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Thursday, November 25, 2004

Romeu & Julieta

Sempre que escrevo a primeira linha, acabo por apagar o texto. É sempre assim, faz parte de uma rotina, faz parte de um mistério que nem eu sei desvendar, como tantos outros, como o amor. O amor, o amor, o amor há-de ser sempre a potência máxima mobilizadora da nossa vida, enquanto caminharmos para a integração de um EU repleto de magnifiência e felicidade. Talvez seja por isso que ainda cá ando. Porque amei, amo e sei que vou continuar a amar.
Não faz sentido continuar a sofrer mais por uma realidade que já passou, por uma pessoa que só deixou marcas a nível da memória e da experimentação física. Está certo que confiar en alguém e seguidamente ser-se envolvido numa corrente de jogos de sedução, constrangimento e sexo, o mais simples dos mortais acaba por ficar sem esperança, palavra tão esquecida, de voltar a confiar em mais alguém. Sim, porque alguém que ama não confia. Entrega-se.
Debato-me com o facto de a sinceridade e a lealdade serem sentimentos esquecidos numa sociedade esquecida dela própria, recordo as duas pessoas que amei e me deixaram para trás, numa envolvência que me levou numa viagem que esperei nunca ter embarcado.
O amor, o amor, há-de ser sempre o amor. Vício que nos alimenta os sonhos, que nos satisfaz a alma, que nos mata a sede. Quero amar sempre as pessoas que me acompanham e não me deixam cair ainda mais fundo, ainda mais depressa. Quero viver sempre para elas, mesmo quando não me fazem companhia de noite, mesmo quando raras vezes isso acontece.
Alguém me disse que eu era livre, porque pensava. E eu penso que não sei nada de amor. Eu penso que não passo de mais um adolescente com problemas em arranjar dinheiro para saír para o Via Rápida numas dessas noites em que os estudantes bebem para esquecer as notas e os porteiros escolhem quem tem o mágico bilhete que dá entrada para um mundo ainda mais fastidioso que o que sobrevive cá fora.
É tudo um mito. Será que o amor também o é? Será que é mais um conceito implantado por uma sociedade que traça metas que nunca hão-de ser alcançadas apenas para sentir o desejo de se superar e constatar que não é perfeita?
Existe uma pessoa que eu amo, que partilha a minha vida de uma maneira esmagadoramente simples, que me educa, que chora por mim e comigo, que me abraça quando tudo corre mal ou bem, que corre para mim e faz tudo para eu crescer sem contudo deixar de ser seu.
Existe uma pessoa que eu amo, que me oferece protecção esteja eu errado ou não, que me ama incondicionalmente e que todas as noites pensa em mim antes de adormecer. Quando penso em todas as experiências que o amor, paixão, ou apenas cegueira ocasional,me trouxeram, acabo por me esquecer que eu não sei nada. Na verdade sei muito pouco. Não sou ninguém para falar de amor, ou para me debruçar sobre o seu estudo, de lhe tentar desvendar as entranhas ou descobrir-lhe as saídas. Mas ela sim.
É espantoso o que fazemos por amor. Depositamos as maiores alegrias e planos num sentimento que não se toca, à imagem de Deus que está sempre lá, mesmo quando não está. Esta pessoa sobre a qual eu escrevo e muito admiro vive e respira pelo amor. É difícil escrever o que não pode ser descrito, o que não pode ser sentido por mim, nem por ninguém a não ser por ela.
Queria muito que ela fosse feliz e que preservasse essa felicidade. Que acreditasse nela acima de tudo, que me há-de ter aqui para tudo, porque o sangue que nos une é forte demais para ser queimado ou esquecido.
Ela sim, pode escrever longos ensaios sobre o que é o amor. Porque ela vive e sobrevive dele e contudo é ele que a mata todas as noites quando chora sózinha no quarto mobilado como mandam os costumes modernos, como manda o amor que ela sente. Ela chora porque o amor dela vive realmente um problema, porque infelizmente ela tem um problema. Problema que o sente, que é também dela, simplesmente porque quando se ama, os limites físicos são facilmente ignorados e transponíveis.
Ela tem medo de não ser forte o suficiente, tem raiva porque o amor não se apresenta como cura de todas as doenças quando não é isso que nos ensinam sobre ele. Escrevem as mais enfadonhas fábulas de alguém (e é sempre alguém) que efectou os maiores feitos da História com base no amor. Incutem em nós os padrões históricos sob a forma de Romeu e Julieta ou Pedro e Inês e a partir daí tentámos construir a nossa vida, o nosso amor.
Ela é Julieta. Ele é o Romeu. Vivem para os lados da Maia. Vão ao domingo a casa dos sogros almoçar, vêem o Mente Brilhante ao Domingo na Sic enroscados no sofá e tentam combater o que os tenta separar.
Os tempos são outros e quem os tenta abalar não são as discórdias ente as famílias Capulet e Montagues. É algo que exige persistência, fé, sorte, coragem.
Não deixa de ser curioso que apesar dos avanços que a medicina se propõe ano após ano, alguém ainda se tenha de preocupar terminantemente com a saúde de outro alguém e que isso condicione todo o seu modelo civilizacional. Idas a Lisboa, Coimbra, paragens entre hóspitais que nos tratam como se não estivéssemos doentes, de facto, e de onde saímos, em alguns casos, em pior estado ainda.
Ela é assim, portadora de uma beleza única e transparente, como se tratasse de alguém que nunca viveu o suficiente para a vida lhe fazer mal. Vive pelo amor e chora pelo amor, sem nunca desistir, sem nunca deixar de lutar. Ela é de facto um exemplo de toda a terminologia que o amor encerra em si. É por isso que tenho orgulho nela e uso-a como exemplo máximo de que o amor realmente existe e pode durar, que é ele a força que nos move, que é ele a estrela que nos guia, nas noites mais escuras, pela noite, sempre pela noite, fria, húmida, escura.
Os meus problemas de adolescente vitimizado não são nada em relação à pessoa de quem escrevo, eu bem sei. É pena é continuar a sentir uma enorme vontade de os relatar, como se o facto de ter funcionado como pouco mais do que objecto sexual fosse algum elemento contra a estória desta mulher, também ela objecto puro e elementar do amor.
Queria dizer-te que também te amo, que és muitas vezes a força que me segura, o telefonema que nunca acaba, a alegria que espero voltar a partilhar, a mão que nunca pára de embalar.

" A mão que embala o berço é a minha.
Dorme meu pequeno!Dorme...
Empurra o escuro para longe.
Adormece na luz
Dorme meu amor.
Sonha com anjos, ninfas, fadas
E príncepes e princesas
Reinos longínquos
Utopias desejadas
Deixa-te levar
Por essa ilusão maravilhosa
Deixa-te ser
Rei
Eternamente
Nesse reino imaginário.
Quando acordares
Abrires os olhos
Espreguiçares
Sorrires
Falares
A minha mão
Embalará o berço e aí
Dormirás novamente.
Fugirás desta realidade
Serás criança
Menino
Feliz
Serás meu
E será minha
A mão que repete estes movimentos
Ondulantes
Que te fazem viajar
Que te fazem sentir outro.
Voltarás a acordar
E aí
A minha mão
Já adormecida
Do cansaço da viagem
Não desistirá
Continuará a embalar-te
Meu pequeno!
Para sempre!"

O poema foi-me entregue e é desta vez entregue a ti, para que também tu sintas sempre que a mão que te embala, é minha. Sempre.

"Love is the mortal sample of immortality" by Fernando Pessoa.

1 comment:

Unknown said...

Envolvo-me e perco-me entre as tuas palavras. Por acreditar tanto na força dos teus sentimentos, no magnetismo das tuas palavras e na veracidade da tua essencia te digo que és daquelas pessoas que quando deixar de sonhar,morrerá.
És o meu anjo,a minha sombra (e eu a tua),a minha força e dinamismo...O amor de que falas é o próprio do amor, o amor de todos, o amor de quem todos pensam tudo saber e quando tropeçam afinal constactam que nada sabem e quanto mais pensam saber mais confuso ele se torna!
Vive com o sonho, sonha com o que vives... és tao forte Luis.
*