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Wednesday, January 11, 2006

Negação II

Não me estraguem a concentração, não me digam que o jogo de luzes que evoca a solidão é falso. Não me digam que não posso sobreviver da desilusão, não queiram colocar a dor como pano de fundo para a minha destreza emocional. O que faço é conseguir, tentar alcançar esse objecto sem cor ou roupa, esse lamentar sincero e promíscuo, essa gota sexual que escorre pelo umbigo e só pára no lençol onde eu nunca me deitei contigo.
Queria assim, por entre todos estes tecidos feitos para nos prenderem a situações nunca pretendidas, manter a minha invencibilidade, sem que por isso tenha de ser chamado de frio ou egoísta. É que o meu piano deixou de tocar, desde que não te encontrei mais, quando dizer adeus nunca foi o meu desejo. Não. Digam-me apenas que a lâmpada fundiu, mas que a esperança de que regresses novamente por entre o “meu olhar que só sorri quando te vê”, é tudo menos falsidade herege. Faz-me crer que tudo em ti é reluzente, que o passado é fantasia que arde quando me deixo ocultar por esses genes que transporto em mim e que sempre me hão-de desfazer em menos de pó e camurça.
És o nada que nunca se há-de transformar em manhã negra ou enfadonha, porque o silêncio do teu reflexo é magia constante para os meus ouvidos. Nunca consegui que me travassem neste sintoma perplexo, nesta correria abusada, neste paladar nauseabundo. Não, não me digam que nunca hei-de chegar a alcançar essa força que eu (minto?) juro que permanece escondida em ti e da qual eu denoto breves resquícios quando te abano violentamente e te faço sair desse estado de latência do qual vives e sobrevives. Não me digam sequer que me tornei abjecto, como tantas outras coisas que odeio. Acabarei sempre por eternizar a canção nunca antes entoada.
Farei assim minha e de quem quiser, a sombra que foi deixada para trás, essa rodada de uísque que nunca haveremos de beber os dois, completamente juntos, como se lá fora a neve não fosse branca.
Aqui e agora, a neve é sempre branca do outro lado, neste manto de inspiração que me sufoca e me faz descrer que o não foi apenas o que pronunciaste apenas para eu nunca largar a minha ilusão enegrecida, cada vez mais.
Devo dizer, que foram raras as vezes em que desisti, por isso não mo peçam para o fazer, porque a concretização da incompreensão é algo presente em mim, essa forma de “amar o amor” como diria Agostinho da Silva, essa recriação do meu sonho personalizado em ti. Eu que me tornei discípulo da irmandade dos amantes da paixão e quase da tesão, eu que fui cego, mas sempre alcançando a batota no jogo, eu que nunca fui surdo e que por isso abandonei sempre quem quis. Que não me digam, que não me escutem, que não me leiam. O não é apenas uma parte da minha comiseração de fugir ao que realmente encontro em cada espelho. Não. Amar não acaba.

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