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Wednesday, May 21, 2008

Café

Afinal quem vai salvar a tua alma, quando todos descobrirem as mentiras com que foste desgastando a tua vida e daqueles que por ti foram passando?
Tornamo-nos anónimos da felicidade, por nunca lhe conseguirmos patentear a certeza de um futuro risonho, apenas porque não pensamos nisso.
Pensa agora que cais e que constatas a verdadeira natureza que é o amor e tudo o que advém dele. E eu ainda tenho a tua chávena.
Tenho a tua chávena que partilha a sobriedade da facilidade deste momento em que me esqueço e transpiro tudo aquilo que quero tirar e que acaba por restar de mim e para mim.
Tenho a tua chávena, preta, escura, onde só o líquido acaba por ser a metáfora da tua essência que ficou em mim, como se dependesse dela para correr, fugir e dizer que sim, quando me quero perder em tantas negações convictas.
Olho para ela e tenho apenas a certeza que quero manter todos os momentos novos e incertos, intactos, parados e eternos nessa dinâmica que é sentir o gelo a partir quando ainda sei que te amo, de cada vez que sinto a agua advir dessa praia.
Essa antecipação turbulenta e um pouco violenta, envolta nesses código semióticos onde a bolacha maria se torna combustível próximo da chávena.
É então que me perco ou acordo. Não entendo muito bem a separação destes dois estados, por nunca saber qual se iniciou primeiramente.
Sei que não são únicos e se sucedem simultaneamente e repetidamente, como a porra do café que insisto em beber. Há actos e acções que não sei mais se são prazer ou fuga dele mesmo. Uma habituação a fim de evitar cair da expectativa e me segurar perante os trâmites que se avizinham um pouco mais do que perigosos.
Perigosos e surreais, porque a chávena ainda existe mas o líquido já se escapou bem por dentro de mim, como se eu alguma vez o tivesse desejado. Como se algum dia ( e nisto a gargalhada solta-se de uma forma sonora e estridente) te pudesse ter esperado, antes que finalmente perspectivasse a tua identidade.
Espero então, ansiosamente, que não me voltes a chamar e a esperar que te queira tanto como me quiseste um dia. Tornei-me mestre nessa arte da liberdade desenfreada e nem constato que tenho medo que ela se torne um vício, como o amigo portista Sousa Tavares.
Isso é para quem tem tempo suficiente para não poder esticar os braços e querer ser novamente outro alguém, que não qualquer um de nós, novamente.
De ti, não tirava nada, porque a imperfeição se aperfeiço-a e me cativa, nessa dança lenta e muitas vezes morta que é a tua inocência.
Cada momento que passamos, cada sexo que tocámos, cada olhar que rasgamos, há-de ser nosso, porque de cada vez que caio, sei que não hei-de estar sozinho, neste lugar bem meu, apesar de comum.
Se não te importas com a tua alma e a direcção que ela toma, de certeza que farás o melhor por ti e por todos, porque eu hei-de estar antecipando a tua chegada a essa praia onde só nós estivémos e partilhamos.
Havemos de chegar um dia juntos e eu nem me dei conta. E então, só aí, vou perceber que a chávena nunca, em momento algum, esteve preenchida.


Best Friend jewel. Who will save your soul?

3 comments:

Adão said...

O que é comum não é nosso. Apesar de co-proprietários desses momentos, nada temos perante a decisão de outros. Trata-se de uma herança, que não é desfeita de imediato, demorando anos para se extinguir, nas nossas escolhas. Repete-se de sentimentos contraditórios de “quero, mas fujo”, “esqueço, mas escrevo”, “espero, mas caminho” esperando por um dia, onde todos os planetas se alinhem e joguem a configuração perfeita para estarmos em comunhão, com os outros e com nós próprios.
Não é por “guardarmos”, que estamos acompanhados e não é por “querermos”, que as coisas, mais tarde ou mais cedo. acontecem como previmos. Nesta confusão toda da vida, que alguns confundem com felicidade, verificamos que nunca tivemos nada. Que sempre ignorámos tudo. E que os cativeiros efectuados, sempre foram insuficientes.

Sugiro, o refrão da música “Chama por mim”, dos “EZ Special”… não pela sua qualidade musical (não vou dissertar sobre isso, nem explicar os porquês das minhas escolhas), chamando apenas a atenção, para a letra encerrada naquele momento… porque digam o que disserem… todos, mas TODOS nós, ansiamos por alguém, que apareça, permaneça e diga: Presente!… quando pensamos ou proferimos aquelas palavras musicais.

Abraço

Adão said...
This comment has been removed by the author.
Adão said...

Eu não queria falar da qualidade da música indicada… (gargalhada) porque isso levaria uma eternidade… e também porque até nem sou fã dos “EZ Special” (gargalhada). Mas sou amante de música, apaixonado por sons, louco por letras e fiel às sensações que tudo isto me provoca.
E o que quis transmitir foi isto:
“(…)
Do dia p'ra noite
E em qualquer lugar
Chama por mim
Chama por mim
Chama, chama que eu sei que te vou encontrar
Chama por mim
Chama por mim
Chama, chama que eu vou
Chama que eu vou
(…)”

Ou seja, sendo o bom inimigo do óptimo, seria ideal que pudéssemos ter alguém, que como qualquer super herói banal, ao mais leve murmúrio do seu nome… aparecesse, ficasse e mostrasse interesse. Ou mais do que isso, sentir que alguém, por aí, algures, proferisse o nosso nome, num som baixo, médio ou alto… e onde avançávamos de imediato, justificados… não pelo o encantamento de um chamamento de sereias… mas sim, porque mostramos interesse… aparecendo e ficando.

Um abraço