Followers

Thursday, March 19, 2009

A complexidade do SER

A complexidade do ser-humano é algo inabalável, altamente constrangedor e magnífico.
Somos esse ser paradoxal, onde os limites são impostos pela forma como reagimos na infância às leis impostas pelos nossos pais e pelo contexto sociocultural.
Sem entendermos isso, não somos ninguém.


Uns super homens, sem capa para voarmos, sem conseguirmos elevar os nossos sonhos a esse campo surreal e magnífico que é colocarem a vida além do que está presente nas nossas mãos.
O futuro, a deus pertence, há quem diga. E sem fé em coisa alguma, que nós próprios, também não seremos ninguém.

Concluimos a espera, ao longo dos anos, e quando menos esperamos alguém nos leva o tempo e esquecemos. Esquecemos o amor e a ternura, a candura e a magia. Esses toques que fazem a vida um pouco mais perfeita.
Sem fé em nós próprios também não seremos ninguém. Nunca.
Dependemos do chamado destino, colocámos-lhe as esperanças de algo menos atroz, um acontecimento mais lisonjeiro, mas real, menos corrosivo.
No fim, somos apenas algo.
Algo característico, uma caricatura das nossas ilusões, uma criação da nossa consciência, uma histeria pregada em festas deambulantes, que esperemos que acabem depressa, a ver se alguém nos agarra e nos adormece.

Queremos todos um guarda-costas, uma memória apaziguadora que nos leve e nos acalme, essa estabilidade que nso falta, essa luz que nos guia. Votamos em todos os políticos que existem a ver se algum nos leva, nos guia, nos dá um emprego sustentável no meio de tanta crise, na esperança que não sejamos nós os protagonistas de mais uma história de infortúnio no telejornal da uma. Da tvi, da sic, não gaverá grande diferença. O mundo público vive da desgraça alheia e nós também, desde que não seja a nossa.
Desde que seja a deles, seja porque razão for.
E por isso, nunca haveremos de ser ninguém.


Acomodados, deambulantes, corrompíveis, sem margem para erro, a ver se o vizinho do lado falha primeiro. À espera que esse Deus acorde e nos salve e crie um milgre divino qualquer. Um que torne os sentimentos mais estáveis, o acordar mais radioso, a firmeza mais imposta, a luva mais fácil de encaixar, o nome mais fácil de pronunciar.


Não confio mais nas melodias, será a minha maior desgraça, sempre. Caguei para os pontos de exclamação e para a paciência. Quero voltar para essa criação só minha, que não se completou, para esse texto que se perdeu, para essa marca que já foi a minha.
Perdi-me em tudo aquilo que queria ter e aquilo que queria perder e acabei por me perder, entre as vírgulas e os pontos finais. Tornei-me condescendente e mais preguiçoso, para ser apenas calmo e engenhoso.

E por isso, nunca fui ninguém.

Deixei de ouvir a guitarra e o saxofone, enfiei-me no vazio das palavras e da tecnologia, a ver se o resto do mundo se esquece de mim e posso finalmente sonhar.
A ver se me consigo tornar alguém.
Toda a gente a pedir atenção, no meio da criação da significação, eu envolto em simbolos, a ver se os signos não se perdem e a dar razão ao Pierce. Tudo na mais efemeridade possível, passível de ser descrita. Tudo na maior obscuridade.
Um dia.
Enquanto isso, fecho os olhos e o pensamento esvai-se, sangra. Não gosto de metáforas, mas sem elas, também não sou ninguém.

Respira fundo.
E volto a mim, a ver se o cigarro se acabou e eu páro de dar voltas ao meu pensamento. Não quebro, não recolho nada, novamente e enfrento.
Seguro-me, um dia hei-de conseguir chegar a algum lado, pelo meu próprio pé, pelo meu próprio caminho.
Um dia tudo ficará como deveria ser.
As pessoas hão-de perceber que é na igualdade que está a maior felicidade de estarmos vivos, porque precisamos dela, para não nos sentirmos vazios e sozinhos.
Segura-te.
Um dia a guitarra voltará novamente a tocar e todos esses detalhes que te metem medo e te tornam um pouco mais pequeno hão-de ser ultrapassados e tudo acabará por ficar um pouco mais leve, finalmente.
Tudo.
Decora o teu nome, alguém o há-de esquecer. Cola esses pormenores de que és feito, a vida há-de saber o que fazer com eles e esse teu sorriso há-de voltar novamente, sem manufacturações, sem remedeios pouco originais, sem tempo, sem espaço.


Um dia serei alguém.

Best Friend : Jason Mraz feat James M. Details in the fabric

2 comments:

Marcelo said...

Como conseguimos complicar uma vida que é tão bem mais simples...
Como conseguimos ser todos iguais, nunca perdendo a nossa identidade...
Como conseguimos ver reflectido em quem nos rodeia aquilo que nós próprios somos, mas temos medo de olhar para o espelho, só para não vermos aquilo que nos envergonha...
Vivemos sozinhos num mundo de multidões, mas é com o suporte amigo que conseguimos chegar mais longe.
Não diria melhor tudo o que escreveste, mas consigo-me rever nessas palavras tuas.

Um grande abraço

Daniel C.da Silva said...

Um dia seremos alguém :)

Lindo ter descoberto o teu blogue. Nao tens a funçao seguir?