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Saturday, April 05, 2008

Extinção VI

Pensar já não sobrevive em mim. Tornei-me apatia profundamente insuportavel, conformada com a minha paciência em ansiar por um amanhã diferente.
Preferia que me mantivessem à base de mentiras, daquelas suaves e escorreitas, que nos descem e nos deixam bem dipostos, todos os dias.
Sinto-me drogada pela mesma sensação de desespero fundo, cavo no meu próprio desejo.


Quando é que assumi que conseguia voar?

Fui demasiado longe e não me consigo desprender das cicatrizes que se foram formando à minha volta. Falo com a luz do tecto, porque é a única que não me foge, que sobrevive e nunca me deixa sozinha. Viajo sozinha, a fim de me perder na minha própria existência, bem por dentro de mim, a ver se a minha alma mergulha nessa carga sensorial que é esquecermo nos finalmente de quem somos. Para sempre.
É susposto ser assim.
Lembro-me no dia em que finalmente tomei coragem em mim, para conseguir surpreender a pequenez que se havia instaurado e perseguir a sombra que tanto me subtraía. Queria provar que eles estavam enganados, que nem tudo está fora do sítio e que isto não é suposto acontecer assim, apesar do medo expresso nas lágrimas e no vinho com que me procuro, seriamente.

Onde estou?

Queria tanto que me respondesses, que me acalmasses e que me chamasses todos os epítetos que só eu te deixava chamar. Amar torna-nos irracionais, seres completos por agonia e uma espera constante por uma penetração cheia de razão.
Fazias-me gatinhar na minha própria inocência, mergulhar naqueles lençois e esquecer que um dia me ensinaram que a mulher não pode ter o papel dominante nesse acto a que chamam sexual e que eu apelido humananente de instinto. Instinto de pertença e de sobrevivência. A busca por um segundo ínfimo de transladação dos corpor paraoutro lugar fugaz e descomprometido. Ser humano, compreende-se aí, tem um medo constante de solidão e sentido de pertença enorme. Maslow enganou-se e essa é de facto a primeira necessidade humana, a da pertença.
E eu esperava sempre por ti, a ver se nos vinhamos os dois e acabavamos soltos juntos, como sempre quisemos estar. Era o culminar do conhecimento adquirido, da energia concebida, do amor partilhado. Era mais do que sexo e bem menos que obcessão.
Era tudo aquilo que me sempre me ensinaram que existia, mas que não se chegava a conhecer, porque o conhecimento faz de nós pouco mais do que carne tocada e ninguém há-de querer isso.
Perco-me nas memórias sexuais e infantis da tua sabedoria, que acabaste por partilhar comigo. Dizias que era refilona e respondona, mas sabias que o único lugar do mundo onde gostavas que isso acontecesse, era na cama. Na cama, no sofá, no elevador, na casa-de-banho de um deles, onde finalmente nos esperasse cinco minutos de pura contemplação um por o outro.

Quero acordar.

Já passou tanto tempo e eu nem sei mais onde estou. Os cigarros acabaram-se, a tua maldita coca-cola também e eu que tenho de me manter acordada de alguma forma sóbria para ir salvar umas quantas vidas que não me pertencem, execpto a tua que me parece inalcançável.
Estás perdoada.
Afinal, estou sozinha ou estou apenas viva?Depois de um ano a esperar a reacção pefeita da tua parte, nem que fosse apenas um gesto, encontrei-o.
Claro que nada aconteceu por pura coincidencia. Cantou-me um trecho do Veloso e eu acabei por compreender então que nunca estive errada e tudo naquele dia me pareceu irremediavelmente perfeito.

Muito mais é o que nos une do que aquilo que nos separa”.

Ao início, sentiu-se culpado, mas eu sei que ele te visita, mesmo agora, que não lhe respondes, Disse-me que evita confrontar-me com a sua presença, na esperança que eu o perdooe. Se estivesse tão absorvida pela maconha como estou agora, era capaz de o provar só para encontrar um resquício de ti. A ver se te encontro nessas entranhas, onde já permaneceste e acabaste por desaparecer.
Por muito que eu não queira, ele teve parte de ti e eu descobri há muito tempo que isso não pode fazer parte das minhas preocupações. Nele encontrei a ternura que também sinto, apesar de lhe sentir abandonada.
Diz-me entre um café que acabei por o levar a tomar pelo chiado, que era aquele o lugar onde costumavas e gostavas de parar, apenas para apreciar todas as pessoas que desfilavam, seguras demasiado de si, apenas porque achavam que se sentiam bem na sua própria pele e não tinham de lidar com os problemas de mais ninguém.
Noto que adquiriu o memso hábito, nao sei se contigo ou posteriormente, de não colocar açúcar no café. Essas manias aristocráticas eram todas tuas. Capirinhas mas só de manga,arroz de cabidela, mas só caseiro, sapatilhas da nike mas só compradas na Friday Project e uma pessoa vivia a contemplar a forma como escolhias os teus amores e ódios.

Como vês, não estás sozinha.

Nunca estou, muito menos quando fumo maconha e me dá aquele desejo de ter dentro de mim, como só me dava contigo. Estou obecada pelo sexo que me davas e pela forma como eu reagia a ele.
Acabei por o convidar para jantar, noutro dia qualquer. Não sei se uma quinta ou se uma sexta, porque os dias parecem-me todos solarentos um pouco demais para atentar na felicidade deles.
E se eu não tivesse mais tempo para permanecer aqui, será que voltavas, me abraçavas e me levavas contigo, para onde quer que fosse e me deixavas perdoar-te de algo que nunca aconteceu, como eles sempre me quiseram fazer acreditar?
Queria que me beijasses, que me tocasses, que me fizesses sentir como se nunca mais me fosses encontrar, sem eu ter essa consciência, apenas para poder deixar-te descansar em paz e nunca mais ter de te chamar, enquanto vejo a janela a flutuar, não sei se do vento, não sei daquilo que me venderam no Bairro.
Antes de ir, disse-me que tiveram um projecto, desenhado por ti, para ficarem juntos lá pos lados de Sesimbra. Soltei a gargalhada mais sonora e senti a perder-me entre a frustração e a agonia de te ter perdido num momento em que nunca te tive.


Egoísta.

Sinto-me maior do que o meu corpo e por isso quis desaparecer e nunca mais aceitar que não fui a primeira. Cobardemente, contento-me em pelo menos ter sido a última. Apateceu-me gritar-lhe ao ouvido que ele era meu e que sempre tinha sido, só que só o reconheceu mais tarde, quando me finalmente me conheceu.

Como mulher, faço do destino a minha figura de estilo máxima, porque todas acreditamos nele, quando ele nos traz algo de bom. Apeteceu-me ainda, levá-lo a fumar comigo qualquer coisa e ouvi-lo a falar da decoração que tinham escolhido em conjunto, da disposição metódica escolhida por ele e que nunca teve rumo, nem bom termo. Apeteceu-me gritar que no fim, ficaste comigo.
Morri contigo.
Ainda não, ainda não esqueci tudo o que ele tinha para me revelar, nada que eu já não previsse em toda a sua magnificiência. Embora ache que estou a perder a sequência dos acontecimentos, mas é o que me acontece quando fumo de mais. Vai-se a linearidade temporal, fica a memória equívoca dos acontecimentos.
Foram largos momentos em que não o ouvi e me concentrei nos seus atributos físicos, pouco evidentes.Parecia muito mais velho do que nas fotografias que me mostraras e muito mais destruído também. Disse-me que a culpa era da bebida russa, e eu acreditei. Um homem é sempre sincero quando já perdeu tudo.
Tive vontade de me fazer perder entre a gravidade e evitar o chão, mas esqueci-me que estava acordada, por muito que me custasse admitir.
Quando acordei de facto, ele já tinha dito aquilo que eu queria ouvir, e eu tinha estado absorta nos meus sonhos por metade, que acabei por me habituar a ter.
Envergonhada , ainda com o cabelo apanhado e os joelhos trémulos, pedi-lhe para se encontrar conmigo novamente. Já te tinha dito isto, certo? Tenho de voltar a ouvir e provar a mim própria e ao resto do mundo, que nunca estive tão certa, como tenho permanecido, desde que quase te perdeste em múltiplos bocados de ti próprio.
Tenho de ser eu a morrer contigo.


Best friend Alicia Keys – like you ll never see me again

Friday, April 04, 2008

Extinção V

Pensar que sou sem ti, flutuar numa grande imensidão, sem rumo.
A sexualidade é uma grande mentira, vazia e sem racionalidade alguma. Odeio esses mitos previsíveis, normas sociológicas impostas por um Deus que sempre me aceitou da forma que sempre quis.
Sempre.
Quando saio do banho, reparo que ainda tenho os mesmos resquícios de ti, espelhados em toda a minha pele, a pedirem mais um toque, mais uma vibração muscular, mais uma fonte de respiração.
Há objectos que nunca saíram do seu lugar. É engraçado como só os homens têm essa vantagem de conseguirem ler textos intensos e complexos enquanto se cagam para o mundo. Nós, apenas conseguimos prestar atenção nos folhetos que nos chegam dos hipermecados e nem por isso, atentamos nas promoções mais vantajosas.
Tenho um certo receio em abrir o livro e não te encontrar. Tudo se resume a esse pronúncio, na minha existência diára, mesmo que seja apenas um livro do Drummond. Começo a achar que me tornei escrava do meu próprio drama, no qual já não és tu a personagem principal, mas antes a tua memória.
Acabo por abrir, curiosa que sempre fui. Gostava que tivesse a chover lá fora, a ver se o momento se tornava mais inesquecível, o telemovel haveria de tocar e eu não haveria de ligar e o David acabaria por começar a tocar uma música qualquer que faz pensar na solidão que é não se ter, quem nunca se julgou existir. Mas nada é perfeito e supostamente, este momento também não é.

A realidade acaba por ser muito mais crua e menos controlada do que as fantasias que tento criar antes de adormecer, com o peso do mundo em cima de mim.

A cada dia que vivo, Mais me convenço de que o desperdício da vida ...
e penso em voltar a fechar e a esquecer que há algo mais doce do que a tua língua na minha orelha, a esbracejar, a gritar por mais um ano de pura fantasia.
Apetece-me que chova por dentro a ver se tudo se escoa e desaparece, porque o meu entendimento enquanto ser humano deixou de conceber esta espera que se torna longa e prelongada.
Por isso mesmo, acabei por tirar todas as fotos dela que existiam por casa, apesar de que sempre estiveram bem escondidas. Agora, nem num acto de profunda inconsciência, vou encontrá-la. Se me visses agora dirias que cada dia me pareço mais com ela. As rugas da impotência, a vida que sempre se sonhou e se deixou de ter, o momento que por pouco não se eternizou.
E estás.
Parece que te ouço a dizer em voz alta, na tua pose de político revolucionário que me tinha consquistado, que devemos reconhecer as virtudes que temos, pois elas escapam da nossa própria contigência e foram nos dadas por alguém que não sabia o que fazer com elas, muito menos com os defeitos.
Ela que se foda, que já tinha idade suficiente para compreender o empreendimento de noções vagas que acabou por criar em mim. Ela sabia perfeitamente que acabaria como ela um dia e foi por isso que sorriu quando lhe virei as costas e lhe prometi que nunca mais me via. Se se tivesse rido, teria sido por vontade de me fazer perdoar a vida de merda que vivera, a qual a tentei sempre salvar.
Preciso de ti.
Com ela não falo, muito menos agora que está morta. Sou decidida o suficiente para me manter firme na convicção, mesmo quando sinto a maconha a incorporar-se dentro de mim, mantenho –me firme e apenas sorrio para ela, também.


A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.


Como se a minha vida fosse recomeçar agora que fecho o livro e o coloco no lugar das coisas sem vida.
Como se a minha dor fosse gerar vida em ti, como se a gravidade fosse fazer o tempo recuar e eu impedir –te de calçares a culpa como bandeira da tua indignação para o meu esgar.
Desceste as escadas como quem desce a sentença anunciada, como quem me deixa sem saber se te ajuda a voltar ou se te mata, finalmente.
Eles dizem que não voltas, que nunca deverias ter ficado em mim, mas que acabarás inusitadamente por desaparecer e eu por te esquecer. Resumem-se com o factor tempo, como se o tempo controlasse a imensidão que nos abarca. Se o Drummond está correcto, então eu escolho o sofrimento, por ter sido julgada num minuto para o qual não estava preparada.
E nunca estamos preparados para um retrocesso, por mais pequeno que ele seja. Nunca estamos preparados para fraquejarmos e termos o medo de ficarmos sozinhos e darmos finalmente razão a todas as vozes que durante meses anunciaram um final promíscuo e certeiro.

De tudo, ficaram 3 coisas.
A certeza que estamos sempre começando


Apesar de eu só ter a plenitude certa de saber onde acabo. Enquanto saio de casa, despeço-me como se nunca mais lá voltasse, como se a crueldade me fosse tomar de cada vez que saio do meu próprio reduto.
A partir daquele momento, decidi deslocar-me nessa grande evolução humana, feita pelas mãos dos imigrantes que são os que mais usurfruem dele. Tocam-me, sou empurrada e dou graças por não sentir mais a violência física, como outrora. Como ela sentira.
Não te esqueças dela.
Não, mantenho-a por entre a sua falsa inocência e a vontade que tenho de te agarrar e respirar o teu suor até amanhã.


A certeza de que é preciso continuar


O mundo nunca é aquilo que sonhamos e a sexualidade de cada um, há.de ter sempre a ver com isso. Conceituamos as pessoas, como quem conceitua fernando pessoa e os seus heterónimos, como quem precisa de encontrar a bibliografia certa, no espaço físico correcto.É por isso que sempre fiquei um pouco por entre os desejos de me manter intacta a essas firmezas. Em relação a isso tive sorte. Quando ele morreu e ela passou a idolatrá-lo, deixou de se importar com o resto e viveu apenas para a fome de solidão que passou a ter.

Estás igual.

Talvez, mas eu permaneço sozinha, sem arrastar ninguém comigo, apenas as paredes a ver se me seguram e não desapareço pelo chão.
Saio e não está a chover. Preciso de me mudar para o Porto, a ver se as ruas condizem mais com o meu aspecto de melancolia e noctivação. Hoje era o dia em que voltarias para mim, apenas porque eu quero.
E se tudo acontecesse como eu quero, Lisboa choveria e os sorrisos haveriam de ser apagados, porque ninguém tem vontade de sorrir quando o resto do mundo está adormecido, ainda.
Apetece-me chorar e não consigo, apetece-me chamar-te e tu não me ouves, apetece-me perguntar-te mas tu não respondes.
Existes, ainda?
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.
(Fernando Pessoa).


Apetece-me jurar que nunca o tinha visto, e fazer te acreditar que te perdoo. Apetece-me encarar a porra da realidade e saber que a ser verdade, ficaria diminuida a verdadeira essencia diminuta, que na verdade represento. Apetece-me jurar que eles nunca tiveram razão e que a tesão que eu via, era por mim que sentias.
Afinal, quem sou?

Best Friend . David Gray This Year´s love

Extinção IV


Como se nunca o tivesses visto.
Afinal, quem és?
Acabo por compreender que me tornei uma das inúmeras personagens dessa perceptora que ambos acabamos por amar ao mesmo tempo.
Deixei de te procurar um tempo, dizem que faz bem.
Não sou ninguém.
E mesmo assim, continuo a ver o teu sorriso de cada vez que estou absorta num dos meus pensamentos quotidianos, sempre que olho pelo vidro e não vejo a realidade que espera ansiosamente por mim, sempre que não me sinto.
Tento reencontrar no álcool e por vezes na droga, a ilusão de que dizes ainda que me amas, que me consomes com o teu sexo vezes sem conta, que ficas comigo para sempre.
E é aí que acordo, por entre a minha voz trémula de raiva e desespero, a qual ouço ainda os ecos no fundo do corredor EU PERDOO te, eu PERDOOTe PERDOO te perd...
Apetece-me consumir o mundo e esquecer de que é que sou feita. Entrei em fase de negação consciente e convicta que já não retornas a mim, como sempre o fizeste.
Por muito que queira, não fui eu que te expulsei desta vez e por isso mesmo não posso fazer com que voltes.
EU PERDOO TE.
Já desisti de dormir e já esqueci de o tentar disfarçar. A verdade é que nada faz sentido. Se eu não te posso salvar, não vale a pena concentrar o meu olhar sobre o teu batimento cardiaco, de cada vez que passo por ti.
A Clarice Lispector é uma parva, para além de louca e eu deveria era mesmo desistir de mim.
Acorda.
Se me dessem a oportunidade de te fazer escutar uma palavra que fosse, seria essa, certamente. Acorda, antes que acabes com a minha vida, como quase fizeste com a tua.
Tudo veloz, tudo rápido, tudo sem termo. Era sempre assim, nessa inconstãncia da vida proclama por ti, que me ensinaste a viver. De vez em quando, tento beber uma coca cola com a mesma veracidade com que tu fazias. Parecia que bebias o mundo, com a sofreguidão com que lambias a última gota, mas mais do que isso, era a vida que transparecias cada vez que engolias o líquido que ainda havia de te correr por dentro.
No fundo tinhas razão, para que preocupares-te com a merda da coca cola, quando acabarias por ser corroído por outro coisa qualquer, como um simples poste que te atravessou a espinha e te deixou com apenas algumas funções das quais não sei bem quais funcionam, ainda?
Não foi a velocidade, não foi a estrada, não foi o carro que te matou, foi a culpa que sentiste, o medo de me perder, tal e qual eu sinto agora. Fugiste, como fugias sempre, para evitar o desespero da desilusão que pressentias no olhar alheio. Eras avesso a esse maltrato visual e por isso, nunca te submetias.
Ainda consigo ter a ténue imagem do carro a seguir o seu rumo, de te pedir para parares, de fumar um cigarro escondido na esperança que viesses, afinal, ter comigo.
Onde estás?
Bata branca, cabelo apanhado, olhar alienado. Se me vês nessa cama, já deves rogar para que ponha uma indumentária diferente, mas estou acomodada no meu próprio horror visual, dessa maneira nada me espanta mais.
Disseram-me que abriste os olhos, que pestanejaste, mas eu não acredito. Se isso tivesse acontecido, eu estaria aqui, ao teu lado e tu farias isso por mim. Sem dúvida alguma, que mentem, como sempre mentiram a respeito de tudo. Eles.
Às vezes dou por mim, sentada no Castelo de S. Jorge e dou por mim a falar contigo. A grande novidade é que desta vez não estou alcoolizada nem pedrada. Falamos do sexo dos outros, mas principalmente do nosso, como sempre. Como foi bom redescobrir um prazer escondido e encontrar aí um fundamento para amar, sem receios.
Falamos dos medos que nos uniram, da infância mentirosa que cada um de nós teve, dos namorados que já passaram por cada um de nós, da forma como nos vemos e os outros nos sentem. Falamos de tudo e eu continuo sozinha. Sabe bem, no entanto, porque controlo todas as tuas respostas, muito ao contrário dos sonhos onde tu me atacas, onde dizes tudo aquilo que te apetece, sem dar grande respeito áquilo que eu sinto.
Dizem que tenho mais pacientes para ver. Se isto fosse uma instituição particular, haviam de ver se não me tornava a tua médica particular, mas há um sem número de pessoas a quem devo responder, como sempre. Já não tenho tanta paciência para os problemas alheios, agora que tenho os meus. O meu único ponto de interesse, é socorrer os inconscientes que se despistaram ou causaram um grande incidente automobilístico.
Aí sou eu, novamente, com a esperança inócua de querer salvar-te, de te rever embebido em sangue, no grande silêncio que é a quase morte.
Quase morte, quase vida. A diferença há-de ser abismal, mas deixei de a conseguir compreender.
Deixei de conseguir respirar para além do meu próprio ar e várias vezes já me tentei impedir de o fazer.
Onde te encontro?
Se não estás comigo, se não consigo ir ter contigo, como faço para te alcançar?

Best Friend Damien Rice . Can´t take my eyes off you.