Pensar que sou sem ti, flutuar numa grande imensidão, sem rumo.
A sexualidade é uma grande mentira, vazia e sem racionalidade alguma. Odeio esses mitos previsíveis, normas sociológicas impostas por um Deus que sempre me aceitou da forma que sempre quis.
Sempre.
Quando saio do banho, reparo que ainda tenho os mesmos resquícios de ti, espelhados em toda a minha pele, a pedirem mais um toque, mais uma vibração muscular, mais uma fonte de respiração.
Há objectos que nunca saíram do seu lugar. É engraçado como só os homens têm essa vantagem de conseguirem ler textos intensos e complexos enquanto se cagam para o mundo. Nós, apenas conseguimos prestar atenção nos folhetos que nos chegam dos hipermecados e nem por isso, atentamos nas promoções mais vantajosas.
Tenho um certo receio em abrir o livro e não te encontrar. Tudo se resume a esse pronúncio, na minha existência diára, mesmo que seja apenas um livro do Drummond. Começo a achar que me tornei escrava do meu próprio drama, no qual já não és tu a personagem principal, mas antes a tua memória.
Acabo por abrir, curiosa que sempre fui. Gostava que tivesse a chover lá fora, a ver se o momento se tornava mais inesquecível, o telemovel haveria de tocar e eu não haveria de ligar e o David acabaria por começar a tocar uma música qualquer que faz pensar na solidão que é não se ter, quem nunca se julgou existir. Mas nada é perfeito e supostamente, este momento também não é.
A realidade acaba por ser muito mais crua e menos controlada do que as fantasias que tento criar antes de adormecer, com o peso do mundo em cima de mim.
A cada dia que vivo, Mais me convenço de que o desperdício da vida ...
e penso em voltar a fechar e a esquecer que há algo mais doce do que a tua língua na minha orelha, a esbracejar, a gritar por mais um ano de pura fantasia.
Apetece-me que chova por dentro a ver se tudo se escoa e desaparece, porque o meu entendimento enquanto ser humano deixou de conceber esta espera que se torna longa e prelongada.
Por isso mesmo, acabei por tirar todas as fotos dela que existiam por casa, apesar de que sempre estiveram bem escondidas. Agora, nem num acto de profunda inconsciência, vou encontrá-la. Se me visses agora dirias que cada dia me pareço mais com ela. As rugas da impotência, a vida que sempre se sonhou e se deixou de ter, o momento que por pouco não se eternizou.
E estás.
Parece que te ouço a dizer em voz alta, na tua pose de político revolucionário que me tinha consquistado, que devemos reconhecer as virtudes que temos, pois elas escapam da nossa própria contigência e foram nos dadas por alguém que não sabia o que fazer com elas, muito menos com os defeitos.
Ela que se foda, que já tinha idade suficiente para compreender o empreendimento de noções vagas que acabou por criar em mim. Ela sabia perfeitamente que acabaria como ela um dia e foi por isso que sorriu quando lhe virei as costas e lhe prometi que nunca mais me via. Se se tivesse rido, teria sido por vontade de me fazer perdoar a vida de merda que vivera, a qual a tentei sempre salvar.
Preciso de ti.
Com ela não falo, muito menos agora que está morta. Sou decidida o suficiente para me manter firme na convicção, mesmo quando sinto a maconha a incorporar-se dentro de mim, mantenho –me firme e apenas sorrio para ela, também.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
Como se a minha vida fosse recomeçar agora que fecho o livro e o coloco no lugar das coisas sem vida.
Como se a minha dor fosse gerar vida em ti, como se a gravidade fosse fazer o tempo recuar e eu impedir –te de calçares a culpa como bandeira da tua indignação para o meu esgar.
Desceste as escadas como quem desce a sentença anunciada, como quem me deixa sem saber se te ajuda a voltar ou se te mata, finalmente.
Eles dizem que não voltas, que nunca deverias ter ficado em mim, mas que acabarás inusitadamente por desaparecer e eu por te esquecer. Resumem-se com o factor tempo, como se o tempo controlasse a imensidão que nos abarca. Se o Drummond está correcto, então eu escolho o sofrimento, por ter sido julgada num minuto para o qual não estava preparada.
E nunca estamos preparados para um retrocesso, por mais pequeno que ele seja. Nunca estamos preparados para fraquejarmos e termos o medo de ficarmos sozinhos e darmos finalmente razão a todas as vozes que durante meses anunciaram um final promíscuo e certeiro.
De tudo, ficaram 3 coisas.
A certeza que estamos sempre começando
Apesar de eu só ter a plenitude certa de saber onde acabo. Enquanto saio de casa, despeço-me como se nunca mais lá voltasse, como se a crueldade me fosse tomar de cada vez que saio do meu próprio reduto.
A partir daquele momento, decidi deslocar-me nessa grande evolução humana, feita pelas mãos dos imigrantes que são os que mais usurfruem dele. Tocam-me, sou empurrada e dou graças por não sentir mais a violência física, como outrora. Como ela sentira.
Não te esqueças dela.
Não, mantenho-a por entre a sua falsa inocência e a vontade que tenho de te agarrar e respirar o teu suor até amanhã.
A certeza de que é preciso continuar
O mundo nunca é aquilo que sonhamos e a sexualidade de cada um, há.de ter sempre a ver com isso. Conceituamos as pessoas, como quem conceitua fernando pessoa e os seus heterónimos, como quem precisa de encontrar a bibliografia certa, no espaço físico correcto.É por isso que sempre fiquei um pouco por entre os desejos de me manter intacta a essas firmezas. Em relação a isso tive sorte. Quando ele morreu e ela passou a idolatrá-lo, deixou de se importar com o resto e viveu apenas para a fome de solidão que passou a ter.
Estás igual.
Talvez, mas eu permaneço sozinha, sem arrastar ninguém comigo, apenas as paredes a ver se me seguram e não desapareço pelo chão.
Saio e não está a chover. Preciso de me mudar para o Porto, a ver se as ruas condizem mais com o meu aspecto de melancolia e noctivação. Hoje era o dia em que voltarias para mim, apenas porque eu quero.
E se tudo acontecesse como eu quero, Lisboa choveria e os sorrisos haveriam de ser apagados, porque ninguém tem vontade de sorrir quando o resto do mundo está adormecido, ainda.
Apetece-me chorar e não consigo, apetece-me chamar-te e tu não me ouves, apetece-me perguntar-te mas tu não respondes.
Existes, ainda?
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.
(Fernando Pessoa).
Apetece-me jurar que nunca o tinha visto, e fazer te acreditar que te perdoo. Apetece-me encarar a porra da realidade e saber que a ser verdade, ficaria diminuida a verdadeira essencia diminuta, que na verdade represento. Apetece-me jurar que eles nunca tiveram razão e que a tesão que eu via, era por mim que sentias.
Afinal, quem sou?
Best Friend . David Gray This Year´s love
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