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Tuesday, July 13, 2004

Afinal porque é que se chora? Porque é que choro? Apago a luz e tudo estremece à minha volta. "Enfim" disse ela. É engraçado como uma palavra nos pode magoar, sem ser directamente dirigida a nós. Será que soubesse, não a proferia?Perco-me em pensamentos que não pertencem à minha competência, evoco memórias antigas e tento fugir das novas, a todo o custo, ao máximo custo. Já não sei porque choro, já não sei porque de vez em quando me transformo melodramático o suficiente para meter nojo ao mais puritano e inocente dos seres.
"Enfim". E ali fiquei eu, estático, exasperado perante tal comentário que me feriu a alma e me arrasou como se tratasse de algum fenómeno fisicamente mais violento. Há coisas que nunca se esquecem, que nunca devem ser esquecidas, que nunca hão-de ser esquecidas. De facto, o problema é que as pessoas vivem permanentemente a exaltar os defeitos que veêm nos outros, procurando assim ocultar os seus próprios defeitos sem perceberem que isso também faz parte delas, que as torna mais humanas e que faz parte disso, toda a complexidade existente na vida.
A mim, faz-me confusão como é que as pessoas escrevem, nomeiam e constroiem planos, trajectos, esquissos de futuros de vidas que não lhes pertencem na totalidade. Ensinam-nos que o amor é a coisa mais bonita à face da terra e do resto da galáxia, mas é tudo tão castrante à nossa volta, que quando o sentimos e o vivemos, há sempre alguém ou algo que nos impede de o realizarmos e de o tornarmos mais real. Afinal quem pode repreender o coração, marcar-lhe um processo? Quem decide quem devemos amar, de que maneira, em que grau, com que força? È preciso ter muita coragem para amar, seja quem for. È preciso ter coragem para viver, viver o amor, senti-lo sem que isso pareça um pecado, sem que isso faça de nós inumanos, seres carnais e mal-formados, talvez patéticos e infantis. A minha obessessão com o amor não vem de agora, mas nasceu comigo e viaja comigo, independentemente do meu destino ou direcção.
Houve tempos em que tentei evitar o amor, fiz-lhe frente e pensei ter vencido a grande batalha que sempre se advinhou, mas nunca chegou. Cortei com o passado, esquecendo como dizia o outro, que "podemos cortar com o passado, mas o passado não corta connosco". Penso que já escrevi isto, por aí, algures. Depois de o provar, de o saborear e de o perder novamente, tentei sempre encontrá-lo noutro corpo. senti-me corajoso o suficiente para cometer tal patétice inconsciente. Agora que corro sem rumo, vejo-me a enfrentar sozinho os fantasmas que eu teimo em encantar, de dia e de noite, umas vezes ao telefone, outras ao almoço.
Deviamos todos ter o direito de ser felizes, da maneira como queremos e como somos de facto felizes, desde que a nossa liberdade não infrigísse com a liberdade dos outros. Deviamos poder amar sem obstáculos, comodismos, ou preconceitos, tudo e todos, para que o bem podesse passar a ser visto como uma moda e o mundo, sei lá, se transformasse naquele pequeno mundo que todos temos vergonha em admitir que gostariamos de viver, perfeito. Que seja utópico, mas levou tempo até a aceitar esta verdade como facto.
No fundo ela apenas disse "enfim", mas enfim porquê afinal? Desde quando foi-nos dado o direito de julgar os outros apenas porque não gostamos todos de comprar a roupa no mesmo sitio, ou dizer ténis em vez de sapatilhas, ou fumar uns charros em vez de SG Ventil? Como é que nós, seres completamente imperfeitos e arrogantes nos achamos com posse suficiente das nossas capacidades, para nos atrevermos a olhar sequer para o modo de vida do colega que partilha a mesma mesa connosco na aula de Grandes Temas da História da Cultura Portuguesa? Tantas perguntas, para tão poucas respostas. mas eu só queria uma solucção. E vivo assim, com terror de este amor que possa vir a sentir, por alguém que não mereça, por alguém que não contribua para o meu enrequecimento enquanto pessoa, para alguém que não me aceite e seja por fim, aceite.
O link do meu blog faz parte de uma música. Chama-se Shed my skin e tem um refrão, qq coisa como " I don´t mind what people say, no i won´t look back for another day, gonna shed my skin and walk away, walk away, walk away...". Ainda ando à procura desse dia, em que terei tomates o suficiente para cometer tal proeza, na sua totalidade. Será que esse dia chega?

12 de julho 2004

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