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Wednesday, August 18, 2004

The Day After

Por onde começar, quando estamos vazios por dentro? Quando já nada faz sentido, como a Mafalda diz " e se sente perdido", mergulhado na minha prórpia solidão de uma cidade que me acolhe quando lá em cima me magoam tão fortemente e tão profundamente que nem os meus olhos são capazes de reagir ao nascer do sol, uma e outra vez.
Aqui há tempos escrevi um texto, "Amor Imperfeito" que por motivos que são alheios à minha pessoa ,que como já devem saber, não percebe nada destas novas tecnologias, não o consegui publicar ainda, neste espaço cheio de textos incoerentes, muitas vezes melodramáticos, muitas vezes profundos, pedaços de palavras que como a minha Mariana apontava, fragmentados. E sim, concordo plenamente contigo, Mariana. Fragementos, porque a minha vida apenas é composta por eles, cheios de tudo e de nada, como se a vida dependesse de um momento eterno, de um prazer intenso, de um sorriso contido. Hoje, não sei bem se faz alguma lógica publicá-lo, expô-lo e expor-me também a mim. Hoje não sei nada, "The more i grow the less i know". Sei apenas que não é a primeira vez que me olho ao espelho e vejo a mesma imagem reflectida e não pretendo cometer o mesmo erro e fazer desta experiência uma memória perdida, porque ela sempre é encontrada. Dizem que estas coisas não escolhem lugar,situação, corpo, ou música. Eu digo que adorei tudo enquanto foi vivido. Que segui os conselhos das pessoas que fui empatando ao longo da minha vida e entreguei-me com tudo o que tinha e tudo o que fui descobrindo, dentro de mim, através de ti.
Tenho tanta coisa para deitar cá para fora, tanta raiva contida, tanta paixão ressentida, tanto arrependimento hipócrita...Queria-te dizer que tenho saudades dos teus abraços, que o pouco tempo que o calendário contou, não corresponde àquilo que o meu vazio outrora desenhou, desenhar, pela primeira vez desenhar, desenhei um futuro em que eu acreditava, ao teu lado, contigo. As tuas palavras ainda continuam por aqui, dentro de mim a serem revistas para encontrar a razão para que de repente só existisse vazio onde outrora exista...As palavras não hão-de ser suficientes, nunca o são e eu poderia passar horas a comentar o afecto que criei por ti, como me fizeste esquecer o mundo que me rodeava e como eu gostei de o ter esquecido e de ser aquecido pelo teu ciúme matreiro. Este não há-de ser o último texto a falar de ti, porque eu sei que tu não voltas, porque permaneces em mim, aqui dentro, bem lá no fundo. Desta vez não estou a romantizar demasiado as coisas, a torná-las mais perfeitas, mais à imagem do meu sonho, que agora se encontra desfeito. Sei bem que isto não é o fim de nada, mas custa acreditar que entreguei a alma e o corpo, para que no fim só restasse eu, a contar as estrelas, preso numa estrada sem rumo, num caminho sem indicações, num vazio tão profundo que nem eu sei onde possa acabar.
Pois é Mariana, a vida é madrasta, já dizia a outra, prega-nos rasteiras, faz-nos felizes, faz-nos maus, cobardes, inconstantes, graciosos, belos, imperfeitos. Curiosamente um está sempre mergulhado no texto do outro, como se parte da mesma estória fizessem, como se parte do mesmo destino se tornassem. Só me lembro da fotografia que tiras-te e que guardei, à espera de te motrar tudo aquilo que tinha para te dar, à espera que me levasses contigo, como se dependesse de um olhar teu. Foi tão repentino, tão impessoal, tão frio que me levou para um lugar inóspito, que eu já conheci mas que esperei que tivesse desaparecido. Agora torturo-me a pensar em todas as razões para o insucesso, independentemente de ser assim que se escreve. Preciso de arranjar forças, seja em ti Mariana, seja num qualquer dos meus amigos que eu sei que só preciso de pegar no telemóvel que eles hão-de lá estar, assim como eu tive para eles.
Escrevi tanto e mesmo assim não disse nada, porque a alma ainda está magoada e as mãos não são rápidas o suficiente, para descreverem tudo aquilo que vai no coração, sem querer ser dramático de mais.
Antes da tua chegada eu achei que provavelmente não conseguiria gostar realmente de alguém, por todas aquelas razões que quem não sabe desconfia, mas assim que vi o teu olhar, deixei de me sentir, para passar a te perseguir, por entre os meus sonhos em que adormecia em paz, agarrado ao teu peito, onde afogava os meus pequenos tumores de adolescente e partilhava a estória da minha vida, patética, fútil, imperfeita, suja, imensa, rápida, incoerente, fragmentada.
Isto não há-de ser o fim do nada e eu ainda hei-de dar a volta e passar a gostar de alguém, não sei por quem, não sei onde, nem porquê. mas tenho fê e confiança nisso, assim como tive em ti.

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