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Wednesday, June 11, 2008

Reencontro - Depois do Fim

Os livros são isso mesmo. Um poço de histórias para contar, de carinhos feitos e refeitos para nos alegrarem a vida, nos manterem conscientes dos perigos e das coisas que julgamos inexistentes e do facto de muitas vezes, sermos mais difícieis de decifrar do que a obra mais longa e complexa.
Antes de me despedir de ti e ver a tua imagem abandonar-me numa praça qualquer, lembro-me de te querer entregar aquilo que me fez querer voltar e experienciar por mim próprio, toda a sintonia que saberia que nunca mais voltaria a sentir.
As relações, quando existem, são levadas por cursos e recursos que muitas vezes não dominamos. As palavras assumem um peso muito mais forte do que os actos, inúmeras vezes. Por isso, vamos contando quantas vezes soletrámos A M O – TE ou Q U E R O – TE. O nosso vocabulário passa a cingir-se a esses epítetos e nunca mais queremos ultrapassar essa barreira. Quando tudo acaba, são as palavras que perduram ainda, dentro da nossa cabeça, como se tudo fosse um grande equívoco e nada fizesse mais sentido. Muitas vezes, tudo advém de uma grande deficiência comunicativa. Interpretamos um talvez como sendo um sim, um gostava, como um adorava e acabamos a falar sozinhos, à espera de uma resposta de um emissor que nem tem a consciência de estar a fazer parte de um diálogo.
Foi assim que dei conta que nunca resultariamos. Tu a quereres conquistar o mundo através das engenhocas pelas quais haveremos de ser dominados e eu a revelar-te a natureza dos sentimentos, como se tivesse nascido para ensinar onde se toca quando se ama.
É tudo uma chatice isto do amor, principalmente quando vivemos numa sociedade onde os corpos são descartáveis e tudo é coisificado. Olhamos uns para os outros, como um produto que deve ser usado, que tem algo para nos oferecer e do qual devomos retirar algum benefício em troca.
Por palavras e sociedade individualista, acabei por fugir a ver se o mundo era todo igual, e embora não se tratasse de uma pergunta, a resposta nunca foi uma hesitação em todo este processo.
Não te pedi para que voltasses atrás. Não era aquele o momento. Ainda haveriamos de nos encontrar e dizer que o momento seria outro, porque nada nos chega, na realidade. Na realidade, não sei o que saberia fazer com um “fazes-me falta, ainda”. Apenas decidi que te queria, que nunca deixei de te querer, que ainda te vou querer durante algum percurso mais.
Vim preparado para tudo, mas principalmente para continuar sozinho a contemplar a tua ilusão construída por mim, refeita em alegrias e sorrisos decorados logo pela manhã, lençois brancos que não eram nossos e que sempre me fizeram sentir como o maior canalha possível, mas que eu nunca consegui impedir de partilhar contigo.
São estas hipocrisias que a vida, mas principalmente a falta de bom senso, nos faz cometer e por isso, nunca esperei que ficasses, te sentasses e dissesses “fazes-me falta”.
Debaixo do braço levava-te a razão pela minha permanência naquele lugar, pela antecipação de um trajecto , pela fuga do país da sensualidade envolto em turismo sexual e cachaça 51. Debaixo do braço trazia a história falhada e malfadada de alguém que tinha tentado o mesmo que eu e tinha ficado irremediavelmente sozinho.
Por isso, já vinha consciente do final de toda a insanidade que é entrar num avião e julgar que tudo vai mudar, quando sair dele. Se fosse uma máquina do tempo, muito provavelmente, mas é só mais um mecanismo a fim de tentar controlar o homem e de eu próprio a ver se volto a estar num território que tenha 4 estações e o meu cabelo pára de cair, por só existir Verão e Outono.
Enquanto te vejo sair, a música já é outra. Um clássico, mas desta feita dos Beatles. Pergunto-me que idade terá o pedinte. Acho que terá a idade de qualquer pedinte. Têm todos a mesma idade. A rua espelhada na cara, a voz rouca de todas as drogas que consumiram anteriormente, o vinho de mesa que os consola durante a manhã e o cachorro pulguento que é tratado com carinho e compaixão. Tem a idade do tempo, sem identidade, sem identificação, mas com mágoa de viver.
Não me revejo nesta música que toca e apetece-me comprar-lhe uns cd’s novos a ver se se actualiza e ganha ouvintes mais jovens, o que lhe permitiria ganhar mais uns trocados. Já ninguém quer ouvir Beatles enquanto vê a pessoa que ama, afastar-se sem dizer um “até manhã”.
Tiro o livro debaixo do braço e fito-o. Sou cheio destes pormenores cinematográficos, planeados cirurgicamente, sem nunca fazerem sentido, porque não há final feliz. Já não sei se sou eu que imito a arte ou é a arte que imita a vida de cada um de nós.
Na capa, está escrito um “Moder-te o coração” em letras garrafais. Morder-te o coração e ficar contigo, entre o desejo e a solidão que seria conter-me em ti. Abro a última página e vejo o desfecho “ Depois do fim”.
Depois do fim, que ainda não termina aqui. Preferi experienciar e saber de que sabor é a amurgura de se querer viver e reparar um momento que se pretendeu perfeito e não se conseguir reconstruir todos os sorrisos de outrora a fim de querer que tudo aconteça novamente.
Talvez tenha aparecido de surpresa, talvez esteja mais velho, talvez já não me reconheças e por isso, voltei antes que o tempo se acabasse. Antes que tudo acabasse.
Compro um envelope e chamo o táxi. Enquanto me sento, sinto um olhar sobre mim. Os taxistas têm essa sensibilidade de saberem quando é que nos sentimos entorpecidos e engolidos pelas nossas próprias acções e não me pergunta mais nada. Digo que quero ver o Tejo e ele não se mostra chateado. Quero ver o Tejo agora, com ele, e recordar o infinito que fiz contigo e que quase partilhei com outro alguém que nunca me seduziu, apenas nunca me amedrontou.
Vejo as gaivotas, os velhinhos que passeiam em túneis que as suas cataratas construiram e vejo-nos a nós naquele mesmo banco a confidenciar o que a vida nos tinha feito. Eu com pose de adulto que está consciente dos perigos da vida, tu com voz de quem não quer mais nada a não ser algo doce quando adormece. Eu a querer-te pegar ao colo, tu a dizeres que não gostas de amar, porque não sabes como. Eu a querer-te, mas com medo, tu a queres-me, mas sem mo demonstrares, sem mo dizeres, sem me deixares saber. Eu a precisar de ti, sem saber se me segurarias.
“ O meu nome como em momentos de amor, completo, arrastado para a frieza da realidade”, diz Xavier na última página, enquanto releio as últimas linhas do livro que quero que leias, a ver se tenho razão em querer-te novamente, mas sem lutar muito, porque nada pode acontecer mais. Por orgulho, por unanimidade de conssentimento, por falta de coragem.
O meu nome, como o repetias quando te mostrei o que era fazer amor e nunca mais o quiseste esquecer.
Peço para me levarem ao Pestana. Chegados lá, eu e o taxista, que deverá chamar-se José como todo os taxistas se devem chamar, contemplamos em uníssono a magnificiência da escultura física que está à nossa frente e imaginamos a corte real a passear-se nos grandes jardins sem pensar que grande parte da população morria sem o que comer, não sei em conjunto ou se o taxista está só à espera que eu pague e saia, sem fazer barulho.
Entro e dirijo-me à recepção. Não és tu que lá estás. Na tua vez, está um senhor que me fala num tom tão angelical que achei que me fosse levar por um certo encamento e melodia nas palavras. Tudo esmorece ao saber que estou à tua procura, mas adianta-me que “a menina Teresa está de folga, hoje”. Menina Teresa? Sabem bem menos do que eu, mas também não pretendo partilhar uma informação que gostava que fosse só minha. Deixo o envelope com ele e despeço-me.
Despeço-me e não olho para trás, novamente.
Mordeste-me o coração e não consigo olhar para trás e ver que te perdi, sem saber se é para sempre.

Sem saber se é para sempre, porque isso é muito tempo.
E se nunca mais voltasse? O livro apenas nos mostra que a vida é feita de momentos irrepetíveis, não nos motra o que fazer com a solidão que advém dessees trajectos que sáo a materialização de tudo aquilo que desejamos.
Desejo-te a ti, a encontrar-me nas ruas do Bairro, sem combinação ou lógica predimitada. Apenas porque queriamos.
Tu a encontrares a minha esperança de seres tu a personificação de todos aqueles conceitos que povoam a minha consciência, nós numa pousada qualquer em Coimbra, que se tornou o ponto de encontro de duas pessoas que estáo separadas por um espaçó geográfico que os limita nas acções, mas nunca nas palavras.
Eu a suar desenfreadamente e tu a quereres mais. Nós a rirmo-nos de tanto prazer, no final, sempre no final, como se nunca tivéssemos experienciado o prazer sexual antes, como se fosse algo único desta vez, só daquela vez.
Tenho os momentos gravados como peças de um filme esculipido para ser perfeito. As viagens par aum ponto de encontro comum, o desembarque em Lisboa, como se chegasse de uma grande viagem, os teus olhos a correrem na minha direcção e a vez que conseguiste a chave da suíte do Pestana e nos perdemos, enquanto nos esqueciamos da gravidade e iamos bem alto, juntos.
E agora, onde andas? Queria-me deixar ficar por cá, deixar-me ficar na noite vazia, na rotina dos bares que acabam sempre por me trazer a tua voz.
Abro o livro e o Xavier está sozinho. Está sempre sozinho. Mesmo quando acaba pro ficar com a nórdica que percebe finalmente o que é a sensualidade lusitana ou mesmo quando decide ir atrás da Maria, como eu vim agora atrás de ti.
Estamos os dois sozinhos, porque tivemos vergonha de admitir este final e por isso não avisámos ninguém que viriamos. Se eu morrer, alguém me há-de procurar, mas do outro lado do atlântico. Se eu morrer, será que te arrependes e voltas?




Best Friend The Beatles. Yesterday

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