silêncio é a melhor forma de me escutar.
Se haveria alguém que me trouxesse de volta, entre o negro e o batuque, a alegoria de uma nova estrada prestes a ser percorrida.
Perdi-me a tentar descobrir aquilo que me enlouquece e que faça perdurar este estado de inactividade, esta saudade eterna de cada vez que não estás em mim, essa vontade de encontrar uma parede em que te possa ter comigo. Morna, como a tua pele, a tua voz, a tua certeza que a música nunca acabaria, enquanto o vinho perdurasse nesse copo.
É ainda a mesa que me fixo, a fim de tentar fazer com que regresses, apenas que por ínfimos momentos. Queria fazer-te minha agora, como se tivesse sido sempre esse o nosso fado.
Olho para o relógio e o tempo que não passa. Fico perdido nessa tortura que é ter de aguentar essa ausência que me angustia e regista tudo aquilo que não é saudável esperar. Recordo então as fotografias, lentamente, a fazer reviver um pouco mais aqueles momentos, onde a África era nossa e tudo era um pouco mais natural. Consigo ainda ouvir-te a correr, entusiasmada por esse riso sério que fora sempre a tua eterna magia. Concentrando-me ainda ouço ao fundo o rio e os miúdos a gritar, por estarmos unidos sem vergonha ou pudor. A natureza fora sempre a nossa melhor aliada e de facto, a única.
Danças ainda, como naquela altura. O pescoço torneado a dar voltas sobre o teu corpo, mapa das revoltas contra a incapacidade de permanecer infinitamente nele. Queria voltar e ser livre, novamente contigo, ouvir Cesária e gritar que é por ti que sinto saudades, mesmo quando ainda não partiste. Esse desejo infantil que acendeste e que afinal, nunca se tinha apagado.
A minha alma só está morna, quando estás longe.