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Tuesday, March 13, 2007

Distância

A introdução previsível necessita de uma mudança, assim como o prolongamento do discurso, esse que sempre garantiu que a alma é do tamanho dos nossos sonhos.
Ultimamente, a minha decresceu um pouco, para se tornar à medida do que a realidade tem para oferecer, a fim de ocupar um lugar um pouco mais comum e não por isso menos estranho.
A matéria que me circunda é de facto um pouco nefasta, mas convidativa à acomodação. E é assim que tudo é construído, entre os lençóis cautelosamente passados a ferro e uma cor menos baça que ilustre a nossa face na fotografia-de-família, que todos as páscoas é tirada.
Por isso, pensei em desistir de tentar encontrar a causa para a cura, como se os azulejos fossem mesmo brancos, apenas e só porque alguém decidiu que fossem.
Sentado no lavatório, esse local impróprio e frágil, deleito-me entre o prazer que a culpa transporta isso. Ensinam-nos que o céu é azul, mas nunca que a confirmação do desejo e o momento em que este é garantido não é nada equiparável à tortura que pode comportar algo que facilmente pode ser julgado por alguém.
É nesse prazer que me entrego, sempre com o remorso e a culpa de saber que a verdade provém sempre do pequeno e do grande amor, nunca da aspiração a uma vida melhor. Enquanto estudante que sou, perdi-me em directrizes impostas por professores que pouco nos ensinam a saber conduzir por entre os códigos sociais impostos.
Para encontrar alguém que nos apazigúe a coragem ( ou a falta dela ), somos forçados a procurar uma idade, um local, um nome. São tantas as condicionantes e soluções para um resultado certo, que no fim, nada se concluí como tal. Morremos pelo sonho, moribundo à partida, porque a cábula que a tecnologia nos oferece e que aplicámos diariamente, é falsa.
Condenámos à partida as pessoas, todas elas, pela maneira porque se vestem, o sorriso exagerado ou a falta do mesmo, a idade prematura ou avultada, a inocência perdida ou a calça rasgada, impedindo que a nossa realidade seja tocada e por isso inalterável. Queremos o idealizável, apenas porque já saberemos travar as investidas e controlá-las. Queremos a imagem do que planeámos e não a que sonhámos, apenas porque nos sonhos não há materializações, apenas conceitos ternos e eternos.
Podemos por isso estar a dispensar a alegria de um vasto número de manhãs, apenas devido a um sapato mal engraxado ou botão mal apertado. O exagero com que descrevo as relações humanas contemporâneas não é saudável, mas muito longe de uma ficção.
Estamos inscritos nesses sítios virtuais, onde não há espaço, nem tempo, mas há uma busca pela fotografia perfeita, uma descrição plena daquilo que queremos que os outros vejam em nós e mais do que isso, uma aposta directa naquilo que queremos, a fim de evitar pesos pesados. Quem não se compromete com isso, é forçado a caminhar por entre o grande número de incompetentes que tentam a todo o custo conquistar alguém suficientemente encantador, para que os amigos se sintam impressionados, não pela pessoa em si, mas por aquilo que ela consegue demonstrar sem sequer abrir a boca.
Chamem-me snob ou altruísta, apenas me movo por entre esses olhares há algum tempo, suficiente para saber que todos vivem com a esperança que o ginásio lhes garanta o sucesso numa sexta-feira ou que a dieta que tanto insistem em fazer lhes consiga aquele piropo, mesmo que não seja o mais eloquente. O que afasta as pessoas não é a distância, mas antes a falta de comunicação.

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