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Sunday, September 09, 2007

Herança



Foi aqui que tudo começou e é onde pareço voltar, década após década, na esperança ínfima e sóbria de conseguir encontrar-te por mais alguns momentos do que aqueles em que te encontro, mergulhada na minha inspiração, revolta nas minhas memórias.
Se conseguisse fazer com que me amasses um pouco mais talvez acreditaria na perfeição e me deixasse levar por essa fé vaga, que é acreditar que realmente me encontro, quando estou contigo.


Nunca fui confuso e por isso mesmo, sei o que esperar de ti e da tua jovialidade surpreendente e inconstante. Prefiro perder-te entre a multidão e continuar a ouvir esse teu riso pouco sério, de quem já aprendeu mais do que aquilo que a vida lhe tinha para ensinar e afinal, nunca teve aquilo que sempre precisou.
É neste lugar, perto do mar e da tua voz, onde sempre me acalmei e senti que era o teu apoio, a segurança de um repouso concreto certo, sem dúvidas, ou medos infantis. E apesar de não estares aqui, apesar de não te ouvir mais, apesar de continuar a procurar-te sem perceber onde te possa encontrar, o silêncio que se apodera do local que já foi nosso, parece-me reconfortante. Como se fosses aparecer sem avisar e disso resultasse a motivação para um amanhã mais reconfortante.
Até lá, entretenho-me a contar os dias que passaram e que serão holograficamente iguais aos de ontem, onde nem o espelho me encontrava, na esperança de que tudo fosse uma ilusão e a minha pele tivesse ficado esquecida, enquanto os anos passam.
Precisava era de deixar sair esta agonia, por entre uma guitarrada e algum álcool, a ver se as lágrimas acabam por sair e algo me consegue alcançar, de novo. De certeza que tudo seria mais fácil e esta necessidade de sentir a tristeza a trespassar-me a energia que reside em mim, não existiria mais.
E não consigo explicar, de facto, porque é que no fim de contas, quando tudo foi resolvido e as peças encontradas, porque é que ainda te espero.


É difícil explicar esta esperança, tantas vezes negada. Se esconder dentro de mim, como de resto tem acontecido, por certo que alguém que acabará por descobrir. Se pretender recolher todas as informações, pesquisar e conceber um plano de modo a descobrir a cura para tamanha devoção, então serei um tolo. Para sempre.
Não, não é de fácil explicação, mas quando se tem dezassete e se sente a vida que a escorrer-nos e a pedir um pouco mais de pulsação, não há mais nada que possamos fazer. Mesmo quando não conseguimos dormir, por entre a ansiedade que o despertador nos deixe invariavelmente adormecidos para sempre, e que por isso, percamos tudo aquilo que nos quer manter acordados.
Talvez tenha aprendido a viver com aquilo que sou e a admitir que não há mais nada do que isto, para além de sentir a tua falta e de o reconhecer pacificamente, sem pressa ou nervosismo.
Há de facto “coisas” que não conseguiremos arrancar de dentro de nós, outras que nunca serão nossas e ainda outras, que por algum motivo, não conseguimos manter cá por dentro, embora gostássemos.
Novamente, o amor, aquele que te entreguei, é um acto perdido, talvez nunca merecido, inconstante e impreciso. Amar-te, já o disse antes, nunca foi fácil, mas compreendo agora, que a tua revolta fora sempre nunca me teres lido suficientemente bem, para acreditares nisso.


Que venha o coro estridente das massas que apelidam as formas do melhor que existe, que espalham cremes a ver se escondem a putrefacção da carne e a impureza da alma, que eu serei sempre o único que te espera, mesmo quando a porta parece fechada. E embora muitas vezes me sinta fraco, nunca serei o suficiente para me esquecer que foste tu que deste a batida certa, para este arranjo tantas vezes desconcertado.
Não há erro que suporte esta vontade. Tenho-te comigo, como se de uma herança se tratasse, sem precisar de desejar muito, para que isso aconteça. E embora consciente de que tudo é passageiro, não me importo, apenas porque te tenho comigo. Sempre.


Chicago – Sufjan Stevens

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