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Wednesday, February 28, 2007

Motivação

Se conseguir revelar mais do que aquilo que sinto, nessa nódoa castanha de quem já provou a terra e ficou com esse sabor amargo que é nunca conseguir retirar mais do que aquilo que se consegue conter, Por detrás dessa música do povo, esconde-se o fado de se ser leve demais para arcar com a consequência do acto transposto, da nobreza empobrecida, dessa fuga do nosso próprio querer, que acaba por se silenciar de cada vez que a desarrumação que a nossa própria mente varre.
Nesse piano, que foi desde cedo o aurauto de um fim límpido e heróico, onde o erro foi nunca ter esquecido, realmente. A justificação para a constância da contagem decrescente que falta para o assalto ao abismo é encorajador, sentido.
Enquanto isso, espalho-me por entre a sempre vontade de sentir o desejo um pouco mais perto, uma motivação mais quente e saudável, livre da cobiça e da obsessão que tanto desgasta o olhar.
Por entre essa chuva que cai lá fora, chego a sentir me cansado de tanta falta de correspondência, da falta de organização do meu próprio espaço, em que habita gente de quem não me lembro o nome e ficam de fora aqueles que nunca me esqueço.
Sempre e que para não façam pouco, esqueço-me sempre de gritar, para que não percebam que a memória dilacera e o egoísmo corrói, mesmo nos espaços mais inacessíveis.
Gostar nunca foi fácil. Perceber que se é totalmente eficaz por entre o sonho que sentimos e aquele que realizámos, é uma diferença notável, digna de estafeta que nunca se cansa de proclamar que há algo ainda mais real do que a tangibilidade circundante. Essas ruas que se atravessam, acabam sempre por conduzir ao desengano que é viver sem nunca perceber onde começa a nota, onde acaba a sensação de esquecimento e onde se pode, por fim, começar de novo.
A releitura da própria inocência é de facto vital. Há coisas que não voltarão a ser as mesmas, apenas porque p tempo, esse grande culpado da falta de sensatez, não esperou o suficiente para que estas se fixassem.
Como nunca, escolhi a batida que não controlo, de facto. Achei que sabendo controlar as palavras, poderia construir a minha própria narração, egocêntrico que acabei por me sentir.
Tentei sempre mostrar a plenitude que sentia, quando não era abraçado. Lembro-me que me perdi nesse teu sorriso, antes mesmo de saber qual era a forma que o meu tinha. Contra essa pária que abate os amantes, nunca me deixei levar pela incerteza do saber. Contudo, nunca nada foi tão errado. A transparência das nossas acções torna os actos aos olhos dos outros, apenas sensações que facilmente são esquecidas. É preciso que nos tornemos senhores do nosso próprio lamento, sem nunca o querer controlar.
A motivação reside na falta de compreensão que acabaremos por sentir, sempre que nos sentirmos sós e a guitarra portuguesa soltar a saudade.
Nunca percebi o porquê desse sentimentalismo, mas confesso que lhe acho particular interesse. Pressentir a tristeza nesse olhos que vagueiam pelos passeios polidos por falta de liberdade é saber que há sempre alguém quem nos leve para casa, mas ninguém que nos leve para longe.
A perturbação de tal pensamento é andar de mãos dadas com a razão e ao mesmo tempo com a inconsciência própria de um adolescente, que infelizmente não sou mais. O que retiro dessa incoerência é mais do que um simples raciocínio. É levar a incapacidade sempre mais longe, a agonia de não se ser mais, eterna.
Não é melancolia, não é amor descontrolado, é antes a falta de motivação por algo que não volta atrás. Esse arrebatamento parco em agonia, numa vida cheia.

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