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Friday, April 23, 2004

É incrível como as pessoas se enganam, umas em relação às outras. E quando nos damos conta e finalmente acordamos para a realidade que esteve escondida apenas porque tinhamos os olhos fechados, constatamos que nada é como sempre haviamos pintado, ou sequer sonhado.
De vez em quando faço coisas das quais me arrependo, viro-me e não vejo a luz que ocasionalmente me guia, tento apagar o mal feito, olho para a pessoa que acorda ao meu lado e não sei quem é, de onde veio ou qual é a cor que mais gosta de usar, quando veste a camisola, uma qualquer. E fujo, porque parte de mim fica ali comigo, porque só acordo quando realmente me sinto magoado o suficiente para dizer para mim próprio "Acabou, tudo o que puder advir daqui, só será pior".
O problema é um e concentra-se todo no facto de nós conseguirmos esquecer o passado, mas ele, de facto, nunca se esquece de nós e de repente damos de caras com ele, numa dessas discotecas que escolhem as pessoas pela cor dos sapatos e prometem diversão até não se conseguir beber mais. Acontece tudo de repente, no meio do nada e fechamos os olhos, para quando os abrirmos sabermos que ele ainda vai lá estar.
São poucas as coisas que de facto me arrependo de ter feito. Podia-me desculpar que foi fruto das circunstâncias, dos medos, do meu mal estar, do alcóol no sangue, mas não. Não me desculpo, porque sei quando errei, assim como também sei que são poucas as vezes que se erra sozinho. È como no tango, não se dança sózinho. Do que mais me arrependo contam-se as vezes em que prestei atenção a quem não merecia, daquela vez que me deixei ir, apenas porque me sentia tão no fundo que achava que mais baixo nao conseguiria ir, ou daquela vez que tentei amar alguém e ultrapassei, aos outros e a mim, que é sempre o mais difícil. Depois sou imaturo e arrogante porque sou capaz de assumir que errei e porque finalmente acordei...mas como eu já disse, só acordo quando tudo a minha volta é flácido e inanimado.
O problema das pessoas, não de todas, talvez até seja o meu, o teu e o dele, mas talvez seja o de terem tido sempre tudo aquilo que quiseram e desejaram.
Quem me conhece bem, sabe que são raras as vezes que me entrego facilmente, mas que quando isso acontece, é algo de tão real que se pode sentir, cheirar e tocar. Não se perde aquilo que não se quer ter.

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