Followers

Thursday, April 07, 2011

Insuperável

Ser adulto é tornar todos os fatos como garantidos. Esquecermo-nos de que por vezes, a verdade há-de ser refeita e a nossa acomodação há-de ter um fim. Procuramos tudo e todos, enquanto somos um pouco mais novos. Perdidos, mas também, maravilhados. Quando crescemos, entendemos claramente que a vida cá fora, é mais dura do que aquilo que prevíamos e que nos falta a força e o poder que só podem ser traduzidos pelos sonhos e as viagens que tínhamos, enquanto podíamos reclamar a inocência da adolescência. O primeiro beijo, as férias intermináveis junto à praia, uma nostalgia de lugar nenhum e o walkmen por entre a areia. Era esse momento de solidão incontrolada, mas de perfeita sintonia com o resto do mundo, que nos há-de sempre fazer falta. Onde as palavras não eram contidas e a injustiça era transferida para um gelado ser mais caro, do que outro. Simplesmente. O primeiro segredo, o primeiro dia de aulas, o primeiro filme porno, o primeiro flirt, a primeira mensagem com sorriso. A primeira amizade, o derradeiro “para sempre”, com um pé na água fria do Mindelo. Só o amor pode ser incoerentemente fresco, quando tudo parece gasto e polido demais, para nos carregar com novas sensações, essa energia sensorial, tantas vezes perdida. Só o amor, puro e brilhante converge toda essa leveza que o ser pode carregar. “O que dá sentido à nossa conduta é sempre uma coisa completamente desconhecida”, refere Milan Kundera, que deixará de existir, quando nos tornarmos em pura contaminação contraída pela retina, através da propaganda política. Só o amor pode ser esse último reduto, das incertezas inebriantes, das viagens nunca mais finalizadas, de todo esse lado dramático que explodíamos na adolescência, na esperança de que o dia seguinte, fosse irremediavelmente diferente. Só o amor pode completar essa busca vertiginosa e proporcionar alguma beleza inerente ao caos em que todos vivemos. Num país moribundo, onde os políticos se desresponsabilizam com eleições antecipadas, apenas porque já conseguiram amealhar o que podiam (a título pessoal), até à altura. Ser adulto, tem que consistir irremediavelmente em mais qualquer coisa, do que procurar por um novo emprego todos os dias, apenas porque precisamos de mais dinheiro para construirmos uma casa, comprar um Ipad, ou talvez quem sabe, gerar um adolescente. Gostava de repousar na ideia de que ser adulto, significa irremediavelmente ser livre. Foi nessa ideia que vivemos a correr, na esperança em que possamos moldar a realidade circundante, um pouco ao nosso reflexo e memória futura. É nessa ilusão que vivemos, continuamente. Até aqui chegar. Não há tempo para viver e o pouco dinheiro que amealhamos, mal nos deixa sobreviver. Crescer na perspetiva de que a altura em que nos escondiamos nas casas de banho dos bares, para atender a chamada à mamã e mentirmos como gente pequena “estou na cama, claro”, era bem mais empolgante do que a vida de um trabalhador adulto tem para oferecer, é extenuante e cansativa. A concretização de todos os sonhos devia ser justamente agora, em que não existe mais nada, para além da nossa consciência a ditar esse caminho, cheio de coisas pouco surpreendentes. O amor pode ser a criação de algo insuperável. Todos os dias.

3 comments:

André said...

Gostei muito... mas podemos sempre mudar, porque dentro de todos os "limites" que a sociedade nos implementa a sempre algum tempo livre para podermos ser o que quisermos e estar com quem mais queremos, mesmo que não seja todos os dias, semanas, meses.... :) André

Carol Brito �� said...

muito interesante gostei muito do seu jeito com as palavras tanto q comecei a te seguir rsrs um abraço

Lia said...

Serei eternamente, uma criança. :) cheguei a esta conclusão quando deixei de tentar ser "adulta à força" e me apercebi, que apesar de nova, com o passar dos anos cada vez sei menos. todos o deviam de ser, porque a vida não tem que ser um cargo constante. e isto não implica a falta de responsabilidade