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Friday, June 18, 2004

Imagem quase perfeita

Aqui no meio desta sala cercada por livros, alguns antigos outro recentes a que chamam biblioteca, mergulhada na imensidão de pessoas que ainda não desistiram de procurar o conhecimento em algo mais palpável do que meras palavras soltas, perdidas. Lembro-me de quando te olhei pela primeira vez e foste logo ali, um desses livros que hoje vasculham e que parecem de difícil compreensão, mas que não passam de escrita pop, demasidadamente leve para ser levada a sério, idenependentemente de ser esse o seu propósito ou não.
Gostava de ter vivido mais entre a areia da tua praia, mas o meu coração sempre esteve preenchido por outro alguém que não tu. A tua sensibilidade sempre foi demais para mim, fria como sempre gostei de ser, rodeada pela minha casca, inquebrável e cheia de banalidades e falsos sorrisos.
Como é que se explica o fim de algo que não teve começo, princípio ou situação? Amar-te sempre foi demais para mim, sempre exigiu demais de mim, porque sou invejosa e edonista demais para me conseguir submeter a uma beleza superior a mim, a um ser que por ser tão delicado me metia pena, que por ser tão popular me metia inveja. E eu não queria amar-te e continuo a não querer amar-te e se és tu que me dás a inspiração para cantar aquelas músicas que toda a gente acha profundas demais para serem escritas, eu quero ser o nada, como fui sem ti.
Não há justificações plenas de romantismos como sempre quiseste, como sempre desesjaste ou então fui eu que te interpretei erradamente e agora poderiamos ser felizes, tu a veres os meus concertos, eu a espiar os teus desenhos de casas, casinhas e palácios para gente claustrofóbica que acha que quanto maior for a sua singela habitação, maior será a sua vontade de prevalecer sobre as viscitudes da vida.
Naquela noite em que fui tua, em que mergulhei no teu mar e tu foste a minha estrela que me guiou por entre a noite fria, redescobri-me e senti-me nova e pura outra vez, apenas por me teres tocado, apenas por ter tocado da tua areia sem ela ter escoado por entre os meus dedos, apenas porque não havia ninguém para julgar quem era mais belo ou para contar todas as traquinices que eu fazia quando era pequena e tinha ar de maria rapaz. Por entre o meu peito ainda te sinto, e quando ele me toca é a ti que eu sorrio, porque as mãos dele não são inocentes e ele transborda prazer carnal e é disso que eu preciso para não me tornar suficientemente fraca e ser vergada pelos problemas da vida. É dos abraços vazios dele que eu preciso para não voltar a achar que a vida há-de ser sempre como nós queremos, é do olhar distante dele, é o sorriso improvavél dele que me faz ser dura o suficinte para conseguir partilhar os bastidores com alguém que a determinada altura me humilha, apenas porque a minha canção parva, teve mais sucesso do que a dela.
Nunca mais esqueci o teu sorriso rasgado, o teu olhar penetrante, a maneira como ao pé de ti ficava pequena e diminuta prante a minha própria fama, como me achava suja, fraca, impotente, porque tu conseguires ser tudo aquilo que eu achava que não se podia ser. Nunca mais me esqueci do teu corpo ondulante, das tuas dunas, da tua respiração, da praia, a tua Praia.
O amor nunca foi uma razão para mim,solta, foragida de mim própria a tentar encontrar uma pergunta, quando não havia solução. Quando este sentimento deixar de correr, vou deixar de escrever, também, e passarei a cantar as músicas de quem nunca sentiu o que tu sentiste por mim e que eu desejei também sentir e não consegui."És o rapaz que nasceu entre a minha estrela" cantei-te uma vez e continuei assim, mergulhada no meu sentimento porque tu foste sempre a coisa mais real que eu conheci, num local tão fundo, tão escuro, tão estupidamente real. Mas deixei-te ir embora e tudo o resto já não tem mais lugar. Nem o amor, nem a paixão, nem o sexo. Guardei o melhor de ti, numa imagem quase perfeita e sonho assim contigo, como se isso preenchesse o teu lugar e nos meus sonhos tu levas-me e eu sou feliz e ninguém mais me julga nem me acusa de ser uma alma que não sabe cantar, apenas interpretar. Quis tanto deixar-me ir contigo e ver tudo aquilo, que eu sei que era muito, que tinhas para me oferecer, para me dar, para me tornar. Ainda tenho esperança que te vá encontrar outra vez, perdido na tua própria praia e eu consiga ultrapassar-me a mim mesma e o medo de experimentar algo que nunca tive, apenas provei, ceda e eu seja novamente tua, como nunca cheguei a ser.


Maria Estrela

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