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Wednesday, March 10, 2004

De que cor é o medo? Não sei, mas eu sinto-o. Aqui, neste quarto povoado por fotografias, por pessoas que já não me acompanham, que foram deixadas para trás pelo tempo e pelos seus atormentos. Um adolescente vive rodeado por paredes revestidas por uma cor que lembra o medo. Não é preto, não é cinzento, nem o branco, é o nada. O nada que se espalha pelas nossas veias e por todos os poros da nossa pele. E de repente deixamos de sentir tudo o que nos rodeia, porque a cor do medo é baça. O sol já não nos sorri, o mar parece não nos compreender e os pais dão-se conta que nunca vamos ser aquilo que eles uma vez e todas as vezes sonharam que fôssemos. A única coisa que nos faz avançar, é a luz ao fundo do túnel. A idade adulta. E por isso combatemos o medo para chegarmos a esse nível e o medo, por fim, desapareça. Foi isso que nos ensinaram. Os adultos não têm medo. Não temem nada, nem devem explicações da sua vida imperfeita a ninguém. E por isso vivemos na ilusão desse mundo que nunca será encontrado.
O mundo devia ser capaz de nos segurar e nós de pedir ajuda. Vagueamos por aí, à espera do tal sorriso que nos trará a luz tão desejada que a nossa vida tão precisa, mas estamos tão revestidos pelo medo que ela passa por nós e nem nos damos conta. E quando olhamos para trás, a razão da nossa existência passou por nós, sorriu-nos, convidou-nos para um café e nós nem demos por isso. embrenhados nos nossos pensamentos altruístas e egoístas, fruto de quem nasceu para pensar nos seus problemas como se vivesse sozinho no mundo, perdido no meio desta galáxia, que dizem ser imensa. Alguns procuram a fuga na erva, mais ao menos fácil de arranjar que os leva a lugares onde eles nunca poderão estar, outros no grito da infância roubada e outros ainda nas novas tecnologias, que nos permitem sermos quem quisermos onde quisermos. É um mudo tão vasto, cheio de pequenos perigos, cheio de insconsciência e falta de razão, de depressão e intuição, de paixão, sexo e por fim de medo. De medo de desiludir o mundo, que nos destinou um papel para o qual nem sempre estamos preparados para desempenhar, de medo de sermos aquilo que sentimos que somos, de medo do ´próprio medo. O discman acaba por se tornar o nosso melhor amigo, sempre disponível para tudo e para todos. Quando é que isto acaba? Dizem que é agora que se vive a vida, que se mata os fantasmas do passado e se constroi a nossa identidade, o nosso ser, aquilo que nos vai delimitar no futuro. Mas que fazer quando já nascemos limitados? Há sempre uma boa razão para não nos sentirmos bons o suficiente.

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