Followers

Wednesday, February 18, 2009

Soneto da Felicidade


A paixão tem destas coisas.
Ligamos o televisor e somos inundados por um marketing carregado de paixão desenfreada, seja nos anúncios publicitários, seja nos vários filmes onde pulalam personagens entediantemente amorosas ( interpretadas quase sempre pela Meg Ryan ou uma falsa sósia).
Descrevem-nos a paixão, como algo sorrateiro e imponderado, ao virar de cada esquina, sem nada que tenha que ver com a racionalidade ou lógica ponderada, carregada de aventuras e finais felizes numa praia paradisíaca qualquer. Talvez Cuba ou Republica Dominicana, o que interessa são meia dúzia de mojitos, uma espreguiçadeira e um grupo de nativos a satisfazerem os nossos pedidos por menos de um dólar.
Sem nos darmos conta, oferecem-nos a paixão em vários pacotes, cada um deles, destinado a um diferente target. Basta escolher : Meg Ryan ou Sandra Bullock, Kevin Costner ou Hugh Jackman.
No fim, deixamos de pensar naquilo que realmente queremos e procuramos, para passarmos simplesmente a assumir que o verdadeiro amor reside num grande filme de momentos, que acabam eventualmente por desaparecer.
A crise, leva a isso mesmo, como descreve Inês Pedrosa na sua crónica Contra a Paixão na edição da Única 14/02/2009, no Expresso. Ficamos sem opções e acabamos por nos deitar com o primeiro olhar que nos aparece com sabor a mar e monte velho, para no fim, tudo parecer um hotel onde as emoções são depositadas para logo serem esquecidas.
Esquecemo-nos fundamentalmente que o amor e a paixão advêm de nós e daquilo que sentimos e que por isso mesmo, inicialmente, temos de conhecer quem habita dentro de nós. Sabermos o que esse ser precisa, do que se alimenta e o que realmente o faz ter orgasmos de prazer.
Puro Prazer.
Precisamos saber de onde vem a alegria eterna de viver, de partilhar e de dar, de evoluir. O amor e a paixão têm esse dom nato de nos querer fazer melhor, numa constante mutação em algo perfeito, que nunca chegaremos a ser, sem que por isso nos tenhamos de sentir frustrados. É nisso, aliás, que reside a felicidade e seria eu um falso humilde se não afirmasse isso mesmo.
Por isso, é necessário sabermos o que realmente nos faz falta, quem nos falta e onde fazemos falta. É urgente concluirmos essa complexidade de que é feita a matéria humana, para sabermos depois quem queremos ter ao nosso lado.
Essa matemática aplicada às ciências sociais, na minha perspectiva, faz um completo sentido. Afinal, quereremos todos uma Meg Ryan, ou haverá espaço para uma Penélope?
A minha visão, é que todos devemos ter o que realmente queremos, o difícil, a meu ver, é conseguir perceber o que queremos. Já dizia a mestre Agustina, o difícil é pensar. Pensar no que gostamos, no que gostariamos dever quando acordássemos, no que gostariamos de ver quando adormcessemos. E não há nada pior do que acordar ao lado de quem não amamos.
Por isso talvez, as pessoas sejam tão infelizes, na maior parte dos casos. Tomam as acções apenas porque projecteram a ideia de que não podem ser mais do que aquilo que são.
A minha visão, é de que todos deveriamos fazer aquilo que gostamos e sentimos de fazer, depois de assumirmos as nossas acções, conscientemente e racionalmente e quem me diz que o amor tem pouco de racional, está enganado, na minha opinião.
É preciso ser-se racional para se concluir que se quer passar o resto da vida com alguém, principalmente, é preciso ser-se racional para ter esperança nisso mesmo.
É preciso ser-se racional de que o amor é essa obra de arte constante que precisa de ser moldada e adorada diariamente, esculpida ao pormenor, com todas as perfeições e imperfeições que acabam por se tornar o grande palco que á vida.
É preciso ser-se racional para se ter a certeza de todos os pormenores ínfimos pelos quais amamos e porque o devemos continuar a fazê-lo em conjunção com a irracionalidade que envolve toda essa temática, que é o facto de nos deixar a borbulhar o coração e ficarmos sem chão tantas e tantas vezes.
“ Que não seja imortal, posto que é chama

mas que seja infinito enquanto dure"* ( Vinícios de Moraes in Soneto da Felicidade)
Provavelmente Pedrosa e o Vinícios têm razão, mas também é mais fácil acreditar no amor a cada esquina do que lutar verdadeiramente por ele. É preciso ter-se coragem para amar. É preciso ser-se Homem para construir uma relação de que nos orgulhemos. É preciso ser-se adulto o suficiente e gostarmos de nós próprios para sabermos que aquele olhar vai ser nosso para o resto da vida e mesmo assim, ficarmos felizes com isso.
Durante muito tempo, perdi também eu, essa coragem tão característica outrora minha. Acabei por me conhecer e perceber aquilo que realmente queria e que me fazia feliz.
A esperança de um amanhã melhor, sempre, é aquilo que me faz verdadeiramente feliz.

No comments: